Mensagem para o Dia Mundial pelas Vocações
 A Igreja celebrará na próxima semana, de 19 a 26 de abril, a Semana de Oração pelas Vocações. Precisamos de acreditar que a oração pelas vocações dá frutos excelentes. Foi Jesus que no-lo disse!
A Igreja celebrará na próxima semana, de 19 a 26 de abril, a Semana de Oração pelas Vocações. Precisamos de acreditar que a oração pelas vocações dá frutos excelentes. Foi Jesus que no-lo disse! 
Deixo-te aqui a linda mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial de Oração pelas Vocações:
«O êxodo, experiência fundamental da vocação
Amados irmãos e irmãs!
O IV Domingo de Páscoa apresenta-nos o ícone do Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, chama-as, alimenta-as e condu-las. Há mais de 50 anos que, neste domingo, vivemos o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Este dia sempre nos lembra a importância de rezar para que o «dono da messe – como disse Jesus aos seus discípulos – mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). Jesus dá esta ordem no contexto dum envio missionário: além dos doze apóstolos, Ele chamou mais setenta e dois discípulos, enviando-os em missão dois a dois (cf. Lc 10,1-16). Com efeito, se a Igreja «é, por sua natureza, missionária» (Conc. Ecum. Vat. II., Decr. Ad gentes, 2), a vocação cristã só pode nascer dentro duma experiência de missão. Assim, ouvir e seguir a voz de Cristo Bom Pastor, deixando-se atrair e conduzir por Ele e consagrando-Lhe a própria vida, significa permitir que o Espírito Santo nos introduza neste dinamismo missionário, suscitando em nós o desejo e a coragem jubilosa de oferecer a nossa vida e gastá-la pela causa do Reino de Deus.
A oferta da própria vida nesta atitude missionária só é possível se formos capazes de sair de nós mesmos. Por isso, neste 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, gostaria de reflectir precisamente sobre um «êxodo» muito particular que é a vocação ou, melhor, a nossa resposta à vocação que Deus nos dá. Quando ouvimos a palavra «êxodo», ao nosso pensamento acodem imediatamente os inícios da maravilhosa história de amor entre Deus e o povo dos seus filhos, uma história que passa através dos dias dramáticos da escravidão no Egipto, a vocação de Moisés, a libertação e o caminho para a Terra Prometida. O segundo livro da Bíblia – o Êxodo – que narra esta história constitui uma parábola de toda a história da salvação e também da dinâmica fundamental da fé cristã. Na verdade, passar da escravidão do homem velho à vida nova em Cristo é a obra redentora que se realiza em nós por meio da fé (Ef 4, 22-24). Esta passagem é um real e verdadeiro «êxodo», é o caminho da alma cristã e da Igreja inteira, a orientação decisiva da existência para o Pai.
Na raiz de cada vocação cristã, há este movimento fundamental da experiência de fé: crer significa deixar-se a si mesmo, sair da comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em Jesus Cristo; abandonar como Abraão a própria terra pondo-se confiadamente a caminho, sabendo que Deus indicará a estrada para a nova terra. Esta «saída» não deve ser entendida como um desprezo da própria vida, do próprio sentir, da própria humanidade; pelo contrário, quem se põe a caminho no seguimento de Cristo encontra a vida em abundância, colocando tudo de si à disposição de Deus e do seu Reino. Como diz Jesus, «todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). Tudo isto tem a sua raiz mais profunda no amor. De facto, a vocação cristã é, antes de mais nada, uma chamada de amor que atrai e reenvia para além de si mesmo, descentraliza a pessoa, provoca um «êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus» (Bento XVI,
Carta enc. Deus caritas est, 6)
A experiência do êxodo é paradigma da vida cristã, particularmente de quem abraça uma vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho. Consiste numa atitude sempre renovada de conversão e transformação, em permanecer sempre em caminho, em passar da morte à vida, como celebramos em toda a liturgia: é o dinamismo pascal. Fundamentalmente, desde a chamada de Abraão até à de Moisés, desde o caminho de Israel peregrino no deserto até à conversão pregada pelos profetas, até à viagem missionária de Jesus que culmina na sua morte e ressurreição, a vocação é sempre aquela acção de Deus que nos faz sair da nossa situação inicial, nos liberta de todas as formas de escravidão, nos arranca da rotina e da indiferença e nos projecta para a alegria da comunhão com Deus e com os irmãos. Por isso, responder à chamada de Deus é deixar que Ele nos faça sair da nossa falsa estabilidade para nos pormos a caminho rumo a Jesus Cristo, meta primeira e última da nossa vida e da nossa felicidade.
Esta dinâmica do êxodo diz respeito não só à pessoa chamada, mas também à actividade missionária e evangelizadora da Igreja inteira. Esta é verdadeiramente fiel ao seu Mestre na medida em que é uma Igreja «em saída», não preocupada consigo mesma, com as suas próprias estruturas e conquistas, mas sim capaz de ir, de se mover, de encontrar os filhos de Deus na sua situação real e compadecer-se das suas feridas. Deus sai de Si mesmo numa dinâmica trinitária de amor, dá-Se conta da miséria do seu povo e intervém para o libertar (Ex 3, 7). A este modo de ser e de agir, é chamada também a Igreja: a Igreja que evangeliza sai ao encontro do homem, anuncia a palavra libertadora do Evangelho, cuida as feridas das almas e dos corpos com a graça de Deus, levanta os pobres e os necessitados.
Amados irmãos e irmãs, este êxodo libertador rumo a Cristo e aos irmãos constitui também o caminho para a plena compreensão do homem e para o crescimento humano e social na história. Ouvir e receber a chamada do Senhor não é uma questão privada e intimista que se possa confundir com a emoção do momento; é um compromisso concreto, real e total que abraça a nossa existência e a põe ao serviço da construção do Reino de Deus na terra. Por isso, a vocação cristã, radicada na contemplação do coração do Pai, impele simultaneamente para o compromisso solidário a favor da libertação dos irmãos, sobretudo dos mais pobres. O discípulo de Jesus tem o coração aberto ao seu horizonte sem fim, e a sua intimidade com o Senhor nunca é uma fuga da vida e do mundo, mas, pelo contrário, «reveste essencialmente a forma de comunhão missionária» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 23).
Esta dinâmica de êxodo rumo a Deus e ao homem enche a vida de alegria e significado. Gostaria de o dizer sobretudo aos mais jovens que, inclusive pela sua idade e a visão do futuro que se abre diante dos seus olhos, sabem ser disponíveis e generosos. Às vezes, as incógnitas e preocupações pelo futuro e a incerteza que afecta o dia-a-dia encerram o risco de paralisar estes seus impulsos, refrear os seus sonhos, a ponto de pensar que não vale a pena comprometer-se e que o Deus da fé cristã limita a sua liberdade. Ao invés, queridos jovens, não haja em vós o medo de sair de vós mesmos e de vos pôr a caminho! O Evangelho é a Palavra que liberta, transforma e torna mais bela a nossa vida. Como é bom deixar-se surpreender pela chamada de Deus, acolher a sua Palavra, pôr os passos da vossa vida nas pegadas de Jesus, na adoração do mistério divino e na generosa dedicação aos outros! A vossa vida tornar-se-á cada dia mais rica e feliz.
A Virgem Maria, modelo de toda a vocação, não teve medo de pronunciar o seu «fiat» à chamada do Senhor. Ela acompanha-nos e guia-nos. Com a generosa coragem da fé, Maria cantou a alegria de sair de Si mesma e confiar a Deus os seus planos de vida. A Ela nos dirigimos pedindo para estarmos plenamente disponíveis ao desígnio que Deus tem para cada um de nós; para crescer em nós o desejo de sair e caminhar, com solicitude, ao encontro dos outros (cf. Lc 1, 39). A Virgem Mãe nos proteja e interceda por todos nós.
Vaticano, 29 de Março – Domingo de Ramos – de 2015.
Papa Francisco
Oração
Deus Pai, fonte de toda a santidade,
envia novas vocações à Tua Igreja:
Servidores generosos da humanidade ferida;
Evangelizadores entusiasmados e corajosos;
Pastores santos, 
que santifiquem o Teu povo com a palavra 
e os sacramentos da Tua Graça;
Consagrados que mostrem
a santidade do Teu Reino;
Famílias tocadas pela Tua beleza;
para que, pelo Teu Espírito Santo,
comuniquem a salvação de Cristo
a todas as pessoas da Terra.
Amén.
O Papa Francisco a dois anos da sua eleição
 Ocorre, no próximo 13 de março, o 2.º aniversário da eleição do Papa Francisco.
Ocorre, no próximo 13 de março, o 2.º aniversário da eleição do Papa Francisco.
Foi-me pedido um breve testemunho, em jeito de avaliação pessoal do que me consta terem sido estes dois anos de Pontificado e, de consequência, das perspetivas em aberto.
Conheci pessoalmente o Papa Francisco, quando trabalhei na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e ele fazia parte desse Dicastério como Arcebispo de Buenos Aires. Já então me interpelava o seu estilo de relação fácil, próxima, de imagens eficazes e ditos cheios de fino humor. Cultivava ele facilmente a amizade, sem olhar a graus, cargos e hierarquias e, desde então – modéstia à parte – o tratava por amigo, mais que por Sua Eminência. Era ele naturalmente o candidato por quem eu torcia no conclave que elegeu Bento XVI. Mas, dada a sua idade, em 2013 não contava que fosse eleito, donde a minha surpresa e compreensível satisfação.
O Papa Francisco desde o primeiro contacto com os fiéis na Praça de São Pedro, após a sua eleição, e nos gestos dos dias imediatos, confirmou o que sempre fora: uma pessoa muito próxima, simples, de linguagem familiar e sugestiva, conjugando bem a intelectualidade e racionalidade jesuítica e europeia, com proximidade franciscana e a cordialidade, um tanto exuberante, da América Latina. Era o que muitos esperavam, até para bem do Primado, que ultimamente bem se tem esforçado, no estilo do seu exercício, por se envolver no povo de Deus, a cujo serviço se destina, e fazer-se compreender e amar, mais que venerar, por ele.
Já João XXIII maravilhara e cativara com os seus gestos de proximidade e cordialidade; Paulo VI, de feitio reservado, garantira a continuidade do espírito do Vaticano II: diálogo a todos os níveis, participação e essencialidade; João Paulo I, no seu Pontificado de um mês, também conquistara a Igreja e o mundo com o seu sorriso e esperança de continuidade na linha da renovação; João Paulo II com as suas inúmeras viagens e rica humanidade, também aproximara o Papado da periferia; Bento XVI, possuidor de uma afabilidade e sensibilidade mal conhecidas, também fora uma esperança de renovação, que acabaria por ter pouca expressão, sobressaindo-lhe porém aquele gesto de humildade e serviço, imensamente eloquente, que foi a sua renúncia; com ele mostrou um profundo sentido de ser pastor, de estar ao serviço. Papa Francisco continua a acalentar-nos a esperança de uma mudança radical em diversos pontos; parece vir encurtar os duzentos anos de atraso em que a Igreja, na corajosa denúncia do Cardeal Martini, se encontra em relação aos tempos presentes.
Os discursos e gestos do atual Papa têm tido uma ressonância e acolhimento inegáveis, não só na Igreja, mas sobretudo nas periferias da mesma e na imensa multidão de não baptizados ou não praticantes e de agnósticos que para ela olham com uma certa curiosidade, e alguns mesmo com simpatia e esperança. Também reconheço que, no seio da mesma Igreja, medram reservas e temores, sobretudo nos que se sentem ameaçados nos seus esquemas de pensamento e de valores, bem ordenados e seguros.
A minha especialização, embora modesta, em História da Igreja e a sorte que a vida me deu de viver grande parte dela em ambientes e experiências de internacionalidade, nomeadamente na Santa Sé e com confrades e colegas dos vários continentes, inclusive da América Latina, aliadas a uma evolução de visão e de avaliação a que a idade me tem forçado, levam-me a olhar com imensa esperança para o Pontificado do Papa Francisco; os seus discursos e gestos confirmam a expectativa. Também a maneira como está a conduzir o processo de uma fidelidade "dinâmica", aberta e atenta também ao destinatário, e não unicamente à fonte; a escolha dos colaboradores e as etapas que estabelece no percurso, fazem-me esperar que ele sabe o que quer e para onde vai. O sair para as periferias não me soa a expressão de moda; é uma exigência vital para a Igreja e para o Evangelho que ela tem de transmitir às gerações do nosso tempo, para não falar das futuras. A Igreja terá forçosamente de acelerar a caminhada para encurtar o dito atraso. A própria evangelização, que tanto se apregoa que deva ser nova, nomeadamente também e sobretudo na expressão, o exige. O serviço ao Evangelho – mais que às próprias seguranças – reclama que se atenda ao teminus ad quem (aos destinatários), e não apenas ao terminus a quo (ao património a transmitir). O Pontificado do Papa Francisco, sempre a meu ver, tem tido e sido essa mais-valia. Nesse sentido, espero muito da próxima Assembleia Sinodal, que, ao menos para mim, terá um significado de prova real. Mas também espero que se o Papa "que veio do fim do mundo", de longe, da periferia, não tiver tempo de ver a mudança que acalentou e fortaleceu, o sinal está dado e não faltará quem, na estafeta da história da Igreja, lhe tome o testemunho. Creio firmemente na existência e ação do Espírito Santo, que parece não desdizer a dialética hegeliana da tese-antítese-síntese. Poderá haver aparentes recuos, travagens, mas a navegação é para a frente! A história certamente o confirmará.
Pe João Chaves
O Fim último da Vida não é a Excelência mas sim a Felicidade
 "Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo à volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e apesar da benesse, não levam vidas descansadas.
"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo à volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e apesar da benesse, não levam vidas descansadas.
Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três anos, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais uns atrás dos outros em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho ou a esposa de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que até 2020 um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos mais queremos. Quanto mais queremos mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência mas sim a Felicidade."
José Pereira Coutinho, Nov 2008
Misericórdia, a alma da Quaresma
 Mensagem do Cardeal-Patriarca de Lisboa para a Quaresma
Mensagem do Cardeal-Patriarca de Lisboa para a Quaresma
Nas leituras da Missa de Cinzas, ouvimos São Paulo aos coríntios - e agora a nós, em princípio de Quaresma: «Nós vos pedimos em nome de Cristo. Reconciliai-vos com Deus». E imediatamente a seguir, significativamente a seguir: «A Cristo, que não conhecera o pecado, identificou-o Deus com o pecado por amor de nós, para que em Cristo nos tornássemos justiça de Deus».
- E porque disse eu "significativamente"? Porque a reconciliação com Deus, a conversão, tem de significar coincidência com os seus sentimentos. Os sentimentos de Deus, que, em Cristo vem ao nosso encontro, para nos recuperar por fim. E porque, vir ao nosso encontro, significa tomar-nos onde estamos, distantes e, de facto, mal, muito mal, quando longe de Deus. Tratou-se duma imensa distância que só Deus pôde superar pela incarnação, paixão e morte de Cristo, que fez sua a nossa condição, para a tornar divina, religando-a a Deus Pai no amor do Espírito.
São estes os sentimentos constantes do Deus com quem havemos de nos reconciliar e coincidir. Tanto mais quanto, no Espírito de Cristo, somos nós agora e para os outros o sinal concreto do mesmo Deus que os procura. Uma Quaresma que nos reconcilie com os sentimentos de Deus é essencial para que isso mesmo chegue a muitos mais. Reconciliemo-nos com Deus, para que o mundo Lhe retorne e se restaure. «Uma alma que se eleva, eleva realmente o mundo».
O que contemplarmos em Deus que nos procura, pela proximidade de Jesus a todos e a cada um, isso mesmo havemos de reproduzir na atenção detalhada aos outros, para que, através de nós, no mesmo Espírito, Deus os continue a recuperar também.
Também ouvimos ao profeta Joel: «Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso». O profeta ainda não sabia o que nós sabemos já, ou seja, como a clemência, compaixão, paciência e misericórdia divinas ganhariam em Cristo a sua configuração absoluta. Maior razão para nos rendermos à misericórdia divina, que tão próxima se fez de nós, na vida e nos sentimentos de Cristo.
A Quaresma que iniciamos tem este conteúdo vivo, de nos rendermos à misericórdia de Deus e de a reproduzirmos em nós, para que chegue a todos; e o mundo passe com Cristo para o Pai, repassado por fim dum amor definido, absolutamente próximo e inteiramente solidário. Tanta coisa depende disso, que nenhum de nós tardará decerto. Jejuemos do mais, pois só assim bastaremos; partilhemos os bens, que só em comum serão nossos; perseveremos na oração, para prosseguirmos com Deus.
Entrar em Quaresma é aceitar um desafio imenso, como é entrar no próprio coração divino. É um modo poético, e assim mesmo verdadeiro, de corresponder à revelação bíblica do que Deus foi revelando de Si próprio, ao longo daquela história exemplar para todos os povos, tempos e lugares, como aqui e agora. Coração divino, que em Jesus demonstrou a correspondência absoluta com o coração humano, faminto e sedento de tantas fomes e sedes.
Correspondência e proximidade que têm um nome próprio e convincente, ouvido já: "misericórdia". O realismo deste sentimento divino, traduzido nas atitudes de Cristo, reproduzidas pelo Espírito na Igreja que somos, tem hoje a irrecusável urgência das necessidades acrescidas do tempo que corre.
Mesmo alguns sinais de recuperação económica demoram em repercutir-se na vida e no estado de espírito de muitas pessoas e famílias, que por excessivos encargos e falta de trabalho e perspetivas não conseguem satisfazer necessidades básicas, nem olhar com otimismo o futuro, especialmente os mais jovens...
Os crentes participam com os seus concidadãos «nas alegrias e esperanças, nas tristezas e angústias» da sociedade que integram. Mas, exatamente por serem crentes, em tudo hão de estar com os sentimentos de Deus revelados em Cristo, isto é, com misericórdia que os aproxime de toda a pobreza e fragilidade, em comprovada presença e concreto apoio, correspondendo às multiplicadas carências dos outros. Pode haver, como legitimamente acontece, mesmo entre os discípulos de Cristo, diferenças na análise dos problemas e perspetivas distintas para a respetiva resolução. O que não pode haver é desistência ou atraso quanto ao essencial, que é responder com empenho às carências pontuais ou persistentes da sociedade que integram.
Por "misericórdia", entende-se biblicamente uma atitude favorável em relação a quem se encontre na miséria e carência; atitude e propriedade divina, que deve caraterizar também os cristãos. Na Mensagem que nos dirigiu para esta Quaresma, o Papa Francisco dá-nos um objetivo tão sugestivo como concreto, quando escreve: «Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!»
As sempre referidas práticas quaresmais, que o Evangelho formulou como esmola, oração e jejum, ganham hoje uma especial tradução como união reforçada a Deus e ao próximo. Pedindo insistentemente a Deus que nos dê o seu Espírito misericordioso, sempre prometido: «Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!» (Lc 11, 13). Espírito que, em Jesus, se revela na atenção constante e detalhada a quem sofre e do que quer que sofra.
Igualmente, esmola e jejum traduzem-se como sobriedade solidária, para que o espaço que esvaziamos em nós se transforme em lugar para os outros. Como a misericórdia, em que o tudo de Deus dá lugar à recuperação de todos. Este é o lugar que queremos, na Quaresma que encetamos. Para que, finalmente, ninguém fique de fora.
Da renúncia quaresmal de 2014, juntámos 300.000 euros para a Ajuda de Berço, que reforçarão o seu trabalho exemplar de apoio a mães gestantes e em dificuldade. Como foi dito, destinam-se especialmente à construção de uma unidade de cuidados continuados pediátricos, para bebés que deles necessitem depois.
Entretanto, e ouvido o Conselho Presbiteral, a renúncia quaresmal de 2015 no Patriarcado destina-se a apoiar as instituições sociais diocesanas, designadamente as que acompanham os mais novos, como a Casa do Gaiato de Lisboa, ou pessoas sem-abrigo e fragilizadas, como a Comunidade Vida e Paz.
Também assim, trata-se de traduzir do modo mais concreto a misericórdia, que é a alma da Quaresma.
Sé de Lisboa, 18 de fevereiro de 2015
+ Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca
XVI Assembleia de Párocos Dehonianos
 MENSAGEM FINAL
MENSAGEM FINAL
De 9 a 11 de Fevereiro de 2015, realizou-se no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, a XVI Assembleia de Párocos Dehonianos.
Participaram 31 religiosos scj, na sua maioria empenhados pastoralmente em paróquias, reitorias, capelanias, vindos das mais variadas proveniências – das dioceses de Angra do Heroísmo, Algarve, Aveiro, Coimbra, Funchal, Lisboa e Porto – e, num ambiente familiar e fraterno, refletiram sobre o tema «A Paróquia e a Vida Consagrada: chamados a levar a todos o abraço de Deus», em sintonia com o convite do Papa Francisco para este ano.
Dom Manuel Quintas, com a sua intervenção «Discípulos missionários: dificuldades, motivações e desafios à luz da EG, no ano da vida consagrada», abriu os trabalhos desta Assembleia. Referiu que no início do ser cristão e da missão não está uma decisão ética ou uma grande ideia, nem sequer um território definido, mas ela nasce do encontro pessoal com Jesus Cristo. No entanto, para tempos novos, são necessários métodos novos e novas atitudes, em que o ícone missionário por excelência é o Bom Pastor, acentuando que Ele é o rosto da proximidade de Deus para a humanidade.
Sublinhou ainda que a evangelização é tarefa de todo o cristão. E, apropriando-se da linguagem da aviação, identificou aí alguns elementos, cotejando-os:
• pista de descolagem – estilo e método audaz e criativo; partir do coração do Evangelho primeireando;
• saída – a tensão entre o regressar (acédia, mundanismo e comodismo) e ir em frente (periferias e novos cenários). Como consagrados – reconhecimento da identidade própria: e, sem medo, descolar, abrindo-se à novidade do Reino numa atitude de conversão.
Num segundo momento, com o Dr. Carlos Liz, desenvolvemos o tema «Trabalhar em equipa e planificação pastoral». Apresentou-nos uma proposta de chave-de-leitura baseada em três conceitos: identidade (o ponto de diferenciação), compatibilidade (uma missão define-se melhor quando se é capaz de trabalhar com os outros) e finalidade (para quê e como faço isto?). Partindo de uma nova realidade social em que as novas tecnologias de comunicação ocupam um espaço tão relevante, não podemos estar de fora deste novo paradigma. Constatamos que quanto mais a sociedade progride na comunicação mediada tanto mais precisa de comunicação física. Não faz sentido a hipótese de cisão entre estas duas esferas que se complementam e que devemos utilizar.
Em grupos de reflexão, realizámos um exercício de aplicação pastoral, face às novas tendências sociais que a investigação empírica nos faz observar: a descoberta das tecnologias da mobilidade tão emocionais; a desconstrução do tempo e o valor do dia especial; a apropriação do espaço público e o novo gratuito; o novo nível de qualificações e o cosmopolitismo; o impulso para a participação, para a edição partilhada; a valorização da proximidade e a redescoberta do vizinho.
No encerramento dos trabalhos, o Pe. Armando Batista destacou a pertinência da nossa pastoral paroquial e, referindo as palavras de Bento XVI, afirmou que o padre é "aquele que procura Deus permanentemente, no meio dos seus irmãos, para suscitar neles o desejo de Deus", ao estilo do padre Dehon.
Em clima de formação permanente, porque ninguém nasce ensinado e nunca é tarde para aprender, como religiosos dehonianos ao serviço da Igreja local, temos a certeza de que Cristo está connosco. Antes de levar o abraço de Deus aos outros é preciso deixar que Deus nos abrace!
Alfragide, 11 de fevereiro de 2015
Comissão Provincial de Párocos Dehonianos
 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
														
															 
														
										 
 














