Oração ao Coração de Jesus
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno,
— mostrai o vosso Pai aos homens!
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria,
— enviai o vosso Espírito Santo ao nosso coração e moldai-o conforme o vosso!
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus,
— uni-nos mais e mais convosco!
Coração de Jesus, de majestade infinita,
— que sempre Vos louvemos e glorifiquemos!
Coração de Jesus, templo santo de Deus,
— ajudai-nos a tornar-nos cada vez mais o que somos desde o Baptismo: templo de Deus!
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo,
— transformai-nos em tabernáculos vossos, onde os outros também encontram a Deus!
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu,
— conduzi-nos todos ao céu, para morarmos conVosco para sempre!
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,
— abrasai o mundo todo nas chamas do vosso amor!
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor,
— dai-nos participar plenamente do vosso amor!
Coração de Jesus, cheio de bondade e amor,
— enchei também o nosso coração de verdadeiro amor, bondade e misericórdia!
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes,
— plantai todas as virtudes em nosso coração, de modo que sejamos verdadeiros discípulos vossos!
Coração de Jesus, digníssimo de todo louvor,
— que vos glorifiquemos por uma vida santa!
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações,
— estabelecei o reino de vosso amor em todos os corações!
Coração de Jesus, onde estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência,
— fazei-nos provar cada vez mais da vossa intimidade, a fim de compreendermos mais profundamente o vosso amor!
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade,
— que todos os homens vos conheçam a vós, Filho do Pai Eterno, Deus com ele, na unidade do Espírito Santo!
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos recebemos,
— difundi em nós a plenitude do vosso amor e a santidade!
Coração de Jesus, o desejado das colinas eternas,
— despertai em nós o desejo de vos ver, de vos encontrar e estar convosco!
Coração de Jesus, paciente e misericordioso,
— que todos os pecadores venham a conhecer a grandeza de vossa misericórdia e buscar em vós o perdão!
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,
— fazei-nos viver de vossa vida e enchei-nos de vossa santidade!
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados,
— com o vosso Sangue lavai os nossos pecados e os de todo o mundo!
Coração de Jesus, saturado de opróbrios,
— ensinai-nos a seguir-vos na vereda da humildade e a aceitar as humilhações para nos tornarmos cada vez mais semelhantes a vós
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossas culpas,
— enchei-nos o coração de arrependimento e dor de nossos pecados!
Coração de Jesus, obediente até à morte,
— sejamos sempre obedientes e na obediência ajudemos a salvar o mundo!
Coração de Jesus, atravessado pela lança,
— da chaga aberta de vosso Coração derramai sobre nós torrentes de luz, força e graça!
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação!
— ressuscitai a todos os espiritualmente mortos para a vida da graça!
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação,
— reconciliai os homens com vosso Pai celeste e dai paz ao mundo inteiro!
Coração de Jesus, vítima dos pecadores,
— convertei todos os pecadores e conduzi-os ao vosso amor!
Coração de Jesus, salvação dos que esperam em Vós,
— esperamos em vós, livrai-nos de todo mal e dai-nos vosso amor!
Coração de Jesus, esperança dos que expiram em Vós,
— fazei-nos viver no vosso amor e dai-nos também morrer em vosso amor!
Coração de Jesus, delícia de todos os Santos,
— sereis, um dia, no céu o nosso júbilo. Sede nossa alegria já aqui na terra!
OREMOS
Senhor Jesus Cristo, nos ensinastes a demonstrar o nosso amor a Deus no amor ao próximo. Ajudai-nos a vencer nosso egoísmo para estarmos sempre prontos a realizar o bem em torno de nós. Destilai em nosso coração a bondade e o amor de vosso Coração, de modo que irradiemos o vosso amor e assim sejamos reconhecidos como discípulos vossos. Vós que viveis e reinais por toda a eternidade. Amen.
Pegadas na Areia

Uma noite eu tive um sonho.
Sonhei que andava na praia com o Senhor,
e, no firmamento, passavam cenas da minha vida.
Após cada cena que passava, percebi que ficavam dois pares de pegadas: um era o meu e o outro era do Senhor.
Quando a última cena da minha vida
passou diante de nós, olhei para trás,
para as pegadas na areia,
e notei que muitas vezes, no caminho da minha vida,
havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também que isso aconteceu nos momentos
mais difíceis e angustiosos do meu viver.
Isso aborreceu-me deveras e perguntei então ao Senhor:
– Senhor, Tu disseste-me que,
uma vez que resolvi seguir-Te, Tu andarias sempre comigo, em todos os caminhos.
Contudo, notei que durante as maiores tribulações do meu viver,
havia unicamente um par de pegadas na areia.
Não compreendo por que é que,
nas horas em que eu mais necessitava de Ti,
Tu me deixaste sozinho...
O Senhor respondeu-me:
– Meu querido filho,
jamais te deixaria nas horas da prova e do sofrimento.
Quando viste, na areia,
apenas um par de pegadas, eram as minhas.
Foi exactamente aí que eu peguei em ti ao colo.
Margareth Fishback
Consagração dos Jovens ao Coração de Jesus
O Papa Bento, nas JMJ de Madrid, consagrou os jovens ao Coração de Jesus, querendo assim aproximar de Cristo todos os jovens do mundo, objectivo de cada Jornada Mundial da Juventude. Este acontecimento ocorreu na vigília da noite de 20 de Agosto de 2011, no aerodromo Quatro Vientos. Como preparação deste acontecimento foi proposta uma catequese que aprofunda os aspectos e consequências da consagração ao Sagrado Coração de Jesus.
A catequese está baseada na mensagem que Bento XVI escreveu para a JMJ de Madrid. Nela destaca-se que esta consagração é um acto de fé, de esperança e de amor a Cristo.
Nos jovens encontra-se a esperança do futuro da Igreja e da humanidade. Ao realizar esta consagração expressa-se que "só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino da Justiça, da Paz e do Amor a que todos aspiramos".
Por último, a consagração é um acto de amor já que – à imagem do apóstolo Tomé – "ao consagrarmos 'tocamos Jesus', renovando a graça do nosso baptismo com que fomos introduzidos.
Consagração dos jovens ao Coração de Jesus [Catequese 9]
A finalidade desta catequese é ajudar os jovens a preparar a Consagração da Juventude do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus pelo Santo Padre Bento XVI na próxima Jornada Mundial da Juventude.
Consta de três partes. Na primeira, aproximamo-nos da Mensagem do Papa para a JMJ a partir da perspectiva do Coração de Jesus. Na segunda, recordamos brevemente a história da devoção ao Coração de Jesus. Por último, explicamos o sentido desta Consagração da Juventude do Mundo ao Coração de Jesus.
1. Se penetramos nas profundezas do nosso coração, encontramos todos o mesmo desejo: queremos ser felizes. Mas onde e como podemos encontrar a felicidade?, perguntamo-nos. A experiência diz-nos que a felicidade do homem só se encontra na medida em que a sua ânsia de infinito é saciada. Diz o Papa na sua mensagem: "O homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito." (Bento XVI, Mensagem para a JMJ 2011 Madrid.)
Devemos dar um passo mais. Este desejo de infinito, para o homem, identifica-se com o desejo de ser amado por um Amor que não tem limites. A resposta a esta interrogação é-nos dada pela própria revelação de Deus: "Deus é Amor". Deus manifestou-Se-nos precisamente como o Amor infinito, eterno, pessoal e misericordioso que dá resposta, com plenitude, aos anseios de felicidade que há no coração de todo o homem. Por esta razão, diz-nos o Papa: "Deus é a fonte da vida; eliminá-l'O equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: 'De facto, sem o Criador a criatura esvai-se' (Vaticano II, GS, 36)" (Mensagem JMJ). Podemos vê-lo nas múltiplas experiências e tentativas que aconteceram e acontecem na nossa sociedade, de construção de um "paraíso na terra" à margem de Deus.
2. O problema do coração do homem só se resolve definitivamente no encontro com o Coração de Deus. A este respeito, diz Santo Agostinho: "Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração permanecerá inquieto até que em Ti descanse". A inquietação de que fala o santo de Hipona refere-se à dificuldade de "alcançar" o Amor, como consequência da nossa condição de criaturas; somos finitos e, além disso, somos pecadores. Uma e outra vez tropeçamos na pedra do nosso egoísmo, da desordem das nossas paixões que nos impedem de alcançar esse Amor. O coração do homem "necessitava" um Coração que, por um lado, estivesse ao seu "nível", e que, por outro lado, fosse omnipotente para o arrancar à sua finitude e ao seu pecado. Em Jesus Cristo, Deus foi ao encontro do homem, e a nós, homens, amou-nos "com coração humano". No encontro do coração do homem com o Coração de Jesus realizou-se o mistério da Redenção: "A partir do horizonte infinito do seu amor, de facto, Deus quis entrar nos limites da história e da condição humana, assumiu um corpo e um coração, para que possamos contemplar e encontrar o infinito no finito, o Mistério invisível e inefável no Coração humano de Jesus, o Nazareno". (Bento XVI, Angelus 1 de Junho de 2008)
3. A revelação definitiva desse Amor foi-nos dada na Cruz. O amor que Deus tem por nós chega ao "limite" da entrega da sua vida. O Coração aberto de Jesus, na Cruz, como consequência de ter sido trespassado pela lança do soldado, é a maior expressão de quanto Deus nos ama e de como nos ama. Diz o Papa, na sua mensagem: "Do Coração aberto de Jesus na cruz brotou a vida divina" (Mensagem JMJ). Assim, na Cruz, Jesus transforma o nosso "coração de pedra", ferido pelo pecado, num "coração de carne", como o seu: dá-nos o seu amor e, por sua vez, torna-nos capazes de amar com o seu próprio amor.
4. Do Coração de Jesus, vivo e ressuscitado, brota a fonte em que o homem deve beber para saciar a sua sede infinita de amar e ser amado. É, portanto, neste encontro pessoal, "de coração a Coração", que o homem vive "arraigado e edificado em Cristo, firme na fé" (Col 2,7). A santidade consiste em entrar plenamente nesta corrente de amor que brota do Coração de Jesus. "O lema do Cardeal Newman, 'de coração a Coração', dá-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como uma chamada à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o Coração de Deus" (Bento XVI, Homilia na Beatificação do Cardeal Newman).
A Igreja, ao longo dos séculos, foi aprofundando o significado do culto ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos homens e mulheres encontraram, na contemplação desta imagem do coração trespassado, um caminho muito válido para se identificarem plenamente com Cristo e alcançarem a meta da santidade.
Entre estes santos, temos de destacar Santa Margarida Maria de Alacoque (1647-1690), religiosa da Ordem da Visitação em Paray-le-Monial, a quem Jesus Se manifesta na Eucaristia, revelando-lhe o mistério do seu Coração: "Eis aqui o Coração que tanto tem amado os homens e que mais não tem recebido que ingratidões e afrontas". Ao longo da sua vida, Santa Margarida ensinou a amar o Coração de Jesus: acompanhando-O na Eucaristia, por intermédio da Hora Santa, a consagrar-se a Ele e a oferecer pequenos actos de amor em reparação dos pecados. Também difundiu a prática das primeiras sextas-feiras de cada mês: confissão e comunhão em reparação dos pecados. Foi beatificada em 1864 pelo Beato Pio IX e canonizada em 1920 por Bento XV. A sua festa celebra-se a 16 de Outubro.
Juntamente com esta santa, destacamos São Cláudio de la Colombière S.J. (1641-1682), director espiritual de Santa Margarida Maria. Foi ele o encarregado de propagar a mensagem do amor ao Coração de Cristo pelos lugares mais longínquos; e, graças a ele, a ordem religiosa dos jesuítas acometeu a tarefa de propagar a devoção ao Coração de Jesus.
O eco destas revelações na vida da Igreja foi tão grande que o Beato Pio IX, no ano de 1856, proclamou a festa do Sagrado Coração de Jesus; e no ano de 1899, o Papa Leão XIII consagrou o Género Humano ao Sagrado Coração. Centenas de congregações religiosas dedicadas à educação dos jovens, à assistência aos anciãos e enfermos, às missões, nasceram neste tempo, inspiradas na espiritualidade do Coração de Jesus. Ao longo do Século XX, os Pontífices convidaram continuamente a recorrer ao Sagrado Coração como "principal indicador e símbolo do amor com que o divino Redentor ama continuamente o eterno Pai e todos os homens" (Pio XII, Enc. "Haurietis Aquas").
A contemplação do Coração de Jesus fecunda hoje a Igreja com novos caminhos de santidade e apresenta-se aos homens do nosso tempo, tão necessitados da misericórdia divina, como um anúncio de esperança, para que, "sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e a violência, se estabeleça a civilização do amor, o reino do Coração de Cristo" (João Paulo II, Mensagem ao Prepósito Geral da Companhia de Jesus, P. Peter Hans Kolvenbach, 5 de Outubro de 1986).
"Enraizados e edificados em Cristo e firmes na fé" (Col 2,7)
A Consagração ao Coração de Jesus é um acto com o qual nós, Jovens de todo o Mundo, presididos pelo Santo Padre, queremos dirigir o nosso olhar confiado a Jesus Cristo, para que nos ajude a viver "enraizados e edificados em Cristo e firmes na fé" (Col 2,7).
Trata-se de fazer reviver em nós a experiência do discípulo amado, que, contemplando o Coração aberto de Jesus na Cruz, crê no seu amor e se converte em sua testemunha. "Aquele que O viu, dá testemunho" (Jn 19,35).
É, portanto, um acto de fé. Ao consagrar-nos ao Coração de Jesus, o Santo Padre convida-nos a confessar a nossa fé: "Cremos firmemente que Jesus Cristo Se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre Si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna" (Mensagem JMJ). Esta confissão fazemo-la, não só a partir do conhecimento das verdades que professamos, mas também como fruto de uma relação pessoal com Cristo, que se estabelece a partir da confiança no Amor do seu Coração. Além disso, esta profissão de fé realizamo-la unidos ao Papa, aos bispos e pastores da Igreja, significando que "a nossa fé pessoal em Cristo [...] está ligada à fé da Igreja" (Mensagem JMJ). É no "coração da Igreja" que podemos experimentar o latejar do Coração de Cristo.
É, em segundo lugar, um acto de esperança. Não só nos consagramos, cada um de nós, ao seu Coração, mas também a todos nós, "todos os jovens do mundo", nos confia o Papa. Nos jovens do presente encontra-se a esperança do futuro da Igreja e da humanidade. Com esta consagração, nós, os jovens, exprimimos com o Papa que "sem Cristo, morto e ressuscitado, não há salvação", que "só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de Justiça, de paz e de amor a que todos aspiram" (Mensagem JMJ). Unidos num "só Coração", pedimos com toda a Igreja: "Vem, Senhor Jesus", ajuda-nos a nós, jovens do Terceiro Milénio, a ser artífices da Civilização do Amor, que se constrói "onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, O adoram na verdade e ouvem a sua voz" (Mensagem JMJ).
Por último, a consagração é um acto de amor. Nós, jovens do terceiro Milénio, tal como o apóstolo Tomé, queremos "ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor" (Mensagem JMJ). Ao consagrarmo-nos, "tocamos Jesus", renovando a graça do nosso baptismo, com que fomos introduzidos plenamente nesse Amor. Afiança-se em nós o desejo de beber constantemente nas fontes de onde brota a vida divina que são os Sacramentos, especialmente a Eucaristia e o Sacramento do Perdão. E, por último, introduzimo-nos no seu olhar misericordioso, para poder estar sempre junto dos mais pobres e enfermos, sendo para eles manifestação palpável do Amor de Deus.
Tal como o discípulo amado, também nós somos convidados a "acolher Maria na nossa casa". A consagração ao Coração de Jesus, realizamo-la tendo a Virgem como especial intercessora e medianeira. Ela, que "acolheu com fé a palavra de Deus", ensina-nos a crer no Amor, a confiarmo-nos a Ele e a ser seus testemunhas entre os homens nossos irmãos.
Espírito Santo
Espírito Santo, Deus de infinita caridade, dá-me o teu santo amor.
Espírito Santo, Deus das virtudes, converte-me.
Espírito Santo, fonte de celestes luzes, dissipa a minha ignorância.
Espírito Santo, Deus de infinita pureza, santifica a minha alma.
Espírito Santo, Deus de toda a felicidade, comunica-Te ao meu coração.
Espírito Santo, que habitas na minha alma, transforma-a e fá-la toda tua.
Digna-Te conceder-me,
ó Deus bom e santo,
Uma inteligência que Te compreenda;
Uma sensibilidade que Te sinta;
Uma alma que Te saboreie;
Uma diligência que Te busque;
Uma sabedoria que Te encontre;
Um espírito que Te conheça;
Um coração que Te ame;
Um pensamento para Ti sempre orientado;
Uma actividade que Te glorifique;
Ouvidos que Te saibam contemplar;
Uma língua que a Ti confesse;
Uma palavra que Te compraza;
Uma paciência que Te siga;
Uma esperança que Te aguarde.
(S. Bento)
Novembro - mês das Almas
"Bem-aventurados os que morrem no Senhor, que repousem dos seus trabalhos, porque as suas obras os acompanham" (Ap 14,13)
No mês de Novembro encontramo-nos em pleno Outono, esta estação do ano que tanto me fascina, pelo encanto da natureza que se recolhe para o Inverno, das folhas que se revestem dos mais belos tons antes de caírem, como a mostrar a nobreza do entardecer da vida, que se recolhe e se despede serenamente antes de repousar no silêncio do mistério!... E mesmo o nevoeiro denso que em muitos dias de Outono nos envolve, também isso é um convite ao recolhimento, mesmo ao mistério que diz a nossa existência. Talvez tenha sido por isso que a Igreja, na sua admirável pedagogia da fé que respeita os ritmos da natureza, tenha escolhido o mês de Novembro para nos recordar o mistério da morte, com a celebração dos fiéis defuntos logo no início, a 2 de Novembro, e dedicando todo o mês à meditação da morte e à contemplação do purgatório. Novembro é o mês das almas!
É assim que o recordo, desde a minha infância: 'mês das almas'. A missa era muito cedo, lá pelas quatro ou cinco da manhã, para que também os lavradores pudessem participar antes de irem para o leite.
Meditava-se na vida eterna. Era tema de conversas ao serão. As almas do Purgatório!... Recordo-me da minha tia muito velhinha que, mais tarde, quando já estava no seminário, me ia visitar sempre, e dela aprendi o que nunca esqueci sobre o que ela dizia com aquela fé e aquela convicção que vinham do fundo do tempo: «Eu tenho uma grande devoção pelas almas do purgatório!... E tu quando fores Padre nunca deixes de rezar por elas!... Elas conseguem-nos muitas graças!...» E aqui estava toda aquela teologia simples da minha tia Alexandrina sobre aquilo que a teologia designa como escatologia intermédia. E esta teologia ainda me recorda a minha Mãe, com os seus noventa e sete anos, repetindo-me vezes sem conta aquelas coisas de que nunca se esqueceu: «Isto nunca mais me esqueceu!...». E, segurando-me pela mão, aquela mãozinha terna que a sinto sempre e que me quer levar com ela neste regresso ao Futuro... : «A gente não deve esquecer nunca o que os nossos pais nos ensinaram...», e daquelas coisas que ela também nunca se esqueceu, foi a 'devoção às almas do Purgatório'. A esta devoção volto, quando a crítica teológica me insinua alguma hesitação.
É bom rezar pelos defuntos, pelas almas do purgatório, esse espaço de derradeira purificação antes da visão de Deus. E faz parte da nossa tradição crente a convicção da fé de que ninguém vai directo ao paraíso, se antes não passar por esta purificação pelo fogo do amor divino, aquilo que os místicos já intuíam como a purificação passiva do espírito, desses restos de apego de si a si mesmo, para que então finalmente Deus seja Deus em nós mesmos. O Purgatório é então o 'lugar' de purificação dos restos de pecado, deste apego último às criaturas e que impede o mergulho no fundo oceânico e abissal do mistério de Deus. Porque só o amor purifica, então o Purgatório será esse espaço de tempo sem tempo e mesmo assim distinto da visão beatífica em que o fogo do amor divino purifica o nosso ser e, neste caso, o nosso coração e o nosso olhar para a visão da Trindade.
Só os mártires por causa da fé ou os santos que viveram a heroicidade das virtudes, que fizeram da vida um autêntico purgatório, um tempo de purificação existencial pela intensidade do amor de Deus acolhido, é que a Igreja declara que na morte as suas almas acedem logo à visão beatífica, à contemplação de Deus face a face, na qual consiste a bem-aventurança eterna. Quanto ao resto, quanto a nós que esperamos, como dizia uma das minhas irmãs já falecida, mas que recordo como se fosse hoje, encontrar um lugarzinho de esperança no purgatório de modo que possamos estar nem que seja ao entrar da porta do Paraíso (Deus nos livre da perdição eterna!...), temos todos de passar por essa purificação passiva do espírito, que poderá ser mais intensa e temporalmente atenuada se for apoiada e suportada pela oração da Igreja.
Todos os dias a Igreja recorda na sua oração as almas dos fiéis defuntos. Mas é bom que nenhum de nós esqueça e por isso a Igreja mantém o bom costume da celebração da missa pelos defuntos: as missas exequiais, do sétimo, do trigésimo dia; as missas aniversárias, os trintários gregorianos. E o costume de os que as pedem oferecerem um donativo, para ajudar os sacerdotes que as celebram, muitos dos quais, sobretudo em terras de missão, mas mesmo entre nós, de pouco mais dispõem para poderem sustentar as suas vidas e se dedicarem ao serviço da Igreja.
E assim se juntam duas coisas: a oração e a esmola, como exercício da espiritualidade cristã, numa sadia e tão simples vivência da comunhão dos santos, nas diversas fases em que se encontram: os que vivem ainda na condição de peregrinos, entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, com os que já se encontram em lugar de esperança, mas que contam com a nossa oração; e os que se encontram na glória a interceder por nós, para que assim como eles, mantenhamos, apesar de tudo e em todas as circunstâncias, o nosso coração em Deus: bem-aventurados os que morrem no Senhor, porque as suas obras os acompanham!
Que bom seria que o mês de Novembro voltasse a ser o que tem sido desde o séc. IX: um tempo de meditação e de pausa, crepuscular, sobre o outono da vida, da qual faz parte a morte e as realidades últimas que nos esperam. Não seria oportuno mobilizar todas as comunidades cristãs para uma pedagogia pastoral do "mês das almas", como tempo oportuno de celebrar a 'comunhão dos santos', também segundo aquela máxima dos antigos de que a meditação sobre a morte – 'memento mori'-, sobre aquelas coisas que se não devem esquecer, é fonte de vida e de sabedoria, daquela que o mundo de hoje tanto precisa?








