XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM - B

O Evangelho de hoje relata-nos dois episódios que assinalam a defesa da vida: Ele cura, Ele levanta. Ele torna livres todas as pessoas, dá-lhes toda a dignidade e capacidade para viver plenamente. Sabemos dizer-Lhe que Ele é a nossa alegria de viver?
Estamos em tempo de verão, início de férias... É uma ocasião propícia para celebrar a festa da vida! Este domingo celebra a vida mais forte que a morte, celebra Deus apaixonado pela vida. Convém, pois, que na celebração deste dia a vida expluda em todas as suas formas: na beleza das flores, nos gestos e atitudes, na proclamação da Palavra, nos cânticos e aclamações, na luz. No cântico do salmo e na profissão de fé, será bom recordar que é o Deus da vida que nós confessamos, as suas maravilhas que nós proclamamos. Durante toda a missa, rezando, mantenhamos a convicção expressa pelo Livro da Sabedoria: "Deus não Se alegra com a perdição dos vivos".
Leitura do Livro da Sabedoria
Não foi Deus quem fez a morte,
nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos.
Pela criação deu o ser a todas as coisas,
e o que nasce no mundo destina-se ao bem.
Em nada existe o veneno que mata,
nem o poder da morte reina sobre a terra,
porque a justiça é imortal.
Deus criou o homem para ser incorruptível
e fê-lo à imagem da sua própria natureza.
Foi pela inveja do demónio que a morte entrou no mundo,
e experimentam-na aqueles que lhe pertencem.
Refrão: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Já que sobressaís em tudo
– na fé, na eloquência, na ciência,
em toda a espécie de atenções
e na caridade que vos ensinámos –
deveis também sobressair nesta obra de generosidade.
Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa,
para vos enriquecer pela sua pobreza.
Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros,
mas sim de procurar a igualdade.
Nas circunstâncias presentes,
aliviai com a vossa abundância a sua indigência
para que um dia
eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância.
E assim haverá igualdade, como está escrito:
«A quem tinha colhido muito não sobrou
e a quem tinha colhido pouco não faltou».
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
depois de Jesus ter atravessado de barco
para a outra margem do lago,
reuniu-se grande multidão à sua volta,
e Ele deteve-Se à beira-mar.
Chegou então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo.
Ao ver Jesus, caiu a seus pés
e suplicou-Lhe com insistência:
«A minha filha está a morrer.
Vem impor-lhe as mãos,
para que se salve e viva».
Jesus foi com ele,
seguido por grande multidão,
que O apertava de todos os lados.
Ora, certa mulher
que tinha um fluxo de sangue havia doze anos,
que sofrera muito nas mãos de vários médicos
e gastara todos os seus bens,
sem ter obtido qualquer resultado,
antes piorava cada vez mais,
tendo ouvido falar de Jesus,
veio por entre a multidão
e tocou-Lhe por detrás no manto,
dizendo consigo:
«Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada».
No mesmo instante estancou o fluxo de sangue
e sentiu no seu corpo que estava curada da doença.
Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo.
Voltou-Se para a multidão e perguntou:
«Quem tocou nas minhas vestes?»
Os discípulos responderam-Lhe:
«Vês a multidão que Te aperta
e perguntas: 'Quem Me tocou?'»
Mas Jesus olhou em volta,
para ver quem O tinha tocado.
A mulher, assustada e a tremer,
por saber o que lhe tinha acontecido,
veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade.
Jesus respondeu-lhe:
«Minha filha, a tua fé te salvou».
Ainda Ele falava,
quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga:
«A tua filha morreu.
Porque estás ainda a importunar o Mestre?»
Mas Jesus, ouvindo estas palavras,
disse ao chefe da sinagoga:
«Não temas; basta que tenhas fé».
E não deixou que ninguém O acompanhasse,
a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga,
Jesus encontrou grande alvoroço,
com gente que chorava e gritava.
Ao entrar, perguntou-lhes:
«Porquê todo este alarido e tantas lamentações?
A menina não morreu; está a dormir».
Riram-se d'Ele.
Jesus, depois de os ter mandado sair a todos,
levando consigo apenas o pai da menina
e os que vinham com Ele,
entrou no local onde jazia a menina,
pegou-lhe na mão e disse:
«Talitha Kum»,
que significa: «Menina, Eu te ordeno: levanta-te».
Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar,
pois já tinha doze anos.
Ficaram todos muito maravilhados.
Jesus recomendou-lhes insistentemente
que ninguém soubesse do caso
e mandou dar de comer à menina.
Ressonâncias
O Evangelho que acabamos de escutar fala de duas histórias trágicas nas quais Jesus entra não para explicar a dor e a morte, mas para mostrar o coração de Deus, amante e senhor da vida.
"Talita Kum"
O importante chefe da sinagoga, Jairo, num gesto de desespero e humildade, atira-se aos pés do Mestre e, com insistência, pede-lhe que lhe cure a filha. Acto de fé ou de aflição? Não sei, mas bem-aventurados são todos os Jairos desta terra que intercedem e perturbam continuamente o Senhor por causa tua e minha! Que incomodam o Criador até que ele entre na nossa casa, na nossa vida, mudando-lhe o rumo.
Cada um de nós é aquela jovem, na casa das lágrimas, que Jesus pega pela mão dizendo: Talita Kum! Levanta-te! Atreve-te a acreditar e a esperar! Acorda a vida adormecida que há em ti! Retoma a descoberta do amor e a alegria de viver! Cada dia é dia de Páscoa, de ressurreição!
"Tocar nas suas vestes"
A mulher, sem nome nem títulos, aproxima-se no meio da multidão de Jesus apenas para "roubar" o milagre, esperando que ninguém a veja tocar as vestes da graça. Há 12 anos que se esvaía em sangue e em solidão. Na verdade, tantos se aproximam, mas só ela lhe toca o coração. E aquela que sofria da hemorragia social e sentimental, despida das carícias humanas, é curada por um toque! É no calor de um gesto que Jesus "rouba" o estéril anonimato à mulher e a enche de esperança. Agora é filha, pessoa amada e tocada, moldada novamente do barro frágil e ressuscitada para uma vida nova.
Um Deus apaixonado pela vida
Duas pessoas, duas condições e dois modos diferentes de se aproximar de Jesus: uma proclama abertamente a sua fé; a outra manifesta uma fé silenciosa. No fundo ambas estão unidas pela confiança de colocar a vida nas mãos de Jesus. E isso para Deus basta. Bastam os nossos fragmentos frágeis de fé para que o seu coração vibre. E quando pensarmos que tudo acabou, Ele nos sussurrará: o teu coração não morreu, apenas dorme! Porque a vida não morre, apenas adormece. O encanto não morre, apenas entorpece. Para Deus a morte é uma ilusão, nunca a realidade! Muito em nós dorme, se esvai em anonimato e desfalece a vida. Mas porque o amor não conhece limites, Deus é capaz de atravessar o limiar do sono e da morte para, com o seu instinto de vida, nos repetir: Filho meu, levanta-te! Levantemo-nos, caros amigos e amigas, porque o amor não foi criado para morrer, mas para viver! E isso é Evangelho!
Vou descobrir formas corajosas de tocar em Jesus e nos irmãos, para que a corrente de amor não se parta.
Podemos ser pobres e frágeis grãos, desfalecidos ou adormecidos, mas com Deus antecipamos um mundo novo. Todos somos capazes de verdadeiros milagres quando escutamos a sua voz e nos deixamos levantar pela sua mão.
Naquele tempo vinham ter com Jesus de toda a parte e abeiravam-se pessoalmente... Em linguagem moderna, Deus prefere os encontros pessoais ao uso de telemóvel. Que sucederia se Cristo instalasse uma central de telemóveis no céu? Imagine-se alguém a rezar e ouvir a seguinte mensagem: "Central Celeste, por favor marque uma das seguintes opções: para pedidos marque 1; para queixas marque 2, para outro assunto marque 3... "
Ou então: "Neste momento os nossos anjos estão ocupados. Por favor deixe a sua mensagem no serviço de espera. Se deseja falar com o Anjo Gabriel marque 5, com outro Anjo marque 6." O pior seria: "A sua alma apresenta um saldo de tantos méritos. Deverá ser recarregada no próximo Domingo nas missa das 09H00." Por fim imaginemos outra resposta: "O número que marcou não está atribuído. Por favor, certifique-se da sua intenção ou então marque de novo sem distracções..."
Graças a Deus que nada disto acontece. Podemos chamar a Deus quantas vezes quisermos que somos sempre atendidos. A Sua linha nunca está ocupada. Ainda bem que nos responde pessoalmente e nos conhece antes mesmo de nos apresentarmos. Deus não deixa recados no gravador mas estende-nos imediatamente a sua mão.
Senhor, sabes que pertenço ao Teu povo,
que creio em Ti e que fazes parte da minha vida,
mas muitas vezes vivo como se não existisses,
porque não confio em Ti inteiramente.
Quero ter a fé da mulher que tocou o Teu manto,
convencida de que a podias curar.
Tu convidas-me a que me erga,
a não me acomodar à mediocridade,
a viver uma vida apaixonante,
a trabalhar com a mesma fraternidade que Tu
e a confiar em Ti no desenrolar da minha história.
Tu dás-me impulso para acordar tudo o que em mim dorme,
ensinas-me que posso chegar mais longe,
fazes-me crescer como ser humano,
com toda a minha grandeza e fragilidade.
A fé em Ti, Senhor,
afasta-me de fatalismos e desesperanças,
porque me fazes confiar nas pessoas.
Há muita dor no nosso mundo
e a alguns de nós coube uma vida muito dura ...
Hoje peço-Te, Senhor,
que sussurres ao ouvido de cada um dos meus irmãos:
"A tua fé salvou-te, vai-te em paz ... "
Louvo-Te, Senhor porque Tu és um Deus misturado com a obra das tuas mãos.
Tu não és um distante e a tua criação não é operação por controle remoto...
Tudo está embebido da Tua presença; basta estender a mão para auferir o teu toque!
A brutal hemorragia do teu amor, estancou o derramamento da nossa esperança!
Senhor, socorre esta humanidade, campo onde a morte disputa com a vida.
E hoje espero-te para aceitar que me levantes, quero viver a tua vida, caminhar
no teu movimento e acompanhar-te na tua peregrinação pelo sofrimento humano.