As sete tentações dos Jovens
Quem me avisa, meu amigo é. Sou amigo dos jovens. Por isso os quero pôr de sobreaviso contra o que julgo poder chamar as suas tentações maiores.
Primeira: Desperdiçar o tempo da juventude pelo desaproveitamento das oportunidades únicas de valorização intelectual, moral, social e até física, postas à disposição da generalidade dos jovens de hoje: na família e na escola, na catequese e aula de Religião, nos movimentos de juventude e grupos de reflexão, no desporto e na convivência amiga com outros jovens. Encarar tais oportunidades só pelos falsos critérios do divertimento e do menor esforço é lamentável tentação, de que só tarde demais se vem a dar conta.
Segunda: Entrar no jogo da competição, tudo fazendo por ultrapassar os outros: estudo desalmado, cunhas, lisonja, deslealdades. Quem guarda para si certos trunfos e se alegra com o fracasso dos que vão ficando para trás, cai numa das tentações mais típicas dos nossos dias: a de vencer na vida sem olhar aos meios.

Terceira: Comer, beber, divertir-se, procurar o prazer sem ter em conta o que há de profundamente deseducativo em não disciplinar os apetites e de profundamente injusto para os milhões de seres humanos que passam fome, sede, miséria e sofrimento, por lhes faltar o que sobra aos outros. Esta tentação, igualmente típica da nossa sociedade consumista e hedonista, está a atingir em cheio os jovens dos nossos dias.
Quarta: Reagir com impaciência e chegar mesmo à violência quando as coisas não correm bem, quando se não tem o que apetece, quando se sofre contestação ou afronta Esta tentação contra uma das mais importantes virtudes humanas, que é a paciência, própria dos espíritos fortes, leva às atitudes de rebeldia e aos grupos de pressão, tendentes a tudo querer resolver a ferro e fogo.
Quinta: O culto do sexo, em grande parte fruto duma falsa visão da sexualidade humana, que separa realidades de sua natureza indissociáveis: genitalidade e a afectividade, o amor humano e a família, a relação sexual e a transmissão da vida. Tal tentação afronta a dignidade humana, atenta contra a instituição familiar, esteriliza a sociedade. Radicada no desequilíbrio duma natureza humana decaída, esta tentação avoluma-se hoje com as modas da emancipação e destruição de "tabus", ao serviço, consciente ou inconscientemente, dos empórios comerciais do sexo, da pornografia, da prostituição, dos contraceptivos. Qual o ou a jovem que não a experimenta?
Sexta: A visão egoísta da vida que leva a pensar só ou sobretudo nos próprios interesses, insensível às necessidades dos outros e aos grandes movimentos de solidariedade. Tal tentação, que dá mais valor ao ter que ao ser alimenta a "moral" do mais forte, que tranquiliza a consciência perante os contrastes entre o mundo da riqueza e a da miséria... tal tentação já atingiu a juventude numa das suas mais belas virtudes, a generosidade.
Sétima: Finalmente, mas não menos grave, a tentação da auto-suficiência, do amor próprio, do menosprezo dos outros, até dos próprios pais, considerados menos cultos, menos espertos, menos aptos para as vitórias deste mundo competitivo. É tentação fundamental, subjacente a todas as outras, incapaz de compreender o valor da verdadeira humildade, a virtude sem a qual nada de sólido se pode construir no edifício moral de cada homem e de toda a sociedade.
D. Manuel Falcão, Bispo Emérito de Beja