
Num tempo não muito distante, havia exagerada a ideia que "tudo era pecado". Hoje, perdeu-se o sentido do pecado e, consequentemente, a necessidade do perdão e da misericórdia.
A Palavra deste Domingo fala-nos do pecado e da atitude de Deus diante do pecador. Toda a História da Salvação é uma mensagem de esperança, um anúncio de perdão, uma manifestação do amor misericordioso de Deus.
A primeira leitura mostra Deus e o pecado do seu Povo. Os israelitas, escravos e humilhados na Babilónia, perguntavam-se: "Porque é que Deus permitiu que nos tornássemos escravos, depois de ter dado, no passado, tantas provas de amor? Terá Deus esgotado sua paciência diante da dureza do nosso coração?"
Deus, em todos os momentos da história, está ao lado do seu Povo. Sugere, no entanto, que o Povo necessita de percorrer um caminho de conversão e de renovação, antes de poder acolher a libertação que Deus tem para oferecer.
O Evangelho retoma a mesma temática. Diz que, através de Jesus, Deus derrama sobre a humanidade sofredora e prisioneira do pecado a sua bondade, a sua misericórdia, o seu amor. Ao homem resta acolher o dom de Deus, ir ao encontro de Jesus e aderir a essa proposta libertadora que Jesus veio apresentar.
A segunda leitura recomenda àqueles que aderiram à proposta de Jesus que vivam com coerência, com verdade, com sinceridade o seu compromisso, sem recurso a subterfúgios ou a lógicas de oportunidade.
Leitura do Livro de Isaías
Eis o que diz o Senhor:
«Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados,
não presteis atenção às coisas antigas.
Eu vou realizar uma coisa nova,
que já começa a aparecer; não o vedes?
Vou abrir um caminho no deserto,
fazer brotar rios na terra árida.
O povo que formei para Mim proclamará os meus louvores.
Mas tu não Me chamaste, Jacob,
não te preocupaste Comigo, Israel.
Pelo contrário, obrigaste-Me a suportar os teus pecados,
cansaste-Me com as tuas iniquidades.
Sou Eu, sou Eu que, em atenção a Mim,
tenho de apagar as tuas transgressões
e não mais recordar as tuas faltas».
Refrão: Salvai-me, Senhor, porque pequei contra Vós.
Feliz daquele que pensa no pobre:
no dia da desgraça o Senhor o salvará.
O Senhor lhe concederá protecção e vida, fá-lo-á ditoso na terra
e não o abandonará ao ódio dos seus inimigos.
No leito do sofrimento o Senhor o assistirá
e na doença o aliviará.
Eu digo: Senhor, tende piedade de mim,
curai-me, pois pequei contra Vós.
Vós me conservareis são e salvo
e em vossa presença me estabelecereis para sempre.
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel,
desde agora e para sempre. Amen.
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Deus é testemunha fiel
de que a nossa linguagem convosco não é sim e não.
Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo,
que nós pregamos entre vós
– eu, Silvano e Timóteo –
não foi sim e não, mas foi sempre um sim.
Todas as promessas de Deus são um sim em seu Filho.
É por Ele que nós dizemos 'Amen' a Deus para sua glória.
Quem nos confirma em Cristo – a nós e a vós – é Deus.
Foi Ele que nos concedeu a unção,
nos marcou com o seu sinal
e imprimiu em nossos corações o penhor do Espírito.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum
e se soube que Ele estava em casa,
juntaram-se tantas pessoas
que já não cabiam sequer em frente da porta;
e Jesus começou a pregar-lhes a palavra.
Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens;
e, como não podiam levá-lo até junto d'Ele, devido à multidão,
descobriram o tecto por cima do lugar onde Ele Se encontrava
e, feita assim uma abertura,
desceram a enxerga em que jazia o paralítico.
Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico:
«Filho, os teus pecados estão perdoados».
Estavam ali sentados alguns escribas,
que assim discorriam em seus corações:
«Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar.
Não é só Deus que pode perdoar os pecados?»
Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes:
«Porque pensais assim nos vossos corações?
Que é mais fácil?
Dizer ao paralítico 'Os teus pecados estão perdoados'
ou dizer 'Levanta-te, toma a tua enxerga e anda'?
Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem
tem na terra o poder de perdoar os pecados,
'Eu to ordeno – disse Ele ao paralítico –
levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa'».
O homem levantou-se,
tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente,
de modo que todos ficaram maravilhados
e glorificavam a Deus, dizendo:
«Nunca vimos coisa assim».
O poder que Jesus tinha de perdoar os pecados, continua na Igreja a quem foi entregue na primeira aparição do Cristo Ressuscitado, num clima de grande alegria e de vitória sobre a morte e o pecado: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23)." Os apóstolos foram perdoados e enviados a perdoar em nome do Senhor.
A Igreja é comunidade do perdão fraterno. A igreja não é uma comunidade de santos, mas de pecadores perdoados que precisam pedir e oferecer o perdão. No Pai-Nosso afirmamos: "perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos..." Portanto, o perdão, que necessitamos, depende sempre do perdão que damos aos outros.
Sacramento da Reconciliação não pode reduzir-se a apenas a um ritualismo de contar os pecados ao padre. É necessário sempre um processo de conversão, pelo qual o cristão se reconhece pecador e deseja refazer sua vida cristã.
O Sacramento da Reconciliação é Sacramento da Alegria. A alegria de experimentar o perdão do Senhor e a da comunhão com os irmãos, sentir-se perdoado e aceite por um Deus pai e amigo, que nos repete: "Filho, teus pecados estão perdoados."
Gesto de solidariedade: caminho de libertação: Enquanto os ouvintes e seguidores de Cristo "sentados" enchiam a casa e impediam o doente de se aproximar, os quatro amigos encontraram a maneira para levar o doente até Jesus. E Jesus "vendo a fé que eles tinham" curou o doente...
Quantas pessoas poderiam reconstruir a própria vida, se houvesse algum cristão disposto a apoiá-las e ajudá-las a chegar a Jesus? E nós, que participamos na mesa da Eucaristia, podemos ficar pensando só em nós impedindo que os "doentes" se aproximem de Jesus ou acompanhamos essas pessoas até Cristo, para que as liberte? Qual é a nossa atitude diante do pecado? Reconhecemos com humildade os nossos pecados? Buscamos com regularidade o perdão de Deus, que nos é dado através da Igreja?
Eu não gosto de me confessar porque tenho medo que o Padre ralhe comigo.
Mas, afinal, quando chegas ao pé do confessor, o que é que lhe pedes em primeiro lugar?
— Como toda a gente, digo: Abençoai-me, Padre, porque pequei...
— Exactamente. Não pedes que te ralhe ou te castigue porque pecaste mas pedes-lhe uma bênção, uma palavra de conforto ou de gratidão. Não tenhas medo. O confessor apenas felicitar-te-á porque recebeste uma graça de Deus e um dom do Espírito Santo: reconheceste que és pecador e que desejas ser melhor!
Quem confessa as suas faltas, está disposto a levantar-se e a caminhar. É por isso que um paralítico apresentou-se um dia diante de Jesus que lhe disse:
— Os teus pecados estão perdoados, ou por outras palavras, levanta-te, toma a tua enxerga e vai...
O mal parece não estar no ter caído mas em não querer levantar-se e prosseguir a caminhada. E perdoar é dar a oportunidade de alguém recomeçar o seu caminho. Todos somos paralíticos, amarrados a velhos hábitos e muletas, à espera duma palavra que nos levante. Vivemos agora na esperança de recomeçar todos os dias. Cair e levantar-se é igual a progredir.