IV Domingo da Páscoa B

Celebramos hoje o "Domingo do Bom Pastor". No Antigo Testamento, esta imagem aparece com muita frequência. Poderíamos recordar grandes personagens que foram pastores: Abel, Abraão, Moisés, David.
O Evangelho apresenta Cristo como "o Pastor modelo", que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. Por isso, as ovelhas sabem que podem confiar n'Ele. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para "escutar" as propostas que Ele faz e segui-l'O no caminho do amor e da entrega.
Na primeira leitura, S. Pedro afirma que Jesus é o único Salvador, pois Ele é o único Pastor, que nos conduz à verdadeira vida, já que "não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos". E os discípulos são convidados a testemunhar essa salvação, mesmo em condições adversas e hostis, animados pelo Espírito. (At 4,8-12)
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um "amor admirável" que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objectivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos "semelhantes" a Ele.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes:
«Chefes do povo e anciãos,
já que hoje somos interrogados
sobre um benefício feito a um enfermo
e o modo como ele foi curado,
ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel:
É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno,
que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos,
é por Ele que este homem
se encontra perfeitamente curado na vossa presença.
Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes
e que veio a tornar-se pedra angular.
E em nenhum outro há salvação,
pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens,
pelo qual possamos ser salvos».
Refrão: A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos homens.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos poderosos.
Eu Vos darei graças porque me ouvistes
e fostes o meu Salvador.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
Vós sois o meu Deus: eu Vos darei graças.
Vós sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Leitura da Primeira Epístola de São João
Caríssimos:
Vede que admirável amor o Pai nos consagrou
em nos chamarmos filhos de Deus.
E somo-lo de facto.
Se o mundo não nos conhece,
é porque não O conheceu a Ele.
Caríssimos, agora somos filhos de Deus
e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Mas sabemos que, na altura em que se manifestar,
seremos semelhantes a Deus,
porque O veremos tal como Ele é.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus.
«Eu sou o Bom Pastor.
O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas,
logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge,
enquanto o lobo as arrebata e dispersa.
O mercenário não se preocupa com as ovelhas.
Eu sou o Bom Pastor:
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me,
do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai;
Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas.
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil
e preciso de as reunir;
elas ouvirão a minha voz
e haverá um só rebanho e um só Pastor.
Por isso o Pai Me ama:
porque dou a minha vida, para poder retomá-la.
Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente.
Tenho o poder de a dar e de a retomar:
foi este o mandamento que recebi de meu Pai».

O Evangelho é uma Catequese sobre a missão de Jesus: conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota a vida em plenitude.
O Bom Pastor é diferente dos outros porque está disposto a dar a vida pelas ovelhas que ama; porque conhece as suas ovelhas e é conhecido por elas. Ele chama-as pelo nome e elas seguem-n'O. "Conhecer" é mais do que um acto intelectual; é comunhão de vida, como há entre Ele e o Pai.
Quem são as ovelhas desse rebanho? Ele não se contenta com um rebanho de privilegiados Ele deseja todos, mesmo os que estão afastados ou separados: "Tenho ainda outras ovelhas que não são desse rebanho, é preciso que eu as conduza. E elas ouvirão a minha voz. E haverá um só rebanho e um só pastor".
Este apelo de Cristo é um zelo apostólico para cativar outras ovelhas que ainda não descobriram o amor apaixonado do Bom Pastor; expressa um espírito de unidade que vence as barreiras que nos separam. Ele não quer uma Igreja dividida em rebanhos separados.
Quem é o nosso Pastor, que nos aponta caminhos e nos dá segurança? O Pastor por excelência é Cristo. Pastores são também o Papa, os Bispos, os padres; são também as pessoas que prestam um serviço na família, na sociedade, no ambiente de trabalho; são também pessoas que receberam de Deus e da Igreja a missão de presidir e animar as nossas comunidades cristãs, apesar das suas limitações. Mas o "único Pastor", que devemos escutar e seguir sem condições, é Cristo.
Como Cristo exerce a Missão de Pastor? Ele não actua por interesse pessoal como o mercenário, mas por amor: Ele aponta caminhos, defende as suas ovelhas no momento de perigo, mantém uma relação pessoal com cada uma, conhece os seus sofrimentos, sonhos e esperanças.
Como reconhecer o "Bom Pastor"? Para distinguir a "voz" do "Bom Pastor" é preciso um permanente diálogo íntimo com Cristo, um confronto permanente com a sua Palavra e a participação activa nos sacramentos, onde Ele nos comunica essa vida, que o Pastor nos oferece. Nascem daqui duas importantes conclusões: a comunhão de Cristo com o seu rebanho e em Cristo com o Pai; e a comunhão entre os seus discípulos.
Neste Domingo, celebramos também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. O próprio Jesus pediu: "Pedi ao Senhor da messe para que mande operários..." Acolhamos o apelo do Senhor e façamos já desta celebração um momento forte de oração pelas vocações.

Conta-se que um dia, no Theatre Royal de Londres, encontrava-se Shakespeare a declamar poemas. A multidão que assistia, não se furtava a calorosos aplausos. No fim do espectáculo, Shakespeare lançou um desafio: o público que escolhesse o que quisesse para ele declamar. No princípio ninguém respondeu mas, perante a sua insistência, um padre levantou-se e perguntou se ele conhecia o Salmo 23. Shakespeare afirmou que sim mas só o declamaria se depois o padre também o fizesse. Desafio aceite.
Começou então o dramaturgo: O Senhor é o meu Pastor, nada de falta... A plateia rendeu os seus numerosos aplausos àquela declamação tecnicamente perfeita. Depois foi a vez do padre. Na sua simplicidade começou a recitar: O Senhor é o meu Pastor, nada me falta, leva-me a descansar em prados verdejantes... A assembleia ouviu, comovida, o sacerdote. Os aplausos que se seguiram foram tão calorosos que Shakespeare concluiu:
- Eu conheço bem o Salmo mas o sacerdote conhece melhor o Pastor.
Podemos saber muitas coisas de Deus, muitas orações, belos discursos mas isso não basta. É preciso conhecer pessoalmente.
Jesus é esse Bom Pastor que conhece as suas ovelhas e estas conhecem-n'O.
Pe. José David Quintal Vieira, scj
As ovelhas do rebanho de Jesus devem escutar a voz do Pastor e segui-l'O. Isto significa aderir a Jesus, percorrer o mesmo caminho dele, na entrega total aos projectos de Deus e na doação total aos irmãos. Procuramos nós seguir o nosso Pastor no caminho exigente do dom da vida, ou preferimos outros caminhos mais cómodos?
Para distinguir a "Voz" de Jesus, são necessárias três atitudes: um permanente diálogo íntimo com o Pastor; um confronto permanente com a sua Palavra; e uma participação activa nos Sacramentos onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.
Senhor Jesus ressuscitado,
Bom Pastor que conheceis os vossos fiéis e os chamais pelo seu nome,
dai fortaleza à nossa fé tão vacilante,
abri os nossos ouvidos,
ensinai-nos a reconhecer a Vossa voz no meio dos ruídos deste mundo,
e reuni num só rebanho os que andam longe de Vós.