Um Reveillon diferente!
Se há um mês atrás me perguntassem se alguma vez imaginaria passar de ano em plena Eucaristia, o mais provável seria negar tal hipótese esboçando um leve sorriso. O que é facto é que foi em plena Eucaristia que três jovens da Paróquia de Queijas entraram no Novo Ano de 2012.
Qual o fundamento desta iniciativa? Por que motivo terei eu recusado convites de Reveillon socialmente conotados como «normais» e decidi, em plena passagem de ano, recolher-me num Seminário?
Iniciou-se a Celebração Eucarística em 2011, com cada um dos seus participantes a colocar no altar um agradecimento e um desejo, forma de reconhecimento da presença de Deus no trilho de vida percorrido por cada um. Celebrava-se a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e a entrada Novo Ano e no Dia Mundial da Paz. Proferiu o Santo Padre Paulo VI, em 1968 – data da criação desse dia: «Desejaríamos que, depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da História no futuro». Foi com esse desejo que, já em 2012, tomámos o Corpo e bebemos o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao entregar-se a nós, cada um de nós – à imagem da Santa Virgem Maria – respondeu entregando-se a Ele. É este o testamento do Senhor.
A tensão moral que nasce do acto de hospedar Jesus na nossa vida brota da gratidão por vivenciarmos a imerecida proximidade do Senhor (Sacramentum Caritatis, 82).
Digo-vos hoje que a passagem de ano para nós, cristãos, é uma excelente oportunidade para nos recolhermos e encontrarmos com o Senhor, agradecendo tudo aquilo que pela Sua graça recebemos no ano que se fecha e partilhando com Ele, em íntima comunhão, os nossos mais profundos anseios e desejos para o ano que nasce. Nem os mais firmes ateus podem negar a forma como Jesus Cristo mudou o rumo da Humanidade e se afirmou Senhor da História e do Mundo. 2012 anos depois de Cristo, ninguém resiste – como em todos os anos – a fazer balanços de vida, pesando objectivos concretizados e perspectivando projectos a realizar. Em cada ano, dá-nos o Senhor a oportunidade de renascer de novo e é graças à Eucaristia que a Igreja está sempre a nascer de novo! Igreja essa que outra coisa não é senão aquela rede em que todos nós, que recebemos o mesmo Senhor, nos tornamos um só corpo e abraçamos o mundo inteiro, como nos lembra o Santo Padre Bento XVI.
Que o ano de 2012 não será certamente fácil, estamos saturados de o ouvir. A tensão socioeconómica que se vive parece ser um fardo – qual Cruz – que estamos irremediavelmente destinados a transportar. Possam os mais altos governantes das nações e o mais comum dos cidadãos entender a recessão não financeira mas moral que perigosamente vivemos. Que o Senhor dê a cada um a ciência de compreender que as transformações sociais não se podem implantar verticalmente, de cima para baixo, mas que a solução da crise tem o seu ponto de partida no coração de cada um e será tanto mais eficaz quanto mais concretamente se cumprir o mandamento "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", quanto mais compreendermos que o bem comum é a moeda mais valiosa na bolsa de valores sociais.
Que cada um de nós, neste ano de 2012, se empenhe por um Mundo mais justo e fraterno, esforçando-se por ser "pão partido" para os outros, de modo a que a nossa atitude seja um incessante Magnificat.