Irmandade Nossa Senhora da Rocha
Desde que a Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha foi encontrada, em 31 de Maio de 1822, se colocou a questão de a que entidade confiar a Imagem, as ofertas a ela realizadas e a difusão do culto a Nossa Senhora da Conceição representada na Imagem. Ao longo dos tempos, foram três as entidades da Igreja Católica que tiveram a seu cargo essa tarefa e é essa história que vos damos a conhecer.
1. A Comissão
Logo após ter sido encontrada, em 31 de Maio de 1822, a Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha foi transladada para a Sé Patriarcal de Lisboa, em Agosto de 1822, por ordem do rei D. João VI, alegando que o local onde a Imagem tinha sido encontrada não reunia as condições para se prestar um culto digno a Nossa Senhora da Conceição, representada nessa Imagem.
Na própria Portaria mandada publicar pelo rei D. João VI, em 27 de Julho de 1822, na qual ordena que a Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha recolha à Sé Patriarcal, especifica que o Colégio Patriarcal venha a criar uma “Comissão”para tratar das oblações e esmolas, as quais deveriam ser usadas em objectos pios. Esta Comissão veio a ser criada em 9 de Janeiro de 1823 e foi reorganizada quase 30 anos mais tarde, por Decreto de 4 de Outubro de 1852.
A Comissão foi uma espécie de “pré-Irmandade” e veio a ser dissolvida pela Direcção-Geral dos Negócios Eclesiásticos do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, em 21 de Junho de 1872, tendo sido determinado que as alfaias, jóias, dinheiros e quaisquer outros objectos pertencentes ao culto de Nossa Senhora da Conceição da Rocha fossem entregues à Mesa da Real Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, que tinha sido criada 4 meses antes.
2. A Real Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha erecta na Sé Patriarcal de Lisboa
Em 27 de Fevereiro de 1872, estando ainda a Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha na Sé Patriarcal de Lisboa, foi instituída, por Alvará do Governador Civil do Distrito de Lisboa, uma Irmandade com a designação de “Real Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha”.
Esta Irmandade tinha por fim a divulgação do culto a Nossa Senhora da Conceição da Rocha e a gestão dos bens entregues à respectiva Imagem.
Veio a ser extinta por Alvará do Governador Civil de Lisboa, em 20 de Agosto de 1883, na sequência do processo de trasladação da Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, da Sé Patriarcal de Lisboa para a Igreja Paroquial de São Romão de Carnaxide, ocorrido após grande influência de Tomás Ribeiro, o qual tinha ficado cativado pelos desejos da população local em lhe ser restituída a Imagem que tinha sido transladada para a Sé Patriarcal de Lisboa 61 anos antes.
3. A Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha
Com a trasladação da Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, da Sé Patriarcal de Lisboa para a Igreja Paroquial de São Romão de Carnaxide, é criada a “Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha”, erecta na Igreja Paroquial de São Romão de Carnaxide, cuja instituição foi autorizada e reconhecida por alvará do Governador Civil do Distrito de Lisboa, em 19 de Setembro de 1883.
Em Maio de 1893, a Imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha deixa a Igreja Paroquial de São Romão de Carnaxide, regressando definitivamente ao local onde tinha sido encontrada, 71 anos antes, em virtude de se ter concluído a construção do Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, precisamente por cima da Gruta da Aparição. Com essa ocorrência, a Irmandade deixa de estar erecta na Igreja Paroquial de São Romão de Carnaxide e passa a estar erecta no Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha.
Por alvará real de 18 de Outubro de 1899, o Rei D. Carlos I concede, à Irmandade, o privilégio de usar o título de Real Irmandade, passando esta a designar-se por “Real Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha”. Com a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, e a consequente queda da Monarquia, o título de Real Irmandade desapareceu, regressando a Irmandade ao seu nome original de “Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha”, aliás como vem expresso na versão dos Estatutos da Irmandade aprovada pouco depois da revolução republicana.
Actualmente, a Irmandade assegura, em nome do Patriarcado de Lisboa, a gestão de todo o património do Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, e persegue os seguintes fins (artigo 2.º dos Estatutos da Irmandade): a) promover, subsidiar e intensificar o culto da Nossa Senhora da Conceição; b) fomentar a vocação cristã dos seus membros e colaborar activamente em acções de formação cristã na Paróquia e seus movimentos; c) sufragar as almas dos seus irmãos e benfeitores falecidos; d) socorrer os pobres da Paróquia tanto quanto as posses da Irmandade o permitam, particularmente os mais necessitados, devendo para tanto elaborar a respectiva regulamentação; e) relacionar-se com as outras organizações locais para a realização dos objectivos referidos.
Zorro Mendes