PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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Pascoa16 catequese

A arte de ser mãe

Mae FamiliaMensagem da Comissão Episcopal do Laicado e Família para o Dia da Mãe

As mães sabem que não basta dar filhos ao mundo, mas é preciso também dar um mundo aos filhos. Um mundo cheio de valores, de esperança e sonhos.

As mães sabem que ser mãe não é ter, é ser. Ser-se quem se é nos filhos e pelos filhos. As mães são aquelas que amam antes de serem amadas. São aquelas que respondem antes de serem chamadas. São aquelas que beijam antes de serem beijadas. São aquelas que correm para o abraço esquecendo o cansaço. Como ninguém, as mães são capazes de se doar, de perdoar, de compreender, de aceitar e não julgar.

Nenhuma mãe tem em si todas as qualidades humanas e, menos ainda, vive sem erros, mas, apesar de tudo, abraça os filhos tal como são, por poucas qualidades que tenham, por maiores que sejam os seus erros. Uma mãe perdoa sempre. Ainda que de coração sacrificado, prefere pensar que a culpa é sua e não de quem, por vezes, assim a crucifica.

A mãe ensina os filhos a serem mais fortes que os medos, não tanto através de discursos inspirados, mas pela grandeza e humildade do seu exemplo. É capaz de lhes oferecer o mar com um só sorriso e a vida inteira com uma só lágrima, que não será mais que uma gota do imenso mar do seu amor.

Neste tempo de incerteza, confiamos as mães a Maria, que é a mãe de todas as mães. Recordamos as mães que deram à luz durante a pandemia, mães que perderam o emprego ou rendimentos, mães que perderam filhos e estão de luto, mães que lutaram e lutam pela saúde da sua família, mães cuidadoras de idosos e de pessoas com deficiência.

Maria é mãe da esperança, ela que viveu com esta palavra de Simeão: “Uma espada de dor trespassará a tua alma” (Lc 2, 35). Essa alma, por ser toda amor, era infinitamente vulnerável. Quando Maria, durante três dias, andou à procura do seu Filho adolescente, tendo Ele ficado em Jerusalém, quando o seguiu durante a sua vida pública, vendo-o confrontar-se com as incompreensões ou hostilidade de muitos, e – sobretudo – quando o acompanhou no caminho do Calvário, sofreu mais do que qualquer outra mãe.

Contudo, no próprio âmago do seu sofrimento, ela guardou uma confiança inquebrantável. Para lá do seu sofrimento, ela tinha a certeza de que era amada por Deus, mantendo a confiança nele. Maria, que conhece e compreende melhor do que ninguém, os sofrimentos das mães, ensina a viver em paz.

Que as mães não esqueçam que os seus filhos também são filhos de Maria. Com elas, Maria partilha a sua responsabilidade materna, carrega os sofrimentos e as dificuldades dos seus filhos. Com as mães – e ainda mais do que elas – ela deseja a sua felicidade.

Ser mãe é ser feliz somente por ser mãe. Ser mãe é ser amor e amor que ninguém esquece, mas que sempre se agradece.

Que a celebração de mais um Dia da Mãe junte, em coro, as nossas vozes para manifestarmos todo o amor e gratidão para com as nossas mães!

Mensagem da Comissão Episcopal do Laicado e Família

24 horas para o Senhor

24horas22Consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria

A Conferência Episcopal Portuguesa está em plena sintonia com o Santo Padre, que vai consagrar a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria a 25 de março, durante a Celebração da Penitência às 16h00 na Basílica de São Pedro. O Papa Francisco enviará a Fátima, como Legado Pontifício, o Cardeal Konrad Krajewski, Esmoler Apostólico, o qual fará o ato de consagração na Capelinha das Aparições, também às 16h00, durante a oração do Rosário. Em profunda comunhão com o Santo Padre, os Bispos portugueses procurarão estar presentes nesta celebração em Fátima.

Pede-se que todas as paróquias, comunidades, institutos de vida consagrada e outras instituições eclesiais assumam esta intenção de consagração nas celebrações desse dia, nomeadamente nas Vias-Sacras, nas Eucaristias, na Oração do Rosário e no itinerário “24 horas para o Senhor” que se inicia na tarde desse dia.

Por intercessão do Imaculado Coração de Maria, Rainha da Paz, continuemos a rezar pelo povo ucraniano, perseguido na sua terra e disperso pelo mundo, para que o Senhor atenda as nossas preces e os esforços das pessoas de boa vontade, e lhe conceda a paz e o regresso a suas casas.

Lisboa, 18 de março de 2022
Secretariado Geral da CEP

Uma maioria espiritualmente surda

DJoao marcosD. João Marcos, bispo de Beja, na celebração que assinalou os 250 anos da restauração da Diocese (12-07-2020), apelou à transmissão e vivência da fé católica, para ir ao encontro de "uma maioria espiritualmente surda” da comunidade alentejana.

“Anunciar o Evangelho, mais do que transmitir uma doutrina, mais do que comunicar uma moral, mais do que iniciar a uma liturgia, é transmitir a vida de Jesus, filho de Deus. Essa vida não é uma abstração, não é um ideal, é a vida da Igreja, ou seja, a vida que o Espírito Santo suscita e alimenta numa comunidade concreta de irmãos”.

“Sem vida comunitária, ninguém pode evangelizar, porque o seu cristianismo não é autêntico. […] Dos muitos milhares de pessoas batizadas na Igreja Católica, a grande maioria não escuta a Palavra de Deus. Vivem como pagãos. E quando participam num funeral ou num casamento, as palavras de quem preside não são recebidas por essa maioria espiritualmente surda”.

Para D. João Marcos, muitos são “católicos de religião, mas não de fé”, que vivem de forma “superficial” e estão “centrados em si mesmos”. “Estão na Igreja, mas temem a comunidade e vivem profundamente sozinhas, com os seus problemas, que não comunicam a ninguém”.

Dirigindo-se aos participantes na Eucaristia, deixou uma interpelação: “Há uma divisão profunda entre as orações que dizeis e as obras que praticais”.

O bispo de Beja defendeu que, à imagem de Jesus Cristo, a comunidade católica recorra à “ linguagem das parábolas”, um convite que “deixa as pessoas à entrada da porta, na alegria de quem se sente amado por poder escutar, mas na humildade de quem está fora do sentido pleno daquilo que escuta, e precisa de perguntar pela chave necessária para entrar nesse mistério”.

Frisou: “ainda que a situação social não seja, aparentemente, muito favorável, se somos Igreja viva, se o amor a Cristo e ao seu Evangelho nos move, precisamos de lavrar esta terra e de a preparar para produzir uma nova seara. Poderá dar muito ou pouco, mas se não semearmos, seguramente nada produzirá”.

E concluiu afirmando que “Cristo nosso Senhor, a Palavra que desceu do Céu à terra para realizar a sua missão libertadora e regressar ao Pai, Aquele que proclamamos estar no meio de nós, é a Luz do mundo, que resplandece nas trevas. Deixemo-nos guiar por essa Luz! Ela transforma os que a seguem em luzeiros brilhantes no meio das trevas”.

Semana dos Seminários - 2017

Seminarios2017A Semana dos Seminários é ocasião privilegiada para que os cristãos tomem consciência da importância do seminário como lugar indispensável para a formação dos futuros pastores da Igreja. Consciência que resulta da reflexão sobre as implicações da formação inicial, feita nos seminários, na missão da Igreja e no futuro da fé; consciência que se desdobra em oração ao Senhor da vinha para que chame trabalhadores para a sua vinha; consciência que se abre ainda à partilha e ajuda material aos seminários.

O lema desta semana é a frase pronunciada por Maria no episódio das Bodas de Caná: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo.2,5). Após a interpelação dirigida a Jesus - «Não têm vinho!», Maria volta-se para os serventes para que estes, seguindo a palavra de Jesus, tudo façam para que a sua Hora chegue. O apelo da Mãe do céu dirige-se agora a todos e a cada um: aos batizados, chamados a servir o Senhor; a todos os que estão em formação nos seminários; àqueles que o servem nos vários ministérios e formas de vida consagrada.

O exemplo de Maria mostra que o fundamental é estar com Jesus, caminhar com Ele, sabendo estar no meio do mundo com atenção às circunstâncias em se pode revelar a novidade de Deus. Como em Caná, tantas situações de carência, dor ou fracasso podem ser ocasião de manifestação da misericórdia divina. Para isso é necessário escutar o que o Senhor diz e acolher a sua palavra no coração. Uma escuta que exige a atenção e o discernimento capazes de interpretar a vontade do Senhor, distinta dos apelos do mundo ou do eco das ambições e motivações individuais. Ele chama alguns à vocação sacerdotal que tem na sua origem «um dom da graça divina que se concretiza na ordenação sacramental. Esse dom exprime-se no tempo pela mediação da igreja que chama e envia em nome de Deus» (Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, 34).

O apelo de Maria em Caná sublinha o caráter imperativo do Fazer, isto é, a necessidade de levar à prática a palavra escutada. Naquela situação tratou-se de exercitar um serviço concreto: encher as talhas e levar ao chefe de mesa. Desta forma o evangelho evidencia o valor do serviço humilde e dedicado na concretização do que Jesus manda. O serviço é o horizonte proposto a todo aquele que quer ser verdadeiro discípulo de Jesus, de modo específico a quem escuta e responde ao apelo: «Vem e segue-me!». O seminário é tempo de formação na escola do serviço, é caminho de configuração a Cristo, Cabeça, Pastor, Servo e Esposo, de forma que na ordenação presbiteral o candidato seja capaz de um dom total de si ao serviço de Deus e do seu povo.
O cumprimento da frase de Maria conduz à realização do primeiro grande sinal de Jesus – a transformação da água em vinho – e desta forma Ele «manifestou a sua glória e os discípulos creram nele» (Jo.2, 11). Em Caná, Jesus revela-se como o verdadeiro noivo que está presente à humanidade para renovar com ela a aliança nupcial e ajudá-la a reencontrar o caminho da esperança, da alegria, e da paz. No nosso tempo os seminários representam um sinal da esperança para a Igreja e para o mundo porque aqueles que neles se formam em ordem ao ministério sacerdotal serão expressão da presença de Jesus Cristo, o esposo sempre fiel que também hoje quer encher de misericórdia e alegria a humanidade que não desistiu de amar.

O Seminário é tempo de estar com Jesus e de aprender com Ele a viver no meio das realidades do mundo; é tempo para exercitar a escuta e aprofundar o discernimento acerca da vontade de Deus; é tempo de cultivar um coração dócil, livre e generoso para o serviço de Deus e dos irmãos; é tempo para descobrir o estilo mariano da evangelização que valoriza a proximidade, a ternura e o afeto.

Que Maria nos ajude com a sua intercessão materna para que os seminários sejam comunidades onde se formam verdadeiros discípulos missionários e contribuam «para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o nascimento de um mundo novo» (Evangelii Gaudium, 288).

+ António Augusto de Oliveira Azevedo
Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios


ORAÇÃO
Deus, nosso Pai, que pela Vossa Palavra
tudo criastes e tudo sustentais,
nós Vos damos graças pelo dom do Vosso Filho, Jesus,
Palavra viva e reconciliadora.
N’Ele manifestais o esplendor da Vossa glória,
para que, acreditando n’Ele,
vivamos segundo a Palavra que nos cria de novo.

Nós Vos bendizemos pelo dom do ministério sacerdotal,
pelo qual associais aos primeiros discípulos,
que acreditaram em Jesus, outros companheiros
que continuam a servir à humanidade o alimento da Palavra,
o banquete da Eucaristia e a via da Reconciliação.

Nós Vos pedimos pelos seminaristas e seus educadores,
para que abram os corações à Palavra
e a vivam com desassombro,
dando testemunho da Vossa alegria no mundo.

Maria, mãe de Jesus e nossa mãe,
vós que conheceis as necessidades humanas
e ensinais a viver como diz o vosso Filho,
abri novos corações para a disponibilidade
de viver ao serviço da alegria.
Maria, repeti hoje aos nossos corações:
“Fazei o que Ele vos disser”. Amen.

Festa dos beatos Francisco e Jacinta

PastorinhosCom Francisco e Jacinta Marto, chamados a sermos santos na caridade

Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da canonização de Francisco e Jacinta Marto.
A Igreja em Portugal enche-se de júbilo e dá graças a Deus pela canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto no próximo dia 13 de maio, durante a peregrinação presidida pelo Papa Francisco. As suas vidas convidam-nos à docilidade ao Espírito do Senhor ressuscitado, ao cuidado solícito da humanidade e ao compromisso fiel com o rosto misericordioso de Deus.

1. A Igreja rejubila com a santidade
Na celebração do centenário das aparições de Nossa Senhora, a canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto vem confirmar que a mensagem de Fátima é um itinerário pedagógico para o discípulo de Cristo que procura conformar o seu coração com o do Mestre. Exultamos, por isso, com a abundância da graça de Deus, que se manifesta na frágil vida destes dois humildes Pastorinhos. Envolvidos pela carinhosa e materna luz de Maria, modelo dos pequenos e pobres, eles experimentam a ternura e a força do braço amoroso de Deus, que humilha os soberbos e levanta os humildes, fazendo resplandecer no testemunho da sua curta existência a elevada e perene glória da santidade.

2. Vidas em tom de Magnificat
Nesta ditosa ocasião, ser-nos-á espiritualmente fecundo reler as Memórias da Irmã Lúcia e os outros testemunhos escritos sobre a experiência espiritual dos dois Pastorinhos, que fazem parte da tradição viva da Igreja. Percorrendo de novo a vida de Francisco e de Jacinta, damo-nos conta de como o Espírito Santo suscitou, salvaguardou e potenciou o coração infantil, encantado e simples com que cada um deles contemplou, assimilou e refletiu a imagem de Cristo. Fruto desta abertura ao Espírito, reconhecemos na experiência espiritual de Jacinta uma imitação generosa de Cristo, servo sofredor e abandonado na cruz e, na de Francisco, uma imitação contemplativa de Cristo «escondido» e silencioso. Eles que foram videntes da misericórdia de Deus, assumiram-na de tal forma que, através da limpidez das suas vidas singelas, dão a ver o rosto da misericórdia[1].
Francisco Marto nasceu no dia 11 de junho de 1908, em Aljustrel, no mesmo lugar da freguesia de Fátima em que nasceu Jacinta Marto, sua irmã, no dia 5 de março de 1910. No ano de 1916 viram, com sua prima Lúcia de Jesus, por três vezes, o Anjo da Paz. Entre maio e outubro de 1917 foram visitados pela Virgem Maria, a Senhora do Rosário.
A partir desta experiência inefável, as suas vidas passam a estar completamente centradas em Deus: convidados a adorar o Mistério da Trindade, vivem focados no rosto de misericórdia do Pai; convidados a oferecer a vida pelo bem dos irmãos, não mais deixam de ter no seu horizonte o cuidado pelos que mais necessitam, os pecadores; convidados a orar continuamente, passarão a rezar todos os dias o Rosário pela paz no mundo; convidados a consagrar-se a Deus, ao jeito do Coração Imaculado de Maria, viverão as suas breves vidas com a intensidade do Magnificat.
Depois de dedicarem os seus dias ao amor a Deus, ao Imaculado Coração de Maria, ao Santo Padre e a todos os irmãos, particularmente aos pecadores, Francisco faleceu no dia 4 de abril de 1919 e Jacinta no dia 20 de fevereiro de 1920.

3. O exemplo de Francisco e de Jacinta como interpelação eclesial
Como recentemente recordámos, ao assinalar o centenário das aparições de Fátima, «para os Pastorinhos, o coração da Senhora era o Santuário do seu encontro com Deus (...). A misericórdia de Deus, o palpitar do seu coração diante dos pecadores e dos desgraçados, encontra um ícone privilegiado no coração de Maria»[2]. À luz do coração materno da Virgem, «figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo»[3], Francisco e Jacinta fazem, na sua espiritualidade, a síntese daquilo que a Igreja é continuamente chamada a ser: contemplativa e compassiva.
O perfil espiritual de Francisco é caraterizado pelo apelo à adoração e à contemplação. Sempre que podia, refugiava-se num lugar isolado para rezar sozinho, passando longas horas no silêncio da igreja paroquial, junto ao sacrário, para fazer companhia a «Jesus escondido». Na sua intimidade, Francisco entrevê um Deus entristecido face aos sofrimentos do mundo, sofre com Ele e deseja consolá-lo[4]. Salienta assim que a vida de oração se alimenta pela escuta atenta do silêncio em que Deus fala. Francisco deixa-se habitar pela presença indizível de Deus – «Eu sentia que Deus estava em mim, mas não sabia como era!»[5] – e é a partir dessa presença que ele acolhe os outros na sua oração. A sua vida de fé é uma vida de contemplação de Cristo «escondido».
O perfil espiritual de Jacinta é caraterizado pela singela generosidade da fé. Nas pequenas coisas da sua vida simples de menina, Jacinta tudo entrega em dom agradecido ao coração de Deus, em favor da humanidade. Expressava frequentemente o desejo de partilhar o amor ardente que sentia pelos corações de Jesus e de Maria e que a fazia crescer no cuidado pelos pecadores. Todos os pequenos detalhes do seu dia, inclusive as contrariedades da sua doença, eram motivo de oferta a Deus pela conversão dos pecadores e pelo Santo Padre. Nas suas memórias, a prima Lúcia diz dela que rezar e sofrer por amor «era o seu ideal, era no que falava»[6].

4. O Mistério de Deus como horizonte definitivo
O Mistério de Deus que as crianças experienciam nas aparições do Anjo e de Nossa Senhora marcou-as de tal forma que ficaram fascinadas pela beleza do amor de Deus, tendo despertado nelas um desejo profundo do Céu, um ardente anseio de estar com Jesus vivo e com a Mãe do Céu.
Muito rapidamente esta sua atitude contemplativa tornou-se evidente para todos: a vontade de estar para sempre com o Senhor levava o Francisco a procurar frequentemente a oração pessoal, feita de joelhos, muitas vezes por detrás de um muro ou de uma cerca. Também na Jacinta este desejo é evidente. O que ela imediatamente contou aos seus pais, depois da primeira aparição de Nossa Senhora, foi a promessa de que iria levá-la para o Céu, com o Francisco[7]. Nas Memórias da Irmã Lúcia aflora explicitamente a consciência dos primos de que, mesmo que as dificuldades que enfrentavam lhes custassem a vida, não seria em si uma perda, porque iriam para o Céu[8].

5. Interpelados à oração contínua
Esta sede de Deus é alimentada pela vida de oração a que são insistentemente convidados pela Senhora do Rosário. Fiéis a esta interpelação, Francisco e Jacinta encontraram na oração a expressão privilegiada da amizade com Deus e do afeto para com os que vivem longe d'Ele, como transparece na frequente intercessão pela paz no mundo e na oração ensinada pelo Anjo: «Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam»[9]. Francisco e Jacinta interpelam assim a Igreja a rezar sem cessar, na certeza de que a eficácia da sua missão depende desta relação íntima com Deus.

6. Interpelados a uma vida eucarística
A alma orante dos Pastorinhos deixa-se fascinar particularmente pelo Cristo eucarístico, a quem Francisco chamava “Jesus escondido”. A sua ânsia por contemplá-lo, entrar em comunhão com Ele e imitar o seu estilo de “autoescondimento” marca definitivamente a sua vida. O seu desejo da Eucaristia chega ao pranto, quando o pároco o impede de fazer a primeira comunhão, pelas suas repetidas distrações – “contemplativas”! – na catequese[10]. Mas foi deste modo que o Espírito Santo o preparou para a primeira e última comunhão, finalmente recebida em casa no dia anterior à sua morte[11]. Nesse instante de graça, enquanto o menino assimilava a Eucaristia, mais radicalmente era Cristo quem o “assimilava”, isto é, “tornava-o semelhante” a Si, morto pela remissão dos pecados e pela reconciliação dos homens com Deus.
Contemplando este modelo simples de vida eucarística, as crianças de hoje poderão aprender a amar, invocar e contemplar a Nosso Senhor “escondido” sob os sinais do pão e do vinho consagrados. A experiência eucarística dos Pastorinhos permanece como luz para os pais, catequistas e comunidades cristãs, na missão de ajudarem as crianças a prepararem-se cuidadosamente para a primeira comunhão, a participarem na celebração e na adoração eucarística, com expressões próprias da sua idade.

7. O coerente testemunho de fé
O testemunho de fé de Francisco e de Jacinta leva o selo da resposta fiel ao amor que lhes falou ao coração. Apesar da sua tenra idade, quando são instados a negar as aparições ou a revelar o que lhes fora confiado como segredo, permanecem fiéis à verdade, assumindo o sofrimento que a opção lhes causava. O seu exemplo evidencia que se pode testemunhar a fé em Cristo em qualquer condição de vida: de criança, de adulto ou de ancião; seja-se extrovertido ou tímido; no areópago da culta Atenas do primeiro século, no lugar de Aljustrel do início do século passado, ou hoje, no mundo global. Sirva este exemplo como incentivo a uma pastoral capaz de revelar, desde a infância, a beleza da vida em Deus e a exigência do compromisso que dela resulta.

8. O cuidado dos mais vulneráveis
A oferta das suas vidas a Deus compreendia, em Francisco e Jacinta, o cuidado dos mais frágeis. Esta é uma caraterística do seu discipulado que tem interpelado a Igreja ao longo do último século e que tem sido significativamente assumida na vida do Santuário de Fátima, enquanto espaço de acolhimento. Recordávamos recentemente «a atenção que em Fátima se dá aos mais frágeis e vulneráveis – as crianças, os doentes, os idosos, as pessoas com deficiência, os migrantes – que, neste lugar e na sua proposta espiritual, encontram hospitalidade, cuidado, rumo e energia»[12].
Quando as próprias crianças ficaram doentes, encontraram na enfermidade um lugar de identificação com Cristo e, como Ele, ofereceram o seu sofrimento pelo bem dos outros. E foi o desejo do encontro definitivo com Nosso Senhor e Nossa Senhora que também os susteve, durante a agonia. Que modelo de vida autenticamente ao jeito de Cristo para os nossos doentes que, em idêntica experiência dolorosa, procuram partilhar «os mesmos sentimentos que havia em Cristo» (Fil 2,5), Servo sofredor!

9. A família e a educação para a santidade
A vida cristã de Francisco e de Jacinta nasce num coração infantil, pré-escolarizado[13], a ponto de, na aparição de 13 de junho, a Virgem lhes pedir que aprendessem a ler[14]. Tiveram acesso aos mistérios da vida cristã através da tradição viva da Igreja, que tem na família um dos sujeitos mais importantes de transmissão, como canta o salmo 78: «O que ouvimos e aprendemos e os nossos antepassados nos transmitiram não o ocultaremos aos seus descendentes; tudo contaremos às gerações vindouras: as glórias do Senhor e o seu poder, e as maravilhas que Ele fez» (Sl 78,3-4). Como diz o Papa Francisco, «a família é o lugar onde os pais se tornam os primeiros mestres da fé para seus filhos»[15].

10. A santidade de Francisco e de Jacinta desafia a Igreja à conversão
Nos dois milénios de história da Igreja, Francisco e Jacinta Marto são as primeiras crianças não martirizadas a serem declaradas modelo de santidade, depois de reconhecida a maturidade da sua fé e vida cristã. Realiza-se assim o Evangelho que oferece o Reino aos que são como as crianças na simplicidade, confiança e esperança próprias da infância. O reconhecimento da vida santa destas «duas candeias que Deus acendeu para alumiar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas»[16] é um precioso bem para a Igreja. Eis o essencial que temos a aprender de Francisco e de Jacinta: cada um de nós é chamado a deixar-se converter à imagem da criança que se confia plenamente ao amor com que o Pai sustém a nossa vida. A confiança total e disponível com que os Pastorinhos responderam ao convite da Senhora do Rosário – «Quereis oferecer-vos a Deus?», «Sim, queremos!»[17] – deve ser o motor da vida de todo o cristão.
Como ensina o Concílio Vaticano II, «a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação»[18]. Comovente, a este propósito, é a consciência profunda dos Pastorinhos da gravidade do pecado e das suas consequências, bem como o seu compromisso simples e generoso em favor da reconciliação dos pecadores e da paz no mundo.
É neste sentido – de contínuo apelo à conversão da Igreja – que somos convidados a olhar para o exemplo de vida destas crianças, cientes da semente de fé, esperança e amor que elas semeiam na história humana: o seu exemplo de vida «irradiou e multiplicou-se em grupos sem conta por toda a superfície da terra (…) que se votaram à causa da solidariedade fraterna».[19] Testemunhas da misericórdia de Deus, Francisco e Jacinta continuam a levedar a história com a força da caridade que transforma os corações.

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[1] Lúcia de Jesus, Memórias da Irmã Lúcia. Vol. I, 15.ª ed., Fundação Francisco e Jacinta Marto, Fátima 2010, 174.
[2] Conferência Episcopal Portuguesa, Fátima, sinal de esperança para o nosso tempo, n.º 10.
[3] Lumen Gentium, n.º 63, citando S. Ambrósio.
[4] Memórias da Irmã Lúcia. Vol. I, 145.
[5] Memórias da Irmã Lúcia. Vol. I, 140.
[6] Memórias da Irmã Lúcia. Vol. I, 61.
[7] Cf. A. M. Martins (ed), Documentos de Fátima. L.E: Porto 1976 [=Doc], 34-35; cf. também 38-39.224-227.400-401.515.
[8] Cf., Doc, 154-157.160-161.188-189.162-163.268-269.
[9] Doc, 114-115.
[10] Cf. Congregatio pro Causis Sanctorum, P. N. 1379, Leirien. Canonizationis Servi Dei Francisci, 34.
[11] Cf. idem, 36.
[12] Conferência Episcopal Portuguesa, Fátima, sinal de esperança para o nosso tempo, n.º 13.
[13] Cf. Doc, 517.518.
[14] Cf. Doc, 262-263.367.468-469.500.504-505.515.
[15] Francisco, Amoris Laetitia, n.º 16.
[16] João Paulo II, Homilia na celebração da beatificação dos veneráveis Francisco e Jacinta, Fátima, 13 de maio de 2000.
[17] Memórias da Irmã Lúcia. Vol. I, 173-174.
[18] Lumen gentium, n.º 8.
[19] Bento XVI, Homilia na celebração do 10.º aniversário da beatificação de Francisco e Jacinta, Fátima, 13 de maio de 2010.

 

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