Solenidade de Todos os Santos
As Leituras deste dia - 1 de Novembro - revelam o projecto de Deus a respeito do homem: quer torná-lo participante da sua Santidade.
A primeira leitura afirma que uma grande multidão de pessoas, de todos os povos, são os santos que participam da glória celeste, junto de Deus. O texto fala de 144 mil eleitos. O Número é simbólico e indica a totalidade da comunidade cristã. (12x 12x 1000 — 12 tribos do AT + 12 apóstolos do NT +1000).
As primeiras perseguições tinham feito destruições cruéis nas comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades, acabadas de fundar, desaparecer? As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de esperança nesta provação. É uma linguagem codificada, que evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear directamente, aplicando-lhe o qualificativo de Babilónia.
A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que o seguem, em particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.
A segunda leitura recorda que a Vida divina, que se manifestará no final da vida, já está presente em nós desde agora. Desde o nosso baptismo, somos chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marca da eternidade. Este segundo texto é reforça esta mensagem de esperança. Ela responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já qual o futuro a nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.
No Evangelho, Jesus apresenta a proposta das Bem-Aventuranças, como o melhor caminho para a alcançar Santidade.
As Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Baptismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem são, efectivamente, formas de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e de lucro... tudo isso aparece como não rentável, votado ao fracasso, à morte.
Mas que pensa Cristo? Ele, pelo contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus, introdu-los no Reino e na Terra Prometida.
A Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde.
Leitura do livro do Apocalipse
trazendo o selo do Deus vivo.
Ele clamou em alta voz
aos quatro Anjos a quem foi dado o poder
de causar dano à terra e ao mar:
«Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores,
até que tenhamos marcado na fronte
os servos do nosso Deus».
E ouvi o número dos que foram marcados:
cento e quarenta e quatro mil,
de todas as tribos dos filhos de Israel.
Depois disto, vi uma multidão imensa,
que ninguém podia contar,
de todas as nações, tribos, povos e línguas.
Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro,
vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.
E clamavam em alta voz:
«A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono,
e ao Cordeiro».
Todos os Anjos formavam círculo
em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos.
Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra,
e adoraram a Deus, dizendo:
«Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a acção de graças,
a honra, o poder e a força ao nosso Deus,
pelos séculos dos séculos. Amen!».
Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me:
«Esses que estão vestidos de túnicas brancas,
quem são e de onde vieram?».
Eu respondi-lhe:
«Meu Senhor, vós é que o sabeis».
Ele disse-me:
«São os que vieram da grande tribulação,
os que lavaram as túnicas
e as branquearam no sangue do Cordeiro».
Refrão: Esta é a geração dos que procuram o Senhor.
o mundo e quantos nele habitam.
Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre as águas.
Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
o que não invocou o seu nome em vão.
Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu Salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
que procuram a face de Deus.
Leitura da Primeira Epístola de S. João
Vede que admirável amor o Pai nos consagrou
em nos chamar filhos de Deus.
E somo-lo de facto.
Se o mundo não nos conhece,
é porque O não conheceu a Ele.
Caríssimos, agora somos filhos de Deus
e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Mas sabemos que, na altura em que se manifestar,
seremos semelhantes a Deus,
porque O veremos tal como Ele é.
Todo aquele que tem n'Ele esta esperança
purifica-se a si mesmo,
para ser puro, como ele é puro.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo S. Mateus
ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.
Rodearam-n'O os discípulos
e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os humildes,
porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,
vos insultarem, vos perseguirem
e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e exultai,
porque é grande nos Céus a vossa recompensa».
A Fonte da santidade cristã é Deus. A santidade tem o seu início, crescimento e consumação na graça de Deus, no amor gratuito do Senhor, que derrama o seu Espírito nos nossos corações para que possamos chamá-lo "Pai". Portanto, a santidade não é um mero produto do esforço humano que procura alcançar Deus com as suas forças nem tão-pouco resultado automático da graça, mas efeito da acção de Deus em nós. A santidade tem, assim, duas dimensões: é acção de Deus em nós pelo dom do Espírito Santo e resposta do cristão a esse dom e presença de Deus. A Santidade cristã manifesta-se como uma participação na vida de Deus, que se realiza com os meios que a Igreja nos oferece, especialmente através dos Sacramentos.
A Morada dos Santos será o Céu, que não é um lugar, mas um estado de felicidade na presença e companhia de Deus, dos anjos e dos santos, que supera a nossa imaginação e o nosso entendimento: "Nem olhos viram, nem ouvidos escutaram nem o homem pode imaginar o que Deus preparou para aqueles que O amam" (1Cor2,9). "Agora vemos como num espelho, mas depois veremos face a face" (1Cor 13,12). A Eternidade não um "eterno descanso", mas vida activa e intensa com Deus.
Santo significa que não tem nada de imperfeito, de fraco, de precário. Neste sentido, só Deus é Santo. No entanto, por graça de Deus, participamos da sua Santidade e unimo-nos a todos os irmãos. Esta doutrina era tão viva nos primeiros séculos, que os membros da Igreja não hesitavam em chamar-se: "Santos" e a própria Igreja era chamada de "Comunhão dos Santos".
O que é a Comunhão dos Santos?
– "Esta expressão indica em primeiro lugar a comum participação de todos os membros da Igreja nas "coisas santas": a fé, os Sacramentos, os Carismas e outros dons espirituais". (CIC 194)
– "Designa também a comunhão entre as pessoas santas, ou seja, entre as que pela graça estão unidas a Cristo morto e ressuscitado. Alguns são peregrinos na terra; outros, tendo deixado esta vida, estão se purificando ajudados também pelas nossas orações; outros enfim já gozam da glória de Deus e intercedem por nós. Todos juntos formamos em Cristo uma só família, a Igreja, para a glória da Trindade." (CIC 195)
Quem são os santos?
Não são apenas aqueles que estão nos altares, declarados santos pela Igreja. São todas aquelas pessoas que vivem unidas a Deus, construindo o bem. São pessoas normais, que no passado e no presente dão testemunho de fidelidade a Cristo.
A Festa de hoje pretende homenagear, assim, todos os santos e apresentar o ideal da santidade como possível hoje e desejado por Deus.
"Todos os fiéis são chamados à Santidade cristã. Ela é a plenitude da vida cristã e perfeição da caridade, realiza-se na união íntima ao Cristo e, nele, com a Santíssima Trindade". (CIC 428)