A palavra convence, a beleza atrai
Intervenção do Cardeal Patriarca de Lisboa no encerramento da 3.ª sessão do ciclo "Eis o Homem", sobre «A Beleza»
Na missão da Igreja, os dois verbos têm o seu lugar. Mas sempre que a Igreja privilegia ou se limita a tentar convencer, perde parte da sua acutilância e da sua capacidade de trazer pessoas ao Mistério. Está aqui também a resposta a um dos porquês aqui levantados: porque é que os templos são belos? porque é que a Liturgia deve ser bela? Porque é que esta noite foi bela? É porque a Igreja nem sempre se limitou a tentar convencer. Percebeu sempre que era preciso atrair.
Isto realça, inevitavelmente, a relação entre a beleza e a verdade. Há várias abordagens desta questão, desde a época clássica, em que a beleza produzida na arte humana era considerada parte das imagens fugitivas, que não podiam exprimir a verdade que pertencia ao mundo das ideias divinas, até João Paulo II que referindo-se ao bem, ao amor que era praticado pelos cristãos lhe chamou o Esplendor da Verdade – "Veritatis Splendor".
A palavra e a beleza são duas linguagens da abordagem do mistério, da revelação do mistério. A palavra revela, a beleza desvela.
Foi dito que a verdade acaba sempre por relativizar, denunciar as formas humanas de beleza produzidas pelos artistas. É sobretudo a verdade captada no Mistério da Revelação – verdade, mistério e beleza – que interpela inevitavelmente todas as formas finitas, já produzidas, de beleza, para que vão mais longe e que, a partir da luz, que nelas já brilha, uma luz maior possa brilhar.
A beleza é sempre um raio de luz que toca no coração dos homens e é sempre, mesmo que não se saiba, uma experiência de eternidade, uma experiência do divino.
Muito obrigado a todos por terem participado nestas nossas sessões. Muito obrigado aos artistas, aos músicos que nos acompanharam, ajudando a criar uma experiência concreta de beleza. Obrigado aos intervenientes desta noite, que foram realmente mãos santas com corações de sábio. Muito obrigado.»
Sé Patriarcal de Lisboa, 24-05-2007
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca