PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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II Domingo da Páscoa B

Tome03a

A liturgia deste domingo apresenta-nos a comunidade de Homens Novos que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.

A primeira leitura mostra a Comunidade cristã de Jerusalém. É um dos sumários dos Actos dos Apóstolos. S. Lucas descreve uma comunidade ideal como modelo à Igreja e às igrejas de todas as épocas: é uma comunidade formada por pessoas diversas, mas que vivem a mesma fé "num só coração e numa só alma". Da adesão a Jesus resulta, obrigatoriamente, a comunhão e a união de todos os "irmãos" da comunidade. É uma comunidade que partilha os bens. Da comunhão com Cristo e dos cristãos entre si, resultam implicações práticas: a renúncia a qualquer tipo de egoísmo, de auto-suficiência e uma abertura de coração para a partilha, para o dom, para o amor. "Tudo entre eles era posto em comum, entre eles ninguém passava necessidade". Uma comunidade que testemunha o Senhor Ressuscitado. Viver de acordo com os valores de Jesus é a melhor forma de anunciar e de testemunhar que Jesus está vivo.

A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã os critérios que definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro crente é aquele que ama Deus, que adere a Jesus Cristo e à proposta de salvação que, através d'Ele, o Pai faz aos homens e que vive no amor aos irmãos. Quem vive desta forma, vence o mundo e passa a integrar a família de Deus.

No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d'Ele que a comunidade se estrutura e é d'Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.


LEITURA – Act 4,32-35
Leitura dos Actos dos Apóstolos

A multidão dos que haviam abraçado a fé
tinha um só coração e uma só alma;
ninguém chamava seu ao que lhe pertencia,
mas tudo entre eles era comum.
Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus
com grande poder
e gozavam todos de grande simpatia.
Não havia entre eles qualquer necessitado,
porque todos os que possuíam terras ou casas
vendiam-nas e traziam o produto das vendas,
que depunham aos pés dos Apóstolos.
Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
           porque é eterna a sua misericórdia.

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.

A mão do Senhor fez prodígios,
A mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
Com dureza me castigou o Senhor,
mas não me deixou morrer.

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.


LEITURA II – 1 Jo 5,1-6
Leitura da Primeira Epístola de São João

Caríssimos:
Quem acredita que Jesus é o Messias,
nasceu de Deus,
e quem ama Aquele que gerou
ama também Aquele que nasceu d'Ele.
Nós sabemos que amamos os filhos de Deus
quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos,
porque o amor de Deus
consiste em guardar os seus mandamentos.
E os seus mandamentos não são pesados,
porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo.
Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.
Quem é o vencedor do mundo
senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus?
Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo;
não só com a água, mas com a água e o sangue.
É o Espírito que dá testemunho,
porque o Espírito é a verdade.


EVANGELHO – Jo 20,19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois,
estavam os discípulos outra vez em casa,
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.


Ressonâncias

O Evangelho deste Domingo apresenta-nos dois encontros da nova Comunidade com o Cristo Ressuscitado, no cenáculo. É uma catequese sobre a presença de Jesus, que continua vivo e ressuscitado, acompanhando a sua Igreja: Os Apóstolos estão reunidos, mas "trancados" e dominados pela incredulidade, pela tristeza e pelo medo. Tomé incrédulo na promessa de Cristo e na palavra dos colegas é exemplo dos que não valorizam o testemunho comunitário e dos que querem ser cristãos sem Igreja.

Hoje, ainda há muitos que vivem de "portas trancadas". Dominados pelo medo e pela insegurança, aguardam por melhores dias de justiça e de paz. O Ressuscitado derruba as trancas e restaura a paz e a alegria: "A Paz esteja convosco" (3x). Hoje, Ele torna-nos também protagonistas da Paz, que é conquistada e construída pelo empenho de todos.

No primeiro dia da semana, após a Morte e Ressurreição. Com esse primeiro dia, começa o "Dia do Senhor", o DOMINGO. O que significa para ti o Domingo? É de facto o "Dia do Senhor"?
- Jesus está no centro da Comunidade, onde todos vão beber essa vida que lhes permite vencer o medo e a hostilidade do mundo. É a videira ao redor da qual se enxertam os ramos...
- Confia a Missão: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós." Continua acreditando neles e, apesar de tudo, conta com eles. Na missão, apesar de tudo, Ele conta também connosco.
- Inicia uma nova Criação: "Jesus soprou sobre eles", como Deus na criação do homem (Gen 2,7) e acrescenta: "Recebei o Espírito Santo". Com o dom do Espírito Santo, o Senhor ressuscitado inicia um mundo novo e com o envio dos discípulos inaugura-se um novo Israel, que crê em Cristo e testemunha a verdade da Ressurreição.
- Institui a Penitência: "Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». Uma vez perdoados, são enviados a perdoar em nome de Deus. É um Sacramento tipicamente Pascal: nascido num clima de alegria e de vitória.

Como se chega à fé em Cristo Ressuscitado? A Comunidade é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Longe da comunidade, Tomé não acreditou na palavra de Jesus, nem dos colegas. A sua fé reacende-se, quando no "Dia do Senhor" voltou à Comunidade e faz um belo acto de fé: "Meu Senhor e meu Deus!" E Cristo acrescenta: "Felizes os que acreditam sem terem visto."
Tomé representa aqueles que vivem afastados da comunidade, sem perceberem os sinais de vida que nela se manifestam.

Este episódio é uma alusão clara ao Domingo. Lembra as celebrações dominicais da comunidade primitiva e a nossa experiência pascal que se renova em cada Domingo. A experiência de Tomé é possível para os homens de todos os tempos.
O que significa para ti a Eucaristia Dominical?

A DIVINA MISERICÓRDIA, que hoje celebramos é garantia e força para o desempenho de nossa missão. Santo Domingo!


Viver Unidos

O pároco de uma igreja reparou que um dos seus mais assíduos fiéis desertava, várias semanas seguidas, à missa dominical. Uma noite decidiu visitá-lo. Encontrou-o sozinho em casa, sentado junto à lareira. Depois dos cumprimentos habituais, sentaram-se os dois em silêncio. Então o padre, tirou uma brasa da lareira, colocou-a isolada no pavimento e ficou a olhar. Pouco a pouco aquele carvão, separado do braseiro, foi-se apagando. Então o paroquiano tomou a palavra:

- Obrigado, Reverendo, por esta lição. No próximo Domingo, lá estarei com a comunidade porque não quero que a minha vida espiritual se apague lentamente como esta brasa.

Às vezes, um gesto vale mais que mil palavras bem como um estímulo é mais eficaz que uma dura repreensão.

A mensagem deste segundo Domingo da Páscoa é um convite à vida comunitária sem a qual é-nos difícil viver. A comunidade primitiva tinha um só coração e uma só alma. Tomé, isolado do grupo dos Discípulos, definhava na sua fé. O amor não é um simples sentimento na comunhão dos mesmos ideais. É uma força que entusiasma. A comunidade dos crentes era assim um sinal muito claro de Jesus Ressuscitado que prometeu estar presente no meio dos que acreditam nele.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

Homilia do Papa João Paulo II,
por ocasião da canonização da Irmã Maria Faustina Kowalska
(30 de Abril de 2000, Domingo da Misericórdia)

1. "Louvai o Senhor, porque Ele é bom, porque é eterno o Seu amor" (Sl 118, 1). Assim canta a Igreja na Oitava de Páscoa, como que recolhendo dos lábios de Cristo estas palavras do Salmo, dos lábios de Cristo ressuscitado, que no Cenáculo traz o grande anúncio da misericórdia divina e confia aos apóstolos o seu ministério: "A paz seja convosco! Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós... Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 21-23).

Antes de pronunciar estas palavras, Jesus mostra as mãos e o lado. Isto é, indica as feridas da Paixão, sobretudo a chaga do coração, fonte onde nasce a grande onda de misericórdia que inunda a humanidade. Daquele Coração a Irmã Faustina Kowalska, a Beata a quem de agora em diante chamaremos Santa, verá partir dois fachos de luz que iluminam o mundo: "Os dois raios, explicou-lhe certa vez o próprio Jesus representam o sangue e a água" (Diário, Libreria Editrice Vaticana, pág. 132).

2. Sangue e água! O pensamento corre rumo ao testemunho do evangelista João que, quando um soldado no Calvário atingiu com a lança o lado de Cristo, vê jorrar dali "sangue e água" (cf. Jo 19, 34). E se o sangue evoca o sacrifício da cruz e o dom eucarístico, a água, na simbologia joanina, recorda não só o baptismo, mas também o dom do Espírito Santo (cf. Jo 3, 5; 4, 14; 7, 37-39).

A misericórdia divina atinge os homens através do Coração de Cristo crucificado: "Minha filha, dize que sou o Amor e a Misericórdia em pessoa", pedirá Jesus à Irmã Faustina (Diário, pág. 374). Cristo derrama esta misericórdia sobre a humanidade mediante o envio do Espírito que, na Trindade, é a Pessoa-Amor. E porventura não é a misericórdia o "segundo nome" do amor (cf. Dives in misericordia, 7), cultuado no seu aspecto mais profundo e terno, na sua atitude de cuidar de toda a necessidade, sobretudo na sua imensa capacidade de perdão?

É deveras grande a minha alegria, ao propor hoje à Igreja inteira, como dom de Deus para o nosso tempo, a vida e o testemunho da Irmã Faustina Kowalska. Pela divina Providência a vida desta humilde filha da Polónia esteve completamente ligada à história do século XX, que há pouco deixámos atrás. De facto, foi entre a primeira e a segunda guerra mundial que Cristo lhe confiou a sua mensagem de misericórdia. Aqueles que recordam, que foram testemunhas e participantes nos eventos daqueles anos e nos horríveis sofrimentos que daí derivaram para milhões de homens, bem sabem que a mensagem da misericórdia é necessária.

Jesus disse à Irmã Faustina: "A humanidade não encontrará paz, enquanto não se voltar com confiança para a misericórdia divina" (Diário, pág. 132). Através da obra da religiosa polaca, esta mensagem esteve sempre unida ao século XX, último do segundo milénio e ponte para o terceiro. Não é uma mensagem nova, mas pode-se considerar um dom de especial iluminação, que nos ajuda a reviver de maneira mais intensa o Evangelho da Páscoa, para o oferecer como um raio de luz aos homens e às mulheres do nosso tempo.

3. O que nos trarão os anos que estão diante de nós? Como será o futuro do homem sobre a terra? A nós não é dado sabê-lo. Contudo, é certo que ao lado de novos progressos não faltarão, infelizmente, experiências dolorosas. Mas a luz da misericórdia divina, que o Senhor quis como que entregar de novo ao mundo através do carisma da Irmã Faustina, iluminará o caminho dos homens do terceiro milénio.

Assim como os Apóstolos outrora, é necessário porém que também a humanidade de hoje acolha no cenáculo da história Cristo ressuscitado, que mostra as feridas da sua crucifixão e repete: A paz seja convosco! É preciso que a humanidade se deixe atingir e penetrar pelo Espírito que Cristo ressuscitado lhe dá. É o Espírito que cura as feridas do coração, abate as barreiras que nos separam de Deus e nos dividem entre nós, restitui ao mesmo tempo a alegria do amor do Pai e a da unidade fraterna.

4. É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de "Domingo da Divina Misericórdia". Nas diversas leituras, a liturgia parece traçar o caminho da misericórdia que, enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus, suscita também entre os homens novas relações de solidariedade fraterna. Cristo ensinou-nos que "o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a "ter misericórdia" para com os demais. "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5, 7)" (Dives in misericordia, 14). Depois, Ele indicou-nos as múltiplas vias da misericórdia, que não só perdoa os pecados, mas vai também ao encontro de todas as necessidades dos homens. Jesus inclinou-se sobre toda a miséria humana, material e espiritual.

A sua mensagem de misericórdia continua a alcançar-nos através do gesto das suas mãos estendidas rumo ao homem que sofre. Foi assim que O viu e testemunhou aos homens de todos os continentes a Irmã Faustina que, escondida no convento de Lagiewniki em Cracóvia, fez da sua existência um cântico à misericórdia: Misericordias Domini in aeternum cantabo.

5. A canonização da Irmã Faustina tem uma eloquência particular: mediante este acto quero hoje transmitir esta mensagem ao novo milénio. Transmito-a a todos os homens para que aprendam a conhecer sempre melhor o verdadeiro rosto de Deus e o genuíno rosto dos irmãos.

Amor a Deus e amor aos irmãos são de facto inseparáveis, como nos recordou a primeira Carta de João: "Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos" (5, 2). O Apóstolo recorda-nos nisto a verdade do amor, indicando-nos na observância dos mandamentos a medida e o critério.

Com efeito, não é fácil amar com um amor profundo, feito de autêntico dom de si. Aprende-se este amor na escola de Deus, no calor da sua caridade. Ao fixarmos o olhar n'Ele, ao sintonizarmo-nos com o seu coração de Pai, tornamo-nos capazes de olhar os irmãos com olhos novos, em atitude de gratuidade e partilha, de generosidade e perdão. Tudo isto é misericórdia!

Na medida em que a humanidade souber aprender o segredo deste olhar misericordioso, manifesta-se como perspectiva realizável o quadro ideal, proposto na primeira leitura: "A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia mas, entre eles, tudo era comum" (Act 4, 32). Aqui a misericórdia do coração tornou-se também estilo de relações, projecto de comunidade, partilha de bens. Aqui floresceram as "obras da misericórdia", espirituais e corporais. Aqui a misericórdia tornou-se um concreto fazer-se "próximo" dos irmãos mais indigentes.

6. A Irmã Faustina Kowalska deixou escrito no seu Diário: "Sinto uma tristeza profunda, quando observo os sofrimentos do próximo. Todas as dores do próximo se repercutem no meu coração; trago no meu coração as suas angústias, de tal modo que me abatem também fisicamente.

Desejaria que todos os sofrimentos caíssem sobre mim, para dar alívio ao próximo" (pág. 365). Eis a que ponto de partilha conduz o amor, quando é medido segundo o amor de Deus!

É neste amor que a humanidade de hoje se deve inspirar, para enfrentar a crise de sentido, os desafios das mais diversas necessidades, sobretudo a exigência de salvaguardar a dignidade de cada pessoa humana. A mensagem de misericórdia divina é assim, implicitamente, também uma mensagem sobre o valor de todo o homem. Toda a pessoa é preciosa aos olhos de Deus; Cristo deu a vida por cada um; o Pai dá o seu Espírito a todos, oferecendo-lhes o acesso à Sua intimidade.

7. Esta mensagem consoladora dirige-se sobretudo a quem, afligido por uma provação particularmente dura ou esmagado pelo peso dos pecados cometidos, perdeu toda a confiança na vida e se sente tentado a ceder ao desespero. Apresenta-se-lhe o rosto suave de Cristo, chegando-lhe aqueles raios que partem do seu Coração e iluminam, aquecem e indicam o caminho, e infundem esperança. Quantas almas já foram consoladas pela invocação "Jesus, confio em Ti", que a Providência sugeriu através da Irmã Faustina! Este simples acto de abandono a Jesus dissipa as nuvens mais densas e faz chegar um raio de luz à vida de cada um.

"Jezu ufam tobie!"
8. Misericordias Domini in aeternum cantabo (Sl 88 [89], 2). À voz de Maria Santíssima, "Mãe da misericórdia", à voz desta nova Santa, que na Jerusalém celeste canta a misericórdia juntamente com todos os amigos de Deus, unamos também nós, Igreja peregrinante, a nossa voz.

E tu, Faustina, dom de Deus ao nosso tempo, dádiva da terra da Polónia à Igreja inteira, obtém-nos a graça de perceber a profundidade da misericórdia divina, ajuda-nos a torná-la experiência viva e a testemunhá-la aos irmãos! A tua mensagem de luz e de esperança se difunda no mundo inteiro, leve à conversão os pecadores, amenize as rivalidades e os ódios, abra os homens e as nações à prática da fraternidade. Hoje, ao fixarmos contigo o olhar no rosto de Cristo ressuscitado, fazemos nossa a tua súplica de confiante abandono e dizemos com firme esperança:

Jesus Cristo, confio em Ti!

30 de Abril de 2000

Domingo de Ramos - B

DRamos1

Com o Domingo de Ramos começamos a Semana Santa, a Semana Maior. Somos convidados a contemplar o grande amor de Deus, que desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se homem, deixou-se matar pela nossa salvação. É uma oportunidade para reviver os mistérios centrais da Redenção.

A Liturgia de hoje lembra-nos dois factos: a Entrada de Jesus em Jerusalém; e a Paixão de Nosso Senhor. Na primeira parte, prevalece o clima de alegria, com a entrada de Jesus em Jerusalém montado sobre um jumento, à semelhança de um rei vitorioso; na segunda parte, a abertura da Semana Santa, através das leituras bíblicas:

A primeira Leitura apresenta a figura do "Servo Sofredor". Ele recebe a missão profética que se concretiza no sofrimento e na dor. Do aparente insucesso no sofrimento resulta o perdão do pecado do Povo. Os cristãos vêem neste "Servo" a figura de Jesus.

O Salmo 21 lembra as palavras mencionadas por Cristo na Cruz: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"

A segunda Leitura apresenta o exemplo de Cristo, que escolheu a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É o caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.

O Evangelho apresenta-nos dois momentos da vida de Cristo: o triunfo, com a entrada solene de Jesus em Jerusalém – o Povo reconhece que Ele é o Salvador e aclama-o; e a humilhação, com a leitura da Paixão – é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total para a humanidade.


LEITURA I – Is 50,4-7
Leitura do Livro de Isaías

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo,
para que eu saiba dizer uma palavra de alento
aos que andam abatidos.
Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos,
para eu escutar, como escutam os discípulos.
O Senhor Deus abriu-me os ouvidos
e eu não resisti nem recuei um passo.
Apresentei as costas àqueles que me batiam
e a face aos que me arrancavam a barba;
não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.
Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio,
e, por isso, não fiquei envergonhado;
tornei o meu rosto duro como pedra,
e sei que não ficarei desiludido.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)
Refrão: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?

Todos os que me vêem escarnecem de mim,
estendem os meus lábios e meneiam a cabeça:
«Confiou no Senhor, Ele que o livre,
Ele que o salve, se é meu amigo».

Matilhas de cães me rodearam,
cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
posso contar todos os meus ossos.

Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica.
Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.

Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.


LEITURA II – Filip 2,6-11
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos FilipensesPaix032a

Cristo Jesus, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,
obedecendo até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem
no céu, na terra e nos abismos,
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
para glória de Deus Pai.


EVANGELHO – Mc 14,1 - 15,47
N Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

N Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos
e os príncipes dos sacerdotes e os escribas
procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traiçãopalma
para Lhe darem a morte.
Mas diziam:

R «Durante a festa, não,
para que não haja algum tumulto entre o povo».

N Jesus encontrava-Se em Betânia,
em casa de Simão o Leproso,
e, estando à mesa,
veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro
com perfume de nardo puro de alto preço.
Partiu o vaso de alabastro
e derramou-o sobre a cabeça de Jesus.
Alguns indignaram-se e diziam entre si:

R «Para que foi esse desperdício de perfume?
Podia vender-se por mais de duzentos denários
e dar o dinheiro aos pobres».

N E censuravam a mulher com aspereza.
Mas Jesus disse:

J «Deixai-a. Porque estais a importuná-la?
Ela fez uma boa acção para comigo.
Na verdade, sempre tereis os pobres convosco
e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem;
Mas a Mim, nem sempre Me tereis.
Ela fez o que estava ao seu alcance:
ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura.
Em verdade vos digo:
Onde quer que se proclamar o Evangelho,
pelo mundo inteiro,

dir-se-á também em sua memória, o que ela fez».

N Então, Judas Iscariotes, um dos Doze,
foi ter com os príncipes dos sacerdotes
para lhes entregar Jesus.
Quando o ouviram, alegraram-se
e prometeram dar-lhe dinheiro.
E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

N No primeiro dia dos Ázimos,
em que se imolava o cordeiro pascal,
os discípulos perguntaram a Jesus:

R «Onde queres que façamos os preparativos
para comer a Páscoa?»

N Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:

J «Ide à cidade.
Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água.
Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa:
'O Mestre pergunta: Onde está a sala,
em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?'
Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior,
alcatifada e pronta.
Preparai-nos lá o que é preciso».

N Os discípulos partiram e foram à cidade.
Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito
e prepararam a Páscoa.
Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze.
Enquanto estavam à mesa e comiam,
Jesus disse:

J «Em verdade vos digo:
Um de vós, que está comigo à mesa, há-de entregar-Me».

N Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro:

R «Serei eu?»

N Jesus respondeu-lhes:

J «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato.
O Filho do homem vai partir,
como está escrito a seu respeito,
mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído!
Teria sido melhor para esse homem não ter nascido».

N Enquanto comiam, Jesus tomou o pão,
recitou a bênção e partiu-o,
deu-o aos discípulos e disse:

J «Tomai: isto é o meu Corpo».

N Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho.
E todos beberam dele.
Disse Jesus:

J «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança,
derramado pela multidão dos homens.
Em verdade vos digo:
Não voltarei a beber do fruto da videira,
até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».

N Cantaram os salmos e saíram para o Monte das Oliveiras.

N Disse-lhes Jesus:

J «Todos vós Me abandonareis, como está escrito:
'Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas'.
Mas depois de ressuscitar,
irei à vossa frente para a Galileia».

N Disse-Lhe Pedro:

R «Embora todos te abandonem, eu não».

N Jesus respondeu-lhe:

J «Em verdade te digo:
Hoje, esta mesma noite, antes do galo cantar duas vezes,
três vezes Me negarás».

N Mas Pedro continuava a insistir:

R «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei».

N E todos afirmaram o mesmo.
Entretanto, chegaram a uma propriedade chamada Getsémani
e Jesus disse aos seus discípulos:

J «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar».

N Tomou consigo Pedro, Tiago e João
e começou a sentir pavor e angústia.
Disse-lhes então:

J «A minha alma está numa tristeza de morte.
Ficai aqui e vigiai».

N Adiantando-Se um pouco, caiu por terra
e orou para que, se fosse possível,
se afastasse d'Ele aquela hora.
Jesus dizia:

J «Abba, Pai, tudo Te é possível:afasta de Mim este cálice.
Contudo, não se faça o que Eu quero,
mas o que Tu queres».

N Depois, foi ter com os discípulos, encontrando-os dormindo
e disse a Pedro:

J «Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora?
Vigiai e orai, para não entrardes em tentação.
O espírito está pronto, mas a carne é fraca».

N Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras.
Voltou novamente e encontrou-os dormindo,
porque tinham os olhos pesados
e não sabiam que responder.
Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes:

J «Dormi agora e descansai...
Chegou a hora:
o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores.
Levantai-vos. Vamos.
Já se aproxima aquele que Me vai entregar».

N Ainda Jesus estava a falar,
quando apareceu Judas, um dos Doze,
e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus,
enviada pelos príncipes dos sacerdotes,
pelos escribas e os anciãos.
O traidor tinha-lhes dado este sinal:
«Aquele que eu beijar, é esse mesmo.
Prendei-O e levai-O bem seguro».
Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo:

R «Mestre».

N Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n'O.
Um dos presentes puxou da espada
e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha.
Jesus tomou a palavra e disse-lhes:

J «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender,
como se fosse um salteador.
Todos os dias Eu estava no meio de vós,
a ensinar no templo,
e não Me prendestes!
Mas é para se cumprirem as Escrituras».

N Então os discípulos deixaram-n'O e fugiram todos.
Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol.
Agarraram-no, mas ele, largando o lençol, fugiu nu.

N Levaram então Jesus à presença do sumo sacerdote,
onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes,
os anciãos e os escribas.
Pedro, que O seguira de longe,
até ao interior do palácio do sumo sacerdote,
estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume.
Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio
procuravam um testemunho contra Jesus
para Lhe dar a morte,
mas não o encontravam.
Muitos testemunhavam falsamente contra Ele,
mas os seus depoimentos não eram concordes.
Levantaram-se então alguns,
para proferir contra Ele este falso testemunho:

R «Ouvimo-l'O dizer:
'Destruirei este templo feito pelos homens
e em três dias construirei outro
que não será feito pelos homens'».

N Mas nem assim o depoimento deles era concorde.
Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos
e perguntou a Jesus:

R «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?»

N Mas Jesus continuava calado e nada respondeu.
O sumo sacerdote voltou a interrogá-l'O:

R «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?»

N Jesus respondeu:

J «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem
sentado à direita do Todo-poderoso
vir sobre as nuvens do céu».

N O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse:

R «Que necessidade temos ainda de testemunhas?
Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?»

N Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte.
Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe,
a tapar-Lhe o rosto com um véu
e a dar-Lhe punhadas, dizendo:

R «Adivinha».

N E os guardas davam-Lhe bofetadas.

N Pedro estava em baixo, no pátio,
quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote.
Ao vê-lo a aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe:

R «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno».

N Mas ele negou:

R «Não sei nem entendo o que dizes».

N Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou.
A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes:

R «Este é um deles».

N Mas ele negou segunda vez.
Pouco depois, os presentes diziam também a Pedro:

R «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu».

N Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar:

R «Não conheço esse homem de quem falais».

N E logo o galo cantou pela segunda vez.
Então Pedro lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito:
«Antes do galo cantar duas vezes,
três vezes Me negarás».
E desatou a chorar.

N Logo de manhã,
os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho,
com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio.
Depois de terem manietado Jesus,
foram entregá-l'O a Pilatos.
Pilatos perguntou-Lhe:

R «Tu és o Rei dos judeus?»Paix006

N Jesus respondeu:

J «É como dizes».

N E os príncipes dos sacerdotes
faziam muitas acusações contra Ele.
Pilatos interrogou-O de novo:

R «Não respondes nada? Vê de quantas coisas Te acusam».

N Mas Jesus nada respondeu,
de modo que Pilatos estava admirado.

N Pela festa da Páscoa,
Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha.
Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos,
que numa revolta tinham cometido um assassínio.
A multidão, subindo,
começou a pedir o que era costume conceder-lhes.
Pilatos respondeu:

R «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?»

N Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes
O tinham entregado por inveja.
Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão
a pedir que lhes soltasse antes Barrabás.
Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes:

R «Então, que hei-de fazer d'Aquele
que chamais o Rei dos judeus?»

N Eles gritaram de novo:

R «Crucifica-O!».

N Pilatos insistiu:

R «Que mal fez Ele?»

N Mas eles gritaram ainda mais:

R «Crucifica-O!».

N Então Pilatos, querendo contentar a multidão,
soltou-lhes Barrabás
e, depois de ter mandado açoitar Jesus,
entregou-O para ser crucificado.
Os soldados levaram-n'O para dentro do palácio,
que era o pretório,
e convocaram toda a coorte.
Revestiram-n'O com um mando de púrpura
e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos
que haviam tecido.
Depois começaram a saudá-l'O:

R «Salvé, Rei dos judeus!»

N Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe
e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d'Ele.
Depois de O terem escarnecido,
tiraram-Lhe o manto de púrpura
e vestiram-Lhe as suas roupas.
Em seguida levaram-n'O dali para O crucificarem.

N Requisitaram, para Lhe levar a cruz,
um homem que passava, vindo do campo,
Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.
E levaram Jesus ao lugar do Gólgota,
quer dizer, lugar do Calvário.
Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra,
mas Ele não o quis beber.
Depois crucificaram-n'O.
E repartiram entre si as suas vestes,
tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um.
Eram nove horas da manhã quando O crucificaram.
O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito:
«Rei dos Judeus».
Crucificaram com Ele dois salteadores,
um à direita e outro à esquerda.
Os que passavam insultavam-n'O
e abanavam a cabeça, dizendo:

R «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias,
salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz».

N Os príncipes dos sacerdotes e os escribas
troçavam uns com os outros, dizendo:

R «Salvou os outros e não pode salvar-se a Si mesmo!
Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz,
para nós vermos e acreditarmos».

N Até os que estavam crucificados com ele o injuriavam.
Quando chegou o meio-dia,
as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde.
E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte:

J «Eloí, Eloí, lamá sabachtháni?»

N que quer dizer:
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?»

N Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram:

R «Está a chamar por Elias».

N Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre
e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse:

R «Deixa ver se Elias vem tirá-l'O dali».

N Então Jesus, soltando um grande brado, expirou.

N O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo.
O centurião que estava em frente de Jesus,
ao vê-l'O expirar daquela maneira, exclamou:

R «Na verdade, este homem era Filho de Deus».

N Estavam também ali umas mulheres a observar de longe,
entre elas Maria Madalena,
Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé,
que acompanhavam e serviam Jesus,
quando estava na Galileia,
e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
Ao cair da tarde
– visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado –
José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio,
que também esperava o reino de Deus,
foi corajosamente à presença de Pilatos
e pediu-lhe o corpo de Jesus.
Pilatos ficou admirado de Ele já estar morto
e, mandando chamar o centurião,
ordenou que o corpo fosse entregue e José.
José comprou um lençol,
desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol;
depois depositou-O num sepulcro escavado na rocha
e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro.
Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José,
observavam onde Jesus tinha sido depositado.


Ressonâncias

Esta narrativa da Paixão do Senhor, que acabamos de ler, é a primeira (± 65 dC), a mais breve e dramática que os evangelhos nos apresentam. S. Marcos introduz a narrativa com duas referências à Ceia: a ceia de Betânia, na casa de Simão, na qual Jesus é ungido por uma mulher – o gesto generoso da Mulher que contrasta com a atitude egoísta e traidora de Judas; e a Ceia Pascal com os discípulos.
Destacam-se, nesta narrativa de S. Marcos, alguns aspectos:

1. Jesus mantém um silêncio solene e digno, aceitando o caminho da cruz. Não reage diante do beijo de Judas e ao gesto violento de Pedro. É a atitude de quem sabe que o Pai lhe confiou uma missão e está decidido a cumprir essa missão, custe o que custar. No tribunal, quando acusado, Jesus manteve silêncio. Mas quando perguntado se era o Messias, reponde prontamente: "Sim, sou eu e vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso vir sobre as nuvens do céu ", e só. Durante o processo: não profere qualquer palavra.
Diante dos insultos, das provocações e das mentiras, ele fica calado. Estava consciente da sua inocência e da farsa montada no julgamento. Por isso, não responde mais nada. Há situações na vida, nas quais não vale a pena responder. É melhor guardar o silêncio.

2. Jesus é o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de Salvação. É o que Ele responde ao Sumo Sacerdote: "Eu Sou" e o que o Centurião afirma aos pés da cruz: "Na verdade, este homem era Filho de Deus". É o ponto culminante da narrativa de Marcos, que no seu evangelho procura responder "Quem é Jesus?" E a resposta/ descoberta não foi feita por nenhum apóstolo, ou discípulo, mas sim por um pagão!

3. Jesus é também Homem que partilha da fragilidade e debilidade da natureza humana. Nós temos a tentação de imaginar Jesus como um super-homem. Mas ele não foi assim. A "angústia" e o "pavor" de Jesus diante da morte, o seu lamento pela solidão e pelo abandono, tornam-no muito "humano", muito mais próximo das nossas debilidades e fragilidades. Assim é mais fácil identificarmo-nos com Ele, confiar n'Ele, segui-l'O no seu caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus mostra-nos que o caminho da obediência ao Pai é um caminho possível a todos nós.

4. Sublinha a Solidão de Cristo. Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão, no abandono, na indiferença de todos o seu caminho de morte. Só Marcos faz questão de sublinhar que Jesus se sentiu completamente só, abandonado por todos, até pelo Pai: "Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?" É a oração humana de quem sente e não compreende a aparente ausência e abandono de Deus.

5. Facto curioso e exclusivo de Marcos: um jovem que o seguia, coberto somente de um lençol, quando os soldados tentaram agarrá-lo, livrou-se da roupa e fugiu despido. É possível que esse jovem fosse o próprio Marcos! Foi a atitude dos discípulos que, desiludidos e amedrontados, largaram tudo, quando viram o seu líder preso e fugiram sem olhar para trás.

6. Atitude corajosa foi de José de Arimateia em pedir autorização para sepultar o corpo de Jesus. Declarar-se discípulo de Jesus, quando as multidões o aclamam, é muito fácil; só uma pessoa corajosa é capaz de apresentar-se como seu amigo diante da autoridade que o condenara...

7. "Abbá", Pai. Esta palavra, que quer dizer carinhosamente "Papá", não é citada nos outros evangelhos, só Marcos a coloca na boca de Jesus, exactamente na hora mais dramática da sua vida, quando depois de ter pedido ao Pai de poupá-lo de uma prova tão difícil, se abandona, confiante, nas suas mãos. O Exemplo de Jesus ensina-nos que, em qualquer circunstância da vida, nunca podemos esquecer ou duvidar do amor do nosso "Abbá" querido.


História de Amor

Era uma vez uma ilha, onde moravam os seguintes sentimentos: a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria, o Amor e outros. Um dia avisaram-nos que a Ilha seria inundada. O Amor cuidou para que todos fossem salvos. Pegaram todos no seu barquinho e desandaram. Só o Amor não se apressou pois tinha muito que ajudar. Por fim, quando a água já era muita, pediu socorro:

— Riqueza, leva-me contigo.
— Não posso. O meu barco já está cheio de ouro...

— Oh Vaidade, leva-me no teu barco.
— Não convém, pois estás muito molhado.

— E tu Tristeza, tens um lugar para mim?
— Não. Prefiro ir só.

Já desesperado o Amor pôs-se a chorar. Nisto apareceu um velhinho:
— Sobe, Amor. Eu levo-te no meu barco.

Chegando a terra seca o Amor perguntou à Sabedoria:
— Quem é aquele velhinho que me trouxe até aqui?
— É o Tempo, porque só ele é capaz de ajudar e de entender um grande Amor.

Começamos a Semana da Paixão com o Domingo de Ramos. A multidão que aclama, logo depois acusa, acolhe mas de seguida despreza. Assim acontece na nossa vida quando não deixamos que o tempo nos amadureça. Que esta semana nos ajude a reconhecer os gestos de Amor de Cristo.

Pe. José David Quintal Vieira, scj


Com ramos de oliveira aclamamos-Te, Senhor!

Aclamamos-Te, querendo unir-nos a todos aqueles que sofrem.
A tantos doentes dominados pela dor,
a tantas famílias dilaceradas pela droga,
a todos os casais desfeitos pela solidão e a falta de afecto,
a tantas crianças cheias de coisas e tão carenciadas de amor.

Aclamamos-Te, pedindo-Te que nos ajudes a acompanhar a vida
de tantos emigrantes subjugados pela saudade e insegurança,
de todos os que estão tristes, desanimados e sem vontade de viver,
daqueles que não têm valores que valham a pena,
daqueles que têm mágoas que ninguém consola,
daqueles que cumprem penas em cadeias desumanizadas...

Aclamamos-Te, contentes porque nos enches de esperança.
Por isso acreditamos que este mundo tem remédio,
que, como Tu, se pode dar a vida para criar vida.
que juntos contigo e com os outros somos uma família,
que pouco a pouco vamos construindo o Teu Reino
e que nos juntaremos no Teu abraço final no fim dos tempos.

Aclamamos-Te, felicitamos-Te e admiramos-Te,
por tão bem nos teres explicado a melhor maneira de viver,
pela forma como nos revelaste que o nosso Deus é Pai,
porque nos abriste caminhos novos e nos encheste de sonhos,
porque, apesar das coisas terem sido difíceis, foste até ao fim,
porque nos convidas a viver à Tua maneira e a contar com a Tua presença.

E porque sentimos que caminhas ao nosso lado pela estrada da vida...

Obrigado, Jesus, a tua Paixão valeu a pena!

III Domingo da Quaresma B

VendilhoesA liturgia da Palavra deste Domingo da Quaresma aborda dois pontos fundamentais da religião judaica: a Lei de Deus e o Templo que, com o passar do tempo, estavam a precisar de uma profunda purificação
Na primeira leitura, Deus oferece-nos os mandamentos que devem balizar a nossa caminhada pela vida. São indicações que dizem respeito às duas dimensões fundamentais da nossa existência: a nossa relação com Deus e a nossa relação com os irmãos.

Na segunda leitura, o apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de Deus. É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de importância, mas está na lógica da cruz – isto é, no amor total, no dom da vida até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.

No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o "Novo Templo" onde Deus Se revela aos homens e lhes oferece o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu "Evangelho" essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.


LEITURA I – Ex 20,1-17
Leitura do Livro do Êxodo

Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras:
«Eu sou o senhor teu Deus,

que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão.

Não terás outros deuses perante Mim.

Não farás para ti qualquer imagem esculpida,

nem figura do que já existe lá no alto dos céus

ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra.

Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto.

Eu, o senhor teu Deus, sou um Deus cioso:

castigo a ofensa dos pais nos filhos

até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem;

mas uso de misericórdia até à milésima geração

para com aqueles que Me amam

e guardam os meus mandamentos.

Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus,

porque o Senhor não deixa sem castigo

aquele que invoca o seu nome em vão.

Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares.

Durante seis dias trabalharás

e levarás a cabo todas as tuas tarefas.

Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus.

Não farás nenhum trabalho,

nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha,

nem o teu servo nem a tua serva,

nem os teus animais domésticos,

nem o estrangeiro que vive na tua cidade.

Porque em seis dias

o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm;

mas no sétimo dia descansou.

Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado.

Honra pai e mãe,
a fim de prolongares os teus dias
na terra que o Senhor teu Deus te vai dar.

Não matarás.

Não cometerás adultério.

Não furtarás.

Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.

Não cobiçarás a casa do teu próximo;

não desejarás a mulher do teu próximo,

nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento,

nem coisa alguma que lhe pertença».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 (19)
Refrão: Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;

as ordens do Senhor são firmes,

dão sabedoria aos simples.

Os preceitos do Senhor são rectos
e alegram o coração;

os mandamentos do Senhor são claros

e iluminam os olhos.

O temor do senhor é puro
e permanece para sempre;

os juízos do Senhor são verdadeiros,

todos eles são rectos.

São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;

são mais doces que o mel,

o puro mel dos favos.


LEITURA II – 1 Cor 1,22-25
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Os judeus pedem milagres
e os gregos procuram a sabedoria.
Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os judeus e loucura para os gentios;
mas para aqueles que são chamados,
tanto judeus como gregos,
Cristo é poder e sabedoria de Deus.

Pois o que é loucura de Deus

é mais sábio do que os homens

e o que é fraqueza de Deus
é mais forte do que os homens.


EVANGELHO – Jo 2,13-25
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Estava próxima a Páscoa dos judeus
e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no templo
os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas
e os cambistas sentados às bancas.
Fez então um chicote de cordas
e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;
deitou por terra o dinheiro dos cambistas
e derrubou-lhes as mesas;
e disse aos que vendiam pombas:
«Tirai tudo isto daqui;
não façais da casa de meu Pai casa de comércio».
Os discípulos recordaram-se do que estava escrito:
«Devora-me o zelo pela tua casa».
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe:
«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?»
Jesus respondeu-lhes:
«Destruí este templo e em três dias o levantarei».
Disseram os judeus:
«Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo
e Tu vais levantá-lo em três dias?»
Jesus, porém, falava do templo do seu corpo.
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos,
os discípulos lembraram-se do que tinha dito
e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera.
Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa,
muitos, ao verem os milagres que fazia,
acreditaram no seu nome.
Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos
e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém:
Ele bem sabia o que há no homem.


Ressonâncias

Jesus apresenta-se como o novo Templo. vendilhoes1O Templo era um lugar muito sagrado para os judeus. Todo o bom judeu devia ir ao templo ao menos uma vez por ano para oferecer um sacrifício a Deus. Estas ofertas para os sacrifícios faziam girar muito dinheiro e provocavam abusos e exploração. O gesto ousado de Cristo não é apenas zelo de purificação do templo. É o grande sinal da sua morte e Ressurreição. É anúncio da abolição do velho templo e do culto aí celebrado. O antigo templo já tinha concluído a sua função.

Surgirá um novo templo. Jesus é agora o "lugar" onde Deus reside, onde se encontra com os homens. É através de Jesus que o Pai oferece aos homens o seu amor e a sua vida.

Nós somos pedras vivas desse Novo Templo. O nosso testemunho é sinal de Deus para os irmãos que caminham connosco? As nossas comunidades dão testemunho da vida de Deus? A Igreja é essa "Casa de Deus" onde as pessoas podem encontrar a proposta de libertação e de Salvação que Deus oferece a todos? Qual é o verdadeiro "Culto" que Deus aprecia? Certamente é uma vida vivida na escuta de suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos. Jesus purificou o templo de seus profanadores e convida-nos a purificar também o templo do nosso coração.

Qual é a nossa atitude diante da Lei de Deus, apresentada nos 10 mandamentos, resumida por Jesus em dois, e ampliada por ele no Sermão da Montanha? É um tabu ou uma resposta livre ao amor de Deus? Cristo lembra-nos: "Quem me ama, guarda os meus mandamentos."

Jesus exige respeito na casa de Deus. Se Ele viesse hoje às nossas igrejas, o que aconteceria? A quem deveria expulsar com o chicote?


Tantos deuses que os homens inventaram

O deus poder – que leva uns a julgarem-se donos de outros!
O deus dinheiro – que justifica tudo, contando que dê lucro!
O deus sexo – que até leva ao abuso de crianças inocentes!
O deus orgulho – que nunca deixa ver a razão do outro!
Diante disto vens, Senhor, dizer-nos: «Não terás outros deuses perante Mim».

Ao reler os teus mandamentos, Senhor, reconheço:
– que só eles dão a garantia que há um Deus que está acima de todos os homens;
– que só eles ensinam que todos os homens são iguais perante Deus;
– que só eles obrigam ao respeito e defesa da vida e dignidade de todos;
– que só eles libertam dos falsos deuses, que escravizam o homem.

Obrigado, Senhor, porque Te revelastes como o Deus amigo que ensina o caminho do bem, da verdade e do amor.
Ajuda-me a não me deixar seduzir pelos falsos deuses, a não voltar atrás no meu caminho para fazer do meu coração a casa alegre e feliz onde mora o Pai do Céu.


Limpeza do Templo

Um amigo propôs-me que não deixasse recolher o dinheiro do ofertório no dia em que se lê o Evangelho dos vendilhões no Templo. Porém, mais importante que eliminar o tilintar do dinheiro, é extirpar a nossa mentalidade de negociantes até mesmo de géneros espirituais ou afins. Dou um exemplo:

Num campo, estavam a trabalhar três homens. Um estava lá porque era obrigado. Era escravo, tinha medo do castigo. Outro, era um mercenário, trabalhava porque queria ganhar. Fazia troca: toma lá mas dá cá. Entre eles encontrava-se outro homem, mais novo. Este trabalhava, não por imposição, nem por interesse mas pelo simples facto de ser filho do patrão e era natural que ajudasse o seu pai.

Nas coisas de Deus podemos ter atitudes semelhantes. Podemos rezar ou ir à igreja como escravos, por imposição ou com medo do castigo eterno. Ou então por interesse, como negociantes, querendo comprar um pedacinho do Céu com a missa dominical ou algumas orações.

A operação limpeza do templo quer purificar a nossa relação com Deus e fazer de nós seus filhos. Se me comporto como escravo estou a fazer de Deus um carrasco. Se perante Deus sou um negociante, quero que Ele seja igual a mim. Sejamos apenas filhos na Casa do Pai.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

Mandamentos, Hoje

1. Mandamento do Amor. Superar o individualismo e abrir-se aos outros irmãos.
2. Mandamento da Tolerância. Respeitar as ideologias e as crenças de todos os povos.
3. Mandamento do Descanso. Conviver, para cultivar o espírito, para a diversão.
4. Mandamento da Família. Fazer da família um ninho de amor e de felicidade.
5. Mandamento da Vida. Respeitar a vida do nascimento até à morte.
6. Mandamento da Sexualidade. Viver a sexualidade no respeito pela dignidade humana.
7. Mandamento da Propriedade. Ter em conta que, apesar do nosso ter, a Terra é de todos.
8. Mandamento da Verdade. Evitar a mentira, a calúnia, a hipocrisia, os falsos testemunhos.
9. Mandamento da Fidelidade. Viver num amor fiel até à morte, sinal da aliança de Deus.
10. Mandamento da Moderação. Evitar o gasto excessivo e partilhar com os necessitados.

Estes são os mandamentos que, gravados no coração de todas as pessoas pelo Criador, são eternos e necessitam de ser aplicados a cada situação existencial.
Pedrosa Ferreira

II Domingo da Quaresma - B

Tabor1Neste Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida nova: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projectos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai.

Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão como paradigma de uma certa atitude diante de Deus. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total. Soube escutar o Senhor e seguir a sua Palavra sem condições: renunciou o passado, quando deixou a sua terra e a sua gente; agora está disposto a sacrificar também o futuro, oferecendo o filho Isaac, depositário das promessas. Percebe o plano de Deus e segue-o de todo o coração. A sua obediência tornou-se uma fonte de vida para ele, para a sua família e para todos os povos.

Na segunda leitura, São Paulo retoma a figura de Isaac, subindo o monte Moriá, com a lenha do sacrifício às costas, como imagem de Cristo que também sobe o monte Calvário, carregando às costas o lenho da Cruz.

O Evangelho fala da fé dos Apóstolos. Na caminhada para Jerusalém, o primeiro anúncio da Paixão e Morte de Jesus abalou profundamente a fé dos apóstolos. Desmoronaram os seus planos de glória e de poder. Para fortalecer essa fé ainda tão frágil, Cristo tomou três deles, subiu o Tabor e "transfigurou-se..." Proposta de Pedro: "É bom estarmos aqui! Vamos fazer três tendas." Proposta de Deus: "Este é o meu Filho amado, escutai-O!".


LEITURA I – Gen 22,1-2.9a.10-13.15-18
Leitura do Livro do Génesis

Naqueles dias,
Deus quis pôr à prova Abraão e chamou-o:
«Abraão!»
Ele respondeu: «Aqui estou».
Deus disse: «Toma o teu filho,
o teu único filho, a quem tanto amas, Isaac,
e vai à terra de Moriá,
onde o oferecerás em holocausto,
num dos montes que Eu te indicar.
Quando chegaram ao local designado por Deus,
Abraão levantou um altar e colocou a lenha sobre ele.
Depois, estendendo a mão, puxou do cutelo para degolar o filho.
Mas o Anjo do Senhor gritou-lhe do alto do Céu:
«Abraão, Abraão!»
«Aqui estou, Senhor», respondeu ele.
O Anjo prosseguiu:
«Não levantes a mão contra o menino,
não lhe faças mal algum.
Agora sei que na verdade temes a Deus,
uma vez que não Me recusaste o teu filho, o teu único filho».
Abraão ergueu os olhos
e viu atrás de si um carneiro, preso pelos chifres num silvado.
Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em vez do filho.
O Anjo do Senhor chamou Abraão do Céu pela segunda vez
e disse-lhe:
«Por Mim próprio te juro – oráculo do Senhor –
já que assim procedeste
e não Me recusaste o teu filho, o teu único filho,
abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência
como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar,
e a tua descendência conquistará as portas das cidades inimigas.
Porque obedeceste à minha voz,
na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 115 (116)

Refrão: Andarei na presença do Senhor sobre a terra dos vivos.

Confiei no Senhor, mesmo quando disse:
«Sou um homem de todo infeliz».
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.

Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.

Cumprirei as minhas promessas ao Senhor
na presença de todo o povo,
nos átrios da casa do Senhor,
dentro dos teus muros, Jerusalém.


LEITURA II – Rom 8,31b-34
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

Irmãos:
Se Deus está por nós, quem estará contra nós?
Deus, que não poupou o seu próprio Filho,
mas O entregou à morte por todos nós,
como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas?
Quem acusará os eleitos de Deus?
Deus, que os justifica?
E quem os condenará?
Cristo Jesus, que morreu, e mais ainda, que ressuscitou
e que está à direita de Deus e intercede por nós?


EVANGELHO – Mc 9,2-10
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João
e subiu só com eles
para um lugar retirado num alto monte
e transfigurou-Se diante deles.
As suas vestes tornaram-se resplandecentes,
de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra
as poderia assim branquear.
Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus.
Pedro tomou a palavra e disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».
Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados.
Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra
e da nuvem fez-se ouvir uma voz:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».
De repente, olhando em redor,
não viram mais ninguém,
a não ser Jesus, sozinho com eles.
Ao descerem do monte,
Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém
o que tinham visto,
enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos.
Eles guardaram a recomendação,
mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.


RessonânciasTabor2

Ao transfigurar-se junto dos discípulos, Jesus revela a glória da Ressurreição, e atesta que Ele é o filho amado de Deus Pai, apesar da Cruz que se aproxima.
As figuras de Elias e Moisés ressaltam que a Lei e as Profecias realizam-se plenamente em Jesus.
Na nossa caminhada para a Páscoa, somos também convidados a subir com Jesus a montanha e, na companhia dos três discípulos, viver com Ele a alegria da comunhão. As dificuldades da caminhada não podem fazer desanimar-nos. No meio dos conflitos, o Pai mostra-nos sinais da ressurreição e do alto daquele monte Ele continua a proclamar: "Este é o meu Filho amado, escutai-O". Não desanimemos, os planos de Deus não conduzem ao fracasso, mas à Ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.

O que é ter fé?
Será apenas uma adesão da inteligência a algumas verdades, que decoramos na catequese? Não será mais do que isso?
A é a adesão da nossa vida a Deus; é acolher Aquele que quer fazer a sua história connosco; é fazer a Sua vontade (tanto no Tabor, como no Calvário); é um dom gratuito de Deus (não foi Abraão que tomou a iniciativa).
A exige uma resposta da pessoa a uma palavra, a uma Promessa; um Serviço pronto e generoso na Obra de Deus; uma Ruptura: deixar a terra dos ídolos que nos prende; e abraçar o desconhecido. (A experiência de Abraão).

Escutar atentamente tudo o que Jesus diz, seguindo seus passos com confiança total, mesmo nos momentos difíceis e incompreensíveis;
Reconhecer esse Cristo desfigurado, presente na pessoa do irmão sobretudo nos excluídos e nos oprimidos pela violência. É fácil reconhecer o Cristo transfigurado no Tabor; mais difícil é reconhecê-lo desfigurado no Monte Calvário; mais difícil é descer o monte, ir ao encontro do Cristo desfigurado na pessoa do irmão...

Não podemos ficar no Monte de braços cruzados. Devemos agir na transfiguração desses irmãos desfigurados. Todos somos convidados a ser Missionários da Transfiguração. O Cristo glorioso não deve ser motivo para fugir das realidades concretas da vida, onde ele nos chama ao serviço. Pelo contrário, o Cristo desfigurado na pessoa de tantos oprimidos aguarda ser transfigurado pela nossa acção.


Subir!
Abraão foi convidado a subir ao monte. Jesus tomou consigo os discípulos e subiu com eles. O Imperativo desta segunda semana da Quaresma é: SUBIR. Nada de ceder ao comodismo, à preguiça, à satisfação consigo próprio.

Pedro estava satisfeito: «É bom estarmos aqui...» Sim, mas só o tempo suficiente para ouvir a voz do Pai, para saber que o caminho só termina na ressurreição. Até lá, é preciso subir, vencer os obstáculos, dar a mão aos que têm medo, pôr em marcha os que pararam: fosse por preguiça, fosse por não saberem porquê nem para quê subir. Só se constrói um mundo melhor quando acreditamos.

Nesta semana, vence a preguiça, vence o comodismo, vai encher de esperança com a tua palavra, a tua visita o doente teu vizinho, o idoso que vive só, o jovem que procura emprego.

É proibido estacionar! É proibido ficar parado!


Está nos olhos

Cinco amigos procuravam ouro num monte. Depois de um mês encontraram aquilo que se pode chamar um tesouro. No Domingo seguinte, como sempre, desceram até à aldeia vizinha para um pouco de convívio. Mas antes juraram mutuamente não falar a ninguém do seu achado. Ao regressarem ao trabalho deram conta, espantados, de que vários homens os seguiam. Olharam uns para os outros à procura do traidor — alguém dera à língua...
— Foste tu?
— Eu não.
E todos negaram, ninguém dissera nada. Felicidade2Voltaram-se para os que os seguiam e perguntaram:
— Porque nos seguis?
— Porque encontrastes ouro.
— Quem vos disse?
— Ninguém.
— Então como sabeis?
Ouviram então a resposta mais maravilhosa de toda a sua vida:
— Como sabemos? Vê-se-vos nos olhos!

O mesmo aconteceu no Monte Tabor. Jesus pediu que não falassem a ninguém dessa experiência. Os outros deviam descobrir por si nos olhos, espelho da sua alma.

E eu interrogo-me: notar-se-á em nós, cristãos, que encontrámos a Cristo, o tesouro da nossa felicidade. Porque deveria ver-se nos nossos olhos! Ao falar do Transfigurado, notarão os meus ouvintes que acredito n'Ele? Gostaria muito que assim fosse.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

«Seis dias depois,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João,
e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte
e transfigurou-Se diante deles.» (Mc 9, 2).

Pede à Quaresmaperegrino
que te ensine o caminho da montanha.

Para que ouses subir ao lugar do encontro
com o Deus da vida e da história.

Na montanha contemplarás o Rosto.
E fixarás n'Ele o olhar.
E descobrirás n'Ele o teu rosto.
E contemplarás todos os horizontes.
Os do teu coração
e todos aqueles onde o humano
se espraia em tantos desafios.

Pede à Quaresma
que te ensine o caminho da montanha.

E ousarás descer
para que o teu olhar de encantamento

incendeie a vida por onde passas.
E sejas sinal de ressurreição.

Senhor Jesus, fonte de luz,
Palavra do Pai, presença consoladora,
questionas a minha preguiça espiritual
sempre que me convidas a subir.

Neste espaço em que me habitas,montanha
contemplo o mistério do teu estar,
a luminosidade do teu ser
e vislumbro o segredo do amor do Pai,
que me convida a escutar-Te.

Senhor, minha luz,
dissipa as minhas trevas...
e lança-me no vale da missão...

Quero estar contigo,
porque é bom, mesmo na dúvida,
saborear a tua presença.
Amen.

Reflexão de Fr. Enzo Bianchi

Se o primeiro Domingo da Quaresma nos apresentou Jesus em confronto com a tentação, face a face com Satanás na solidão do deserto, este segundo Domingo mostra-nos Jesus que conhece a transfiguração do seu rosto e de toda a sua pessoa, tornando-se participante da indizível glória do Pai. No itinerário quaresmal, a transfiguração de Jesus indica o fim a que tende este caminho: a ressurreição, de que a transfiguração é antecipação e profecia.

Alguns dias depois de ter anunciado aos seus discípulos a necessidade da sua morte e ressurreição (cf. Lucas 9, 22) e de lhes ter exposto com clareza as condições para o seguir nesse caminho (cf. Lucas 9, 23-26), Jesus «levando consigo Pedro, João e Tiago» – os discípulos que lhe eram mais íntimos – «subiu ao monte para orar». Lucas é o evangelista que mais insiste na oração de Jesus: Ele reza no momento do baptismo recebido de João (cf. Lucas 3, 21), reza antes de escolher os Doze (cf. Lucas 6, 12-13), reza na iminência da sua paixão (cf. Lucas 22, 39-46)...

Também a transfiguração de Jesus ocorre no contexto da sua oração, no mistério do seu encontro pessoalíssimo com o Pai: «Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se». A oração é para Jesus espaço de acolhimento em si da presença de Deus. Presença que é santidade, isto é, alteridade capaz de transfigurar aquele que aceita acolhê-la radicalmente na sua vida. A alteração no rosto de Jesus manifesta que agora ele narra o rosto invisível de Deus (cf. João 1, 18). A oração, além disso, é comunicação de Deus a Jesus mediante a sua “conversação” com Moisés e Elias, que personificam a Lei e os Profetas, ou seja, a Escritura do Antigo Testamento.

Sim, a oração de Jesus é essencialmente escuta da Palavra de Deus contida na Escritura, uma escuta que se torna encontro com quem é vivente em Deus, uma verdadeira experiência da comunhão dos santos. É nesta oração que Jesus encontra a confirmação do seu caminho, orientado agora para a paixão, morte e ressurreição, em continuidade com a história da salvação conduzida por Deus com o seu povo. É por isso que Moisés e Elias «falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém». Não por acaso, pouco depois especifica-se que Jesus voltará resolutamente o seu rosto e os seus passos para a cidade santa (cf. Lucas 9, 51), decidido a viver o que na oração compreendeu ser a sua missão.

«Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele.» Mas esta experiência extraordinária, que custa o preço da luta para permanecer vigilante, dura um momento: a transfiguração de Jesus é antecipação da comunhão que espera todos os homens no Reino, é a primícia do mundo completamente sujeito ao sinal da beleza de Deus; mas precisamente é só uma primícia... É por isso que enquanto Pedro, sem saber verdadeiramente aquilo que diz, pede a Jesus para prolongar essa experiência através da construção de três tendas, a nuvem da presença de Deus envolve-os, e dela vem uma voz que proclama: «Este é o meu Filho predileto. Escutai-o».

O grande mandamento «escuta Israel» (Deuteronómio 6, 4) agora ressoa como «escutai-o, o Filho», a Palavra feita carne em Jesus (cf. João 1, 14), o homem no qual a Escritura encontra o seu cumprimento (cf. Lucas 24, 44). Eis o essencial da nossa fé!

O Evangelho deste Domingo coloca-nos portanto em guarda: Jesus não pode ser a projeção dos nossos desejos mas é o Jesus Cristo segundo as Escrituras, e para o conhecer é preciso escutar, meditar e rezar a Palavra contida em toda a Escritura. Tudo isto tendo consciência de que a oração não nos dispensa do esforço quotidiano da obediência a Deus através de Jesus Cristo, ou seja, do cumprimento da nossa vocação pessoal; pelo contrário, a oração ajuda-nos a preencher essa vocação de sentido porque transfigura os acontecimentos e as relações de todos os dias. Foi assim com Jesus, pode ser assim também para nós.

Prior do Mosteiro de Bose

I Domingo da Quaresma B

JCdes_23Estamos no início da Quaresma. Quaresma é o grande retiro espiritual dos cristãos em preparação da festa da Páscoa. É o coração do ano litúrgico e o cume da fé cristã. É o nosso deserto para viver uma experiência mais forte de Deus.

As Leituras bíblicas sublinham dois aspectos da mesma realidade: O Baptismo e a Conversão, isto é, a acção salvífica de Deus e a resposta humana.

A primeira Leitura é um extracto da história do dilúvio. Apresenta-nos a Quaresma de Noé. Através do dilúvio, que durou 40 dias e 40 noites, Deus purificou a humanidade corrompida. O Dilúvio foi o grande baptismo de todo o Universo, que renasceu das águas para estabelecer uma nova Aliança. E o arco-íris deixado por Deus no céu foi o sinal dessa Aliança, desse abraço entre o céu e a terra, entre Deus e os homens. A acção de Deus destina-se a fazer nascer uma nova humanidade, que percorra os caminhos do amor, da justiça, da vida verdadeira.

Na segunda Leitura, S. Pedro lembra-nos que as águas purificadoras do Dilúvio são imagem das águas purificadoras do Baptismo. Pelo Baptismo, os cristãos aderem a Cristo e à salvação que Ele veio oferecer. Comprometeram-se, portanto, a seguir Jesus no caminho do amor, do serviço, do dom da vida; e, envolvidos nesse dinamismo de vida e de salvação que brota de Jesus, tornaram-se o princípio de uma nova humanidade.

No Evangelho, Jesus mostra-nos como a renúncia a caminhos de egoísmo e de pecado e a aceitação dos projectos de Deus está na origem do nascimento desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens (o Reino de Deus). Aos seus discípulos Jesus pede – para que possam fazer parte da comunidade do "Reino" – a conversão e a adesão à Boa Nova que Ele próprio veio propor.


LEITURA I – Gn 9,8-15
Leitura do Livro do Génesis

Deus disse a Noé e a seus filhos:
«Estabelecerei a minha aliança convosco,
com a vossa descendência
e com todos os seres vivos que vos acompanham:
as aves, os animais domésticos,
os animais selvagens que estão convosco,
todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra.
Estabelecerei convosco a minha aliança:
de hoje em diante
nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio
e nunca mais um dilúvio devastará a terra».
Deus disse ainda:
«Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco
e com todos os animais que vivem entre vós,
por todas as gerações futuras:
farei aparecer o meu arco sobre as nuvens
e aparecer nas nuvens o arco,
recordarei a minha aliança convosco
e com todos os seres vivos
e nunca mais as águas formarão um dilúvio
para destruir todas as criaturas».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25)

Refrão: Todos os vossos caminhos, Senhor,
são amor e verdade para os que são fiéis à vossa aliança.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.

O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer a sua aliança.


LEITURA II – 1 Pe 3,18-22
Leitura da Primeira Epístola de S. Pedro

Caríssimos:
Cristo morreu uma só vez pelos pecados
– o Justo pelos injustos –
para vos conduzir a Deus.
Morreu segundo a carne,
mas voltou à vida pelo Espírito.
Foi por este Espírito que Ele foi pregar
aos espíritos que estavam na prisão da morte
e tinham sido outrora rebeldes,
quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência,
enquanto se construía a arca,
na qual poucas pessoas, oito apenas,
se salvaram através da água.


EVANGELHO – Mc 1,12-15
Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos

Naquele tempo,
o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
Jesus esteve no deserto quarenta dias
e era tentado por Satanás.
Vivia com os animais selvagens
e os Anjos serviam-n'O.
Depois de João ter sido preso,
Jesus partiu para a Galileia
e começou a pregar o Evangelho, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo
e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».


RessonânciasJC_tentacao

O Evangelho fala-nos da Quaresma de Jesus no deserto. Mais do que uma narrativa histórica, trata-se de uma catequese que S. Marcos quer partilhar connosco.
O deserto, para os judeus, é o lugar privilegiado do encontro com Deus. Foi no deserto que o Povo experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi no deserto que Deus propôs a Israel uma Aliança. Contudo, o deserto foi também o lugar da prova, da tentação. No deserto Israel sentiu, várias vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus...
Para Jesus o deserto é o lugar do encontro com Deus e do discernimento dos seus projectos. E é o lugar da prova, enfrentando a tentação de abandonar Deus e de seguir outros caminhos.

Quarenta é um número simbólico que lembra o tempo da caminhada do Povo no deserto e a experiência de Moisés no Sinai; de Elias até chegar ao monte de Deus; de Jonas e dos habitantes de Nínive que fizeram penitência...
Satanás representa os que se opõem ao estabelecimento do Reino de Deus.
As tentações simbolizam as provações que Jesus teve de enfrentar ao longo de toda a sua vida para se manter fiel à missão confiada pelo Pai.
Jesus confrontou-se com dois caminhos, com duas propostas de vida: ou viver na fidelidade aos projectos do Pai; ou frustrar os planos de Deus, enveredando por um caminho messiânico de poder, de violência, de autoridade, ao jeito dos grandes deste mundo.

A vida de Jesus será uma luta constante de superação até a vitória definitiva na cruz, através da Ressurreição. Jesus escolheu viver na obediência às propostas do Pai. Da sua opção, vai surgir um mundo de paz e de harmonia.
Após ser baptizado e ter superado no deserto as tentações do diabo, onde ficou durante quarenta dias num clima de oração e de penitência, Jesus inicia o seu trabalho apostólico, anunciando: "Está próximo o reino de Deus; arrependei-vos e acreditai no Evangelho". As mesmas palavras, que ouvimos quarta feira passada ao recebermos as cinzas e que são um resumo do espírito da Quaresma que estamos a iniciar.

A nossa Quaresma. No deserto da vida, todos somos continuamente tentados contra o projecto de Deus, contra a vida, a justiça e a Paz. Nós também somos convidados à conversão e a acreditar no Evangelho. Demonstramos isso, com gestos concretos promovendo a paz nas pessoas, nas famílias e na comunidade
Quaresma é dilúvio e deserto. É Dilúvio que arranca o pecado e leva a construir a área de Salvação e é Sinal de que Deus está em Paz connosco. É Deserto pela espiritualidade do despojamento, que nos propõe.

Quaresma é converter-se e acreditar. Converter-se é muito mais que fazer penitências ou realizar privações momentâneas. É fazer com Deus seja o centro de nossa existência e ocupe sempre o primeiro lugar.
Acreditar não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais. É aderir à pessoa de Cristo, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração e fazer dela o guia de nossa vida.

Que pretendo eu fazer neste tempo favorável da Quaresma? Que gestos concretos vou pôr em prática? Quais são os momentos especiais de Oração e de Deserto que eu vou intensificar? Que tipo de jejum vou praticar? Quais os actos de Caridade que pretendo realizar? O que vou eu fazer de diferente para promover a paz e o perdão na família e na comunidade? É importante estabelecermos os critérios da nossa Quaresma, para que a Páscoa aconteça dentro de cada um de nós.


Purificai-vos da memória

Na tribuna aberta do Hyde Park, em Londres, um pregador tecia maravilhas ao Cristianismo nos 2000 anos da sua história. Um ouvinte, objectou:
— Vós cristãos devíeis ter vergonha. Depois de vinte séculos ainda há muita conversão a fazer. Celebrais um grande Jubileu mas esqueceis a vossa miséria.

O pregador não se descompôs:
— Pois é, meu caro. O Sabão existe desde háagua muitos séculos mas nem por isso deixou de haver sujidade. É preciso em primeiro lugar saber que estamos sujos e depois agarrar no sabão.

A Quaresma que iniciámos tem uma especial importância, para todos nós. Digamos que estes 40 dias são uma espécie de sabonete que temos ao nosso alcance para nos prepararmos para um encontro com Cristo glorioso. Iniciámos esta caminhada impondo-nos as cinzas, que para além do mais, tem reconhecidas propriedades detergentes. Esta é uma boa oportunidade de fazer uma purificação da memória. A história da Igreja é uma história de santidade. A vida de tantos santos confirma a verdade do Evangelho, sinal visível de que também podemos ser perfeitos. No entanto, é forçoso reconhecer que a história também regista numerosos episódios que constituem um contra-senso para o cristianismo. Este é o tempo de purificação. E sabão não falta.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

«O Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
Jesus esteve no deserto quarenta dias
e era tentado por Satanás.» (Mc 1, 12).

Pede à QuaresmaVoc70
que te ensine o caminho do deserto.
Para que o teu coração se deixe purificar.

Da tentação de tudo possuir.
Do egoísmo do não-compromisso.
Da ganância do isolamento.
Ou da omnipotência de tudo realizar.
E querer ser deus.
E da ousadia de não saber esperar.
E da certeza de possuir a verdade.

Pede à Quaresma
que te mostre o caminho do deserto.
Onde Jesus te dará o pão da Palavra e do silêncio.

No deserto o coração saberá encontrar
o silêncio que regenera e reinventa.

No deserto o silêncio fará do teu coração uma fonte
de onde pode jorrar a verdade de Deus.

 

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