Mãe
Não sei como a seara vem do grão,
Nem como a aranha faz as suas teias,
Mas sei que alguém tirou do coração
O sangue para dá-lo às minhas veias.
Não sei quem fez a casa onde nasci,
Mas sei quem dentro dela me afagou,
Não sei quem fez a roupa que vesti,
Mas sei quem de carinhos me cercou.
Não sei como o perfume chega à flor,
Mas sei porque um sorriso me seduz,
Não sei quem deu à gente tanto amor,
Mas sei quem me ensinou a amar Jesus.
Não sei quem pôs a luz na minha casa,
Mas sei quem acendeu luz no meu peito,
Não sei como o carvão se torna brasa,
Mas sei quem é na vida o amor-perfeito.
Não sei qual é a estrela de mais brilho,
Mas sei que um só olhar me iluminou,
E sei que é doce ouvir: – «querido filho!»
Quando o choro meus olhos apagou.
Não sei como no céu se faz a neve,
Não sei como a carriça faz o ninho,
Mas sei como a palavra mãe se escreve:
Com letras feitas de ouro e de carinho.
Não sei como se torna azul a esfera,
Mas sei que a mulher-mãe tem lá seu trono,
Não sei como se faz a Primavera,
Mas sei que o amor de mãe não tem Outono.
Não sei qual a fundura desse mar,
Mas sei que o amor de mãe não tem fundura,
Não sei se a Lua anseia por luar,
Mas sei que a mãe é luz na noite escura.
Não sei como é o coração do vento,
Mas sei como é o coração da mãe,
Não sei a onde chega o pensamento,
Mas sei que o amor de mãe vai mais além.
Não sei se o pôr-do-sol beija o luar,
Mas sei que alguém de beijos me comeu,
Não sei se o Paraíso é meu solar,
Mas sei que o amor de mãe recorda o Céu.
Dinis de Vilarelho