PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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II Domindo da Quaresma A

Transfig1“Este é o meu Filho… Escutai-o”

A Vida cristã pode ser comparada a uma caminhada que deve ser percorrida na escuta atenta da voz de Deus e no cumprimento dos seus planos. 
A Quaresma é a grande oportunidade que nos pode ajudar a rever essa caminhada.

A primeira leitura apresenta-nos a longa caminhada de Abraão. Deus chama-o e convida-o a deixar a sua terra, a sua família e a partir ao encontro de uma outra terra, para ser sinal de Deus no meio dos homens. Deus oferece-lhe a sua bênção e a promessa de uma família numerosa, sinal da Salvação de Deus diante de todos os povos. Diante deste desafio, Abraão acreditou e pôs-se a caminho.

Na segunda leitura, Paulo exorta o seu amigo Timóteo a superar a sua timidez e a ser um modelo de fidelidade no testemunho da fé.

O Evangelho apresenta a caminhada de Jesus para Jerusalém, onde faz o primeiro anúncio da Paixão. O sonho esperado pelos discípulos era bem diferente, por isso, ficam profundamente desanimados. Aquela aventura parece encaminhar-se para um grande fracasso!
Para fortalecer o ânimo, profundamente abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e revela-lhes no Monte Tabor o esplendor da divindade.
Com a Transfiguração, Mateus quer revelar quem é Jesus: o Filho muito amado do Pai, que vai realizar o projecto salvador de Deus em favor de todos homens através do dom da sua vida. Pela Transfiguração, Deus mostra-nos, que uma vida feita dom nunca é fracasso, mesmo se termina na cruz.


Primeira Leitura (Gn 12,1-4)
Leitura do Livro do Génesis

Naqueles dias,
o Senhor disse a Abrão:
«Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai
e vai para a terra que Eu te indicar.
Farei de ti uma grande nação e te abençoarei;
engrandecerei o teu nome e serás uma bênção.
Abençoarei a quem te abençoar,
amaldiçoarei a quem te amaldiçoar;
por ti serão abençoadas todas as nações da terra».
Abrão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 32 (33)
Refrão: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.

A palavra do Senhor é recta,
na fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor.

Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome.

A nossa alma espera o Senhor:
Ele é o nosso amparo e protector.
Venha sobre nós a vossa bondade,
porque em Vós esperamos, Senhor.


Segunda Leitura (2Tim 1,8b-10)
Leitura da Segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo

Caríssimo:
Sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus.
Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade,
não em virtude das nossas obras,
mas do seu próprio desígnio e da sua graça.
Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus,
desde toda a eternidade
manifestou-se agora pelo aparecimento
de Cristo Jesus, nosso Salvador, que destruiu a morte
e fez brilhar a vida e a imortalidade,
por meio do Evangelho.


EVANGELHO (Mt 17,1-9)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Mateus

Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão
e levou os, em particular, a um alto monte
e transfigurou-Se diante deles:
o seu rosto ficou resplandecente como o sol
e as suas vestes tornaram se brancas como a luz.
E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele.
Pedro disse a Jesus:
«Senhor, como é bom estarmos aqui!
Se quiseres, farei aqui três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias».
Ainda ele falava,
quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra
e da nuvem uma voz dizia:
«Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».
Ao ouvirem estas palavras,
os discípulos caíram de rosto por terra a assustaram se muito.
Então Jesus aproximou se e, tocando os, disse:
«Levantai vos e não temais».
Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus.
Ao descerem do monte, Jesus deu lhes esta ordem:
«Não conteis a ninguém esta visão,
até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».


«Levou-os em particular até a um alto monte
e transfigurou-se diante deles.»
(Mt. 17,1-2)

Eu também subi
ao Monte da Transfiguração.
Aquele instante de felicidade
deslumbrou todo o meu ser.
E quis parar o tempo,
prolongar o meu presente
sem pensar mais na vida que me esperava...

Mas Jesus ensinou-me
que é preciso descer a montanha,
carregar a tenda
e caminhar pelas veredas sinuosas da vida.
É na planície, entre os homens,
que eu tenho de contemplar
o Rosto Resplandecente do Senhor
e escutar a voz do Filho muito Amado.

Estive no Monte da Transfiguração.
A visão luminosa desapareceu
e eis que, de novo, me encontro só
perante o meu futuro.
Mas sinto os meus passos mais firmes:
à minha frente eu vejo o rasto de Jesus
que também já trilhou este caminho.

Contemplei a Transfiguração do Senhor.
Com Ele vou descer a montanha,
fazer-me peregrino e segui-l’O
até à Glória da Ressurreição.

I Domingo da Quaresma A

1qua A Quaresma é um tempo especial para aprofundarmos o plano de Deus e revermos a nossa vida cristã. As tentações procuram afastar-nos desse plano. Somos convidados pelo Espírito a viver este tempo de deserto para nos aproximarmos mais de Deus.

A primeira leitura apresenta-nos a tentação dos nossos protoparentes: Adão e Eva. Deus criou-nos para a felicidade e para a vida plena. No entanto o homem preferiu construir o "paraíso" a seu modo, rompendo com o plano de Deus – "sente-se nu" –, sente-se por isso incapaz de ser feliz.

A segunda leitura propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus.
Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decide, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena;
Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus.
O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; o esquema de Jesus propõe vida plena e definitiva.

O Evangelho fala-nos das tentações de Jesus. No deserto, Jesus é tentado a abandonar o plano de Deus e a procurar outros caminhos, mas Ele recusa.
- Tentação da Abundância: Jesus poderia ter escolhido este caminho de realização material, fazendo dos bens materiais a prioridade fundamental da vida. No entanto, Ele sabe que "nem só de pão vive o homem" e que a realização do homem não está no acumular de bens.
- Tentação do Prestígio: Jesus poderia ter escolhido este caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espectaculares. Mas Ele responde que não está interessado em satisfazer projectos pessoais do êxito e do triunfo fácil. "Não tentarás o Senhor teu Deus".
- Tentação do Poder e da Riqueza: Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio. No entanto, Jesus sabe que poder e domínio não são fundamentais na vida. Por isso, responde: "Adorarás o Senhor teu Deus".
As três tentações aqui apresentadas são três faces de uma única tentação: a tentação de prescindir de Deus e de escolher um caminho à margem das propostas de Deus.


Primeira Leitura (Gn 2,7-9;3,1-7)
Leitura do Livro do Génesis

O Senhor Deus formou o homem do pó da terra,
insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo.
Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente,
e nele colocou o homem que tinha formado.
Fez nascer na terra toda a espécie de árvores,
de frutos agradáveis à vista e bons para comer,
entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim,
e a árvore da ciência do bem e do mal.
Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais do campo
que o Senhor Deus tinha feito.
Ela disse à mulher:
«É verdade que Deus vos disse:
“Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do Jardim”?»
A mulher respondeu:
«Podemos comer o fruto das árvores do jardim;
mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim,
Deus avisou-nos:
“Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis”».
A serpente replicou à mulher:
«De maneira nenhuma! Não morrereis.
Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos
e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal».
A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer
e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência.
Colheu o fruto e comeu-o;
depois deu-o ao marido, que estava junto dela, e ele também comeu.
Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos.
Por isso, entrelaçaram folhas de figueira
e cingiram os rins com elas.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 50 (51)
Refrão: Pecámos, Senhor: tende compaixão de nós.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.

Porque eu reconheço os meus pecados
e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.
Pequei contra Vós, só contra Vós,
e fiz o mal diante dos vossos olhos.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca cantará o vosso louvor.


Segunda Leitura (Rom 5,12-19)
Leitura do apóstolo S. Paulo aos Romanos

Irmãos:
Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo
e pelo pecado a morte,
assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram.
De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo.
Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei.
Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés,
mesmo para aqueles que não tinham pecado
por uma transgressão à semelhança de Adão,
que é figura d’Aquele que havia de vir.
Mas o dom gratuito não é como a falta.
Se pelo pecado de um só pereceram muitos,
com muito mais razão a graça de Deus,
dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo,
se concedeu com abundância a muitos homens.
E esse dom não é como o pecado de um só:
o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação,
ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação.
Se a morte reinou pelo pecado de um só homem,
com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância
a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo.
Porque, assim como pelo pecado de um só,
veio para todos os homens a condenação,
assim também, pela obra de justiça de um só,
virá para todos a justificação que dá a vida.
De facto, como pela desobediência de um só homem,
muitos se tornaram pecadores,
assim também, pela obediência de um só, muitos se tornarão justos.


EVANGELHO (Mt 4,1-11)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio.
Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome.
O tentador aproximou se e disse-lhe:
«Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães».
Jesus respondeu-lhe:
«Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’».
Então o Demónio conduziu-O à cidade santa,
levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe:
«Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito:
‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos,
para que não tropeces em alguma pedra’».
Respondeu-lhe Jesus:
«Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’».
De novo o Demónio levou-O consigo a um monte muito alto,
mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe:
«Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares».
Respondeu-lhe Jesus:
«Vai-te, Satanás, porque está escrito:
‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’».
Então o Demónio deixou-O
e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.


Ressonâncias

E para nós, seguidores de Jesus, o que é decisivo na nossa vida: as propostas de Deus, ou os nossos projectos pessoais?

– Quando o homem esquece Deus e as suas propostas e se fecha na sua auto-suficiência, facilmente cai na escravidão de outros “deuses” que estão longe de assegurar vida plena e felicidade duradoura. Quais são os deuses que condicionam as nossas decisões e opções?

– Deixar-se conduzir pela tentação dos bens materiais, do “ter mais e mais” é seguir o caminho de Jesus?

– Olhar apenas para o próprio conforto e comodidade, fechar-se à partilha e às necessidades dos outros… será que é seguir o exemplo de Jesus?

– Usar Deus para saciar a nossa vaidade, para promover o nosso êxito pessoal, para dar espectáculo… será que é seguir o exemplo de Jesus?

– Procurar o poder a todo o custo e exercê-lo com prepotência, será que é seguir o exemplo de Jesus?

As Tentações continuam... Qual é a nossa atitude diante delas?

História de São Vicente

S Vicente

São Vicente é o mais célebre dos mártires hispânicos, o único que se encontra incorporado na liturgia da igreja universal. O seu dia celebra-se a 22 de janeiro.

Desde muito cedo foi objeto de um culto amplamente difundido. Já o grande poeta Paulino de Nola, que viveu na segunda metade do século IV e na primeira do século V, lhe atribuía o mesmo estatuto que o de Santo Ambrósio em Itália, ou o de São Martinho de Tours na Gália. O seu contemporâneo Prudêncio dedica-lhe um longo poema, além de largo excerto noutro hino a propósito da cidade natal do mártir, Saragoça. Nos primeiros anos do século V, por volta de 410-412, Agostinho assim dizia em Cartago num dos sermões compostos para a missa da festa do mártir ("Sermo" 276, PL 38, 1257):
«Qual é hoje a região, qual a província, até onde quer que se estenda tanto o império romano como o nome de Cristo, que não rejubile por celebrar o dia consagrado a Vicente?»

Segundo a tradição hagiográfica, os acontecimentos ter-se-iam passado na sequência de uma série de decretos dos imperadores Diocleciano e Maximiano, emitidos nos anos 303 e 304, que intentavam reprimir o culto cristão por todo o império. Vicente seria diácono em Saragoça, quando é preso por um governador de quem não temos qualquer outra referência e cuja existência é muito problemática, de nome Daciano. Recusando revelar o sítio dos livros de culto e abjurar, como ordenava o decreto imperial, é levado para Valência (episódio singular, pois Saragoça e Valência pertenciam a províncias distintas, uma à Tarraconense, a outra à Cartaginense, cada uma com o seu próprio governador). Das sequelas do interrogatório sob tortura a que foi submetido, faleceu a 22 de janeiro do ano 304.

Após a morte, a hagiografia deixou-nos acontecimentos miraculosos, como o episódio do corvo e o do regresso do corpo a terra, após ter sido lançado ao mar. Poucos anos depois, a partir de 313, no tempo do imperador Constantino, constrói-se um sepulcro martirial em Valência, que mais tarde daria lugar uma basílica extramuros, onde o corpo era venerado pelos devotos.

O culto difundiu-se rapidamente. Corroborando os textos hagiográficos, Valência assumiu-se desde logo como sua sede privilegiada. Aqui ficava a igreja que acolhia o corpo do mártir, citada por Prudêncio e pela Paixão traduzida mais adiante. Além disso, uma inscrição transmitida por um manuscrito do século IX indica que o bispo Justiniano (527-548), membro de uma família de ilustres literatos e eclesiásticos, além de muito devoto do santo, terá deixado os seus bens em testamento a um mosteiro dedicado a São Vicente, que a tradição identifica hoje com San Vicente de la Roqueta.

O outro local importante era Saragoça, onde Vicente fora diácono e onde o seu martírio começara. Já em finais do século IV e inícios do século V, o poeta Prudêncio refere o culto que aí se desenvolvia, aludindo a umas relíquias (fala de algum objeto com o sangue do mártir). Em 541, durante o cerco de Childeberto, rei da Nêustria, Saragoça teria sido salva pela intervenção miraculosa da túnica do mártir, em episódio mais adiante referido. Na primeira metade do século VII, o poeta Eugénio de Toledo dedica um epigrama a uma igreja do santo, aludindo ao sangue e à túnica, túnica que reaparece numa oração da missa composta na mesma altura. Eugénio foi, de resto, arcediago desta igreja.

Além de Valência e Saragoça, cidades indissociáveis da figura de São Vicente, o culto cedo se estendeu a outras cidades da Hispânia. Em Sevilha, já antes de 428, quando os Vândalos invadem a cidade, a catedral onde Isidoro se recolheu na véspera de morrer estaria dedicada a S. Vicente. A catedral de Córdova também estaria sob a invocação do mártir em período anterior às invasões muçulmanas.

A epigrafia documenta-nos o desenvolvimento do culto em época recuada. Temos conhecimento, talvez no século V, de uma igreja em Toledo. No século VI, há notícia de três igrejas dedicadas ao mártir: uma em Nativola, Granada (consagrada em 594), outra em Cehegín na província de Múrcia, e uma terceira em Loja, perto de Córdova. No século VII, no ano 644, consagra-se um templo em Vejer de la Miel, perto de Cádis. Também o calendário epigráfico de Carmona, porventura do século VI ou VII, assinala o dia do santo. No século VII, o impulso dado ao culto é atestado pela significativa produção litúrgica (um hino, orações, uma missa, sermões), alguma da qual percorreremos nas páginas seguintes.

E desde o século VIII até ao século X, a proliferação de igrejas dedicadas a São Vicente é notável por toda a Hispânia: cite-se apenas Oviedo, onde em 761 são depositadas umas relíquias trazidas de Valência.

Em África, sabemos que, por inícios do século V, o dia de São Vicente era celebrado com grande solenidade. O ilustre Agostinho redigiu, entre 410 e 412, quatro sermões para este dia, um outro com larga referência, e, se acaso for do bispo de Hipona, um sexto entre 410 e 419 ("Serm. 4 De Iacob et Iesau"). Em quatro deles indica expressamente que tinham acabado de escutar a leitura da Paixão do mártir. No século VI, o seu culto está atestado por um calendário litúrgico de Cartago, escrito entre 506 e 535, por alguns sermões anónimos e pela epigrafia.

Na Gália e Aquitânia, o culto remonta, pelo menos, a meados do século V. (...) O século IX assiste a uma notável expansão do culto de São Vicente (...). Mas, de longe, a igreja mais famosa na Gália é a de Paris. Em 541, em campanha contra o rei visigodo Têudis, o rei Childeberto da Nêustria sitia Saragoça. A túnica de Vicente, mencionada por Eugénio de Toledo e na missa reelaborada no século VI na Hispânia, então reino dos Visigodos, foi levada em procissão em redor das muralhas e a cidade foi salva. Childeberto pediu então ao bispo da cidade relíquias do mártir. Este concedeu-lhe a estola (espécie de manto que se usava sobre a túnica). No regresso, Childeberto edificou em Paris uma basílica dedicada a São Vicente onde depositou a relíquia, tendo sido consagrada em 558 pelo bispo de Paris, Germano. Este foi o panteão dos primeiros reis merovíngios. Nos finais do século X e inícios do século XI, a igreja foi reconstruída. Em 1163, a igreja foi dedicada de novo a S. Germano, sendo desde então conhecida como Saint-Germain-des-Prés. Em Itália, o culto também se desenvolveu desde muito cedo. (...)

Por estas brevíssimas notas, é evidente a espantosa difusão que o culto a São Vicente alcançou nos séculos anteriores à nossa nacionalidade. Ora, sucede que os inícios do reino de Portugal, e, em particular, a cidade de Lisboa, estão indissociavelmente ligados ao diácono de Saragoça.

Já antes da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, temos notícia da existência de basílicas dedicadas ao mártir no que será mais tarde território português. Um documento do ano 830 (seguido de dois outros de cerca de 908 e do ano 911) refere uma igreja dedicada a São Vicente em Infias, Braga, que poderá remontar ao século VII. Em 972, documentação referente ao mosteiro do Lorvão menciona uma igreja nas imediações de Coimbra; documentos dos anos 970 e 973 aludem a uma Porta de São Vicente, nos limites das terras de um mosteiro designado "de Bacalusti", nas margens do rio Douro; em 978 e 1002 refere-se uma igreja de São Vicente "de Pararia".

Antes de 1094, quando passa para a posse do bispo de Coimbra, o mosteiro da Vacariça, na região da Mealhada, associava a invocação a São Vicente à de São Salvador, e já antes de meados do século XI, o mosteiro de Guimarães tinha o mártir de Valência como um dos seus titulares secundários. O censual de Braga, escrito entre 1088 e 1091, do qual se conserva apenas a parte respeitante à região entre o Lima e o Ave, refere oito igrejas dedicadas a São Vicente, e mais duas em que o mártir se associa a outro patrono. Enfim, a documentação medieval identifica noutras regiões outras igrejas sob a invocação do mártir que podem remontar a período anterior a meados do século XII.

Em Lisboa, a mais antiga atestação remonta ao tempo do nosso primeiro rei. Ao sitiar Lisboa em 1147, D. Afonso Henriques fizera o voto de, se a cidade lhe caísse nas mãos e os infiéis fossem aniquilados, mandar construir dois mosteiros junto a dois cemitérios que se revelavam necessários para sepultar os cruzados que sucumbiam junto às muralhas do castelo. Uma das igrejas foi erigida junto ao cemitério dos teutónicos em 1148 sob a invocação de São Vicente. Não sabemos se já ali haveria um culto mais antigo, se era uma criação expressa. Tendo o rei dado a escolher ao bispo D. Gilberto e aos cónegos uma das duas igrejas, estes optaram por Santa Maria dos Mártires (a atual Sé de Lisboa), junto ao cemitério dos ingleses. A igreja de São Vicente ficou então na posse do rei, e foi dirigida por presbíteros ingleses, até D. Afonso Henriques nomear o primeiro prior, Gualter, de origem flamenga, a que se seguiram cónegos regrantes da confiança do rei. Isto é relatado na "Notícia da fundação do mosteiro de São Vicente", redigida em 1188.

SVicentMas o que liga intrinsecamente Lisboa a São Vicente é a chegada das suas relíquias ocorrida em 1173. Conta a "Crónica de Al-Razi", composta no século X, que conhecemos por intermédio de uma tradução portuguesa do século XIV feita a mando de D. Dinis, que, durante a perseguição de Abderramán I (756-788), o corpo de São Vicente fora levado de Valência, onde estaria na antiga igreja sob sua invocação, para o Promontório Sacro, hoje Cabo de São Vicente, em Sagres. O caráter sagrado do local já na Antiguidade era assinalado, desde, pelo menos, o geógrafo Estrabão, que viveu nos séculos I a.C. e I d.C., Plínio (século I d.C.) e outros autores do mundo clássico. A "História PseudoIsidoriana" e o geógrafo Al-Idrisi em obra de meados do século XII afirmavam que ali existiria uma "igreja dos corvos". Porventura, desde época recuada, ali poderia ter havido uma capela. Esta tradição sustentava a pretensão de Lisboa, pretensão essa apoiada nos séculos XVI e XVIII por Ambrósio de Morales e Henrique Flórez: seria aqui que estavam efetivamente as relíquias do santo.

Diga-se que Lisboa não era a única cidade a presumir ter o corpo do mártir. Aimoin de Saint-Gerrnain-des-Prés conta que o corpo do mártir fora trazido, em 863, de Valência para Castres, uma cidade no sul de França. No século XI, um braço num relicário fora levado de Valência para Bari. Também San Vincenzo ai Volturno (desde inícios do século VIII), e depois Cortona e Metz, Benevento e Monembasia (no sul da Grécia), reclamavam deter o corpo do santo. Por outro lado, o século XII é um período de intenso "achamento" de corpos santos e relíquias, geralmente com o objetivo de promover a peregrinação e ampliar o prestígio e o estatuto das respetivas igrejas. Relembre-se apenas, no início do século, Braga e Compostela, que se dedicaram à disputa da posse de corpos santos.

Neste contexto, em 1173, de acordo com um texto de finais do século XII ou do século XIII da autoria de Estêvão, chantre da catedral de Lisboa, e que segundo Aires Nascimento, corresponde ao momento da instauração do culto na diocese de Lisboa, um anónimo alerta para a existência do corpo do mártir na ponta do Algarve, em mãos dos infiéis. No dia 15 de setembro, as relíquias chegam a Lisboa, ficando na igreja de Santa Justa, antes de se recolherem no dia seguinte na Sé, com a oposição da igreja real de São Vicente. O mártir de Valência tornou-se assim o padroeiro de Lisboa, sendo o dia da chegada do seu corpo celebrado na liturgia e em animadas festas populares (15 de setembro). E este dia, que no século XIX mudou para 16 de setembro, foi comemorado até recentemente.

Paulo Farmhouse Alberto,
In "Santos e Milagres na Idade Média em Portugal", vol. I,
ed. Centro de Estudos Clássicos - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

IMACULADA CONCEIÇÃO

imaculadaNa Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.

A primeira leitura mostra o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.

A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projecto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher — um projecto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projecto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.

O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a auto-suficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.


Primeira Leitura (Gen 3,9-15.20)
Leitura do Livro do Génesis
 
Depois de Adão ter comido da árvore,
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e entre todos os animais selvagens.
Hás-de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Esta te esmagará a cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».
O homem deu à mulher o nome de 'Eva',
porque ela foi a mãe de todos os viventes.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)
 
Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
o Senhor fez maravilhas.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

Segunda Leitura (Ef 1,3-6.11-12)
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que do alto dos Céus nos abençoou
com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
N'Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis,
em caridade, na sua presença.
Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo,
para louvor da sua glória
e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
por termos sido predestinados,
segundo os desígnios d'Aquele que tudo realiza
conforme a decisão da sua vontade,
para sermos um hino de louvor da sua glória,
nós que desde o começo esperámos em Cristo.

EVANGELHO (Lc 1,26-38)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo:
«Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?»
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:«Eis a escrava do Senhor;faça-se em mim
segundo a tua palavra»


Imaculada Conceição
«Dogma definido por Pio IX (Bula Ineffabilis Deus de 8.12.1854), reconhecendo que Maria, Mãe de Jesus, foi concebida sem pecado original e cheia de graça, desde o primeiro instante da sua existência, na previsão dos méritos redentores de Jesus Cristo Com fundamento na Escritura, esta verdade foi-se impondo à Igreja ao longo dos séculos, sobretudo defendida pelos Franciscanos, a partir de 1263, e geralmente aceite depois da argumentação de Duns Escoto.

Portugal aderiu à mesma corrente, manifestando uma grande devoção a esta prerrogativa de Maria, tendo declarado Nossa Senhora da Conceição padroeira do Reino, em 1646.

A liturgia celebra este mistério com a categoria de solenidade, a 8 de Dezembro, com textos que datam de Pio IX e reflectem o clima próprio do Tempo do Advento em que esta celebração cai. A piedade popular dedica-lhe uma especial novena preparatória.»

D. Manuel Franco Falcão, in Enciclopédia Popular Católica


Consagração a Maria Imaculada
Senhora Nossa, Mãe de Jesus e nossa Mãe,
neste dia dedicado a ti,
queremos consagrar-nos ao teu Amor de Mãe,
entregando-nos nos Teus braços de esperança
e no Teu coração de bondade.
Faz com que, a exemplo do Teu Filho,
aprendamos a partilhar a vida com os nossos irmãos.

Consagramos-Te tudo o que temos e somos;
a nossa vontade de trabalhar e de construir
um mundo mais maravilhoso,
mais saudável, mais amigo e mais irmão,
onde o Teu coração de Mãe
não cessará de nos lançar o apelo de Jesus, Teu Filho:
Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!

Maria, que o Teu manto nos cubra,Maria02
que a tua serenidade nos prenda
e que o Teu coração nos salve.
Que o Teu SIM seja a força do nosso sim
para Te imitarmos na resposta,
que queremos que seja generosa
ao convite do Teu Filho e nosso irmão, Jesus.
Fortalece-nos e acompanha-nos
no nosso peregrinar terreno
para podemos vencer as dificuldades da vida.

Abençoa a nossa mãe da terra,Imaculada
protege-a, Tu que és a Mãe das mães,
a estrela do lar e a força do amor.

Ó Maria,
Tu conheces bem os nossos sonhos e projectos,
ajuda-nos a poder realizá-los,
mas sem nunca nos afastarmos de Ti
e da Boa Nova de Teu Filho.

Torna-nos capazes de anunciarmos sempre
a verdade, a paz e o amor.
Queremos, com a tua ajuda,
testemunhar o Evangelho
para que o mundo se torne mais belo
e os homens vivam como irmãos.

Maria, podes contar connosco!

Portugal e a Imaculada Conceição

mImaculada

O berço de Portugal é cristão
e a sua madrinha é a Imaculada Conceição

Ninguém pode dizer não ter existido, pelo menos desde o século XI, a crença explícita na conceição imaculada da Virgem. Existiu e espalhou-se gradualmente a toda a Igreja ocidental. Foi, porém, a 8 de Dezembro de 1854 que se realizou a festa tão desejada por tantos cristãos: Pio IX, rodeado por 54 cardeais, um patriarca, 42 arcebispos, 100 bispos, 300 prelados, milhares de sacerdotes e de fiéis católicos, afirmou solenemente o dogma da Imaculada Conceição: «Declaramos que a doutrina que afirma que Maria foi concebida sem pecado original, é uma doutrina revelada por Deus e que nos obriga a todos a aceitá-la como dogma de fé».


«Portugal teve sempre muita devoção à Imaculada Conceição. À sombra do santuário da Imaculada Conceição de Vila Viçosa tinha nascido, do sangue heróico de Nuno Álvares Pereira, o 8.º duque de Bragança, que do céu destinara para outra vez dar aos portugueses uma nação livre e independente.

É, sobretudo, a D. João IV que Portugal ficou a dever que Nossa Senhora da Conceição fosse declarada Padroeira Nacional. Estando reunidas as Cortes em Lisboa, desde 28 de Dezembro de 1645 até 16 de Março de 1646, propôs-lhes o rei que se declarasse Nossa Senhora da Conceição Defensora e Protectora da Pátria. O resultado dessa proposta consta da Provisão Régia de 25 de Março de 1646, de que salientamos estes parágrafos:
"Estando ora juntos em Cortes com os três Estados do Reino lhes fiz propor a obrigação que tínhamos de renovar e continuar esta promessa (de D. Afonso Henriques) e venerar com muito particular afecto e solenidade a festa de Sua Imaculada Conceição: E nelas com parecer de todos, assentámos de tomar por padroeira de Nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição... e lhe ofereço de novo em meu nome e do Príncipe D. Teodósio meu sobre todos muito amado e prezado filho e de todos os meus descendentes, sucessores, Reinos, Senhorios e Vassalos à sua Santa Casa da Conceição sita em Vila Viçosa, por ser a primeira que houve em Espanha desta invocação, cinquenta escudos de ouro em cada um ano em sinal de Tributo e Vassalagem: E da mesma maneira prometemos e juramos com o Príncipe e Estados de confessar e defender sempre (até dar a vida sendo necessário) que a Virgem Maria Mãe de Deus foi concebida sem pecado original".

No mesmo dia 25, festa da Anunciação, que nesse ano coincidiu com o Domingo de Ramos, efectuou-se na Capela Real a solenidade do juramento. O Secretário de Estado leu em voz alta a Provisão Régia e por fim a fórmula do juramento que D. João IV, ajoelhado diante do altar, foi repetindo. O Príncipe herdeiro, os grandes da nobreza, os representantes do povo, e os cinco Bispos presentes prestaram em seguida juramento. Um solene Te Deum rematou tão bela e significativa cerimonia. Durante a noite a cidade apareceu rebrilhando com as constelações de mil luzes que faziam ressaltar o júbilo do povo, manifestado nos seus ardentes cânticos.

Por este acto tão solene e expressivo a Virgem Imaculada era constituída e declarada, por todos os poderes da Nação, Senhora e Rainha de Portugal. Por outras palavras, o Governo transferia para Ela o poder e domínio de que gozava, tornando-se Nossa Senhora verdadeira Soberana de Portugal. Os reis, em sinal de que aceitavam o seu domínio, pagar-lhe-iam cada ano um tributo de submissão e desde essa altura mais nenhum monarca colocou a coroa na cabeça, pois isso equivaleria a usurpar um direito pertencente a Nossa Senhora. Passados dois anos, em 1648, mandou D. João IV cunhar moedas de oiro e prata, tendo numa das faces a Imaculada Conceição com a legenda: Tutelaris Regni, Padroeira do Reino.

A 30 de Junho de 1654 – precisamente dois séculos antes da definição dogmática de Pio IX – o rei dá nova prova do seu amor à Imaculada. Dirige às Câmaras da Nação uma carta em que dizia: "Para que seja mais notória a obrigação que eu e todos meus vassalos temos de defender que a Virgem Senhora Nossa foi concebida sem pecado original, houve por bem resolver que em todas as portas e entradas das cidades, vilas e lugares de meus Reinos se ponha, em uma pedra lavrada, a inscrição de que será cópia esta carta: Encomendo-vos a façais pôr nas portas e lugares dessa cidade (ou vila) e me aviseis de como o tendes executado." A ordem foi cumprida e ainda subsistem em nossos dias muitas dessas lápides.

Os sucessores do trono de tão piedoso monarca quiseram continuar estas tradições. D. João V, por exemplo, a 12 de Novembro de 1717, dirigiu uma circular à Universidade de Coimbra e a todos os Prelados e Colegiais do Reino recomendando-lhes que fizessem celebrar cada ano nas suas igrejas, com toda a pompa, a festa da Imaculada Conceição, recordando a eleição da Padroeira e o juramento de D. João IV.
D. João VI, para especial honra e homenagem da Padroeira, criou a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Em Portugal, a bula Ineffabilis Deus de 1854, com a definição, precisava, para ser publicado oficialmente, de beneplácito régio, que o soberano não podia conceder sem a aprovação das duas Câmaras. O Ministro da Justiça conseguiu-a finalmente, após duas sessões de três horas cada uma na Câmara dos deputados e após uma sessão de duas horas na Câmara dos Pares. Por fim, D. Fernando, regente em nome de quem viria a ser D. Pedro V, pôde conceder o beneplácito a 16 de Março de 1855. Foi publicado a bula no Diário do Governo.

Fizeram-se comemorações solenes da definição, com entusiasmo e grandes concursos do povo. Mas comemorações tardias, por causa das interferências do liberalismo: em Lisboa, o Te Deum só foi a 16 de Abril. Braga antecipara-se muito, graças ao Pe. Martinho António Pereira da Silva; as cerimónias foram a 6 e 7 de Janeiro. O referido sacerdote, para comemorar a definição, propôs se erigisse o Sameiro, o grande Santuário nacional em honra da Imaculada Conceição. Notabilíssimas foram as festas do cinquentenário e centenário da definição, respectivamente em 1904 e 1954; referimo-nos sobretudo ao Sameiro.
A Imaculada Conceição é patrona primária de Portugal desde 1646.»

(José Leite, Santos de cada dia, Editorial A.O., Braga 1994, pp. 416-418.)

 

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