PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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"Nunca deixem de ser namorados"

papa filipinas2O papa Francisco encorajou esta sexta-feira, 16 de Janeiro de 2016 – em Manila, as pessoas casadas a que permaneçam sempre namoradas, durante o encontro que teve com milhares de famílias reunidas em Manila, capital das Filipinas.

Queridas famílias, Queridos amigos em Cristo!
Obrigado pela vossa presença aqui, nesta noite, e pelo testemunho do vosso amor a Jesus e à sua Igreja. Agradeço a D. Reyes, Presidente da Comissão Episcopal para a Família e a Vida, as suas palavras de boas-vindas em vosso nome. De maneira particular, agradeço àqueles que apresentaram o seu testemunho – obrigado! – e partilharam connosco a sua vida de fé. A Igreja nas Filipinas é abençoada pelo apostolado de muitos movimentos que se ocupam da família; agradeço-lhes pelo seu testemunho.

Raramente as Escrituras falam de São José e, quando o fazem, muitas vezes encontramo-lo a repousar, enquanto lhe é revelada em sonho a vontade de Deus. No texto do Evangelho que acabámos de ouvir, encontramos, não uma mas duas vezes, José a repousar. Nesta noite, quero repousar no Senhor com todos vós. Preciso de repousar no Senhor com as famílias, e recordar a minha família: meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó... Hoje eu repouso convosco e quero reflectir convosco sobre o dom da família.

Mas, antes, quero dizer algo sobre o sonho. O meu inglês, porém, é tão pobre! Se mo permitis, vou pedir a Mons. Miles que traduza e eu falarei em espanhol. Tenho em muito apreço o sonhar numa família. Toda a mãe e todo o pai sonharam o seu filho durante nove meses. É verdade ou não? [Sim!]. Sonharam como seria aquele filho... Não é possível uma família sem o sonho. Numa família, quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não cresce; a vida debilita-se e apaga-se. Por isso, recomendo-vos que à noite, ao fazer o exame de consciência, vos ponhais também esta pergunta: Hoje sonhei com o futuro dos meus filhos? Hoje sonhei com o amor do meu esposo, da minha esposa? Hoje sonhei com os meus pais, os meus avós que fizeram a vida avançar até mim. É muito importante sonhar. Antes de mais nada, numa família, sonhai. Não percais esta capacidade de sonhar.

E, na vida dos cônjuges, quantas dificuldades se resolvem, se conservarmos um espaço para o sonho, se nos detivermos a pensar no cônjuge e sonharmos com a bondade, com as coisas boas que tem. Por isso, é muito importante recuperar o amor através do sonho de cada dia. Nunca deixeis de ser namorados!

O repouso de José revelou-lhe a vontade de Deus. Neste momento de repouso no Senhor, pondo de lado os nossos numerosos deveres e actividades diárias, Deus fala também a nós. Fala-nos na leitura que ouvimos, nas nossas orações e testemunhos e no silêncio do nosso coração. Reflictamos sobre o que nos está a dizer o Senhor, especialmente no Evangelho desta noite. Há três aspectos deste texto que vos peço para considerardes: primeiro, repousar no Senhor; segundo, levantar-se com Jesus e Maria; terceiro, ser voz profética.
Repousar no Senhor. O repouso, apesar de ser necessário para a saúde das nossas mentes e dos nossos corpos, com frequência é muito difícil de conciliar por causa das numerosas exigências que gravam sobre nós. Mas o repouso é essencial também para a nossa saúde espiritual, para podermos ouvir a voz de Deus e compreender aquilo que nos pede. José foi escolhido por Deus para ser pai putativo de Jesus e marido de Maria. Como cristãos, também vós sois chamados, à semelhança de José, a preparar uma casa para Jesus. Preparar uma casa para Jesus. Preparais uma casa para Ele nos vossos corações, nas vossas famílias, nas vossas paróquias e nas vossas comunidades.

Para ouvir e aceitar a chamada de Deus, para construir uma casa para Jesus, deveis ser capazes de repousar no Senhor. Deveis encontrar cada dia o tempo para repousar no Senhor, para rezar. Rezar é repousar no Senhor. Mas poderíeis dizer-me: Santo Padre, isso sabemos nós; eu quero rezar, mas há tanto que fazer! Devo cuidar dos meus filhos; tenho os deveres de casa; estou demasiado cansado até mesmo para dormir bem. É justo. Isto até pode ser verdade; mas, se não rezarmos, nunca conheceremos a coisa mais importante de todas: a vontade de Deus a nosso respeito. Além disso, durante toda a nossa actividade, na multiplicidade das nossas ocupações, com a nossa oração tudo conseguiremos.

Repousar na oração é particularmente importante para as famílias. É, antes de tudo, na família que aprendemos como rezar. Não esqueçais: quando a família reza unida, permanece unida. Isto é importante. Nela chegamos a conhecer Deus, a crescer como homens e mulheres de fé, a considerar-nos como membros da família mais ampla de Deus, a Igreja. Na família, aprendemos a amar, a perdoar, a ser generosos e disponíveis e não fechados e egoístas. Aprendemos a ir além das nossas próprias necessidades, para encontrar outras pessoas e partilhar as nossas vidas com elas. Por isso é tão importante rezar como família. Tão importante! É por isso que as famílias são tão importantes no plano de Deus para a Igreja. Repousar no Senhor é rezar, unidos em família.

Queria ainda dizer-vos algo de pessoal. Amo muito São José, porque é um homem forte e silencioso. Na minha escrivaninha, tenho uma imagem de São José que dorme e, enquanto dorme, cuida da Igreja. Sim! Pode fazê-lo, como sabemos. E, quando tenho um problema, uma dificuldade, escrevo um bilhetinho e meto-o debaixo de São José, para que o sonhe. Este gesto significa: reza por este problema.

Agora vejamos o segundo ponto: levantar-se com Jesus e Maria. Estes momentos preciosos de repouso, duma pausa com o Senhor na oração, talvez gostássemos de poder prolongá-los. Mas, como São José, uma vez que se ouviu a voz de Deus, temos de despertar do nosso sono; devemos levantar-nos e agir (cf. Rm 13, 11). Em família, devemos levantar-nos e agir. A fé não nos tira do mundo, mas insere-nos mais profundamente nele. Isto é muito importante. Devemos caminhar em profundidade no mundo, mas com a força da oração. Na realidade, a cada um de nós cabe um papel especial na preparação da vinda do Reino de Deus ao nosso mundo.

Tal como o dom da Sagrada Família foi confiado a São José, assim também o dom da família e o seu lugar no plano de Deus estão confiados a nós. Como a São José. O dom da Sagrada Família foi confiado a São José, para que o levasse por diante. A cada um de vós – e de nós, porque também eu sou filho duma família – é confiado o plano de Deus, para que seja levado por diante. O Anjo do Senhor revelou a José os perigos que ameaçavam Jesus e Maria, obrigando-os a fugir para o Egipto e, em seguida, estabelecer-se em Nazaré. De igual modo, no nosso tempo, Deus chama-nos a reconhecer os perigos que ameaçam as nossas próprias famílias e a protegê-las do mal.

Existem colonizações ideológicas que procuram destruir a família. Não nascem do sonho, da oração, do encontro com Deus, da missão que Deus nos dá. Provêm de fora; por isso, digo que são colonizações. Não percamos a liberdade da missão que Deus nos dá, a missão da família E assim como os nossos povos, num determinado momento da sua história, chegaram à maturidade de dizer «não» a qualquer colonização política, assim também como família devemos ser muito sagazes, muito hábeis, muito fortes, para dizer «não» a qualquer tentativa de colonização ideológica da família. E pedir a intercessão de São José, que é amigo do Anjo, para saber quando podemos dizer «sim» e quando devemos dizer «não».

Hoje os pesos que gravam sobre a vida da família são muitos. Aqui, nas Filipinas, inumeráveis famílias sofrem ainda as consequências das catástrofes naturais. A situação económica provocou a fragmentação das famílias com a emigração e a busca de um emprego, para além dos problemas financeiros que atormentam muitos lares domésticos. Enquanto muitas pessoas vivem em pobreza extrema, outras caem nas malhas do materialismo e de estilos de vida que abolem a vida familiar e as exigências mais fundamentais da moral cristã. Estas são as colonizações ideológicas. A família está ameaçada também pelos crescentes esforços de alguns em redefinir a própria instituição do matrimónio mediante o relativismo, a cultura do efémero, a falta de abertura à vida.

Penso no Beato Paulo VI. Num período em que se propunha o problema do crescimento demográfico, teve a coragem de defender a abertura à vida na família. Ele conhecia as dificuldades que havia em cada família; por isso, na sua Encíclica, era tão misericordioso com os casos particulares. E pediu aos confessores que fossem muito misericordiosos e compreensivos com os casos particulares. Mas ele olhou mais longe: olhou os povos da terra e viu esta ameaça da destruição da família pela falta de filhos. Paulo VI era corajoso, era um bom pastor e avisou as suas ovelhas a propósito dos lobos que chegavam. Que ele, lá do Céu, nos abençoe nesta tarde!

O nosso mundo tem necessidade de famílias sãs e fortes para superar estas ameaças. As Filipinas precisam de famílias santas e cheias de amor para proteger a beleza e a verdade da família no plano de Deus e servir de apoio e exemplo para as outras famílias. Toda a ameaça à família é uma ameaça à própria sociedade. O futuro da humanidade – como várias vezes disse São João Paulo II – passa através da família (cf. Familiaris consortio, 85). O futuro passa através da família. Por isso, guardai as vossas famílias. Protegei as vossas famílias! Vede nelas o maior tesouro da vossa nação, e alimentai-as sempre com a oração e a graça dos sacramentos. As famílias sempre terão as suas provações, não precisam que lhes junteis mais! Pelo contrário, sede exemplos de amor, perdão e solicitude. Sede santuários de respeito pela vida, proclamando a sacralidade de toda a vida humana desde a concepção até à morte natural. Que grande dom seria isto para a sociedade: cada família cristã viver plenamente a sua nobre vocação! Então, levantai-vos com Jesus e Maria e disponde-vos a percorrer a estrada que o Senhor traça para cada um de vós.

Por fim, o Evangelho que ouvimos recorda-nos que o nosso dever de cristãos é ser vozes proféticas no meio das nossas comunidades. José ouviu a voz do Anjo do Senhor e respondeu à chamada que Deus lhe fez de cuidar de Jesus e Maria. Assim desempenhou ele o seu papel no plano de Deus e tornou-se uma bênção não só para a Sagrada Família, mas também para toda a humanidade. Juntamente com Maria, José serviu de modelo para o menino Jesus que ia crescendo em sabedoria, idade e graça (cf. Lc 2, 52). Quando as famílias permitem às crianças nascer para este nosso mundo, as educam na fé e em sãos valores e as ensinam a dar a sua contribuição para a sociedade, tornam-se uma bênção ao seu redor. As famílias podem tornar-se uma bênção para o mundo. O amor de Deus torna-se presente e activo a partir do modo como nós amamos e das boas obras que praticamos. Fazemos crescer o Reino de Cristo neste mundo. Ao fazê-lo, mostramo-nos fiéis à missão profética que recebemos no Baptismo.

Durante este ano consagrado pelos vossos bispos como Ano dos Pobres, pedir-vos-ia que estivésseis, como família, particularmente atentos à vossa chamada para ser discípulos missionários de Jesus. Isto significa estar prontos para ir além dos limites das vossas casas e cuidar dos irmãos e irmãs mais necessitados. Peço que vos interesseis de modo especial por aqueles que não têm uma família própria, particularmente os idosos e as crianças sem pais. Nunca os deixeis sentir-se isolados, sozinhos e abandonados, mas ajudai-os a saber que Deus não os esqueceu. Hoje, depois da Missa, senti-me profundamente comovido ao visitar aquela casa de crianças sozinhas, sem família. E, na Igreja, quantas pessoas trabalham para que aquela casa seja uma família! Isto significa levar por diante, profeticamente, o significado duma família.

E, no caso de vós próprios serdes pobres em sentido material, sabei que tendes uma abundância de dons a distribuir quando ofereceis Cristo e a comunidade da sua Igreja. Não escondais a vossa fé, não escondais Jesus, mas colocai-O no mundo e oferecei o testemunho da vossa vida familiar.

Queridos amigos em Cristo, sabei que rezo sempre por vós. Rezo pelas famílias; rezo mesmo! Rezo para que o Senhor continue a aprofundar o vosso amor por Ele e que este amor se possa manifestar no vosso amor recíproco e pela Igreja. Não esqueçais Jesus que dorme. Não esqueçais São José que dorme. Jesus dormiu com a protecção de José. Não esqueçais: o repouso da família é a oração. Não esqueçais de rezar pela família. Rezai com frequência e levai os frutos da vossa oração para o mundo, a fim de que todos possam conhecer Jesus Cristo e o seu amor misericordioso. Por favor, «dormi» também por mim: rezai também por mim; preciso verdadeiramente das vossas orações e sempre contarei com elas. Muito obrigado!

Papa Francisco
Manila (Filipinas), 16 de Janeiro de 2015

Reflectindo sobre a Demografia

demografiaÉ com certa frequência que leio e oiço algumas pessoas excessivamente preocupadas com o declínio da natalidade humana.

As pessoas mais antigas costumavam dizer que "a natureza faz tudo bem feito", e acho que com toda a razão. Temos de ser realistas em relação ao mundo e a tudo o que nos rodeia, embora, por vezes, fosse muito mais confortável não o ser, mas a verdade, por vezes, pode ser crua e dura, mas é a verdade.

A natureza não se rege por sistemas económicos, políticos ou outros, a natureza não se compadece com pontos de vista subjectivos ou morais. A natureza não obedece a regras humanas, nós humanos é que temos de obedecer às regras que a natureza nos impõe.

Não entendo a razão de tamanha preocupação em a população mundial estar a diminuir, só a percebo na óptica economicista da visão do mundo.

Todos sabemos que os recursos naturais são esgotáveis, o planeta Terra não suporta por muitos mais anos o ritmo de consumo dos recursos que o ser humano hoje impõe à natureza. O ser humano é um predador nato, as sociedades humanas actuais estão a delapidar os recursos a uma velocidade alucinante. Recursos esses que levaram milhões e milhões de anos a formar-se, hoje a natureza não os consegue produzir ao ritmo que os humanos os consomem; por isso, talvez, a própria natureza seja "obrigada" a interferir na redução das populações humanas, embora o próprio ser humano também contribua em parte para a sua própria redução, devido às poluições e outras causas, a infertilidade é bem mais elevada.

Com os significativos avanços tecnológicos das últimas décadas, é óbvio que as sociedades humanas não precisam de ser tão numerosas como antigamente, em que tudo era feito manualmente e, para isso, era preciso muitos braços; hoje as fábricas, tecnologicamente avançadas, reduziram a mão-de-obra humana em 90%. Entendo que é vantajoso para o futuro da humanidade uma redução significativa dos seres humanos, poder-se-á aumentar em muito a qualidade de vida se essa redução se verificar.

Não posso concordar com um mundo repleto de seres humanos em que muitos milhões morrem de fome, muitos milhões morrem por falta de assistência médica, muitos milhões não têm casa, muitos milhões não têm água potável para beber, muitos milhões vivem no limiar da pobreza, muitos milhões estão desempregados e muitos milhões estão condenados a viver uma vida dura de trabalho e de miséria.

Sou apologista de um mundo com menos seres humanos, mas que a dignidade e a justiça reinem sobre todos e que todos possam ter orgulho em andar sobre a terra e se sintam bem em viver.

É evidente que para os economistas do sistema capitalista que governam o mundo, cada ser humano é apenas um número, e apenas vêem em cada ser humano um consumidor. Para esses, quantos mais seres humanos melhor, mais podem explorar, mais podem engordar as suas contas bancárias, mais podem usufruir dos prazeres que a vida lhes proporciona em detrimento de todos os outros...

Miguel dos Anjos Simões

Defender a liberdade, sim; ser Charlie, não

expressaoSe alguém pensa que basta a ordem jurídica para que numa Sociedade Civil se viva em boa paz e cooperação, em segurança e em solidariedade — em suma, em justiça, paz e progresso —, está muito enganado.

1. Os recentes acontecimentos de Paris, do ataque mortífero brutal a um jornal pornograficamente satírico contra as religiões e os seus mais elevados símbolos, por parte de terroristas islâmicos em nome de um radicalismo religioso ofendido, tiveram um grandíssimo impacte na opinião pública francesa, europeia e mundial. E justificadamente. Desde logo, a violência e o homicídio não se justificam, perante o direito humano fundamental à vida e à segurança. E também não se justificam contra a liberdade de imprensa. O terrorismo, e de terrorismo se tratou, é em absoluto uma coisa abominável, um crime contra a paz, contra a humanidade, e merece ser detido e combatido pelo direito e pela força legalmente prevista.

2. Mas, manifestamente, não foi só a dimensão da criminosa matança em Paris que gerou tal comoção. Infelizmente, o terrorismo já é quase habitual; horríveis massacres e torturas sucedem-se diariamente, designadamente sobre crianças e mulheres, em muitos países, em maior escala e com muito maior crueldade, sem que se desencadeie tanta comoção pública entre nós. Foi especialmente o facto de ela se ter dirigido a um jornal e, por isso, contra a liberdade de imprensa. Com efeito, o lema dominante das manifestações de repúdio não foi referido às pessoas vitimadas, mas à liberdade de imprensa, no jornal em causa; e convidou a uma identificação com o concreto Charlie Hebdo. Tivesse um igual atentado sido a um jornal católico, ou muçulmano, por exemplo, e a manifestação de repúdio não teria chegado ao convite a uma identificação com esse concreto jornal.

3. Contou um bem conhecido bispo francês, D. Dominique Rey, numa sua homilia que foi tornada pública no recente domingo do baptismo de Jesus Cristo, que um jornalista lhe perguntou: Monsenhor, também é Charlie? Ao que ele respondeu: «Deixe, em primeiro lugar, que eu seja eu próprio, isto é, cristão». Excelente resposta, esta do Prelado, que bem merece ser meditada. Que dizer?

4. Desde logo, se há coisa que se pode antecipar, como questão de reciprocidade, é que o jornal Charlie seguramente nunca diria, em qualquer circunstância, por exemplo, «eu sou muçulmano», ou «eu sou cristão». E do que se trata é de uma questão de reciprocidade, visto que a liberdade é igual para todos.
Ah! — poderão alguns responder — mas não é isso! Dizendo «eu sou Charlie», quero dizer «eu defendo a liberdade de imprensa». Muito bem; mas então porque não se disse isso mesmo?

É que toda a gente sabe que nem toda a gente tem a mesma concepção de liberdade de imprensa que o jornal Charlie Hebdo objectivamente usa e implicitamente defende. Desde logo quanto aos limites e à ética da liberdade de imprensa, que são momentos substanciais e inseparáveis de uma concepção teórica e de uma praxis da liberdade. Assim, Charlie não pode ser consagrado como um símbolo da liberdade de expressão para todo o mundo, com o qual nos identificamos todos.

5. Não há apenas uma única concepção sobre a liberdade de imprensa, os seus limites e a sua ética; e quem pretender eleger um ícone a uma concepção formal dessa liberdade, sem limites e sem referências teleológicas, é contra a liberdade de imprensa, porque então a liberdade mata a liberdade. Ou, pelo menos, a liberdade fica legitimada para fazer a guerra à liberdade. O que é contraditório.

Há limites à liberdade de imprensa e há abusos criminalizados de liberdade de imprensa. Mas antes e depois dos limites legais, variáveis em cada país, há limites morais, de civilidade e outros, constantes de outras ordens normativas que são inerentes e necessárias a uma vida social pacífica e solidária. Se alguém pensa que basta a ordem jurídica — que por definição deve ser minimalista de intervenção quanto aos conteúdos das liberdades fundamentais —, para que numa Sociedade Civil se viva em boa paz e cooperação, em segurança e em solidariedade — em suma, em justiça, em paz e em progresso —, está muito enganado. A maior parte dos nossos comportamentos não são ditados pela lei, mas sim por outras ordens normativas ou códigos de conduta. Os sociólogos sabem e ensinam isto muito bem, designadamente os que se dedicam à sociologia da cultura. É por esta razão que a deputada europeia Ana Gomes, que não tem uma imagem pública de contenção verbal e de moderação ideológica e partidária, antes pelo contrário – perdoar-me-á se sou injusto – teve toda a razão do mundo quando, ela que tinha apoiado a manifestação de repúdio aos atentados, discordou da capa de resposta do Charlie e disse a essa capa: "em meu nome, não".

6. É bem defender a liberdade de opinião e de expressão, comum para todos. Mas é por isso mesmo igualmente bem defender a liberdade de opinião daqueles que discordam da linha do Charlie Hebdo, e em concreto da sua página de resposta ao atentado terrorista que sofreu. E que por isso mesmo não são Charlie. Acresce que, em princípio, não é uma boa prática social a provocação, mesmo dirigida aos malvados. O mal não se provoca. Esta prudência é virtuosa e não prescinde da liberdade.

Mário Pinto, in Observador, 15-01-2015

Je ne suis pas Charlie

Charlie1Em primeiro lugar, eu condeno os atentados do dia do 7 de janeiro. Apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões, sou um cara pacífico. A última vez que me envolvi em uma briga foi aos 13 anos (e apanhei feito um bicho). Não acho que a violência seja a melhor solução para nada. Um dos meus lemas é a frase de John Donne: "A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobramos sinos: é por mim". Não acho que nenhum dos cartunistas "mereceu" levar um tiro. Ninguém merece. A morte é a sentença final, não permite que o sujeito evolua, mude. Em momento nenhum, eu quis que os cartunistas da Charlie Hebdo morressem. Mas eu queria que eles evoluíssem, que mudassem.

Após o atentado, milhares de pessoas se levantaram no mundo todo para protestar contra os atentados. Eu também fiquei assustado, e comovido, com isso tudo. Na internet, surgiu o refrão para essas manifestações: Je Suis Charlie. E aí a coisa começou a me incomodar.

A Charlie Hebdo é uma revista importante na França, fundada em 1970 e identificada com a esquerda pós-68. Não vou falar de toda a trajetória do semanário. Basta dizer que é mais ou menos o que foi o nosso Pasquim. Isso lá na França. 90% do mundo (eu inclusive) só foi conhecer a Charlie Hebdo em 2006, e já de uma forma bastante negativa: a revista republicou as charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten (identificado como "Liberal-Conservador", ou seja, a direita européia). E porque fez isso? Oficialmente, em nome da "Liberdade de Expressão", mas tem mais...

O editor da revista na época era Philippe Val. O mesmo que escreveu um texto em 2000 chamando os palestinos (sim! O povo todo) de "não-civilizados" (o que gerou críticas da colega de revista Mona Chollet – críticas que foram resolvidas com a saída dela). Ele ficou no comando até 2009, quando foi substituído por Stéphane Charbonnier, conhecido só como Charb. Foi sob o comando dele que a revista intensificou suas charges relacionadas ao Islã – ainda mais após o atentado que a revista sofreu em 2011.

Uma pausa para o contexto. A França tem 6,2 milhões de muçulmanos. São, na maioria, imigrantes das ex-colônias francesas. Esses muçulmanos não estão inseridos igualmente na sociedade francesa. A grande maioria é pobre, legada à condição de "cidadão de segunda classe". Após os atentados do World Trade Center, a situação piorou. Já ouvi de pessoas que saíram de um restaurante "com medo de atentado" só porque um árabe entrou. Lembro de ter lido uma pesquisa feita há alguns anos (desculpem, não consegui achar a fonte) em que 20 currículos iguais eram distribuídos por empresas francesas. Eles eram praticamente iguais. A única diferença era o nome dos candidatos. Dez eram de homens com sobrenomes franceses, ou outros dez eram de homens com sobrenomes árabes. O currículo do francês teve mais que o dobro de contatos positivos do que os do candidato árabe. Isso foi há alguns anos. Antes da Frente Nacional, partido de ultra-direita de Marine Le Pen, conquistar 24 cadeiras no parlamento europeu...

De volta à Charlie Hebdo: Ontém vi Ziraldo chamando os cartunistas mortos de "heróis". O Diário do Centro do Mundo (DCM) os chamou de"gigantes do humor politicamente incorreto". No Twitter, muitos chamaram de "mártires da liberdade de expressão". Vou colocar na conta do momento, da emoção. As charges polêmicas do Charlie Hebdo são de péssimo gosto, mas isso não está em questão. O fato é que elas são perigosas, criminosas até, por dois motivos.

O primeiro é a intolerância. Na religião muçulmana, há um princípio que diz que o profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. (Isso gera situações interessantes, como o filme A Mensagem – Ar Risalah, de 1976 – que conta a história do profeta sem desrespeitar esse dogma – as soluções encontradas são geniais!). Esse é um preceito central da crença Islâmica, e desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. Fazendo um paralelo, é como se um pastor evangélico chutasse a estátua de Nossa Senhora para atacar os católicos. O Charlie Hebdo publicou a seguinte charge: [...]

Qual é o objetivo disso? O próprio Charb falou: "É preciso que o Islã esteja tão banalizado quanto o catolicismo". Ok, o catolicismo foi banalizado. Mas isso aconteceu de dentro pra fora. Não nos foi imposto externamente. Note que ele não está falando em atacar alguns indivíduos radicais, alguns pontos específicos da doutrina islâmica, ou o fanatismo religioso. O alvo é o Islã, por si só. Há décadas os culturalistas já falavam da tentativa de impor os valores ocidentais ao mundo todo. Atacar a cultura alheia sempre é um ato imperialista. Na época das primeiras publicações, diversas associações islâmicas se sentiram ofendidas e decidiram processar a revista. Os tribunais franceses – famosos há mais de um século pela xenofobia e intolerâmcia (ver Caso Dreyfus) – deram ganho de causa para a revista. Foi como um incentivo. E a Charlie Hebdo abraçou esse incentivo e intensificou as charges e textos contra o Islã.

Mas existe outro problema, ainda mais grave. A maneira como o jornal retratava os muçulmanos era sempre ofensiva. Os adeptos do Islã sempre estavam caracterizados por suas roupas típicas, e sempre portando armas ou fazendo alusões à violência (quantos trocadilhos com "matar" e "explodir"...). Alguns argumentam que o alvo era somente "os indivíduos radicais", mas a partir do momento que somente esses indivíduos são mostrados, cria-se uma generalização. Nem sempre existe um signo claro que indique que aquele muçulmano é um desviante, já que na maioria dos casos é só o desviante que aparece. É como se fizéssemos no Brasil uma charge de um negro assaltante e disséssemos que ela não critica/estereotipa os negros, somente aqueles negros que assaltam...

E aí colocamos esse tipo de mensagem na sociedade francesa, com seus 10% de muçulmanos já marginalizados. O poeta satírico francês Jean de Santeul cunhou a frase: "Castigat ridendo mores" (costumes são corrigidos rindo-se deles). A piada tem esse poder. Se a piada é preconceituosa, ela transmite o preconceito. Se ela sempre retrata o árabe como terrorista, as pessoas começam a acreditar que todo árabe é terrorista. Se esse árabe terrorista dos quadrinhos se veste exatamente da mesma forma que seu vizinho muçulmano, a relação de identificação-projeção é criada mesmo que inconscientemente. Os quadrinhos, capas e textos da Charlie Hebdo promoviam a Islamofobia. Como toda população marginalizada, os muçulmanos franceses são alvo de ataques de grupos de extrema-direita. Esses ataques matam pessoas. Falar que "Com uma caneta eu não degolo ninguém", como disse Charb, é hipócrita. Com uma caneta se prega o ódio que mata pessoas.

No artigo do Diário do Centro do Mundo, Paulo Nogueira diz: "Existem dois tipos de humor politicamente incorreto. Um é destemido, porque enfrenta perigos reais. O outro é covarde, porque pisa nos fracos. Os cartunistas do jornal francês Charlie Hebdo pertenciam ao primeiro grupo. Humoristas como Danilo Gentili e derivados estão no segundo." Errado. Bater na população islâmica da França é covarde. É bater no mais fraco.

Uma das defesas comuns ao estilo do Charlie Hebdo é dizer que eles também criticavam católicos e judeus. Isso me lembra o já citado gênio do humor (sqn) Danilo Gentilli, que dizia ser alvo de racismo ao ser chamado de Palmito (por ser alto e branco). Isso é canalha. Em nossa sociedade, ser alto e branco não é visto como ofensa, pelo contrário. E – mesmo que isso fosse racismo – isso não daria direito a ele de ser racista com os outros. O fato do Charlie Hebdo desrespeitar outras religiões não é atenuante, é agravante. Se as outras religiões não reagiram a ofensa, isso é um problema delas. Ninguém é obrigado a ser ofendido calado.

"Mas isso é motivo para matarem os caras!?". Não. Claro que não. Ninguém em sã consciência apoia os atentados. Os três atiradores representam o que há de pior na humanidade: gente incapaz de dialogar. Mas é fato que o atentado poderia ter sido evitado. Bastava que a justiça francesa tivesse punido a Charlie Hebdo no primeiro excesso. Traçasse uma linha dizendo: "Desse ponto vocês não devem passar".

"Mas isso é censura", alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura. Um dos significados da palavra "Censura" é repreender. A censura já existe. Quando se decide que você não pode sair simplesmente inventando histórias caluniosas sobre outra pessoa, isso é censura. Quando se diz que determinados discursos fomentam o ódio e por isso devem ser evitados – como o racismo ou a homofobia – isso é censura. Ou mesmo situações mais banais: quando dizem que você não pode usar determinado personagem porque ele é propriedade de outra pessoa, isso também é censura. Nem toda censura é ruim.

Por coincidência, um dos assuntos mais comentados do dia 6 de janeiro – véspera dos atentados – foi a declaração do comediante Renato Aragão à revista Playboy. Ao falar das piadas preconceituosas dos anos 70 e 80, Didi disse: "Mas, naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam.". Errado. Muitos se ofendiam. Eles só não tinham meios de manifestar o descontentamento. Naquela época, tão cheia de censuras absurdas, essa seria uma censura positiva. Se alguém tivesse dado esse toque nOs Trapalhões lá atrás, talvez não teríamos a minha geração achando normal fazer piada com negros e gays. Perderíamos algumas risadas? Talvez (duvido, os caras não precisavam disso para serem engraçados). Mas se esse fosse o preço para se ter uma sociedade menos racista e homofóbica, eu escolheria sem dó. Renato Aragão parece ter entendido isso.

Deixo claro que não estou defendendo a censura prévia, sempre burra. Não estou dizendo que deveria ter uma lista de palavras/situações que deveriam ser banidas do humor. Estou dizendo que cada caso deveria ser julgado. Excessos devem ser punidos. Não é "Não fale". É "Fale, mas aguente as consequências". E é melhor que as consequências venham na forma de processos judiciais do que de balas de fuzis.

Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: "a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada" (grifo meu). Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir "o modo de vida francês". Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até... charges ridicularizando o estilo de vida dos muçulmanos! Muitos chargistas do mundo todo desenharam armas feitas com canetas para homenagear as vítimas. De longe, a homenagem parece válida. Quando chegam as notícias de que locais de culto islâmico na França foram atacados – um deles com granadas! – nessa madrugada, a coisa perde um pouco a beleza. É a resposta ao discurso de Le Pen, que pedia para a França declarar "guerra ao fundamentalismo" (mas que nos ouvidos dos xenófobos ecoa como "guerra aos muçulmanos" – e ela sabe disso).

Por isso tudo, apesar de lamentar e repudiar o ato bárbaro de ontem, eu não sou Charlie. No twitter, um movimento – muito menor do que o #JeSuisCharlie – começa a surgir. Ele fala do policial, muçulmano, que morreu defendendo a "liberdade de expressão" para os cartunistas do Charlie Hebdo ofenderem-no. Ele representa a enorme maioria da comunidade islâmica, que mesmo sofrendo ataques dos cartunistas franceses, mesmo sofrendo o ódio diário dos xenófobos e islamófobos, repudiaram o ataque. Je ne suis pas Charlie. Je suis Ahmed.

Rafo Saldaña
08/01/2015

O tempo do essencial

Tempo1. Já Santo Agostinho se queixava: "Se ninguém me perguntar o que é o tempo, eu sei o que é, mas, se me perguntarem e eu quiser explicar, já não sei." O tempo é um enigma. Se soubéssemos o que é, talvez tivéssemos resposta para a pergunta pelo que somos. Mas realmente, o passado já não é, o futuro ainda não é. E o presente? Quando queremos captá-lo, verdadeiramente ainda não é ou já não é, porque o presente passa, não dura. No entanto, é no presente que vivemos e somos. Só? Não. Porque somos a partir do que fomos, do passado, e na expectativa do futuro, de projectos. Há por vezes a ideia de que o tempo é uma espécie de corredor que se vai percorrendo. Mas não. O tempo é o modo como o ser finito, concretamente o ser humano, se vai realizando.

Qual é então a dimensão mais importante do tempo? Diríamos que é o passado, pois ninguém no-lo pode tirar: ninguém pode anular o ter sido. Dir-se-á que é o futuro, porque ainda não somos o que havemos de ser e é animados pela esperança que vivemos. Mas, afinal, é sempre no presente que vamos sendo. Temos, porém, dificuldade em viver no presente, como já Pascal se lamentava: "Nunca nos agarramos ao tempo presente", preocupados com o futuro ou dispersos com lembranças do passado; embora só o presente nos pertença verdadeiramente, "andamos erráticos por tempos que não são os nossos", passando o tempo na dispersão, o famoso divertissement pascaliano.

2. M. Lequin fez uma síntese da concepção do tempo em sete pensadores. E lá está Platão, para quem o tempo é uma "imagem móvel da eternidade"; embora o nosso mundo tenha sido feito à imagem de um modelo eterno, o tempo apenas imita a eternidade, num mundo submetido ao devir, onde se nasce e morre. Pascal, no contexto do que ficou dito, sublinha que viver verdadeiramente é esforçar-se por viver no presente, em vez de "delapidar a vida em expectativas ou lamentações". Segundo Kant, o tempo não existe em si mesmo nem nas coisas: o espaço e o tempo são condições formais da sensibilidade, sem as quais não podemos captar os objectos da experiência sensível, os fenómenos. Para Bergson, o tempo é essencialmente "duração", duração viva, vivemo-lo à maneira das "notas de um melodia", formando um tecido. Para Einstein, segundo a teoria da relatividade restrita, não existindo um tempo idêntico para todos os observadores, cada um tem o seu "tempo próprio". Hartmut Rosa chama a atenção para o paradoxo de termos cada vez menos tempo, quando, pela aceleração e inovação técnica, ganhamos cada vez mais tempo. Afinal, fazemos a experiência do tempo, sobretudo porque envelhecemos e morremos e, por isso, Heidegger sublinhou que é a partir da morte que pensamos o tempo: antecipando esse futuro para o qual somos projectados - característica essencial da existência humana é "o ser-para-a-morte" -, há para nós um passado e um presente. Passado, presente e futuro são os três modos do tempo de que a existência é indissociável e é neles que devemos tentar ser nós mesmos, em existência autêntica.

3. Há múltiplas experiências do tempo: uma coisa é o tempo quantitativo, mensurável; outra coisa é o tempo da criação, da beleza, da música, das decisões fundamentais, do amor. Por isso, em grego há duas palavras distintas para o tempo: Chronos, que devora os seus próprios filhos, e kairós, o tempo oportuno, favorável, do amor, da decisão.

Do pior do nosso tempo é a banalidade rasante, o presentismo consumista e saltitante de um momento para outro momento, na dispersão de que falava Pascal, sem consistência nem projecto. O que daí resulta é o vazio e o tédio, na voragem de um tempo hedonista. Por isso, no início de um novo ano, talvez não fosse mau parar um pouco para pensar, meditar e ir ao essencial. Afinal, o tempo é o tempo de nos fazermos, no quadro de um projecto decente e digno. O que queremos fazer de nós, uns com os outros?

4. Deixo aí, nas palavras do filósofo F. Lenoir, esta bela história, apelando ao essencial: "Um sábio tomou a palavra e disse: Escutai a história desta mulher que tem um filho nos braços. Ao passar diante de uma gruta, ouve uma voz misteriosa que lhe diz: 'Entra e apanha tudo o que quiseres. Mas lembra-te de uma coisa: depois de saíres, uma porta fechar-se-á para sempre. Aproveita a oportunidade, mas não esqueças o mais importante.' A mulher entra na gruta e descobre um fabuloso tesouro. Fascinada pelo ouro, os diamantes e as pérolas, coloca o filho no chão e apodera-se de tudo quanto pode. Sonha com o que vai poder fazer com todas estas riquezas. A voz misteriosa diz-lhe: 'Passou o tempo, não esqueças o mais importante.' Ao ouvir a voz, a mulher, carregada de ouro e pedras preciosas, corre para fora da gruta cuja porta se fecha para todo o sempre. Ela encanta-se com o seu tesouro. E só então se lembra do filho que esqueceu no interior da gruta."

5. Um 2015 abençoado, feliz, pleno de realizações boas e felicitantes!

Anselmo Borges, DN 03-01-2015

 

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