O sentido do deserto
Todos os caminhos da redenção passam pelo Deserto. Era ali que os profetas escutavam a mensagem e as multidões procuravam Jesus. Por isso, Jesus convida os Apóstolos a retirarem-se com Ele para um lugar solitário. Não há apóstolo nenhum que não tenha passado pela experiência do deserto, através de sedes e cansaços, na fé e na esperança.
Deserto significa tempo de intimidade. Vamos aprender no silêncio a escutar o Senhor, que passa na brisa dos sucessos e das coisas. O silêncio é a linguagem de Deus. É preciso fazer silêncio, interpor desertos para chegar à presença de Deus, que nos espera. Não há oração sem deserto. Só quando estiver a casa sossegada, despojada de ruídos e tensões, é que o homem se encontra com Deus em comunicação amorosa e filial. Escutar a Deus em silêncio e deserto é a oração perfeita, a suma contemplação.
Deserto significa tempo de mudança. No deserto traçam-se destinos, de lá irrompem exigências de vida nova. Vamos lá para ser tentados como Cristo e sairmos vencedores com Ele. Despojados de tudo, mãos vazias, toda a nossa fome de criaturas chama por Cristo. No silêncio actua a graça e germina o grão de trigo. "Que fostes ver ao deserto?" Vida nova a crescer, corações a mudar.
Deserto significa comunhão. Como os Apóstolos, vamos juntos, unidos no mesmo destino de passar para o outro lado das coisas e das aparências. Ninguém se mete sozinho a atravessar o deserto. Vai-se de caravana. Há perigos e miragens que só se podem vencer em companhia. No deserto reaprendemos a estreitar os laços da comunhão fraterna. No silêncio se aprende a sabedoria de escutar o outro, comungando a palavra e a pessoa. A capacidade de escutar é laço que nos une no convívio dos homens. Há problemas que se resolvem escutando.
Deserto significa tempo de paragem e revisão de vida. É preciso repensar caminhos percorridos, avaliar êxitos e fracassos. É no silêncio da escuta que a realidade e as aparências se confrontam e reconciliam. O deserto é a escola da fé, a pedagogia que nos revela a vontade de Deus e nos ensina o amor. No silêncio e solidão, face a face com Deus, vamos rever caminhos, discernir projectos e respostas.
O deserto não é fuga nem alienação. No silêncio com Deus ressoam todas as dores dos homens e todos os apelos da vida. Se vamos para o deserto é para estar mais perto dos homens.
O que nos falta é silêncio e contemplação. Andamos saturados de agitação e ruídos, distraídos do único necessário. Sobram palavras; faltam silêncios.
As Tentações do Deserto
- As tentações do deserto continuam: riqueza, egoísmo, fama, orgulho, preguiça, comodismo...
E eu? Quais são as minhas tentações?
- Arrependamo-nos e acreditemos no Evangelho.
"Que serve ao homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder a sua alma?!"
- No mundo continua a guerra, a violência, a injustiça social.
E eu? Como são as minhas relações com as pessoas?
- Arrependamo-nos e acreditemos no Evangelho.
"Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei."
- No nosso mundo há muito barulho, muita correria.
A Quaresma é tempo de silêncio, de oração, de caridade fraterna.
E eu? Que tempo tenho para parar e encontrar-me com Deus e comigo mesmo?
- Arrependamo-nos e acreditemos no Evangelho.
"Marta, Marta, porque andas tão atarefada se uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte."
- Há pessoas desorientadas à procura dum sentido para a vida e de alguém que lhes estenda a mão e não encontram ninguém.
E eu? Quando é que tiro as minhas mãos dos bolsos e as estendo ao irmão que precisa de mim?
- Arrependamo-nos e acreditemos no Evangelho.
"O que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis."
Dispostos a fazer nesta Quaresma uma caminhada de mudança de vida...
iniciemos desde já esse nosso propósito.