Olhando a Morte
"É que, para mim – e espanta-me não pensarem os cristãos deste modo –, a Morte é a Porta: pela Morte ficamos (em presença a toda a hora sentida) presença de Deus." (Sebastião da Gama, Cartas I, p. 146).
Para um cristão a morte, como tal, não existe. É que ela tem mais de ponto de partida que de chegada.
A Igreja canta no prefácio da missa dos defuntos: «A vida não acaba, apenas se transforma», e chama «dia de Nascimento» ao aniversário da morte dos santos. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia no seu leito de morte: «Não estou a morrer, mas a entrar na vida». Os nossos mortos vivem; poderemos reencontrá-los em Deus.
Quem quiser viver toda a eternidade com eles tem que encontrar-se com Jesus Cristo, escutá-l'O e comungar com Ele: «Eu sou o Pão Vivo... quem comer deste pão viverá para sempre.» (Jo 6,51). «Eu Sou a Ressurreição e a Vida!» (Jo 11,25).
Nascer
Foi bom... Mas não foi tudo!
Viver
Foi lindo... Mas também não foi tudo!
Amar
Deus amou-nos e vivemos.
Para amar se vive, para amar se morre...
Mas amar ainda não foi tudo!
Morrer
Morrer, sim, é tudo. É chegar à Vida!
É atingir a plenitude do amor;
É alcançar a Paz que sempre se procurou;
É deixar de sofrer;
Morrer é Viver eternamente em Deus!
Louvado seja o Senhor!
Recebe no Teu Reino o nosso amigo,
Que o nosso coração recorda com saudade!
«O seu nome será sempre lembrado com amor. E se foi grande a saudade que nos deixou, devemos esperar que seja incomparavelmente maior a paz em que descansa. Saiu da vida, mas não da nossa vida. Como poderíamos acreditar que morreu, quem tão vivo está nos nossos corações?» Santo Agostinho
Saudade de um ente querido
Tu sabes, Senhor,
quanta dor e tristeza sinto dentro de mim!
Porquê a morte, porquê?
Ninguém me sabe responder, ninguém me pode consolar.
Nada compreendo, nada sei dizer...
Também Tu experimentaste o que hoje estou a viver.
Também Tu choraste com as irmãs de Lázaro,
com a viúva de Naím.
Deixa-me hoje chorar contigo...
Tu morreste em plena força da vida,
cravado numa cruz, condenado pelo ódio;
mataram-Te a Ti que passaste fazendo o bem...
Neste momento de tanta dor e amargura,
quero contemplar-Te morto e aprender de Ti.
Morreste porque amaste sem medida,
morreste para ressuscitar
vencendo a morte para sempre.
Com a Tua morte, Senhor,
abriste-nos o caminho da Vida.
Agora sei que a morte não é a palavra definitiva...
O último, o definitivo é a Vida contigo para sempre!
Acolhe, Senhor, o nosso irmão defunto;
recebe-o na festa da vida onde Tu és, para sempre,
a medida plena de cada homem.
Só há uma infelicidade, que é a de não sermos santos
Sophia de Mello Breyner naquele conto tão conhecido, «O retrato de Mónica», explica que a poesia é-nos dada uma vez e quando dizemos que não ela afasta-se. O amor é-nos dado algumas vezes, e também se o recusamos ele distancia-se de nós. Mas a santidade é-nos dada todos os dias como possibilidade. E se a recusamos teremos de a recusar todos os dias da nossa vida, porque quotidianamente a santidade se avizinha de nós como possibilidade.Contudo, fizemos da santidade uma coisa tão extraordinária, abstracta e inalcançável, que quase não ousamos falar dela. De certa forma, habituamo-nos a olhar para a experiência cristã como que acontecendo a duas velocidades: o caminho heróico dos santos e a frágil estrada que é aquela de todos os outros, e por maior razão a nossa. Ora esta concepção de santidade não pode estar mais longe daquilo que a tradição cristã propõe. O Concílio Vaticano II, por exemplo, deixa bem claro: a santidade é vocação mais inclusiva e comum. Mas é preciso entender de que falamos quando falamos de santidade.
Bastar-nos-ia certamente ler as bem-aventuranças. Jesus não declara que os bem-aventurados são os outros, os que não estão ali. Jesus olha para a multidão e começa a dizer: "bem-aventurados vós os pobres", "bem-aventurados vós os aflitos", "bem-aventurados vós os misericordiosos". Que quer isto dizer? Que são, no fundo, as nossas pobrezas, fragilidades, aflições, mansidões, procuras e sedes que dão a substância da bem-aventurança, a matéria da santidade. É naquilo que somos e fazemos, no mapa vulgaríssimo de quanto buscamos, na humilde e mesmo monótona geografia que nos situa, na pequena história que dia-a-dia protagonizamos que podemos ligar a terra e o céu. Falar de santidade em chave cristã passou a ser isso: acreditar que a humanidade do homem se tornou morada do divino de Deus.
Conta-se que um dia, uma dona de casa quis também criar uma seita, pois não estava disposta a deixar-se ficar atrás dos outros, assistindo ao quotidiano espectáculo da sua proliferação. E decidiu então começar uma seita em que ela e a sua empregada, eram, digamos, os "gurus" e os profetas daquela nova bolha. E, a verdade, é que aquilo começou a ter uma certa importância, e era sempre ela e a empregada, a empregada e ela... Passados uns tempos, vieram os jornalistas entrevistá-la. Escolheram, naturalmente, falar com a dona de casa... e inquiriram:
— "A senhora está contente?..."
— "Muito, estou muito contente com a igreja que eu fundei, mas olhem que eu já estou a pensar noutra!".
— "Já está a pensar noutra?"
— "Sim, acho que tem de haver uma seita em que seja só eu profeta".
Dizer "santificado seja o Vosso nome" é viver no inconformismo em relação às experiências de Deus que são claramente egóticas e insuficientes. É ter coragem, ter audácia de dizer: "Deus sê Deus em mim. Ensina-me a ser discípulo, fiel à escuta, à sugestão do Espírito, à aprendizagem da Palavra, disponível para as suas implicações históricas. O Teu Nome, ó Deus, é um "não Nome"; é um desafio para me colocar cada dia à escuta do Teu Nome. Que eu não me tranque por dentro num confortável reservatório de certezas, mas olhe com frescura os caminhos, esperados e inesperados, que Tu me apontas...".
Em Toledo, está escrito à entrada de um mosteiro do século XII: "Não há caminhos, há que caminhar". Dizer "santificado seja o Vosso nome" é, assim, aceitar sermos peregrinos do Nome de Deus... é tomar para si a condição de Abraão, a condição de todo o povo de Deus que foi peregrino do nome e do rosto de Deus, a condição de Jesus que «não tinha onde reclinar a cabeça», construindo uma história de santidade, e nada mais.
«Sede santos, porque Eu, o vosso Deus, sou santo» (Lv 11,45). O escritor Léon Bloy dizia: «Só há uma infelicidade, que é a de não sermos santos». E, contudo, como o testemunha Sophia de Mello Breyner, a santidade é-nos dada, como possibilidade real, em cada dia: «a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias». É como desafio a uma santidade vivida que também São Cipriano explica este segmento do Pater. Incita ele: «peçamos e imploramos para preservar naquilo que começamos a ser, uma vez santificados no baptismo. E peçamos isto em cada dia, pois, de facto, em cada dia estamos necessitados de santificação... Peçamos para que permaneça em nós esta santificação».
A flor do mundo é a santidade. Essa forma de Deus presente em todos os tempos, em todas as latitudes, em todas as culturas. O que salva o mundo é a santidade: ela dá flexibilidade à dureza, torna uno o dividido, dá liberdade ao aprisionado, põe esperança nos corações abatidos, esconde o pão no regaço dos famintos, abraça-se à dor dos que choram e dança com outros a sua alegria. A santidade é um sulco invisível, mas torna tudo nítido em seu redor. A santidade é anónima e sem alarde. A santidade não é heróica: expressa-se no pequeno, no quotidiano, no usual. O pecado é a banalidade do mal. A santidade é a normalidade do bem. Como fica demonstrado neste poema de Maria de Lourdes Belchior:
«Hoje é dia de todos os santos: dos que têm auréola
e dos que não foram canonizados.
Dia de todos os santos: daqueles que viveram, serenos
e brandos, sem darem nas vistas e que no fim
dos tempos hão de seguir o Cordeiro.
Hoje é dia de todos os Santos: santos barbeiros e
santos cozinheiros, jogadores de football e porque não?
comerciantes, mercadores, caldeireiros e arrumadores
(porque não arrumadoras? se até é mais frequente
que sejam elas a encaminhar o espectador?)
Ao longo dos séculos, no silêncio da noite
e à claridade do dia foram tuas testemunhas;
disseram sim/sim e não/não; gastaram palavras,
poucas, em rodeios, divagações. Foram teus
imitadores e na transparência dos seus gestos a
Tua imagem se divisava. Empreendedores e bravos
ou tímidos e mansos, traziam-te no coração,
Olharam o mundo com amor e os
homens como irmãos.
Do chão que pisavam
rebentava a esperança de um futuro de justiça e de salvação
e o seu presente era já quase só amor.
Cortejo inumerável de homens e mulheres que Te
seguiram e contigo conviveram, de modo admirável:
com os que tinham fome partilharam o seu pão
olharam compadecidos as dores do
mundo e sofreram perseguição por causa da Justiça
Foram limpos de coração e por isso
dos seus olhos jorrou pureza e dos seus lábios
brotaram palavras de consolação.
Amaram-Te e amaram o mundo.
Cantaram os teus louvores e a beleza da Criação.
E choraram as dores dos que desesperam.
Tiveram gestos de indignação e palavras proféticas
que rasgavam horizontes límpidos.
Estes são os que seguem o Cordeiro
porque te conheceram e reconheceram e de ti receberam
o dom de anunciar ao mundo a justiça e a salvação»
Dizer "santificado seja o Vosso nome" é dizer a Deus: sê inteiro, não deixes que eu Te divida ou diminua, em função do meu egoísmo e dos meus humores... Sê como és, manifesta-Te em mim e na universalidade, manifesta-Te naquilo que é diferente e oposto a mim, naquilo que me contraria. Livra-me de ser um limite para o Teu amor. Que a Tua Santidade, ó Deus, seja uma estrela que caminha à nossa frente, a coluna de fogo que vai diante de nós, o assobio do pastor que nos serve de sinal... Na nossa humildade, somos a tenda onde Deus vai acampando no mundo, e cada dia vamos, num lugar diferente, num modo novo... Como escrevia Santo Agostinho: «A santificação do Nome de Deus é a nossa santificação». Os crentes não são gestores de uma empresa externa: são servidores e viajantes, nómadas e enamorados peregrinos, leitores e ouvintes, adoradores...
(José Tolentino Mendonça, In Pai-nosso que estais na terra, ed. Paulinas, 2011)
Oração pelas Vocações Sacerdotais
Senhor Jesus, Bom Pastor,
que em obediência ao Pai
dais a vida pelas ovelhas,
concedei-nos as vocações sacerdotais
de que a Igreja e o mundo tanto necessitam.
Fazei que as nossas famílias e comunidades
sejam campo fértil, onde possam germinar.
Abençoai o trabalho apostólico
dos sacerdotes, catequistas e educadores
para que acompanhem a vocação sacerdotal
daqueles que escolheis.
Dai aos jovens seminaristas a coragem de Vos seguir
e o dom de configurarem o seu coração com o Vosso.
E que Santa Maria, Vossa Mãe, Rainha dos Apóstolos,
os guie e proteja, até chegarem a ser
pastores consagrados a Deus e ao seu Povo.
Amen
Consagração a Maria Imaculada
Senhora Nossa, Mãe de Jesus e nossa Mãe,
neste dia dedicado a ti,
queremos consagrar-nos ao teu Amor de Mãe,
entregando-nos nos Teus braços de esperança
e no Teu coração de bondade.
Faz com que, a exemplo do Teu Filho,
aprendamos a partilhar a vida com os nossos irmãos.
Consagramos-Te tudo o que temos e somos;
a nossa vontade de trabalhar e de construir
um mundo mais maravilhoso,
mais saudável, mais amigo e mais irmão,
onde o Teu coração de Mãe
não cessará de nos lançar o apelo de Jesus, Teu Filho:
Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!
Maria, que o Teu manto nos cubra,
que a tua serenidade nos prenda
e que o Teu coração nos salve.
Que o Teu SIM seja a força do nosso sim
para Te imitarmos na resposta,
que queremos que seja generosa
ao convite do Teu Filho e nosso irmão, Jesus.
Fortalece-nos e acompanha-nos
no nosso peregrinar terreno
para podemos vencer as dificuldades da vida.
Abençoa a nossa mãe da terra,
protege-a, Tu que és a Mãe das mães,
a estrela do lar e a força do amor.
Ó Maria,
Tu conheces bem os nossos sonhos e projectos,
ajuda-nos a poder realizá-los,
mas sem nunca nos afastarmos de Ti
e da Boa Nova de Teu Filho.
Torna-nos capazes de anunciarmos sempre
a verdade, a paz e o amor.
Queremos, com a tua ajuda,
testemunhar o Evangelho
para que o mundo se torne mais belo
e os homens vivam como irmãos.
Maria, podes contar connosco!








