PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

IX Domingo do Tempo Comum - A

duas_casasOS DOIS CAMINHOS

A Liturgia deste Domingo é um convite a construirmos a nossa vida sobre o alicerce sólido da Palavra de Deus. Quando Ela está no centro da nossa vida, caminhamos com segurança ao encontro da realização plena.

Na primeira Leitura, temos um Discurso de Moisés; Ele relembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a Aliança com o Senhor e gravá-la no coração e na alma.

Na segunda Leitura, S. Paulo afirma que a observância da Lei não é suficiente. Deus salva pela fé em Cristo Salvador, não pela observância da lei. Portanto, a Salvação é um dom gratuito de Deus e não o resultado dos nossos méritos pessoais.

No Evangelho, temos o final do Sermão da Montanha. Cristo – o novo Moisés – oferece à comunidade a nova lei, que deve guiar o novo Povo de Deus. Mostra-nos os dois caminhos: apenas ouvir a Palavra de Deus ou ouvir e pôr em prática essa mesma Palavra?
Para ingressar no Reino, é necessário "cumprir a vontade do Pai". O Evangelho é bem claro: "Ser cristão" não é possuir um bilhete de identidade que atesta o nosso baptismo; mas é procurar viver sempre de acordo com as propostas de Deus.


1.ª LEITURA (Deut 11,18.26-28.32)
Leitura do Livro do Deuteronómio
Moisés falou ao povo dizendo:
«As palavras que eu vos digo,
gravai-as no vosso coração e na vossa alma,
atai-as à mão como um sinal
e sejam como um frontal entre os vossos olhos.
Ponho hoje diante de vós a bênção e a maldição:
a bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor,
vosso Deus, que hoje vos prescrevo;
a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor,
vosso Deus, afastando-vos do caminho que hoje vos indico,
para seguirdes outros deuses que não conhecestes.
Portanto, procurai pôr em prática todos os preceitos e normas
que hoje vos proponho».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 30 (31)

Refrão: Sede o meu refúgio, Senhor.

Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Inclinai para mim os vossos ouvidos,
apressai-Vos em me libertar.

Sede a rocha do meu refúgio
e a fortaleza da minha salvação:
porque Vós sois a minha força e o meu refúgio,
por amor do vosso nome, guiai-me e conduzi-me.

Fazei brilhar sobre mim a vossa face,
salvai-me pela vossa bondade.
Tende coragem e animai-vos,
vós todos que esperais no Senhor.


2.ª LEITURA (Rom 3,21-25a.28)
Leitura da Epístola do apóstolo S. Paulo aos Romanos
Irmãos:
Independentemente da Lei de Moisés,
manifestou-se agora a justiça de Deus,
de que dão testemunho a Lei e os Profetas;
porque a justiça de Deus vem pela fé em Jesus Cristo,
para todos e sobre todos os crentes.
De facto não há distinção alguma,
porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus;
e todos são justificados de maneira gratuita pela sua graça,
em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus,
que Deus apresentou como vítima de propiciação,
mediante a fé, pelo seu sangue,
para manifestar a sua justiça.
Na verdade, estamos convencidos
de que o homem é justificado pela fé,
sem as obras da Lei.


EVANGELHO (Mt 7,21-27)

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Mateus
Naquele tempo,
Disse Jesus aos seus discípulos:
«Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’
entrará no reino dos Céus,
mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus.
Muitos Me dirão no dia do Juízo:
‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos
e em teu nome que expulsámos demónios
e em teu nome que fizemos tantos milagres?’
Então lhes direi bem alto:
‘Nunca vos conheci.
Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade’.
Todo aquele que ouve as minhas palavras
e as põe em prática
é como o homem prudente
que edificou a sua casa sobre a rocha.
Caiu a chuva, vieram as torrentes
e sopraram os ventos contra aquela casa;
mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
Mas todo aquele que ouve as minhas palavras
e não as põe em prática
é como o homem insensato
que edificou a sua casa sobre a areia.
Caiu a chuva, vieram as torrentes
e sopraram os ventos contra aquela casa;
ela desmoronou-se e foi grande a sua ruína».


Ressonâncias

E nós que tipo de cristãos somos?

Somos cristãos apenas porque um dia na infância os nossos pais nos baptizaram, ou porque nós assumimos todos os dias o compromisso de "fazer a vontade do Pai que está nos céus?"

Que sentido tem cumprir escrupulosamente os ritos externos da fé e no resto da vida ignorar os valores de Deus?

Em que tipo de alicerce queremos construir a casa de nossa vida?
– Sobre a rocha firme da Palavra de Deus ouvida e praticada,
– ou sobre valores efémeros do dinheiro, do poder, da fama, da glória, da mentira, da injustiça ou da violência?

O nosso futuro dependerá de nossa escolha actual. 

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

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Homilia do Papa Francisco
XXVIII Jornada Mundial da Juventude

1. Jesus entra em Jerusalém. A multidão dos discípulos acompanha-O em festa, os mantos são estendidos diante d'Ele, fala-se dos prodígios que realizou, ergue-se um grito de louvor: «Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!» (Lc 19, 38).

Multidão, festa, louvor, bênção, paz: respira-se um clima de alegria. Jesus despertou tantas esperanças no coração, especialmente das pessoas humildes, simples, pobres, abandonadas, pessoas que não contam aos olhos do mundo. Soube compreender as misérias humanas, mostrou o rosto misericordioso de Deus e inclinou-Se para curar o corpo e a alma.

Assim é Jesus. Assim é o seu coração, que nos vê a todos, que vê as nossas enfermidades, os nossos pecados. Grande é o amor de Jesus! E entra em Jerusalém assim com este amor que nos vê a todos. É um espectáculo lindo: cheio de luz – a luz do amor de Jesus, do amor do seu coração –, de alegria, de festa.

No início da Missa, também nós o reproduzimos. Agitámos os nossos ramos de palmeira. Também nós acolhemos Jesus; também nós manifestamos a alegria de O acompanhar, de O sentir perto de nós, presente em nós e no nosso meio, como um amigo, como um irmão, mas também como rei, isto é, como farol luminoso da nossa vida. Jesus é Deus, mas desceu a caminhar connosco como nosso amigo, como nosso irmão; e aqui nos ilumina ao longo do caminho. E assim hoje O acolhemos. E aqui temos a primeira palavra que vos queria dizer: alegria! Nunca sejais homens e mulheres tristes: um cristão não o pode ser jamais! Nunca vos deixeis invadir pelo desânimo! A nossa alegria não nasce do facto de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus, que está no meio de nós; nasce do facto de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos, mesmo nos momentos difíceis, mesmo quando o caminho da vida é confrontado com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis... e há tantos! E nestes momentos vem o inimigo, vem o diabo, muitas vezes disfarçado de anjo, e insidiosamente nos diz a sua palavra. Não o escuteis! Sigamos Jesus! Nós acompanhamos, seguimos Jesus, mas sobretudo sabemos que Ele nos acompanha e nos carrega aos seus ombros: aqui está a nossa alegria, a esperança que devemos levar a este nosso mundo. E, por favor, não deixeis que vos roubem a esperança! Não deixeis roubar a esperança... aquela que nos dá Jesus!

2. Segunda palavra. Para que entra Jesus em Jerusalém? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalém? A multidão aclama-O como Rei. E Ele não Se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40). Mas, que tipo de Rei seria Jesus? Vejamo-Lo... Monta um jumentinho, não tem uma corte como séquito, nem está rodeado de um exército como símbolo de força. Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador. Jesus não entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaías na Primeira Leitura (cf. Is 50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura (a sua realeza será objecto de ludíbrio); entra para subir ao Calvário carregado com um madeiro. E aqui temos a segunda palavra: Cruz. Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz. E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz! Vem-me à mente aquilo que Bento XVI dizia aos Cardeais: Vós sois príncipes, mas de um Rei crucificado. Tal é o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si... Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos nós, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus. Olhemos ao nosso redor... Tantas feridas infligidas pelo mal à humanidade: guerras, violências, conflitos económicos que atingem quem é mais fraco, sede de dinheiro, que depois ninguém pode levar consigo, terá de o deixar. A minha avó dizia-nos (éramos nós meninos): a mortalha não tem bolsos. Amor ao dinheiro, poder, corrupção, divisões, crimes contra a vida humana e contra a criação! E também – como bem o sabe e conhece cada um de nós - os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e respeito para com Deus, com o próximo e com a criação inteira. E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreição. Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz. Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria, à alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte.

3. Hoje, nesta Praça, há tantos jovens. Desde há 28 anos que o Domingo de Ramos é a Jornada da Juventude! E aqui aparece a terceira palavra: jovens! Queridos jovens, vi-vos quando entráveis em procissão; imagino-vos fazendo festa ao redor de Jesus, agitando os ramos de oliveira; imagino-vos gritando o seu nome e expressando a vossa alegria por estardes com Ele! Vós tendes um parte importante na festa da fé! Vós trazeis-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Coração jovem! Com Cristo, o coração nunca envelhece. Entretanto todos sabemos – e bem o sabeis vós – que o Rei que seguimos e nos acompanha, é muito especial: é um Rei que ama até à cruz e nos ensina a servir, a amar. E vós não tendes vergonha da sua Cruz; antes, abraçai-la, porque compreendestes que é no dom de si, no dom de si, no sair de si mesmo, que se alcança a verdadeira alegria e que com o amor de Deus Ele venceu o mal. Vós levais a Cruz peregrina por todos os continentes, pelas estradas do mundo. Levai-la, correspondendo ao convite de Jesus: «Ide e fazei discípulos entre as nações» (cf. Mt 28, 19), que é o tema da Jornada da Juventude deste ano. Levai-la para dizer a todos que, na cruz, Jesus abateu o muro da inimizade, que separa os homens e os povos, e trouxe a reconciliação e a paz. Queridos amigos, na esteira do Beato João Paulo II e de Bento XVI, também eu, desde hoje, me ponho a caminho convosco. Já estamos perto da próxima etapa desta grande peregrinação da Cruz. Olho com alegria para o próximo mês de Julho, no Rio de Janeiro. Vinde! Encontramo-nos naquela grande cidade do Brasil! Preparai-vos bem, sobretudo espiritualmente, nas vossas comunidades, para que o referido Encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro. Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência. Três palavras: alegria, cruz, jovens.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria. Que Ela nos ensine a alegria do encontro com Cristo, o amor com que O devemos contemplar ao pé da cruz, o entusiasmo do coração jovem com que O devemos seguir nesta Semana Santa e por toda a nossa vida. Assim seja.

Papa Francisco, Praça de S. Pedro, 24-03-2013

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM - B

JcNazare

A liturgia da Palavra deste Domingo mostra-nos que Deus chama continuamente pessoas para serem testemunhas do seu projecto de salvação.

Não interessa se elas são ou não frágeis e limitadas; a força de Deus manifesta-se, por isso Ele escolhe e envia: um profeta desterrado – Ezequiel; um carpinteiro, o filho de Maria – Jesus; e um que O perseguiu e que reconhece profundamente as suas fraquezas – Paulo.

A primeira leitura apresenta-nos um extracto do relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é aí apresentada como uma iniciativa de Javé, que chama um homem "normal", com os seus limites e fraquezas para ser, no meio do seu Povo que estava exilado na Babilónia, a voz de Deus.

Na segunda leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto (recorrendo ao seu exemplo pessoal) que Deus actua e revela o seu poder no mundo através de instrumentos frágeis e limitados. Na acção do apóstolo manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.

O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Ele lhes apresenta.


LEITURA I – Ez 2,2-5
Leitura da Profecia de Ezequiel

Naqueles dias,
o Espírito entrou em mim e fez-me levantar.
Ouvi então Alguém que me dizia:
«Filho do homem,
Eu te envio aos filhos de Israel,
a um povo rebelde que se revoltou contra Mim.
Eles e seus pais ofenderam-Me até ao dia de hoje.
É a esses filhos de cabeça dura e coração obstinado
que te envio, para lhes dizeres:
'Eis o que diz o Senhor'.
Podem escutar-te ou não
– porque são uma casa de rebeldes –,
mas saberão que há um profeta no meio deles».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 122 (123)
Refrão: Os nossos olhos estão postos no Senhor,
            até que Se compadeça de nós.

Levanto os olhos para Vós,
para Vós que habitais no Céu,
como os olhos do servo
se fixam nas mãos do seu senhor.

Como os olhos da serva
se fixam nas mãos da sua senhora,
assim os nossos olhos se voltam para o Senhor nosso Deus,
até que tenha piedade de nós.

Piedade, Senhor, tende piedade de nós,
porque estamos saturados de desprezo.
A nossa alma está saturada do sarcasmo dos arrogantes
e do desprezo dos soberbos.


LEITURA II – 2Cor 12,7-10
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Para que a grandeza das revelações não me ensoberbeça,
foi-me deixado um espinho na carne,
– um anjo de Satanás que me esbofeteia –
para que não me orgulhe.
Por três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim.
Mas Ele disse-me: «Basta-te a minha graça,
porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder».
Por isso, de boa vontade me gloriarei das minhas fraquezas,
para que habite em mim o poder de Cristo.
Alegro-me nas minhas fraquezas,
nas afrontas, nas adversidades,
nas perseguições e nas angústias sofridas por amor de Cristo,
porque, quando sou fraco, então é que sou forte.


EVANGELHO – Mc 6,1-6
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus dirigiu-Se à sua terra
e os discípulos acompanharam-n'O.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga.
Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam:
«De onde Lhe vem tudo isto?
Que sabedoria é esta que Lhe foi dada
e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?
Não é ele o carpinteiro, Filho de Maria,
e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E não estão as suas irmãs aqui entre nós?»
E ficavam perplexos a seu respeito.
Jesus disse-lhes:
«Um profeta só é desprezado na sua terra,
entre os seus parentes e em sua casa».
E não podia ali fazer qualquer milagre;
apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos.
Estava admirado com a falta de fé daquela gente.
E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.


Ressonâncias

Jesus está na sinagoga de Nazaré. O povo admira-se com a sua sabedoria e os seus milagres e, perplexo, pergunta-se: "Quem é este homem? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria?"
Este Jesus não podia, para eles, ser o Messias esperado. Aguardavam um guerreiro poderoso como David; sábio como Salomão – não um humilde carpinteiro! Conheciam bem o filho de Maria. Claro que não poderia ser Ele o enviado do Pai...

Para as gentes de Nazaré, Deus é demasiado grande para abaixar-se e falar através de um homem tão simples! Demasiado humano este Messias, demasiado banal o seu viver, demasiado frágil e pobre para um Deus! Não conseguem reconhecer em Jesus o Messias esperado e, por isso, rejeitam-n'O por ser um homem comum do povo.
Jesus, decepcionado com a incompreensão dos seus (até os próprios parentes o repudiam!), conclui: "Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa."

Quem é profeta? Todo cristão é pelo baptismo chamado a ser profeta de Deus. Não se espera dele que faça milagres ou preveja o futuro, mas que transmita a Palavra do Senhor. Deus não tem boca e precisa de alguém para ser a sua "Voz". Para isso, deve escutar a Sua mensagem e deixar que ela penetre até o íntimo do coração e só depois anunciá-la com entusiasmo e fidelidade.

Como desempenhar a missão de profeta? Ele deve estar em comunhão com Deus e atento à realidade humana. Intervém, em nome de Deus, para denunciar, para avisar, para corrigir.
A denúncia profética implica, muitas vezes, a perseguição, o sofrimento, a marginalização e, em muitos casos, até a própria morte...
Normalmente, Deus não se manifesta na força, no poder, nas qualidades que os homens admiram tanto. Ele vem ao nosso encontro na fraqueza, na simplicidade, nas pessoas mais humildes e modestas.
As nossas limitações humanas não podem servir de desculpa para não realizar a missão que Deus nos confia. Se Ele nos pede um serviço, também nos dará a força para superar os nossos limites e cumprir o que Ele nos propõe.

Jesus não fez milagres em Nazaré porque não acreditaram n'Ele. Hoje será diferente? Afirma-se: "Santos de casa não fazem milagres". Mas perguntamo-nos: porque será? A culpa será dele ou nossa? Notamos que há pessoas, ignoradas ou rejeitadas na própria casa/terra, mas fora daquele espaço fazem prodígios? Porque será? E tu, escutas a voz profética dos teus irmãos?

A Liturgia de hoje apresenta-nos três bonitos exemplos: Ezequiel, Paulo e Jesus. Diante das dificuldades, nenhum deles desistiu. Lutaram e venceram. Nós também podemo-nos sentir na mesma situação. O testemunho, que Deus nos chama a dar, realiza-se – não raras vezes – no meio de incompreensões e oposições. Frequentemente, sentimo-nos desanimados e frustrados porque não somos entendidos nem acolhidos. Temos a sensação de que estamos a perde tempo. A atitude de Jesus convida-nos a nunca desanimar nem desistir. Deus tem os seus projectos e sabe bem como transformar um fracasso em êxito.

Qual a nossa atitude? Aceitamos nós ser a "Voz" de Deus na comunidade, na família, no trabalho, mesmo diante das contrariedades e adversidades? Valorizamos as pessoas que actuam com dedicação na nossa comunidade, acolhendo-as como a "Voz" de Deus? Abramo-nos aos outros e dar-nos-emos conta que os "santos de casa" também podem fazer milagres!...


Sem Fronteiras

Um grupo de jovens partilhou a sua reflexão sobre a frase evangélica: "Ninguém é profeta na sua terra pois só é desprezado aí, entre os seus parentes e em sua casa..." Eis aqui o resultado deste trabalho:

— Esta frase vem confirmar que o profeta não deve casar porque senão seria desprezado lá em casa, comprometendo a sua acção.
— Porque o profeta não tem terra, não tem família, não é de ninguém: é só de Deus. Como deve viver despojado, o profeta não tem raízes fixas.
— Isto é para evitar a tentação de muitas pessoas que para os de fora são mel mas para os de dentro são fel.
— Porque ser profeta é ser peregrino, missionário ou enviado.
— Porque o conhecimento que os outros têm do profeta não pode sobrepôr-se ao conhecimento da palavra que ele proclama.
— Porque os da sua terra poderiam achar que têm mais direito do que ele a ser profeta.
— Para que ninguém possa concluir que a sua mensagem é uma questão de bairrismo.
— Para que uma terra possa ajudar outra e vice-versa, pois nenhuma é auto-suficiente.
— Para que seja mais livre e não esteja condicionado pelos laços familiares.
— Porque é preciso alargar fronteiras.
— Para lembrar que um profeta vem de fora: vem do Céu.

Pe. José David Quintal Vieira, scj


 Ninguém é profeta na sua terra

Contigo, Pai, suporta-se melhor a incompreensão,
porque Tu fortaleces a nossa segurança,
curas-nos do desejo de aceitação
e fazes com que nos abandonemos à Tua missão.

Liberta-nos da ilusão de agradarmos a toda a gente,
da necessidade de aprovação de quem nos é próximo,
do desejo de aplauso de quem está longe,
e da tirania do prestígio pessoal.

Porque seguir-Te é ir contra a corrente
neste mundo sem Deus em que vivemos,
numa época de fatalismo e de desencanto
que apenas Tu podes revolucionar e de novo fazer sonhar.

E quando não nos entendem ou nos crêem loucos,
quando sentimos o temor dos inseguros,
e começamos a pensar se estarão certos...
seguir-Te renova-nos a esperança.

Tu, que tens um sonho de felicidade
para cada um de nós,
anima-nos a contá-lo, a promovê-lo, a contagiá-lo,
sugerindo-nos a forma certa de realizá-lo.

Impõe sobre nós as Tuas mãos que curam
para nos limpares dos desencantos,
dos medos e das nossas contínuas dúvidas,
e sermos como Tu, envolvendo os outros no Teu amor.

Amen.

XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM - B

TalitakumDeus ama a vida! Ele quer apenas a vida! "Deus criou o homem para ser incorruptível" (primeira leitura). Pelo seu Filho, salva-nos da morte: eis porque Lhe damos graças em cada Eucaristia. Na sua vida terrena, Jesus sempre defendeu a vida.

O Evangelho de hoje relata-nos dois episódios que assinalam a defesa da vida: Ele cura, Ele levanta. Ele torna livres todas as pessoas, dá-lhes toda a dignidade e capacidade para viver plenamente. Sabemos dizer-Lhe que Ele é a nossa alegria de viver?

Estamos em tempo de verão, início de férias... É uma ocasião propícia para celebrar a festa da vida! Este domingo celebra a vida mais forte que a morte, celebra Deus apaixonado pela vida. Convém, pois, que na celebração deste dia a vida expluda em todas as suas formas: na beleza das flores, nos gestos e atitudes, na proclamação da Palavra, nos cânticos e aclamações, na luz. No cântico do salmo e na profissão de fé, será bom recordar que é o Deus da vida que nós confessamos, as suas maravilhas que nós proclamamos. Durante toda a missa, rezando, mantenhamos a convicção expressa pelo Livro da Sabedoria: "Deus não Se alegra com a perdição dos vivos".


LEITURA I – Sab 1, 13-15; 2,23-24
Leitura do Livro da Sabedoria

Não foi Deus quem fez a morte,
nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos.
Pela criação deu o ser a todas as coisas,
e o que nasce no mundo destina-se ao bem.
Em nada existe o veneno que mata,
nem o poder da morte reina sobre a terra,
porque a justiça é imortal.
Deus criou o homem para ser incorruptível
e fê-lo à imagem da sua própria natureza.
Foi pela inveja do demónio que a morte entrou no mundo,
e experimentam-na aqueles que lhe pertencem.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.

Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.

Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.

Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.

Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.


LEITURA II – 2 Cor 8,7.9.13-15
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Já que sobressaís em tudo
– na fé, na eloquência, na ciência,
em toda a espécie de atenções
e na caridade que vos ensinámos –
deveis também sobressair nesta obra de generosidade.
Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa,
para vos enriquecer pela sua pobreza.
Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros,
mas sim de procurar a igualdade.
Nas circunstâncias presentes,
aliviai com a vossa abundância a sua indigência
para que um dia
eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância.
E assim haverá igualdade, como está escrito:
«A quem tinha colhido muito não sobrou
e a quem tinha colhido pouco não faltou».


EVANGELHO – Mc 5,21-43
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
depois de Jesus ter atravessado de barco
para a outra margem do lago,
reuniu-se grande multidão à sua volta,
e Ele deteve-Se à beira-mar.
Chegou então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo.
Ao ver Jesus, caiu a seus pés
e suplicou-Lhe com insistência:
«A minha filha está a morrer.
Vem impor-lhe as mãos,
para que se salve e viva».
Jesus foi com ele,
seguido por grande multidão,
que O apertava de todos os lados.
Ora, certa mulher
que tinha um fluxo de sangue havia doze anos,
que sofrera muito nas mãos de vários médicos
e gastara todos os seus bens,
sem ter obtido qualquer resultado,
antes piorava cada vez mais,
tendo ouvido falar de Jesus,
veio por entre a multidão
e tocou-Lhe por detrás no manto,
dizendo consigo:
«Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada».
No mesmo instante estancou o fluxo de sangue
e sentiu no seu corpo que estava curada da doença.
Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo.
Voltou-Se para a multidão e perguntou:
«Quem tocou nas minhas vestes?»
Os discípulos responderam-Lhe:
«Vês a multidão que Te aperta
e perguntas: 'Quem Me tocou?'»
Mas Jesus olhou em volta,
para ver quem O tinha tocado.
A mulher, assustada e a tremer,
por saber o que lhe tinha acontecido,
veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade.
Jesus respondeu-lhe:
«Minha filha, a tua fé te salvou».
Ainda Ele falava,
quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga:
«A tua filha morreu.
Porque estás ainda a importunar o Mestre?»
Mas Jesus, ouvindo estas palavras,
disse ao chefe da sinagoga:
«Não temas; basta que tenhas fé».
E não deixou que ninguém O acompanhasse,
a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga,
Jesus encontrou grande alvoroço,
com gente que chorava e gritava.
Ao entrar, perguntou-lhes:
«Porquê todo este alarido e tantas lamentações?
A menina não morreu; está a dormir».
Riram-se d'Ele.
Jesus, depois de os ter mandado sair a todos,
levando consigo apenas o pai da menina
e os que vinham com Ele,
entrou no local onde jazia a menina,
pegou-lhe na mão e disse:
«Talitha Kum»,
que significa: «Menina, Eu te ordeno: levanta-te».
Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar,
pois já tinha doze anos.
Ficaram todos muito maravilhados.
Jesus recomendou-lhes insistentemente
que ninguém soubesse do caso
e mandou dar de comer à menina.


Ressonâncias

O Evangelho que acabamos de escutar fala de duas histórias trágicas nas quais Jesus entra não para explicar a dor e a morte, mas para mostrar o coração de Deus, amante e senhor da vida.

"Talita Kum"
O importante chefe da sinagoga, Jairo, num gesto de desespero e humildade, atira-se aos pés do Mestre e, com insistência, pede-lhe que lhe cure a filha. Acto de fé ou de aflição? Não sei, mas bem-aventurados são todos os Jairos desta terra que intercedem e perturbam continuamente o Senhor por causa tua e minha! Que incomodam o Criador até que ele entre na nossa casa, na nossa vida, mudando-lhe o rumo.
Cada um de nós é aquela jovem, na casa das lágrimas, que Jesus pega pela mão dizendo: Talita Kum! Levanta-te! Atreve-te a acreditar e a esperar! Acorda a vida adormecida que há em ti! Retoma a descoberta do amor e a alegria de viver! Cada dia é dia de Páscoa, de ressurreição!

"Tocar nas suas vestes"
A mulher, sem nome nem títulos, aproxima-se no meio da multidão de Jesus apenas para "roubar" o milagre, esperando que ninguém a veja tocar as vestes da graça. Há 12 anos que se esvaía em sangue e em solidão. Na verdade, tantos se aproximam, mas só ela lhe toca o coração. E aquela que sofria da hemorragia social e sentimental, despida das carícias humanas, é curada por um toque! É no calor de um gesto que Jesus "rouba" o estéril anonimato à mulher e a enche de esperança. Agora é filha, pessoa amada e tocada, moldada novamente do barro frágil e ressuscitada para uma vida nova.

Um Deus apaixonado pela vida
Duas pessoas, duas condições e dois modos diferentes de se aproximar de Jesus: uma proclama abertamente a sua fé; a outra manifesta uma fé silenciosa. No fundo ambas estão unidas pela confiança de colocar a vida nas mãos de Jesus. E isso para Deus basta. Bastam os nossos fragmentos frágeis de fé para que o seu coração vibre. E quando pensarmos que tudo acabou, Ele nos sussurrará: o teu coração não morreu, apenas dorme! Porque a vida não morre, apenas adormece. O encanto não morre, apenas entorpece. Para Deus a morte é uma ilusão, nunca a realidade! Muito em nós dorme, se esvai em anonimato e desfalece a vida. Mas porque o amor não conhece limites, Deus é capaz de atravessar o limiar do sono e da morte para, com o seu instinto de vida, nos repetir: Filho meu, levanta-te! Levantemo-nos, caros amigos e amigas, porque o amor não foi criado para morrer, mas para viver! E isso é Evangelho!

Vou descobrir formas corajosas de tocar em Jesus e nos irmãos, para que a corrente de amor não se parta.


Deus procura sempre em nós a vida, as sementes de imortalidade, os frutos do amor, aquele mais de fé que alegra e embeleza a vida.
Podemos ser pobres e frágeis grãos, desfalecidos ou adormecidos, mas com Deus antecipamos um mundo novo. Todos somos capazes de verdadeiros milagres quando escutamos a sua voz e nos deixamos levantar pela sua mão.

Chamar por Deus

Naquele tempo vinham ter com Jesus de toda a parte e abeiravam-se pessoalmente... Em linguagem moderna, Deus prefere os encontros pessoais ao uso de telemóvel. Que sucederia se Cristo instalasse uma central de telemóveis no céu? Imagine-se alguém a rezar e ouvir a seguinte mensagem: "Central Celeste, por favor marque uma das seguintes opções: para pedidos marque 1; para queixas marque 2, para outro assunto marque 3... "

Ou então: "Neste momento os nossos anjos estão ocupados. Por favor deixe a sua mensagem no serviço de espera. Se deseja falar com o Anjo Gabriel marque 5, com outro Anjo marque 6." O pior seria: "A sua alma apresenta um saldo de tantos méritos. Deverá ser recarregada no próximo Domingo nas missa das 09H00." Por fim imaginemos outra resposta: "O número que marcou não está atribuído. Por favor, certifique-se da sua intenção ou então marque de novo sem distracções..."

Graças a Deus que nada disto acontece. Podemos chamar a Deus quantas vezes quisermos que somos sempre atendidos. A Sua linha nunca está ocupada. Ainda bem que nos responde pessoalmente e nos conhece antes mesmo de nos apresentarmos. Deus não deixa recados no gravador mas estende-nos imediatamente a sua mão.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

Creio em Ti, mas aumenta a minha fé

Senhor, sabes que pertenço ao Teu povo,
que creio em Ti e que fazes parte da minha vida,
mas muitas vezes vivo como se não existisses,
porque não confio em Ti inteiramente.

Quero ter a fé da mulher que tocou o Teu manto,
convencida de que a podias curar.
Tu convidas-me a que me erga,
a não me acomodar à mediocridade,
a viver uma vida apaixonante,
a trabalhar com a mesma fraternidade que Tu
e a confiar em Ti no desenrolar da minha história.

Tu dás-me impulso para acordar tudo o que em mim dorme,
ensinas-me que posso chegar mais longe,
fazes-me crescer como ser humano,
com toda a minha grandeza e fragilidade.

A fé em Ti, Senhor,
afasta-me de fatalismos e desesperanças,
porque me fazes confiar nas pessoas.
Há muita dor no nosso mundo
e a alguns de nós coube uma vida muito dura ...
Hoje peço-Te, Senhor,
que sussurres ao ouvido de cada um dos meus irmãos:

"A tua fé salvou-te, vai-te em paz ... "


Louvo-Te, Senhor porque Tu és um Deus misturado com a obra das tuas mãos.

Tu não és um distante e a tua criação não é operação por controle remoto...
Tudo está embebido da Tua presença; basta estender a mão para auferir o teu toque!
A brutal hemorragia do teu amor, estancou o derramamento da nossa esperança!
Senhor, socorre esta humanidade, campo onde a morte disputa com a vida.

E hoje espero-te para aceitar que me levantes, quero viver a tua vida, caminhar
no teu movimento e acompanhar-te na tua peregrinação pelo sofrimento humano.

X DOMINGO DO TEMPO COMUM - B

JC10A Palavra de Deus deste Domingo leva-nos a meditar sobre a nossa resposta de vida ao grande projecto de Deus para nós, na liberdade de optar pelo bem e pelo mal.

O Evangelho centra o nosso olhar na pessoa de Jesus, que os seus conterrâneos, entre eles tantos familiares, não aceitaram como enviado de Deus e não perceberam, até se opuseram, à vontade de Deus revelada em Jesus. Na caminhada da fé, cada um é livre de optar: ou ficar pelos dispersos sentidos de vida, ou permanecer na única família de Jesus, de «quem quiser fazer a vontade de Deus».

A segunda leitura realça que, para o cristão, viver só faz sentido na certeza da ressurreição, na caminhada de vida interior que se renova dia a dia em perspectiva da eternidade.
Neste horizonte neo-testamentário, meditemos em particular a primeira leitura que nos mostra, recorrendo à história mítica de Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.


LEITURA I – Gen 3, 9-15
Leitura do Livro do Génesis

Depois de Adão ter comido da árvore,
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor Deus à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e todos os animais selvagens.
Hás-de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Ela há-de atingir-te na cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 129 (130)
Refrão: No Senhor está a misericórdia e abundante redenção.

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.

Se tiverdes em conta os nossos pecados,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão
para Vos servirmos com reverência.

Eu confio no senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora.

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas.


LEITURA II – 2 Cor 4, 13 – 5, 1
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Diz a Escritura: «Acreditei, por isso falei».
Com este mesmo espírito de fé,
também nós acreditamos, e por isso falamos,
sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
também nos há-de ressuscitar com Jesus
e nos levará convosco para junto d'Ele.
Tudo isto é por vossa causa,
para que uma graça mais abundante
multiplique as acções de graças de um maior número de cristãos
para glória de Deus.
Por isso, não desanimamos.
Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando,
o homem interior vai-se renovando de dia para dia.
Porque a ligeira aflição dum momento
prepara-nos, para além de toda e qualquer medida,
em peso eterno de glória.
Não olhamos para as coisas visíveis,
olhamos para as invisíveis:
as coisas visíveis são passageiras,
ao passo que as invisíveis são eternas.
Bem sabemos que,
se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita,
recebemos nos Céus uma habitação eterna,
que é obra de Deus
e não é feita pela mão dos homens.


EVANGELHO – Mc 3, 20-35
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus chegou a casa com os seus discípulos.
E de novo acorreu tanta gente,
de modo que nem sequer podiam comer.
Ao saberem disto, os parentes de Jesus
puseram-se a caminho para O deter,
pois diziam: «está fora de Si».
Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam:
«Está possesso de Belzebu, e ainda:
«É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios».
Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas:
«Como pode Satanás expulsar Satanás?»
Se um reino estiver dividido contra si mesmo,
tal reino não pode aguentar-se.
E se uma casa estiver dividida contra si mesma,
essa casa não pode aguentar-se.
Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide,
não pode subsistir: está perdido.
Ninguém pode entrar em casa de um homem forte
e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar:
só então poderá saquear a casa.
Em verdade vos digo:
Tudo será perdoado aos filhos dos homens:
os pecados e blasfémias que tiverem proferido;
mas quem blasfemar contra o Espírito Santo
nunca terá perdão: será réu de pecado eterno».
Referia-Se aos que diziam:
«Está possesso dum espírito impuro».
Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos,
que, ficando fora, mandaram-n'O chamar.
A multidão estava sentada em volta d'Ele,
quando Lhe disseram:
«Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura».
Mas Jesus respondeu-lhes:
«Quem é minha Mãe e meus irmãos?»
E, olhando para aqueles que estavam à sua vota, disse:
«Eis minha Mãe e meus irmãos.
Quem fizer a vontade de Deus
esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».


Ressonâncias

O Evangelho de Marcos revela a nova relação entre o povo e Deus, que se estabelece através de Jesus. O que se vê é uma grande multidão de excluídos, seja dentre os gentios, seja da dispersão do judaísmo, que se reúne em torno da casa onde se encontra Jesus. Esta multidão diferencia-se do "pequeno resto", estabelecido na sinagoga e no Templo, gozando de privilégios e isolado da maioria do povo, considerada pecadora por infringir qualquer um dos 613 mandamentos da Lei, tendo como protótipo Eva, que infringiu a proibição do Criador (primeira leitura). Com Jesus temos uma nova realidade, destacada pelos evangelhos ao mencionarem cento e quarenta e nove vezes a "multidão" que se relaciona com Jesus. Esta relação é uma característica muito mais marcante da índole e da personalidade de Jesus do que as narrativas de seus milagres possam significar. É uma chave de leitura para compreendermos a presença de Jesus no mundo, em relação com todos os povos e culturas, não se limitando a grupos religiosos específicos.

Os escribas vindos de Jerusalém são os enviados dos chefes religiosos que tinham em mãos o culto sacrifical do Templo e o dinheiro do Tesouro, anexo ao Templo. Eles empenham-se em difamar Jesus, para afastar o povo dele. O Espírito Santo é o amor. Considerar as obras de amor do Espírito como sendo obras do demônio significa o distanciamento e até a ruptura com o próprio amor de Deus. Rejeitar e matar os que com amor buscam resgatar a dignidade humana dos empobrecidos explorados e excluídos significa a rejeição da vida e do amor de Deus.

A partir de uma referência à sua família de sangue, Jesus afirma: "Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?... Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe". É a união em torno da prática da vontade de Deus que cria os novos laços familiares no Reino. Viver o amor, o serviço, a partilha, a misericórdia, solidariamente com os mais necessitados, é inserir-se na família de Jesus, quer seja por laços consanguíneos, quer não, certos da comunhão de vida eterna com Jesus (segunda leitura).

Senhor Jesus,
estás mesmo fora de Ti, porque aceitaste fazer parte de mim.
Arriscas vir ao encontro da minha débil entrega e fazer caminho comigo.

Senhor Jesus,
estás fora de Ti, porque encarnas permanentemente na minha história.

Arriscas experimentar as vicissitudes do meu tempo e da minha estrada.

Quero fazer da minha vontade a Tua, do meu desejo o Teu.
Quero fazer parte de Ti, da Tua família, meu Senhor e meu Deus!

 

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