Quarta-Feira de Cinzas

Qual vai ser o meu plano quaresmal? Que me proponho a fazer ao longo desta Quaresma? O que me pede o Senhor?
Estas e outras perguntas devem dispor a nossa alma e o nosso coração para uma vivência quaresmal intensa. É tempo de conversão e de mudança interior. A nossa oração, partilha e jejum devem levar-nos ao arrependimento e à conversão.
Colocar o Evangelho em prática, traduzir na vida a Palavra de Deus, morrer ao homem velho para nos deixarmos revestir do homem novo.
«Convertei-vos a Mim de todo o coração com jejuns,
lágrimas e lamentações.
Rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos.
Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus,
porque Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso,
pronto a desistir dos castigos que promete.
Quem sabe se Ele não vai reconsiderar e desistir deles,
deixando atrás de Si uma bênção,
para oferenda e libação ao Senhor, vosso Deus?
Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum,
proclamai uma reunião sagrada.
Reuni o povo, convocai a assembleia,
congregai os anciãos, reuni os jovens e as crianças.
Saia o esposo do seu aposento e a esposa do seu tálamo.
Entre o vestíbulo e o altar, chorem os sacerdotes,
ministros do Senhor, dizendo:
'Perdoai, Senhor, perdoai ao vosso povo
e não entregueis a vossa herança à ignomínia e ao escárnio das nações.
Porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?'».
O Senhor encheu-Se de zelo pela sua terra
e teve compaixão do seu povo.
Irmãos:
Nós somos embaixadores de Cristo;
é Deus quem vos exorta por nosso intermédio.
Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus.
A Cristo, que não conhecera o pecado, identificou-O Deus
com o pecado por amor de nós,
para que em Cristo nos tomássemos justiça de Deus.
Como colaboradores de Deus,
nós vos exortamos a que não recebais em vão a sua graça.
Porque Ele diz: «No tempo favorável, Eu te ouvi;
no dia da salvação, vim em teu auxílio».
Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Tende cuidado em não praticar as vossas boas
obras diante dos homens, para serdes vistos por eles.
Aliás, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus.
Assim, quando deres esmola,
não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas,
nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens.
Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita,
para que a tua esmola fique em segredo;
e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.
Quando rezardes, não sejais como os hipócritas,
porque eles gostam de orar de pé, nas sinagogas
e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens.
Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto,
fecha a porta e ora a teu Pai em segredo;
e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.
Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio,
como os hipócritas, que desfiguram o rosto,
para mostrarem aos homens que jejuam.
Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto,
para que os homens não percebam que jejuas,
mas apenas o teu Pai, que está presente em segredo;
e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa».
Senhor Jesus,
Vós apresentai-nos um belo programa quaresmal
neste início do tempo santo da Quaresma,
que hoje iniciamos com o rito das Cinzas.
Ajudai-nos a praticá-lo:
estendendo as mãos a quem necessita de ajuda,
colocando Deus no centro da nossa vida,
e abstendo-nos daquilo que mata a alegria.
Amen.

As cinzas são o resultado da combustão pelo fogo das coisas ou das pessoas. Este símbolo emprega-se logo na primeira página da Bíblia, quando se nos conta que "Deus modelou o homem com o pó da terra" (Gn 2,7). É isso que o nome Adão significa. E recorda-se, de seguida, que esse é precisamente o seu fim: "até que voltes para a terra, pois dela fostes tirado" (Gn 3,19). Por extensão, portanto, representa a consciência do nada, da nulidade da criatura em relação ao Criador, segundo as palavras de Abraão: "Atrevo-me a falar ao meu Senhor, embora eu seja pó e cinza" (Gn 18,27).
Isto leva-nos a todos a assumir uma atitude de humildade (vem de húmus, terra): "os homens são apenas terra e cinza" (Sir 17,27), "todos vão para o mesmo lugar: vêm do pó e voltam para o pó" (Ecl 3,20), "todos eles expiram, voltando a ser pó" (Sl 194,29). Portanto, a cinza significa também o sofrimento, o luto, o arrependimento. Em Job, é explicitamente sinal de dor e de penitência (Jb 42,6).
Nos primeiros séculos, a imposição das cinzas, marcava o caminho quaresmal dos penitentes, ou seja, do grupo de pecadores que desejavam receber a reconciliação na Quinta-Feira Santa, às portas da Páscoa. Vestidos com hábito penitencial e com cinza que eles mesmo punham na cabeça, apresentavam-se diante da comunidade e expressavam assim a sua conversão.
Desde os tempos antigos, considerou-se a Quaresma como um período de renovação da própria vida. As práticas a cumprir eram sobretudo três: oração, luta contra o mal e jejum. A oração para pedir a Deus a força para se converter e para acreditar no Evangelho. A luta contra o mal para dominar as paixões e o egoísmo. Finalmente, o jejum. Para seguir o Mestre, o cristão deve ter a força de se esquecer de si mesmo, de não pensar nos próprios interesses, mas só no bem do irmão. Assumir uma constante atitude de generosidade desinteressada é realmente duro. Isto é o jejum.
Mas poderá o sofrimento ser uma coisa boa? Como pode ser agradável a Deus o nosso sofrimento? Não, Deus não quer que o homem sofra. Mas, para ajudar a quem está em dificuldades, é com frequência necessário renunciar ao que agrada e isso custa. Não é o jejum em si mesmo que é bom (às vezes é feito por motivos que nada têm a ver com a religião: há quem coma pouco simplesmente para se manter em forma, elegante, para gozar de boa saúde). O que agrada a Deus é que, com o alimento que se consegue poupar no jejum, seja aliviada, pelo menos por um dia, a fome dum irmão.
Um livro antiquíssimo, muito lido pelos primeiros cristãos, o Pastor de Hermas, explica assim a relação entre o jejum e a caridade: «Eis como deves praticar o jejum: no dia de jejum, comerás só pão e água; depois calcularás quanto gastarias para o teu alimento nesse dia e oferecerás este dinheiro a uma viúva, a um órfão ou a um pobre. Assim privar-te-ás de alguma coisa para que o teu sacrifício sirva para alguém se alimentar. Essa pessoa rezará por ti ao Senhor. Se tu jejuares assim, o teu sacrifício será agradável a Deus».
VI Domingo do Tempo Comum - B

A partir dos seus gestos, podemos descobrir quem Ele é: liberta o homem possuído por um espírito mau (4.º Domingo); Estende a mão à sogra de Pedro, cura-a e ajuda a levantar-se (5.º Domingo); hoje, ao sarar um leproso, apresenta-nos a sua atitude para com os marginalizados e excluídos.
A primeira leitura apresenta-nos a legislação que definia a forma de tratar com os leprosos. Impressiona como, a partir de uma imagem deturpada de Deus, os homens são capazes de inventar mecanismos de discriminação e de rejeição em nome de Deus.
O Evangelho diz-nos que, em Jesus, Deus desce ao encontro dos seus filhos vítimas da rejeição e da exclusão, compadece-Se da sua miséria, estende-lhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do "Reino". Deus não pactua com a discriminação e denuncia como contrários aos seus projectos todos os mecanismos de opressão dos irmãos.
A segunda leitura convida os cristãos a terem como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional aos projectos do Pai e fez da sua vida um dom de amor, ao serviço da libertação dos homens.
Leitura do Livro do Levítico
O Senhor falou a Moisés e a Aarão, dizendo:
«Quando um homem tiver na sua pele
algum tumor, impigem ou mancha esbranquiçada,
que possa transformar-se em chaga de lepra,
devem levá-lo ao sacerdote Aarão
ou a algum dos sacerdotes, seus filhos.
O leproso com a doença declarada
usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho,
cobrirá o rosto até ao bigode e gritará:
'Impuro, impuro!'
Todo o tempo que lhe durar a lepra,
deve considerar-se impuro
e, sendo impuro, deverá morar à parte,
fora do acampamento».
Refrão: Sois o meu refúgio, Senhor; dai-me a alegria da vossa salvação.
Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa
e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade
e em cujo espírito não há engano.
Confessei-vos o meu pecado
e não escondi a minha culpa.
Disse: Vou confessar ao Senhor a minha falta
e logo me perdoastes a culpa do pecado.
Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos,
fazei que à minha volta só haja hinos de vitória.
Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor,
exultai, vós todos os que sois rectos de coração.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer coisa,
fazei tudo para glória de Deus.
Portai-vos de modo que não deis escândalo
nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus.
Fazei como eu, que em tudo procuro agradar a toda a gente,
não buscando o próprio interesse, mas o de todos,
para que possam salvar-se.
Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.
EVANGELHO – Mc 1,40-45
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
veio ter com Jesus um leproso.
Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe:
«Se quiseres, podes curar-me».
Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse:
«Quero: fica limpo».
No mesmo instante o deixou a lepra
e ele ficou limpo.
Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem:
«Não digas nada a ninguém,
mas vai mostrar-te ao sacerdote
e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou,
para lhes servir de testemunho».
Ele, porém, logo que partiu,
começou a apregoar e a divulgar o que acontecera,
e assim, Jesus já não podia entrar abertamente
em nenhuma cidade.
Ficava fora, em lugares desertos,
e vinham ter com Ele de toda a parte.
Um humilde leproso aproxima-se de Jesus e, de joelhos, suplica: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus "compadecido", "estendeu a mão, tocou-lhe" e restitui-lhe a saúde: "Quero: fica limpo."
Ao acolher desta forma o leproso, Jesus transgredia a lei judaica que proibia tocar nestes "impuros". Mas logo de seguida manda-o apresentar-se ao Sacerdote, a quem cabia a decisão de reconhecer ou não a cura. A caridade está acima da Lei... Cristo não vinha suprimir a lei, mas aperfeiçoá-la.
O Leproso, ao experimentar o poder salvador de Jesus, torna-se numa testemunha do amor e da bondade do Senhor.
Deus não exclui ninguém. Todos são chamados a integrar a família dos filhos de Deus.O Leproso não é um marginal, um pecador condenado, um homem indigno, mas um filho amado a quem Deus quer oferecer também a Salvação e a vida.
O caminho do leproso deve ser o caminho de todo discípulo: vir a Jesus, aceitar a própria limitação humana, experimentar a misericórdia e o poder libertador do Senhor e, finalmente, tornar-se testemunha das grandes obras de Deus.
Infelizmente, em certos países, ainda há gente a morrer de lepra. Mas não haverá outras lepras mais violentas nas nossas comunidades? Não haverá, nas nossas relações, excluídos, mantidos "fora do acampamento", rejeitados, como se fossem leprosos?
Jesus não teve repugnância dos leprosos, pelo contrário, aproximou-se deles, porque viu neles filhos de Deus. Qual é a nossa atitude? Os nossos preconceitos e legalismos não estarão a criar marginalização e exclusão?
Jesus sentiu "compaixão". O que sentimos nós diante do sofrimento, da injustiça, da miséria de um irmão? "Estendemos a mão" ou apenas lamentamos: "Coitado!"?
A cura da lepra era um sinal dos tempos messiânicos. No Antigo Testamento, só dois grandes profetas tinham curar esta doença: Moisés (a sua irmã Maria) e Eliseu (Naaman, o Sírio). Os fariseus não reconhecem esse tempo; porém o leproso, agora curado, testemunha-o com grande entusiasmo e alegria.
O encontro com Jesus transformou totalmente a vida do leproso. Contagiado pelo Amor, o leproso regressa à cidade gritando a sua cura, sem ninguém o conseguir calar. E, por sua vez, semeia vida à sua volta. Semeia a experiência de Cristo! O castigado torna-se fonte de admiração e de Evangelho.
Aquela mão que toca a lepra daquele homem pode ainda hoje tocar as chagas de todos. Jesus sofre de um amor que lhe devora a vida! Sagrado contágio de um amor sem medidas!
Talvez não sejamos capazes de milagres como o jovem de Nazaré, mas somos capazes de compaixão, do arder por dentro, do inventar gestos e palavras que aliviam a solidão e a lepra, e se tornam milagre da carícia de Deus. No fim, Deus não perguntará sobre as nossas mãos imaculadas ou puras, mas questionará sobre as lepras que as nossas mãos tiverem tocado, sobre as chagas e pobrezas por elas curadas. Só assim, caros amigos e amigas, se realiza o Evangelho!
Estejamos atentos aos clamores dos "leprosos" de hoje; os que pertencem às inúmeras categorias de marginalizados e excluídos da nossa sociedade, afastados do convívio humano pela discriminação e pelo preconceito.
Obrigado, Senhor,
porque Jesus, Teu Filho, ao curar os leprosos
mostrou-nos que o amor não marginaliza ninguém,
mas regenera a pessoa e restabelece a sua dignidade.
Cada cura de Cristo fala do seu seu coração compassivo
e confirma a vinda do Teu amor e do Teu Reino.
Dá-nos um coração sensível ao bem dos irmãos
para sabermos dialogar contigo na fé.
Dá-nos disponibilidade para escutar a Tua Palavra,
sem nos fecharmos no monólogo egocêntrico
e estéril da nossa segurança.
Concede-nos o dom da fortaleza
para superarmos as nossas crises e dificuldades da fé
e podermos sempre acreditar em ti.
Amen
Não sei quem é o autor desta história. Apenas sei que este poço pode ser a lepra de outrora, a droga de hoje ou os males de sempre.
Certo homem caiu num poço e não conseguiu sair de lá.
Uma pessoa subjectiva passou e disse:
— Sinto muito que estejas aí, no fundo do poço.
Uma pessoa objectiva, olhando-o declarou:
— Estava-se mesmo a ver que alguém havia de cair neste poço.
Um fariseu exclamou:
— Só pessoas más é que caem em poços.
Um cientista pôs-se a calcular a pressão necessária para tirar o homem de dentro do poço.
Um geólogo espreitando para dentro sugeriu:
— Aí dentro podes apreciar as rochas do poço.
Um gabarola proclamou:
— Isso não é nada, havias de ver o meu poço.
Um psicólogo aconselhou:
— Tudo o que tens a fazer é convencer-te que não estás num poço.
O optimista advertiu:
— Podia ser bem pior.
O repórter quis logo o exclusivo da história do homem que caiu no poço.
O moralista disse:
— Se me tivesses escutado, não estarias agora nesse poço.
Um pregador retorquiu:
— O teu poço é apenas um estado de espírito.
Por fim, passou Jesus. Vendo o homem, estendeu-lhe a mão e tirou-o para fora do poço.
Pe. José David Quintal Vieira, scj
aproximo-me de Ti e, de joelhos por terra, suplico: cura-me!
Carrego comigo a lepra da história
e não sei amar nem me deixar conduzir pelo teu Espírito.
Transporto em mim a corrosão do pecado
que desgasta a imagem de Ti em mim.
Com um sorriso,
estendes-me a mão da misericórdia que me acolhe
e dás-me o abraço do perdão que me limpa e me faz homem novo.
Senhor, Jesus,
não consigo esconder o amor que me tens,
não consigo calar a graça que me habita.
És tão bom, Senhor!
Raul Follereau (1903-1977), o Apóstolo dos Leprosos
Raul Follereau nasceu em Nevers, na Fança. Licenciado na Sorbona, literato e jornalista de mérito, abastado, cheio de energias, casado com Madeleine, tornou-se o "Apóstolo dos leprosos". A mudança de rumo deu-se em 1935, durante uma expedição jornalística à Africa, com a mulher. "De repente, emergiram do meio da vegetação alguns rostos atemorizados, depois uns corpos esqueléticos. Gritei-lhes para se aproximarem. Mas alguns fugiram; outros, mais corajosos, ficaram onde estavam, sem deixarem de nos fixar com o seu olhar triste. Perguntei ao guia: "Quem são?" "Leprosos". "E porque estão aqui?" "Porque são leprosos". "Já sei; mas não estariam melhor na aldeia? Que fizeram eles para serem escorraçados?" "São leprosos ", insistiu o guia, reticente e teimoso. "Mas, pelo menos são tratados?" O interlocutor, agastado por ter de repetir sempre a mesma resposta, encolheu os ombros e deu meia volta. Foi nesse dia que vim a saber que existia um crime imperdoável, ligado a não sei que castigo, um crime sem apelo e sem amnistia: a lepra. E foi naquele dia que me decidi a não defender outra causa, por toda a vida, senão a de milhões de homens, os quais a nossa ignorância, a nossa vileza tornaram leprosos, condenados para sempre à solidão e ao desespero".
Hitler e a ocupação da França obrigaram-no a deter-se algum tempo. Depois, durante 5 anos, percorre a Europa em busca de auxílios; e durante outros 3 faz 200 mil quilómetros por toda a Africa, Asia e ilhas do Oceano Índico, para ver. "No vigésimo século do Cristianismo, encontrei leprosos nas prisões, nos manicómios, nos cemitérios". Dirigiu-se a Eisenhower e a Krutchev: "Com o preço de dois bombardeiros poder-se-iam curar todos os leprosos do mundo. Dêem-mos!" Não obteve resposta. Raul e Madeleine, 40 anos de vida entregues à luta contra a lepra: mais de dois milhões de quilómetros percorridos, mais de 150 milhões de escudos recolhidos, um bilião de leprosos curados. E um Testamento: "O tesouro que vos deixo é o bem que não consegui fazer, que quereria ter feito e vós ireis fazer depois de mim. Que este testemunho vos possa pelo menos a ajudar a amar. É a última ambição da minha vida. Quanto mais ela se aproxima do fim, mais sinto o dever de vos dizer que só amando salvaremos a Humanidade, e de vos repetir que a maior desgraça que vos pode acontecer é não serdes úteis a ninguém e a vossa vida não servir para nada. Amar ou desaparecer".
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Senhor, Ensina-nos a pensar nos outros
Senhor, ensina-nos
a não nos amarmos a nós mesmos,
a não amarmos somente os nossos,
a não amarmos só aqueles de quem gostamos.
Senhor, ensina-nos a pensar nos outros
e a amar, antes de mais,
aqueles que ninguém ama.
Senhor, faz-nos sofrer com o sofrimento dos outros.
Dá-nos a graça de compreender
que em cada instante da nossa vida,
da nossa vida feliz e por Ti protegida,
há milhões de seres humanos
que também são teus filhos e nossos irmãos,
mas que morrem de fome
sem terem merecido morrer de fome,
que morrem de frio,
sem terem merecido morrer de frio.
Senhor, tem piedade dos leprosos
a quem tantas vezes sorriste
quando estavas nesta terra;
dos milhões de leprosos
que estendem para a Tua misericórdia
as mãos sem dedos,
os braços sem mãos.
E perdoa-nos de os termos,
por vergonha ou por medo, abandonado.
Senhor, não consintas mais
que sejamos felizes sozinhos.
Faz-nos sentir a angústia
da miséria universal,
e liberta-nos a nós mesmos.
Amém!
Raoul Follereau, in A única verdade é amar.
V Domingo do Tempo Comum - B

Garante-nos que o projecto de Deus para o homem não é um projecto de morte, mas é um projecto de vida verdadeira, de felicidade sem fim.
Na primeira leitura, Job comenta com amargura e desilusão o facto da sua vida estar marcada por um sofrimento atroz e de Deus parecer estar ausente e indiferente face ao seu desespero. Apesar disso, é a Deus que Job se dirige, pois sabe que Deus é a sua única esperança e que fora d'Ele não há possibilidade de salvação.
No Evangelho manifesta-se a eterna preocupação de Deus com a felicidade dos seus filhos. Na acção libertadora de Jesus em favor dos homens, começa a manifestar-se esse mundo novo sem sofrimento, sem opressão, sem exclusão que Deus sonhou para os homens. O texto sugere, ainda, que a acção de Jesus tem de ser continuada pelos seus discípulos.
A segunda leitura sublinha, especialmente, a obrigação que os discípulos de Jesus assumiram no sentido de testemunhar diante de todos os homens a proposta libertadora de Jesus. Na sua acção e no seu testemunho, os discípulos de Jesus não podem ser guiados por interesses pessoais, mas sim pelo amor a Deus, ao Evangelho e aos irmãos.
Leitura do Livro de Job
Job tomou a palavra, dizendo:
«Não vive o homem sobre a terra como um soldado?
Não são os seus dias como os de um mercenário?
Como o escravo que suspira pela sombra
e o trabalhador que espera pelo seu salário,
assim eu recebi em herança meses de desilusão
e couberam-me em sorte noites de amargura.
Se me deito, digo: 'Quando é que me levanto?'
Se me levanto: 'Quando chegará a noite?'
E agito-me angustiado até ao crepúsculo.
Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear
e desvanecem-se sem esperança.
– Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro
e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade».
Refrão: Louvai o Senhor, que salva os corações atribulados.
Louvai o Senhor, porque é bom cantar,
é agradável e justo celebrar o seu louvor.
O Senhor edificou Jerusalém,
congregou os dispersos de Israel.
Sarou os corações dilacerados
e ligou as suas feridas.
Fixou o número das estrelas
e deu a cada uma o seu nome.
Grande é o nosso Deus e todo-poderoso,
é sem limites a sua sabedoria.
O Senhor conforta os humildes
e abate os ímpios até ao chão.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória,
é uma obrigação que me foi imposta.
Ai de mim se não anunciar o Evangelho!
Se o fizesse por minha iniciativa,
teria direito a recompensa.
Mas, como não o faço por minha iniciativa,
desempenho apenas um cargo que me está confiado.
Em que consiste, então, a minha recompensa?
Em anunciar gratuitamente o Evangelho,
sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere.
Livre como sou em relação a todos,
de todos me fiz escravo,
para ganhar o maior número possível.
Com os fracos tornei-me fraco,
a fim de ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para todos,
a fim de ganhar alguns a todo o custo.
E tudo faço por causa do Evangelho,
para me tornar participante dos seus bens.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos
Naquele tempo,
Jesus saiu da sinagoga
e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André.
A sogra de Simão estava de cama com febre
e logo Lhe falaram dela.
Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a.
A febre deixou-a e ela começou a servi-los.
Ao cair da tarde, já depois do sol-posto,
trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos
e a cidade inteira ficou reunida diante da porta.
Jesus curou muitas pessoas,
que eram atormentadas por várias doenças,
e expulsou muitos demónios.
Mas não deixava que os demónios falassem,
porque sabiam qual Ele era.
De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu.
Retirou-Se para um sítio ermo
e aí começou a orar.
Simão e os companheiros foram à procura d'Ele
e, quando O encontraram, disseram-Lhe:
«Todos Te procuram».
Ele respondeu-lhes:
«Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas,
a fim de pregar aí também,
porque foi para isso que Eu vim».
E foi por toda a Galileia,
pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.
O Evangelho S. Marcos procura mostrar "quem é Jesus". Não o apresenta com definições abstractas, mas Jesus agindo diante de uma multidão sofredora. Aparece solidário à dor dos homens e atento às suas necessidades. Na casa de Pedro: aproxima-se da sogra, estende-lhe a mão e levanta-a. A mulher, uma vez curada, começa imediatamente a servi-los; cura, também, muitos outros doentes e endemoniados. De manhazinha, levanta-se e vai rezar, num lugar deserto.
- Com a pregação, ilumina os espíritos, revela o amor de Deus, leva as almas à fé, dá sentido à dor e mostra o caminho da salvação;
- Com os milagres, cura os doentes, expulsa demónios, quer um mundo novo, sem qualquer forma de dor;
- Com a oração, compreende o plano de Deus e aceita a vontade do Pai. Só a verdadeira oração pode iluminar-nos o sentido da dor.
O sofrimento continuará sempre a ser um mistério. Nem sempre são claros os caminhos de Deus. Jesus não elimina o sofrimento, mas ensina-nos a carregá-lo com amor e esperança, para que dê frutos de vida eterna. Jesus garante-nos que Deus nunca nos abandona. Resta-nos confiar em Deus e entregarmo-nos no seu amor.
Os cristãos não descobriram o caminho para evitar o sofrimento. Sofrem como os outros e, talvez, até mais do que os outros, mas descobriram que a Cruz de Jesus Cristo é redentora, para todos aqueles que não perdem a esperança no amor e na fidelidade de Deus.
Carregar a cruz sozinhos é desesperante. Carregá-la, unidos a Jesus Cristo, pode ser até uma consolação, pois com ele salvaremos o mundo. Em Cristo, todo sofrimento é salvador, inclusive o nosso.
Qual é a nossa atitude diante dos nossos sofrimentos? De aceitação ou de revolta? (o exemplo de Jesus no Getsémani)
Qual é a nossa atitude diante do sofrimento dos outros? Estendemos-lhes a mão e ajudámo-los a libertarem-se?
Como podemos ajudar concretamente os doentes da nossa comunidade?
Rezemos para que Deus nos dê luz para compreender o mistério do sofrimento e coragem para carregá-lo com amor.
À imagem da sogra de Simão,
não me deixes prostrado, Senhor.
Sabes que também tenho "febres" frequentes
e vivo num meio que as gera.
Cura-me de todas elas e ensina-me a reerguer-me.
Por vezes,
gera-se em mim a febre da ordem e da eficácia;
outras, sinto a febre de agradar a todos;
outras, a febre de ter mais e de comprar;
e, nalguns momentos, a febre do poder.
Sabes bem, Senhor,
que me custa viver como Tu ensinaste;
a febre do prestígio envolve as minhas tarefas
e o culto do meu eu e da minha imagem
afasta-me do Teu estilo simples.
Dá-me, Senhor, a autenticidade vital,
e ajuda-me a ser coerente.
Cura -me, Senhor, das minhas pequenas falhas,
para que saiba, como Tu, ir espalhando saúde à minha volta,
criando redes fraternas e atitudes solidárias,
que nos façam viver melhor,
tornando palpável a realidade o Teu Reino.
Quando Tu me dás a mão e me saras,
fazes de mim fonte de cura e de liberdade,
que compreende, desdramatiza e facilita,
rompe a rotina e entusiasma na aventura de ser
e de construir um mundo onde reinem a paz e a justiça.
Alargar horizontes
Depois das férias, um aluno veio dizer-me, cheio de orgulho:
— Senhor padre, eu já estou mais crescido.
— É verdade. E com certeza ainda vais crescer mais. Mas porque é que queres ser grande?
— É para poder ver mais longe.
Surpreendeu-me esta resposta. Eu pensava que era para se sentir importante, para fazer o mesmo que os adultos ou outras coisas do género. Para aquela criança, ser grande é olhar mais longe, é alargar horizontes.
É esta a mensagem do Evangelho deste V Domingo: Jesus subiu ao monte para orar. Na tradição bíblica o monte é lugar e símbolo do encontro de céu e terra, da ascensão humana e da teofania, de vastos horizontes.
Quem reza vê mais além, alarga os seus horizontes, faz uma escalada, ultrapassa-se, une a terra ao céu. Há muitas maneira de rezar: Jesus rezava na sinagoga, no convívio com os amigos, fazendo o bem, anunciando o amor e a sós com o Pai.
Também nós rezamos assim, cada um segundo a sua circunstância. Uns rezam por dentro, com o espírito elevado. Outros por fora, de uma maneira prática, em movimento cristão, em acção eficaz sobre a terra. Não importa a forma, mas sim chegar a Deus. Não importa como foi o esforço para construir a ponte, o que importa é poder passar e chegar mais longe.
Pe. José David Quintal Vieira, scj
Amados peregrinos de Fátima!
Quero agora dirigir uma saudação particular aos enfermos aqui presentes em grande número, mas extensiva a quantos, em suas casas ou nos hospitais, estão unidos espiritualmente connosco:
O Papa saúda-vos com grande afecto, queridos doentes, assegurando uma especial lembrança na oração por vós e pelas pessoas que cuidam de vós; coloco os anseios de cada um no Altar onde Jesus continuamente intercede e Se sacrifica pela humanidade.
Vim aqui hoje como testemunha de Jesus ressuscitado. Ele sabe o que é sofrer, e viveu as angústias da morte; mas, com a sua morte, matou a morte, sendo o primeiro homem, em absoluto, que Se libertou definitivamente das cadeias dela. Ele percorreu todo o itinerário do homem até à pátria do Céu, onde preparou um trono de glória para cada um de nós.
Querido irmão doente!
Se alguém ou alguma coisa te faz pensar que chegaste ao fim da estrada, não acredites! Se tens conhecimento do Amor eterno que te criou, sabes também que, dentro de ti, há uma alma imortal. Existem várias estações na vida; se porventura sentires chegar o inverno, quero que saibas que não pode ser a última estação, porque a última será primavera: a primavera da ressurreição. A totalidade da tua vida estende--se infinitamente para além das suas fronteiras terrenas: prevê o Céu.
Queridos doentes!
Eu sei que "os sofrimentos do tempo presente nada são em comparação com a glória que se há-de revelar em vós" (Rom 8, 18). Coragem! Neste Ano Santo, a graça do Pai derrama-se com maior abundância sobre quem a acolher com a alma simples e confiante das crianças; isto mesmo no-lo recordou Jesus, no texto evangélico agora proclamado. Sendo assim, procurai ser contados também vós, queridos doentes, no número destes "pequeninos", para que Jesus possa comprazer-Se convosco. Daqui a pouco, Ele vai aproximar-se de vós para vos abençoar pessoalmente, no Santíssimo Sacramento; vai ao vosso encontro com a promessa: "Eu renovo todas as coisas!" (Ap 21, 5). Tende confiança! Abandonai-vos na sua mão providente, como o fizeram os pastorinhos Francisco e Jacinta. Estes dizem-vos que não estais sozinhos. O Pai celeste ama-vos.
IV Domingo do Tempo Comum - B

A primeira leitura propõe-nos – a partir da figura de Moisés – uma reflexão sobre a experiência profética. O profeta é um homem de Deus, que surge nos grandes momentos de crise e de transição. Ele sabe ler os sinais do tempos e, graças à sua sintonia com Deus, pode animar a fé do povo e anunciar novos caminhos para o futuro. O profeta é alguém que Deus escolhe, chama e envia para ser a sua "palavra" viva no meio dos homens.
Na segunda leitura, S. Paulo fala como um profeta, oferecendo à comunidade de Corinto uma luz e um sentido novo para o seu comportamento, convidando-os a repensarem as suas prioridades e a não deixarem que as realidades transitórias sejam impeditivas de um verdadeiro compromisso com o serviço de Deus e dos irmãos.
O Evangelho mostra que o Profeta esperado é Jesus, o Filho de Deus, cumprindo o projecto libertador do Pai, que pela sua Palavra e acção, renova e transforma em homens livres todos aqueles que vivem esmagados pela dor, egoísmo, pecado e morte.
Leitura do Livro do Deuteronómio
Moisés falou ao povo, dizendo:
«O Senhor teu Deus fará surgir
no meio de ti, de entre os teus irmãos,
um profeta como eu; a ele deveis escutar.
Foi isto mesmo que pediste ao Senhor teu Deus
no Horeb, no dia da assembleia:
'Não ouvirei jamais a voz do Senhor meu Deus,
nem verei este grande fogo, para não morrer'.
O Senhor disse-me:
'Eles têm razão;
farei surgir para eles, do meio dos seus irmãos,
um profeta como tu.
Porei as minhas palavras na sua boca
e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar.
Se alguém não escutar as minhas palavras
que esse profeta disser em meu nome,
Eu próprio lhe pedirei contas.
Mas se um profeta tiver a ousadia
de dizer em meu nome o que não lhe mandei,
ou de falar em nome de outros deuses,
tal profeta morrerá'».
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.
Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou;
pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Não queria que andásseis preocupados.
Quem não e casado preocupa-se com as coisas do Senhor,
com o modo de agradar ao senhor.
Mas aquele que se casou preocupa-se com as coisas do mundo,
com a maneira de agradar à esposa,
e encontra-se dividido.
Da mesma forma, a mulher solteira e a virgem
preocupam-se com os interesses do Senhor,
para serem santas de corpo e espírito.
Mas a mulher casada preocupa-se com as coisas do mundo,
com a forma de agradar ao marido.
Digo isto no vosso próprio interessa
e não para vos armar uma cilada.
Tenho em vista o que mais convém
e vos pode unir ao Senhor sem desvios.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos
Jesus chegou a Cafarnaum
e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga
e começou a ensinar,
todos se maravilhavam com a sua doutrina,
porque os ensinava com autoridade
e não como os escribas.
Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro,
que começou a gritar:
«Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno?
Vieste para nos perder?
Sei quem Tu és: o Santo de Deus».
Jesus repreendeu-o, dizendo:
«Cala-te e sai desse homem».
O espírito impuro, agitando-o violentamente,
soltou um forte grito e saiu dele.
Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros:
«Que vem a ser isto?
Uma nova doutrina, com tal autoridade,
que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!»
E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte,
em toda a região da Galileia.
"Todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade."
Ele tinha um jeito novo de ensinar. Não comunicava a Palavra de Deus como os rabinos do seu tempo. A sua mensagem é "nova" e é feita "com autoridade". Falava de forma surpreendente e eficaz, pois libertava o homem dos males que o dominavam. Diante das palavras e dos milagres de Jesus, o povo percebe que Ele é o profeta prometido por Moisés: E a fama de Jesus espalhava-se por toda parte...
As leituras bíblicas deste Domingo lembram-nos duas verdades:
– a nossa relação com Jesus é fundamentalmente uma relação de "escuta": devemos escutar a palavra de Jesus Profeta e pô-la em prática;
– lembra-nos, também, a urgência e a necessidade do carisma profético: o cristão é profeta por vocação e é chamado, com a sua palavra e com suas obras, a revelar os caminhos de Deus, condenando tudo aquilo que se opõe ao mistério do reino de vida proclamado por Jesus.
Esta história ocorreu numa universidade.
Havia um professor que se dizia profundamente ateu. Os seus alunos sempre tiveram medo de discutir o assunto porque no princípio de cada semestre 'provava que Deus não podia existir'. Pedia que quem acreditasse em Deus se levantasse. Em 20 anos nunca ninguém se atreveu pois acrescentava:
— Quem acredita em Deus é um louco. Se ele existisse faria com que este giz, ao cair no chão não se parta. Seria uma prova que ele é Deus.
E atirava o giz que se fragmentava. Os estudantes olhavam apenas e ninguém se pronunciava.
Há um ano atrás alguém aguardava este momento.
— Se há alguém que ainda acredita em Deus, que se ponha de pé!
O rapaz, decidido, levantou-se no meio do sala.
— Ah tonto! Se Deus existisse, provaria evitando que este giz se parta ao cair no chão...
Inadvertidamente o giz escapuliu-se entre os dedos deslizando pela roupa até parar intacto no chão. O professor, estupefacto, saiu a correr e não mais voltou. E toda a turma deu uma salva de palmas para o colega.
Às vezes a única coisa que precisamos de fazer é pormo-nos de pé.
Diante de Jesus ninguém pode ficar indiferente. Até os demónios tomavam uma posição e os fariseus se declaravam. Não basta acreditar pois, até os demónios acreditavam. É preciso pôr-se de pé.
É possivel morrer a sorrir?
Pode alguém chegar ao fim dos seus dias com uma sensação de plenitude e gratidão? É possível encontrar um caminho por onde se é feliz, não à chegada, mas a cada passo?
A morte põe fim a esta existência que conhecemos, mas porque será que não é óbvio para tanta gente que esta vida faz parte de outra?
Se há aqui tantos tipos de sofrimento e que doem todos tanto, uns de forma mais focada num período curto, outros com cargas mais leves, mas que temos de carregar por muito mais tempo… como podemos encontrar alegria neste mundo onde parece haver tão poucas razões para sorrir?
Se a doença, o envelhecimento e a morte são inevitáveis, então como pode alguém ser feliz? Morrer feliz?
Talvez nada, ou quase nada, seja como nos parece ser, o que significa que é preciso mudar a nossa forma de ver, pensar e sentir aquilo a que chamamos realidade. Há um infinito para lá do que conseguimos alcançar hoje e isso é bom!
Morre a sorrir quem compreende que a vida quer viver e que aquilo a que chamamos eu sobreviverá ao que muitos chamam fim. Não apenas através dos que não deixarão de nos amar, mas pelo amor de quem nos deu a existência, criando-nos a partir do nada e fazendo de nós parte de si.
Não te apegues ao que já não és, nem te consumas com o que há de vir… Vive as tuas horas não deixando que passem sem que nelas nada faças.
Luta por aquilo em que acreditas, não vejas nada como impossível e, por piores que sejam as condições nas quais tens de combater, não deixes de explorar ao máximo o tempo que te é dado para fazeres com que a tua vida valha todos os sacrifícios.
E se, com a tua vida, tiveres conseguido encher de amor a vida dos outros… talvez não consigas deixar de sorrir por eles… e por ti!
José Luís Nunes Martins, in Voz da Verdade, 31-12-2023, p.8