Ele é fiel ao seu plano de salvação e continua, hoje como sempre, a conduzir a história humana para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde e sem pressa, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
Leitura da profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor Deus:
«Do cimo do cedro frondoso, dos seus ramos mais altos,
Eu próprio arrancarei um ramo novo
e vou plantá-lo num monte muito alto.
Na excelsa montanha de Israel o plantarei
e ele lançará ramos e dará frutos
e tornar-se-á um cedro majestoso.
Nele farão ninho todas as aves,
toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos.
E todas as árvores do campo hão-de saber
que Eu sou o Senhor;
humilho a árvore elevada e elevo a árvore modesta,
faço secar a árvore verde e reverdeço a árvore seca.
Eu, o Senhor, digo e faço».
Refrão: É bom louvar-Vos, Senhor.
É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade.
O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano;
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus.
Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n'Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade.
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Nós estamos sempre cheios de confiança,
sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo,
vivemos como exilados, longe do Senhor,
pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara.
E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo,
para irmos habitar junto do Senhor.
Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis,
quer continuemos a habitar no corpo,
quer tenhamos de sair dele.
Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo,
para que receba cada qual o que tiver merecido,
enquanto esteve no corpo,
quer o bem, quer o mal.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«O reino de Deus é como um homem
que lançou a semente à terra.
Dorme e levanta-se, noite e dia,
enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga,
por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo mete a foice,
porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda:
«A que havemos de comparar o reino de Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra,
é a menor de todas as sementes que há sobre a terra;
mas, depois de semeado, começa a crescer,
e torna-se a maior de todas as plantas da horta,
estendendo de tal forma os seus ramos
que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus
com muitas parábolas como estas,
conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas;
mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.
Jesus iniciara com sucesso sua actividade missionária. Todavia o primeiro entusiasmo foi cedendo espaço ao desânimo dos discípulos e às hostilidades dos adversários. Qual seria o futuro da missão de Jesus? O texto reflecte também a situação vivida pelas primeiras comunidades cristãs. Após o entusiasmo inicial, sentem-se dominados pelo desânimo, pelas dúvidas, pelas crises e pelo abandono da fé. Marcos usa duas parábolas de Jesus para superar essas crises da comunidade: a semente e o grão de mostarda. Elas revelam a natureza e a dinâmica do Reino, que está a acontecer na vida de Jesus e continua a realizar-se na comunidade da Igreja.
1. A Parábola da Semente fixa o ritmo de crescimento do Reino de Deus: o processo é lento. O agricultor semeia e aguarda com paciência. A semente vai germinando e lentamente crescendo, mesmo sem a participação do lavrador. A força vital de Deus age, garantindo o sucesso da colheita, da Missão. Os frutos não dependem de quem a semeou, mas da força da semente. O crescimento do Reino depende da acção gratuita de Deus.
2. O Grão de Mostarda destaca o grandioso resultado da acção de Deus. A proposta do Reino, uma semente pequena e insignificante no começo, torna-se proposta universal, aberta a todas as nações e povos, que vão aderindo ao projecto de Deus, semeado por Jesus. Assim o Reino de Deus é uma árvore frondosa, ampla e acolhedora.
O que é que estas parábolas podem hoje dizer-nos?
As comunidades conscientes e comprometidas são cada vez mais raras, as equipas pastorais reduzidas parecendo com pouco fulgor. Temos como referência uma religião de sucesso, com as igrejas cheias, celebrações pomposas... Certos pais e educadores gostariam que a semente da palavra produzisse logo os frutos da sua eficiência e não enxergam o resultado... A angústia, não raras vezes, invade-nos e surge então a pergunta: "Vale mesmo a pena continuar a semear?"
Nas parábolas de hoje, Jesus dá uma resposta que nos restitui alegria e optimismo.
Após ter semeado, o que nos resta fazer? Ser paciente e perseverar confiando plenamente que o que foi feito, não foi em vão. Depois de anunciada, a Palavra penetra na mente e no coração, e quem já a escutou nunca mais consegue permanecer o mesmo. O tempo da colheita virá, mas só Deus sabe o dia e a hora; ninguém pode apressar o Reino de Deus.
Qual é a nossa atitude diante do agricultor que semeia com generosidade e sabe esperar com paciência? Temos fé na força íntima da semente, mesmo quando não vemos os frutos? Estamos convencidos de que o Reino de Deus é mais obra de Deus, do que fruto do trabalho humano?