O desejo da Vida Eterna
«Hoje (…) é bom tomarmos consciência de que a vivência do sofrimento e da morte têm um sentido ou outro, segundo esperamos ou não esperamos a vida eterna. É que só esta dá sentido ao sofrimento e resolve o enigma da morte, na qual a vida não acaba, apenas se transforma.
Para nós cristãos, esta esperança na vida eterna não é apenas um valor natural de quem admite uma outra vida para além da morte; é uma virtude teologal, é fruto do Espírito de Cristo em nós, que nos uniu a Ele no Batismo e nos deu a intimidade de “filhos de Deus”.
O desejo da vida eterna é, no cristão, expressão espontânea da vida em Cristo, experimentada neste mundo. As alegrias da fé, fruto da intimidade com Deus em Cristo, são já as primícias da plenitude futura. A vivência cristã da vida neste mundo é já da ordem do mundo futuro.
Porque se trata de “primícias”, ela gera espontaneamente o desejo da plenitude definitiva, o que leva, por vezes, os santos a desejarem a própria morte, apenas porque ela é a porta necessária para entrar na plenitude da vida.»
D. José Policarpo, Sé Patriarcal de Lisboa, 01-11-2005