VI Domingo do Tempo Comum - B

A partir dos seus gestos, podemos descobrir quem Ele é: liberta o homem possuído por um espírito mau (4.º Domingo); Estende a mão à sogra de Pedro, cura-a e ajuda a levantar-se (5.º Domingo); hoje, ao sarar um leproso, apresenta-nos a sua atitude para com os marginalizados e excluídos.
A primeira leitura apresenta-nos a legislação que definia a forma de tratar com os leprosos. Impressiona como, a partir de uma imagem deturpada de Deus, os homens são capazes de inventar mecanismos de discriminação e de rejeição em nome de Deus.
O Evangelho diz-nos que, em Jesus, Deus desce ao encontro dos seus filhos vítimas da rejeição e da exclusão, compadece-Se da sua miséria, estende-lhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do "Reino". Deus não pactua com a discriminação e denuncia como contrários aos seus projectos todos os mecanismos de opressão dos irmãos.
A segunda leitura convida os cristãos a terem como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional aos projectos do Pai e fez da sua vida um dom de amor, ao serviço da libertação dos homens.
Leitura do Livro do Levítico
O Senhor falou a Moisés e a Aarão, dizendo:
«Quando um homem tiver na sua pele
algum tumor, impigem ou mancha esbranquiçada,
que possa transformar-se em chaga de lepra,
devem levá-lo ao sacerdote Aarão
ou a algum dos sacerdotes, seus filhos.
O leproso com a doença declarada
usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho,
cobrirá o rosto até ao bigode e gritará:
'Impuro, impuro!'
Todo o tempo que lhe durar a lepra,
deve considerar-se impuro
e, sendo impuro, deverá morar à parte,
fora do acampamento».
Refrão: Sois o meu refúgio, Senhor; dai-me a alegria da vossa salvação.
Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa
e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade
e em cujo espírito não há engano.
Confessei-vos o meu pecado
e não escondi a minha culpa.
Disse: Vou confessar ao Senhor a minha falta
e logo me perdoastes a culpa do pecado.
Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos,
fazei que à minha volta só haja hinos de vitória.
Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor,
exultai, vós todos os que sois rectos de coração.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer coisa,
fazei tudo para glória de Deus.
Portai-vos de modo que não deis escândalo
nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus.
Fazei como eu, que em tudo procuro agradar a toda a gente,
não buscando o próprio interesse, mas o de todos,
para que possam salvar-se.
Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.
EVANGELHO – Mc 1,40-45
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
veio ter com Jesus um leproso.
Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe:
«Se quiseres, podes curar-me».
Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse:
«Quero: fica limpo».
No mesmo instante o deixou a lepra
e ele ficou limpo.
Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem:
«Não digas nada a ninguém,
mas vai mostrar-te ao sacerdote
e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou,
para lhes servir de testemunho».
Ele, porém, logo que partiu,
começou a apregoar e a divulgar o que acontecera,
e assim, Jesus já não podia entrar abertamente
em nenhuma cidade.
Ficava fora, em lugares desertos,
e vinham ter com Ele de toda a parte.
Um humilde leproso aproxima-se de Jesus e, de joelhos, suplica: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus "compadecido", "estendeu a mão, tocou-lhe" e restitui-lhe a saúde: "Quero: fica limpo."
Ao acolher desta forma o leproso, Jesus transgredia a lei judaica que proibia tocar nestes "impuros". Mas logo de seguida manda-o apresentar-se ao Sacerdote, a quem cabia a decisão de reconhecer ou não a cura. A caridade está acima da Lei... Cristo não vinha suprimir a lei, mas aperfeiçoá-la.
O Leproso, ao experimentar o poder salvador de Jesus, torna-se numa testemunha do amor e da bondade do Senhor.
Deus não exclui ninguém. Todos são chamados a integrar a família dos filhos de Deus.O Leproso não é um marginal, um pecador condenado, um homem indigno, mas um filho amado a quem Deus quer oferecer também a Salvação e a vida.
O caminho do leproso deve ser o caminho de todo discípulo: vir a Jesus, aceitar a própria limitação humana, experimentar a misericórdia e o poder libertador do Senhor e, finalmente, tornar-se testemunha das grandes obras de Deus.
Infelizmente, em certos países, ainda há gente a morrer de lepra. Mas não haverá outras lepras mais violentas nas nossas comunidades? Não haverá, nas nossas relações, excluídos, mantidos "fora do acampamento", rejeitados, como se fossem leprosos?
Jesus não teve repugnância dos leprosos, pelo contrário, aproximou-se deles, porque viu neles filhos de Deus. Qual é a nossa atitude? Os nossos preconceitos e legalismos não estarão a criar marginalização e exclusão?
Jesus sentiu "compaixão". O que sentimos nós diante do sofrimento, da injustiça, da miséria de um irmão? "Estendemos a mão" ou apenas lamentamos: "Coitado!"?
A cura da lepra era um sinal dos tempos messiânicos. No Antigo Testamento, só dois grandes profetas tinham curar esta doença: Moisés (a sua irmã Maria) e Eliseu (Naaman, o Sírio). Os fariseus não reconhecem esse tempo; porém o leproso, agora curado, testemunha-o com grande entusiasmo e alegria.
O encontro com Jesus transformou totalmente a vida do leproso. Contagiado pelo Amor, o leproso regressa à cidade gritando a sua cura, sem ninguém o conseguir calar. E, por sua vez, semeia vida à sua volta. Semeia a experiência de Cristo! O castigado torna-se fonte de admiração e de Evangelho.
Aquela mão que toca a lepra daquele homem pode ainda hoje tocar as chagas de todos. Jesus sofre de um amor que lhe devora a vida! Sagrado contágio de um amor sem medidas!
Talvez não sejamos capazes de milagres como o jovem de Nazaré, mas somos capazes de compaixão, do arder por dentro, do inventar gestos e palavras que aliviam a solidão e a lepra, e se tornam milagre da carícia de Deus. No fim, Deus não perguntará sobre as nossas mãos imaculadas ou puras, mas questionará sobre as lepras que as nossas mãos tiverem tocado, sobre as chagas e pobrezas por elas curadas. Só assim, caros amigos e amigas, se realiza o Evangelho!
Estejamos atentos aos clamores dos "leprosos" de hoje; os que pertencem às inúmeras categorias de marginalizados e excluídos da nossa sociedade, afastados do convívio humano pela discriminação e pelo preconceito.
Obrigado, Senhor,
porque Jesus, Teu Filho, ao curar os leprosos
mostrou-nos que o amor não marginaliza ninguém,
mas regenera a pessoa e restabelece a sua dignidade.
Cada cura de Cristo fala do seu seu coração compassivo
e confirma a vinda do Teu amor e do Teu Reino.
Dá-nos um coração sensível ao bem dos irmãos
para sabermos dialogar contigo na fé.
Dá-nos disponibilidade para escutar a Tua Palavra,
sem nos fecharmos no monólogo egocêntrico
e estéril da nossa segurança.
Concede-nos o dom da fortaleza
para superarmos as nossas crises e dificuldades da fé
e podermos sempre acreditar em ti.
Amen
Não sei quem é o autor desta história. Apenas sei que este poço pode ser a lepra de outrora, a droga de hoje ou os males de sempre.
Certo homem caiu num poço e não conseguiu sair de lá.
Uma pessoa subjectiva passou e disse:
— Sinto muito que estejas aí, no fundo do poço.
Uma pessoa objectiva, olhando-o declarou:
— Estava-se mesmo a ver que alguém havia de cair neste poço.
Um fariseu exclamou:
— Só pessoas más é que caem em poços.
Um cientista pôs-se a calcular a pressão necessária para tirar o homem de dentro do poço.
Um geólogo espreitando para dentro sugeriu:
— Aí dentro podes apreciar as rochas do poço.
Um gabarola proclamou:
— Isso não é nada, havias de ver o meu poço.
Um psicólogo aconselhou:
— Tudo o que tens a fazer é convencer-te que não estás num poço.
O optimista advertiu:
— Podia ser bem pior.
O repórter quis logo o exclusivo da história do homem que caiu no poço.
O moralista disse:
— Se me tivesses escutado, não estarias agora nesse poço.
Um pregador retorquiu:
— O teu poço é apenas um estado de espírito.
Por fim, passou Jesus. Vendo o homem, estendeu-lhe a mão e tirou-o para fora do poço.
Pe. José David Quintal Vieira, scj
aproximo-me de Ti e, de joelhos por terra, suplico: cura-me!
Carrego comigo a lepra da história
e não sei amar nem me deixar conduzir pelo teu Espírito.
Transporto em mim a corrosão do pecado
que desgasta a imagem de Ti em mim.
Com um sorriso,
estendes-me a mão da misericórdia que me acolhe
e dás-me o abraço do perdão que me limpa e me faz homem novo.
Senhor, Jesus,
não consigo esconder o amor que me tens,
não consigo calar a graça que me habita.
És tão bom, Senhor!
Raul Follereau (1903-1977), o Apóstolo dos Leprosos
Raul Follereau nasceu em Nevers, na Fança. Licenciado na Sorbona, literato e jornalista de mérito, abastado, cheio de energias, casado com Madeleine, tornou-se o "Apóstolo dos leprosos". A mudança de rumo deu-se em 1935, durante uma expedição jornalística à Africa, com a mulher. "De repente, emergiram do meio da vegetação alguns rostos atemorizados, depois uns corpos esqueléticos. Gritei-lhes para se aproximarem. Mas alguns fugiram; outros, mais corajosos, ficaram onde estavam, sem deixarem de nos fixar com o seu olhar triste. Perguntei ao guia: "Quem são?" "Leprosos". "E porque estão aqui?" "Porque são leprosos". "Já sei; mas não estariam melhor na aldeia? Que fizeram eles para serem escorraçados?" "São leprosos ", insistiu o guia, reticente e teimoso. "Mas, pelo menos são tratados?" O interlocutor, agastado por ter de repetir sempre a mesma resposta, encolheu os ombros e deu meia volta. Foi nesse dia que vim a saber que existia um crime imperdoável, ligado a não sei que castigo, um crime sem apelo e sem amnistia: a lepra. E foi naquele dia que me decidi a não defender outra causa, por toda a vida, senão a de milhões de homens, os quais a nossa ignorância, a nossa vileza tornaram leprosos, condenados para sempre à solidão e ao desespero".
Hitler e a ocupação da França obrigaram-no a deter-se algum tempo. Depois, durante 5 anos, percorre a Europa em busca de auxílios; e durante outros 3 faz 200 mil quilómetros por toda a Africa, Asia e ilhas do Oceano Índico, para ver. "No vigésimo século do Cristianismo, encontrei leprosos nas prisões, nos manicómios, nos cemitérios". Dirigiu-se a Eisenhower e a Krutchev: "Com o preço de dois bombardeiros poder-se-iam curar todos os leprosos do mundo. Dêem-mos!" Não obteve resposta. Raul e Madeleine, 40 anos de vida entregues à luta contra a lepra: mais de dois milhões de quilómetros percorridos, mais de 150 milhões de escudos recolhidos, um bilião de leprosos curados. E um Testamento: "O tesouro que vos deixo é o bem que não consegui fazer, que quereria ter feito e vós ireis fazer depois de mim. Que este testemunho vos possa pelo menos a ajudar a amar. É a última ambição da minha vida. Quanto mais ela se aproxima do fim, mais sinto o dever de vos dizer que só amando salvaremos a Humanidade, e de vos repetir que a maior desgraça que vos pode acontecer é não serdes úteis a ninguém e a vossa vida não servir para nada. Amar ou desaparecer".
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Senhor, Ensina-nos a pensar nos outros
Senhor, ensina-nos
a não nos amarmos a nós mesmos,
a não amarmos somente os nossos,
a não amarmos só aqueles de quem gostamos.
Senhor, ensina-nos a pensar nos outros
e a amar, antes de mais,
aqueles que ninguém ama.
Senhor, faz-nos sofrer com o sofrimento dos outros.
Dá-nos a graça de compreender
que em cada instante da nossa vida,
da nossa vida feliz e por Ti protegida,
há milhões de seres humanos
que também são teus filhos e nossos irmãos,
mas que morrem de fome
sem terem merecido morrer de fome,
que morrem de frio,
sem terem merecido morrer de frio.
Senhor, tem piedade dos leprosos
a quem tantas vezes sorriste
quando estavas nesta terra;
dos milhões de leprosos
que estendem para a Tua misericórdia
as mãos sem dedos,
os braços sem mãos.
E perdoa-nos de os termos,
por vergonha ou por medo, abandonado.
Senhor, não consintas mais
que sejamos felizes sozinhos.
Faz-nos sentir a angústia
da miséria universal,
e liberta-nos a nós mesmos.
Amém!
Raoul Follereau, in A única verdade é amar.