PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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Discurso do Papa Francisco aos Catequistas

Catequese14Amados catequistas, boa tarde!

Gosto de que haja, no Ano da Fé, este encontro para vós: a catequese constitui uma coluna para a educação da fé, e são precisos bons catequistas! Obrigado por este serviço à Igreja e na Igreja. Embora possa às vezes ser difícil – trabalha-se tanto, empenha-se e não se vêem os resultados desejados –, mas educar na fé é maravilhoso! É talvez a melhor herança que possamos dar a alguém: a fé! Educar na fé, para que essa pessoa cresça. Ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos a conhecerem e amarem cada vez mais o Senhor é uma das mais belas aventuras educativas; está-se a construir a Igreja! «Ser» catequista! Não trabalhar como catequista: isso não adianta! Trabalho como catequista, porque gosto de ensinar... Se porém tu não és catequista, não adianta! Não serás fecundo, não serás fecunda! Catequista é uma vocação. «Ser catequista»: esta é a vocação; não trabalhar como catequista. Atenção que eu não disse «fazer» o catequista, mas «sê-lo», porque compromete a vida: guia-se para o encontro com Cristo, através das palavras e da vida, através do testemunho. Lembrai-vos daquilo que nos disse Bento XVI: «A Igreja não cresce por proselitismo. Cresce por atracção». E aquilo que atrai é o testemunho. Ser catequista significa dar testemunho da fé; ser coerente na própria vida. E isto não é fácil. Não é fácil! Nós ajudamos, guiamos para chegarem ao encontro com Jesus através das palavras e da vida, através do testemunho. Gosto de recordar aquilo que São Francisco de Assis dizia aos seus confrades: «Pregai sempre o Evangelho e, se for necessário, também com as palavras». As palavras têm o seu lugar... mas primeiro o testemunho: que as pessoas vejam na nossa vida o Evangelho, possam ler o Evangelho. E «ser» catequista requer amor: amor cada vez mais forte a Cristo, amor ao seu povo santo. E este amor não se compra nas lojas, nem se compra sequer aqui em Roma. Este amor vem de Cristo! É um presente de Cristo! É um presente de Cristo! E se vem de Cristo, parte de Cristo; e nós devemos recomeçar de Cristo, deste amor que Ele nos dá. Para um catequista, para vós e para mim, porque também eu sou catequista, que significa este recomeçar de Cristo? Que significa?

Eu vou falar de três pontos: um, dois e três, como faziam os antigos jesuítas... um, dois e três!

1. Antes de tudo, recomeçar de Cristo significa cultivar a familiaridade com Ele, ter esta familiaridade com Jesus: Jesus recomenda-o, com insistência, aos discípulos na Última Ceia, quando Se prepara para viver o dom mais sublime de amor, o sacrifício da Cruz. Recorrendo à imagem da videira e dos ramos, Jesus diz: Permanecei no meu amor, permanecei ligados a mim, como o ramo está ligado à videira. Se estivermos unidos a Ele, podemos dar fruto, e esta é a familiaridade com Cristo. É permanecer em Jesus! Permanecer ligados a Ele, dentro d'Ele, com Ele, falando com Ele: permanecer em Jesus.

A primeira coisa necessária para um discípulo é estar com o Mestre, ouvi-Lo, aprender d'Ele. E isto é sempre válido, é um caminho que dura a vida inteira! Recordo que, na diocese (na outra diocese que tinha antes), via muitas vezes, no fim dos cursos no seminário catequético, os catequistas saírem dizendo: «Tenho o título de catequista!». Isso não adianta, não tens nada, fizeste apenas um bocado de estrada! Quem te ajudará? Isto sim, que vale sempre! Não um título, mas um procedimento: estar com Ele; e dura toda a vida! É estar na presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele. Pergunto-vos: Como estais na presença do Senhor? Quando ides ter com o Senhor, enquanto olhais o Sacrário, que fazeis? Sem palavras... Mas eu falo, falo, penso, medito, ouço... Muito bem! Mas tu... deixas-te olhar pelo Senhor? Sim, deixar-se olhar pelo Senhor. Ele olha-nos, e esta é uma maneira de rezar. Deixas-te olhar pelo Senhor? Mas, como se faz? Olhas para o Sacrário e deixas-te olhar... é simples! É um pouco maçador, adormeço... Se adormeceres, adormeces! Ele olhar-te-á igualmente, olhar-te-á igualmente. Mas, teres a certeza de que Ele te olha é muito mais importante do que o título de catequista: faz parte do ser catequista. Isto inflama o coração, mantém aceso o fogo da amizade com o Senhor, faz-te sentir que Ele verdadeiramente olha para ti, está perto de ti e te ama. Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma Missa, aproximou-se um senhor, relativamente jovem, e disse-me:

«Padre, prazer em conhecê-lo; mas eu não acredito em nada! Não tenho o dom da fé!» Ele entendia que a fé era um dom. «Não tenho o dom da fé! Que me recomenda o senhor?» «Não desanimes! Deus ama-te. Deixa-te olhar por Ele. E basta». O mesmo vos digo a vós: Deixai-vos olhar pelo Senhor! Compreendo que, para vós, não é tão simples: especialmente para quem é casado e tem filhos, é difícil encontrar um tempo longo de tranquilidade. Mas, graças a Deus, não é necessário que todos façam da mesma maneira; na Igreja, há variedade de vocações e variedade de formas espirituais; o importante é encontrar o modo adequado para estar com o Senhor; e isto pode acontecer, é possível em todos os estados de vida. Neste momento, cada um pode interrogar-se: Como é que eu vivo este «estar» com Jesus? Esta é uma pergunta que vos deixo: «Como é que eu vivo este estar com Jesus, este permanecer em Jesus?» Tenho momentos em que permaneço na sua presença, em silêncio, e me deixo olhar por Ele? Deixo que o seu fogo inflame o meu coração? Se, no nosso coração, não há o calor de Deus, do seu amor, da sua ternura, como podemos nós, pobres pecadores, inflamar o coração dos outros? Pensai nisto!

2. O segundo elemento é este – dois – recomeçar de Cristo significa imitá-Lo na saída de Si mesmo para ir ao encontro do outro. Trata-se de uma experiência maravilhosa, embora um pouco paradoxal. Porquê? Porque, quem coloca Cristo no centro da sua vida, descentraliza-se! Quanto mais te unes a Jesus e Ele Se torna o centro da tua vida, tanto mais Ele te faz sair de ti mesmo, te descentraliza e abre aos outros. Este é o verdadeiro dinamismo do amor, este é o movimento do próprio Deus! Sem deixar de ser o centro, Deus é sempre dom de Si, relação, vida que se comunica... E assim nos tornamos também nós, se permanecermos unidos a Cristo, porque Ele faz-nos entrar neste dinamismo do amor. Onde há verdadeira vida em Cristo, há abertura ao outro, há saída de si mesmo para ir ao encontro do outro no nome de Cristo. E o trabalho do catequista é este: por amor, sair continuamente de si mesmo para testemunhar Jesus e falar de Jesus, anunciar Jesus. Isto é importante, porque é obra do Senhor: é precisamente o Senhor que nos impele a sair.

O coração do catequista vive sempre este movimento de «sístole-diástole»: união com Jesus – encontro com o outro. Existem as duas coisas: eu uno-me a Jesus e saio ao encontro dos outros. Se falta um destes dois movimentos, o coração deixa de bater, não pode viver. Recebe em dom o querigma e, por sua vez, oferece-o em dom. Importante esta palavrinha: dom! O catequista está consciente de que recebeu um dom: o dom da fé; e dela faz dom aos outros. Isto é maravilhoso!

E não reserva uma percentagem para si! Tudo aquilo que recebe, dá-o. Aqui não se trata de um negócio! Não é um negócio! É puro dom: dom recebido e dom transmitido. E o catequista está ali, nesta encruzilhada de dom. Isto está na própria natureza do querigma: é um dom que gera missão, que impele sempre para além de si mesmo. São Paulo dizia: «O amor de Cristo nos impele»; mas esta expressão «nos impele» também se pode traduzir por «nos possui». É assim o amor: atrai-te e envia-te, toma-te e dá-te aos outros. É nesta tensão que se move o coração do cristão, especialmente o coração do catequista. Perguntemo-nos, todos: É assim que bate o meu coração de catequista: união com Jesus e encontro com o outro? Com este movimento de «sístole e diástole»? Alimenta-se na relação com Ele, mas para O levar aos outros e não para o reter? Eis o que vos digo: Não compreendo como possa um catequista ficar parado, sem este movimento. Não compreendo!

3. E o terceiro elemento – três – situa-se também nesta linha: recomeçar de Cristo significa não ter medo de ir com Ele para as periferias. Isto traz-me à mente a história de Jonas, uma figura muito interessante, especialmente nos nossos tempos de mudanças e incerteza. Jonas é um homem piedoso, com uma vida tranquila e bem ordenada; isto leva-o a ter bem claros os seus esquemas e a julgar rigidamente tudo e todos segundo esses esquemas. Vê tudo claro, a verdade é esta. É rígido! Por isso, quando o Senhor o chama e lhe diz para ir pregar à grande cidade pagã de Nínive, Jonas não quer. Ir lá! Mas eu tenho toda a verdade aqui! Não quer ir... Nínive está fora dos seus esquemas, está na periferia do seu mundo. Então escapa, vai para Espanha, foge, embarca num navio que vai para aqueles lados. Ide ler o Livro de Jonas! É breve, mas é uma parábola muito instrutiva, especialmente para nós que estamos na Igreja.

Que nos ensina? Ensina-nos a não ter medo de sair dos nossos esquemas para seguir a Deus, porque Deus vai sempre mais além. Sabeis uma coisa? Deus não tem medo! Sabíeis isto?! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas! Deus não tem medo das periferias. Se fordes às periferias, encontrá-Lo-eis lá. Deus é sempre fiel, é criativo. Mas, por favor, não se compreende um catequista que não seja criativo. A criatividade é como que a coluna do ser catequista. Deus é criativo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido! Acolhe-nos, vem ao nosso encontro, compreende-nos. Para sermos fiéis, para sermos criativos, é preciso saber mudar. Saber mudar. E porque devo mudar? É para me adequar às circunstâncias em que devo anunciar o Evangelho. Para permanecermos com Deus, é preciso saber sair, não ter medo de sair. Se um catequista se deixa tomar pelo medo, é um covarde; se um catequista se fecha tranquilo, acaba por ser uma estátua de museu: e temos muitos! Temos muitos! Por favor, estátuas de museu, não! Se um catequista é rígido, torna-se encarquilhado e estéril. Pergunto- vos: Alguém de vós quer ser covarde, estátua de museu ou estéril? Algum de vós tem vontade de o ser? [catequistas: Não!] Não? Têm a certeza? ... Está bem! Aquilo que vou dizer agora, já o disse muitas vezes; mas sinto no coração que o devo dizer. Quando nós, cristãos, estamos fechados no nosso grupo, no nosso movimento, na nossa paróquia, no nosso ambiente, permanecemos fechados; e acontece-nos o que sucede a tudo aquilo que está fechado: quando um quarto está fechado, começa a cheirar a mofo. E se uma pessoa está fechada naquele quarto, adoece! Quando um cristão está fechado no seu grupo, na sua paróquia, no seu movimento, está fechado, adoece. Se um cristão sai pelas estradas, vai às periferias, pode acontecer-lhe o mesmo que a qualquer pessoa que anda na estrada: um acidente. Quantas vezes vimos acidentes estradais! Mas eu digo-vos: prefiro mil vezes uma Igreja acidentada que uma Igreja doente! Prefiro uma Igreja, um catequista que corra corajosamente o risco de sair, que um catequista que estude, saiba tudo, mas sempre fechado: este está doente. E às vezes está doente da cabeça...

Atenção, porém! Jesus não diz: Ide, arranjai-vos. Não, não diz isso! Jesus diz: Ide, Eu estou convosco! Nisto está o nosso encanto e a nossa força: se formos, se sairmos para levar o seu Evangelho com amor, com verdadeiro espírito apostólico, com franqueza, Ele caminha connosco, precede-nos, – digo-o em espanhol – nos «primerea». O Senhor sempre nos «primerea»! Decerto já aprendestes o significado desta palavra!. E isto é a Bíblia que o diz, não eu. A Bíblia diz, ou melhor, o Senhor diz na Bíblia: Eu sou como a flor da amendoeira. Porquê? Porque é a primeira flor que desabrocha na primavera. Ele é sempre o «primero»! Ele é o primeiro! Para nós, isto é fundamental: Deus sempre nos precede! Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma periferia extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas, na realidade, Ele já está lá: Jesus espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Vós sabeis uma das periferias que me faz tão mal, tão mal que me faz doer (senti-o na diocese que tinha antes)? É a das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Em Buenos Aires, há muitas crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Esta é uma periferia! É preciso ir lá! E Jesus está lá, espera por ti para ajudares aquela criança a fazer o Sinal da Cruz. Ele sempre nos precede.

Amados catequistas, acabaram-se os três pontos. Recomeçar sempre de Cristo! Agradeço-vos pelo que fazeis, mas sobretudo porque estais na Igreja, no Povo de Deus em caminho, porque caminhais com o Povo de Deus. Permaneçamos com Cristo – permanecer em Cristo –, procuremos cada vez mais ser um só com Ele; sigamo-Lo, imitemo-lo no seu movimento de amor, no seu sair ao encontro do homem; e saiamos, abramos as portas, tenhamos a audácia de traçar estradas novas para o anúncio do Evangelho.

Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos acompanhe! Obrigado!
Maria é nossa Mãe; Maria, sempre, nos leva a Jesus! Elevemos uma oração, uns pelos outros, a Nossa Senhora: Ave Maria, cheia de Graça...
Muito obrigado!

Vaticano, 27 de Setembro de 2013
Papa Francisco

Discurso do Papa Francisco aos Catequistas vindos em Peregrinação a Roma por ocasião do Ano da Fé e do Congresso Internacional da Catequese

Divorciados recasados: Afinal, um debate tão antigo como a Igreja

Fam153As notícias do que se passa no sínodo dos bispos dão conta de um debate acesso entre duas tendências que, afinal, vêm de muito longe no tempo.
O casamento cristão é indissolúvel. Este palavrão significa que nada, a não ser a morte, pode dissolver o vínculo que se estabelece entre marido e mulher. Embora o matrimónio tenha sido, desde os inícios do cristianismo, considerado indissolúvel, esta indissolubilidade conheceu sempre algumas nuances de interpretação – e da respectiva gestão pastoral.

Ao contrário da sensação comum, a questão de como lidar com casamento-divórcio-recasamento, é tudo menos recente. Logo na era apostólica surgem diferentes sensibilidades e mesmo propostas de solução. O próprio Novo Testamento testemunha duas destas possibilidades. Segundo o Evangelho de Mateus, Jesus diz: "se alguém repudiar a sua mulher – exceto em caso de adultério – e casar com outra, comete adultério" (Mt 19, 9; cf. Mt 5, 32). Mateus, dirigindo-se a uma comunidade judaica, onde o divórcio era de aceitação comum, introduziu uma exceção. Do mesmo modo atua S. Paulo, dirigindo-se aos coríntios, onde surgiam uniões entre os que se convertiam ao cristianismo e os gentios. O apóstolo afirma mesmo: "digo eu, não o Senhor" (1Cor,12) para permitir que um cristão que se separe do seu cônjuge não-cristão possa casar-se de novo. Mateus e Paulo, conhecendo perfeitamente o ensinamento de Jesus, não consideraram que introduzir-lhe exceções pastorais fosse uma traição ao Senhor. Estas duas exceções não foram postas de lado. Pelo contrário, são hoje praticadas na Igreja. Na Igreja Ortodoxa invoca-se a exceção de Mateus e na

Igreja Católica continua a praticar-se a exceção de Paulo no que respeita aos casamentos mistos.
Não há, durante quase todo o primeiro milénio, uma voz única na Igreja sobre esta matéria, especialmente no que se refere à atitude pastoral. Encontramos ensinamentos não uniformes em todos os Padres da Igreja, embora, em geral, todos ensinem a indissolubilidade matrimonial. Mesmo assim, é verdade que desde o início, uns levavam em conta a cláusula da exceção de Mateus; outros seguiam o ensinamento de S. Paulo quanto à possibilidade de dissolução de casamentos entre cristãos e não crentes (1Cor 12-16); e outros ainda, embora sustentando que não era conforme a letra das Escrituras, permitiam o divórcio e o novo casamento invocando a misericórdia de Deus – também ela presente no todo das Escrituras.
É, portanto, um debate antigo. S. Basílio (séc. IV), usa a expressão "o perdão ser-lhe-á garantido de modo a que venha a receber a comunhão". Esta era uma atitude que estava de acordo com o Concílio de Niceia (325), onde lemos que "os que se chamam a si mesmos os puros terão de comungar com aqueles que se casaram pela segunda vez ... cujo tempo [de penitência] foi estabelecido e cujo momento de reconciliação chegou" (c.8).

Quando em 1439, no Concílio de Florença, o Papa pede aos bispos gregos para abolirem o divórcio, é a autoridade de Niceia e de Basílio que lhes permite responder que os casamentos no Oriente só foram dissolvidos com razões válidas. Essa mesma atitude pastoral do Oriente levou os bispos do Concílio de Trento (séc. XVI) a elaborar um anátema cuidadosamente redigido, visando Lutero mas não a Igreja Ortodoxa.

Kasper e Burke representam duas facções tão antigas quanto a Igreja

As notícias do que se passa no sínodo dos bispos dão conta de um debate acesso entre duas tendências que, afinal, vêm de muito longe no tempo.
O cardeal norte-americano Raymond Burke afirma que o relatório intermédio publicado pelo cardeal Péter Erdo avança posições que muitos padres sinodais não aceitam. Ao contrário, o cardeal alemão Walter Kasper afirma que uma maioria crescente entre os prelados acredita que pode haver uma maior abertura no modo de lidar com a situação dos cristãos divorciados recasados.

O que está realmente em questão? Não, certamente, a indissolubilidade do matrimónio. Kasper é peremptório. Nem nunca viria uma diretriz de carácter universal para "os recasados". O que se discute é se, nalguns casos concretos, bem determinados, é possível encontrar-se uma solução pastoral que passe por readmitir pessoas recasadas à comunhão sacramental. Esta foi uma posição também defendida pelo padre e professor Joseph Ratzinger nos anos 70. A doutrina ensina o conteúdo da fé e o direito canónico define e explicita-o em lei. Mas talvez o critério último da ação da Igreja pudesse ser uma atitude pastoral de misericórdia que, sem contrariar a doutrina, pudesse ir mais longe, já que "a misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tg 2,13).

Esta é a posição do cardeal Kasper que invoca a Tradição da Igreja. De facto, apesar de nunca terem desistido de entender o matrimónio como uma relação indissolúvel, muitos Padres da Igreja permitiam que, com o reconhecimento da falha do primeiro casamento e após um período de penitência, aqueles que viviam em segundas uniões podiam ser acolhidos de novo na comunhão plena da comunidade e ter acesso aos sacramentos.

Burke, por seu lado, representa os que receiam que a alteração da atitude pastoral venha a alterar a doutrina. E evocam que a união com Cristo se adquire também com outros meios, como por exemplo a "comunhão espiritual". Ao que o contra-ataque pergunta: mas o que é a comunhão sacramental se não uma comunhão espiritual? E se é possível ter acesso à comunhão espiritual, porque não à sacramental?
É sabido que não vamos ter nenhuma resolução neste domingo. Afinal esta era apenas uma sessão extraordinária. O "sínodo verdadeiro" é daqui a um ano. E até lá, com a discussão a um nível de abertura nunca antes visto no Vaticano, muito há de acontecer.

P. Miguel Almeida, sj, In http://observador.pt/opiniao/
18/10/2014

Será a Missa uma seca?

Euc280De vez em quando, alguns cristãos que raramente vão à missa (ainda não percebi como é que se pode ser cristão sem frequência dos sacramentos, sobretudo da eucaristia dominical), lá vão deixando escapar: «eu até ia à missa, mas aquilo também é sempre a mesma coisa, a missa é uma seca».

Até os pais que têm os filhos na catequese, quando questionados sobre o escândalo que é andar na catequese e não ir à missa - eu digo mesmo escândalo, porque catequese que não chega à missa do Domingo e à comunidade é uma aberração, é uma catequese incoerente e sem sentido, é uma catequese de pernas para o ar - lá vão dizendo também: «O meu filho diz que a missa é uma seca». Não é o filho que diz. De certeza que já o ouviu muitas vezes aos pais e no seu grupo de amigos e até da boca de muitas pessoas que se dizem cem por cento católicas.

Confesso que tudo isto me mete impressão e até certo ponto deixa-me atónito. É um sacrilégio dizermos uma coisa destas! Como é possível que a celebração do maior acontecimento da vida de Jesus Cristo, logo também dos cristãos, que trouxe libertação, paz e reconciliação à vida de todos e do mundo, seja visto como uma seca? Como é possível que a atualização do maior gesto de amor que jamais alguém teve pelos outros e pela humanidade seja encarado quase como insignificante e merecedor de desprezo? Como é possível que cristãos que receberam o batismo e aprofundaram a sua fé na catequese (será que sim?) não tenham gosto em estar com Jesus Cristo na Eucaristia e não tenham gosto de se encontrar uns com os outros, à volta daquele que é a fonte da vida? Como é possível?

Na verdade, este pobre e triste desabafo de muitos cristãos põe a nu, mais uma vez, a falta de formação, a falta de maturidade e a falta de espiritualidade de muitos cristãos, que nunca, possivelmente, na sua vida entenderam uma missa, que muito provavelmente foram «obrigados a ir à missa», mas nunca entraram na beleza do seu mistério. Temos assim muitos cristãos. A missa acaba por sofrer com alguns defeitos deste tempo: ausência de vida interior e de espiritualidade, falta de oração e de contemplação na vida das pessoas, dificuldade em fazer e viver o silêncio, pouca reflexão, falta de atenção e de concentração, indisciplina mental, tédio pelo excesso de oferta, afastamento da linguagem simbólica. Para além disto, temos depois as características deste tempo, que não deixam entrar na vivência da eucaristia: individualismo, que tolda e atrofia a capacidade de se viver para um ideal e de pensar e viver para os outros, para a comunidade; o hedonismo, que confunde alegria e festa e até celebração só com euforia, prazer, sensação e diversão; a valorização excessiva do movimento, que vai convencendo tudo e todos que só aquilo que põe as pessoas aos pulos e aos gritos é que tem graça, sendo até «original» e «inovador», sendo o seu contrário uma «seca» ou cinzentismo. Enfim, a textura da suave superficialidade que vai reinando um pouco na vida de todos.
Saberão muitos cristãos o que vão fazer à missa? A eucaristia é o sacramento central da vida dos cristãos e da vida da Igreja. Como diz o Vaticano II, ela é o cume e a fonte da vida da Igreja: é dela que parte e nasce a vida do cristão e da Igreja e é para chegar a ela que tudo se faz e desenvolve. Foi instituída por Jesus Cristo (não somos nós os donos e os protagonistas da eucaristia) para celebrarmos o principal acontecimento da sua vida, o seu sacrifício na cruz e a sua ressurreição, e para Ele mesmo se encontrar e alimentar, fortalecer e constituir a sua Igreja. Em ordem a isto, está organizada em duas partes, em duas mesas, de que somos os felizes convidados: liturgia da palavra, em que nos é servido o pão da Palavra de Deus, para ser escutada, ruminada e vivida por todos, e a liturgia eucarística, parte em que se atualiza o sacrífico e a entrega de jesus a Deus Pai na cruz, ao qual nos unimos com a nossa vida, o nosso ofertório, e em que damos graças a Deus e apresentamos a Deus as necessidades da Igreja e do mundo, atingindo esta parte o seu ponto culminante na comunhão, momento em que a Igreja é unida a Cristo e constituída como seu corpo e se torna povo de Deus. Repare-se no que celebramos em cada eucaristia!

Muitos cristãos argumentarão que até têm consciência dos grandes momentos e dos grandes acontecimentos da Eucaristia, mas que fica sempre a sensação que é sempre a mesma coisa. Não é, meus amigos. Em cada eucaristia é-nos servida uma palavra sempre diferente, sempre nova e interpeladora, e cada eucaristia é sempre um novo encontro e uma nova ação de Cristo em nós. Se calhar, muito provavelmente, o problema está em nós, que não vivemos uma vida centrada em jesus Cristo e no seu Evangelho e vamos para a missa sem motivação, sem vontade em estar com Cristo e de receber dele para viver melhor e sem vontade para crescer e viver mais para Deus, para os outros e para Igreja. É verdade que ela se celebra sempre da mesma forma, mas não é sempre a mesma coisa. Nem tudo que se faz sempre da mesma maneira é uma seca. Se assim fosse, então temos de chegar à triste e desoladora constatação de que toda a nossa vida é uma seca: dormimos todos os dias na mesma cama, comemos todos os dias na mesma mesa, habitamos sempre na mesma casa, vamos todos os dias ao mesmo café, estudamos sempre na mesma escola, juntamo-nos sempre nas mesmas ruas e nos mesmos lugares, celebramos os anos sempre da mesma maneira, fazemos tanta coisa sempre da mesma maneira. E, no entanto, a nossa vida não é uma seca. Importa, sobretudo, é o sentido, a motivação e a finalidade que pomos naquilo que fazemos.

O arcebispo de Nova Iorque contava há dias: «Um homem contou-me, uma vez, sobre o seu jantar de domingo em família, a melhor parte da semana enquanto cresceu. A comida era ótima, porque a sua mãe cozinhava tão bem, e todos eram muito felizes, porque o pai estava sempre presente! Mesmo depois de casar e de ter os seus próprios filhos, todos iam a casa dos pais para aquele jantar de domingo. Quando os filhos ficaram um pouco mais velhos, perguntaram se "tinham de ir," porque às vezes achavam o jantar um bocado "chato". Sim, respondia, têm que ir, porque não vamos pela comida, mas por causa do amor, porque a mãe e o pai estão lá! Sentia uma angústia enquanto se lembrava que, conforme a mãe e o pai foram envelhecendo, a comida já não era assim tão boa e nem a companhia era tão agradável, mas ele nunca faltou, porque aquele acontecimento de domingo tinha uma enorme profundidade de sentido mesmo quando a mãe queimava a lasanha e o pai dormitava. E agora, concluiu, daria tudo para estar lá novamente, porque a mãe morreu e o pai está num lar. Por isso, ele e a sua mulher são agora os anfitriões e esperam ansiosamente que, um dia, os seus filhos tragam também os seus cônjuges e os seus próprios filhos para a sua mesa ao domingo. É que o valor daquele jantar de domingo não depende de quão boa é a comida; de quão caro é o vinho; de quão interessante é a conversa. Tudo isso ajuda, com certeza, mas é o acontecimento em si que tem o real valor».

Este homem diz-nos a todos como sabia sempre bem aquele encontro e aquele jantar sagrado, à volta do pai e da mãe. Que saudades sentia daquele jantar! Era sempre no mesmo dia e da mesma maneira, mas era sempre novo. Daria tudo para estar lá novamente, todos os Domingos, com o pai e a mãe. Como eram tão bons aqueles momentos familiares! Experimentavam e aprofundavam a alegria de serem família e de se terem uns aos outros. É até aqui que muitos cristãos ainda não chegaram.

Na celebração da eucaristia, celebramos a admirável obra de Jesus Cristo e o grande amor de Deus pela humanidade. Como celebração sagrada, ela tem de ser expressão do sagrado, do transcendente e da santidade de Deus. Não podemos ceder à tentação de a querermos domesticar como muito bem nos apetece, com invenções e improvisos tontos e com teatralidade para divertir, intoxicando-a com o ruído do mundo e com a nossa mediocridade. Ela não é nossa, é de Cristo e para ser sempre expressão da beleza e da grandeza do seu amor e da sua vida. No livro «Diálogos Sobre a Fé», o Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, afirma: «A liturgia não é um show, um espetáculo que necessite de diretores geniais e de atores de talento. A liturgia não vive de surpresas simpáticas, de invenções cativantes, mas de repetições solenes. Não deve exprimir a atualidade e o seu efémero, mas o mistério do sagrado. Muitos pensaram e disseram que a liturgia deve ser feita por toda a comunidade para ser realmente sua. É um modo de ver que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia espetacular, de entretenimento. Desse modo, porém, terminou por dispersar o proprium litúrgico, que não deriva daquilo que nós fazemos, mas do facto de que acontece. Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum, fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se: o que nela se manifesta é o absolutamente Outro que, através da comunidade (que não é, portanto, dona, mas serva, mero instrumento), chega até nós.» Não é a eucaristia que é uma seca. Nós é que talvez andemos secos e acabamos por espalhar a nossa secura em tudo o que tocamos e vivemos.

Victor Pereira, in minhasnotas.blogs.sapo.pt
6 de Outubro de 2014

Testemunha de Emaús

Emaus47O caminho espiritual dos apóstolos para chegar à fé continua o mesmo.
Como eles, também nós podemos "ver" Cristo ressuscitado,
no meio de muitas dúvidas, incertezas e medos.

Custa-nos por vezes a crer que o Senhor esteja verdadeiramente vivo
e que partilhe connosco a mesa da Palavra e do Pão da esperança.

E, apesar da escuridão e do medo em que às vezes estamos mergulhados,
Ele faz brilhar nas nossas noites a aurora da ressurreição.

Quando nos reunimos em comunidade e escutamos a sua Palavra,
Ele está no meio de nós e também reparte o Pão.
Aos poucos os nossos olhos se vão abrindo e descobrimos que,
quem morre com Ele, com Ele entra na plenitude da Vida.

Bendizemos-Te, Pai,
porque Jesus ressuscitado
veio romper os ferrolhos das nossas portas e dos corações,
fechados pelo medo, pela dúvida, pela apatia e desânimo.

Não permitas, Senhor,
que ponhamos resistências em acreditar em Ti.
Dá-nos o teu Espírito para que, diante dos nossos irmãos,
sejamos também testemunhas corajosas
da Tua salvação e do Teu amor de Pai por nós.

Que eu seja também, Senhor, testemunha de Emaús.


Em Emaús a Lectio faz-se pão

Em Emaús a lectio, a explicação da Palavra, faz-se pão,
alimento comestível que consuma o incêndio do coração
e abre a visão da fé: "Vimos o Senhor!"

Então, Emaús acontece
– quando se deixa que a Palavra ilumine a vida e aqueça o coração;
– quando deixamos que o peregrino desconhecido se torne irmão;
– quando se partilha a vida e o alimento;
– quando da tristeza se passa à alegria da missão...

O Caminho de Emaús passa assim a ser o nosso caminho
se formos capazes de reconhecer Aquele que sempre está connosco
nas estradas da nossa existência.

Sejamos testemunhas da Ressurreição do Senhor!

Pelos Pais

Senhor,SaoJose2013Neste dia quero rezar-te pelos pais.

Todos necessitamos de um pai
Dos seus braços fortes e acolhedores
Das suas palavras rectas e orientadoras
Da sua ternura e afecto.
E hoje os pais são tão esquecidos!

Senhor, rezo-Te pelos pais
Que nunca percam o sentido da paternidade
Que se sintam gratificados pelo dom de serem pais
Que amem os seus filhos e lhes indiquem caminhos e metas
Que construam lares com sonhos e esperança
Lares onde o amor seja verdade!

E que aprendam com São José a cuidar dos seus filhos
A procurarem os seus filhos
A acompanharem os seus filhos
A amarem os seus filhos.

Senhor, obrigado pelos pais!

+ Manuel dos Santos

 

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