175 anos do nascimento da Beata Maria Clara
A CONFHIC, Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, está a celebrar o ano jubilar do 175.º aniversário do nascimento da sua Fundadora, a Bem-Aventurada Maria Clara do Menino Jesus.
O Ano Jubilar pretendeu fazer memória das maravilhas de Deus na vida desta mulher que vislumbrou no meio da noite, qual sentinela vigilante, os sinais da aurora no olhar providente de Deus.
A Paróquia de Queijas tem a graça de acolher a sua Sede Geral, em Linda-a-Pastora, bem como os restos mortais da Madre Clara, na cripta do Convento, e orgulha-se do bem-fazer que estas irmãs são para a nossa comunidade e para a Igreja.
No próximo Domingo – dia 17 de Junho, D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa, encerrará este jubileu presidindo à Eucaristia das 11h00, na Matriz de Queijas, a qual será transmitida pela TVI.
Que todos nós possamos viver e testemunhar o carisma que a Bem-aventurada Maria Clara do Menino Jesus deixou à Igreja. Louvemos o Senhor!
Bem-aventurada
Maria Clara do Menino Jesus,
Uma vida a seguir! Uma história a percorrer!
No culminar da primeira metade do Século XIX, um panorama toldado pelo declínio ideológico tradicional português esconde sinais promissores de uma história inédita. O ano de 1843 vê nascer Maria Clara, força humilde e mobilizadora de socorro aos desvalidos. Na intimidade familiar bebeu a pureza e a audácia da fé cristã, num tempo de perseguição à Igreja Católica.
Atenta ao mundo que a rodeava, de coração aberto e compassivo, a Bem-aventurada Maria Clara realçou, numa obra imensa, o que um desejo apenas pode esboçar. Estendeu, tanto na sua pátria como além-mar, uma assistência materna de alcance alargado a quem mais necessitava de cuidados de hospitalidade. Pioneira da ação social portuguesa, movia-a a dignidade ameaçada de vidas deitadas à sorte das adversidades: vidas inseguras, frágeis, esquecidas, ignoradas. Não poupava esforços ou meios humanos que pudessem ser resposta a qualquer pedido ou necessidade.
Passa a sua vida e um rasto de luz permanece. Uma vida notável, reconhecida, familiar, que apetece visitar, não tanto por ter brilho em si, mas pelo esplendor divino que soube irradiar. Muitas outras vidas seguem hoje os seus passos, vidas doadas, gratas, atraídas ao Mestre que ela soube indicar.
Oração jubilar
Deus Pai,
fonte de vida e de beleza,
Senhor de toda a humana criatura!
Jubilosos, agradecemos a semente de bem
depositada no coraçãoda Beata Maria Clara do Menino Jesus,
semente que germinou e se expandiu
como dom ao mundo inteiro.
Teu filho Jesus acenda em nós
uma aurora de esperança que,
brotando do teu olhar providencial,
ilumine o nosso testemunho.
Impelidos pelo Espírito na missão
de fazer o bem onde houver o bem a fazer,
com gestos pequenos e audazes,
como Mãe Clara,
ousaremos construir um outro futuro
possível e diferente.
Imaculada Conceição,
Senhora do tempo novo,
peregrina da alegria,
coração exultante pelas maravilhas de Deus,
sê portadora do nosso louvor,
pela bênção e pela graça
deste Ano Jubilar! Amen
Qual a âncora da minha vida?
Que perfume deixo à minha passagem?
Que recebem os outros das minhas mãos?
Clara é o seu nome e a sua vida.
Sentinela na noite que soube antever e esperar a Aurora.
Vida ancorada no olhar providente de Deus.
Avança para a meta, derramando o bálsamo da Hospitalidade.
Apontamento biográfico da Bem-aventurada Maria Clara do Menino Jesus
Maria Clara do Menino Jesus nasceu em 25 de Junho de 1843 na Quinta do Bosque, propriedade de sua família, situada no termo da actual cidade da Amadora. Foi baptizada na igreja paroquial de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, a 2 de Setembro seguinte com o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque.
Como os apelidos indicam, Libânia veio ao mundo no seio da nobreza. Terceira de sete filhos, viveu uma infância feliz no ambiente cristão do seu lar. Mas logo na adolescência experimentou o sofrimento doloroso da orfandade. Sua mãe faleceu em 1856 e o pai um ano depois, ambos vitimados pela epidemia de cólera que então grassava em Lisboa.
Depois de ter permanecido cinco anos no Asilo Real da Ajuda e outros tantos em casa dos Marqueses de Valada, seus parentes e amigos, Libânia transferiu-se em 1867 para o Pensionato de S. Patrício, instalado no antigo convento do mesmo nome, junto à muralha do Castelo de S. Jorge. Dois anos mais tarde tomou hábito no Recolhimento de terceiras franciscanas seculares capuchinhas de Nossa Senhora da Conceição, também sedeado em S. Patrício, com o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus, que haveria de usar até à morte.
A casa de S. Patrício era dirigida pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão, antigo membro da Ordem Terceira Regular de S. Francisco, que fora obrigado a abandonar o convento pelo decreto de supressão dos institutos religiosos de 1834. Depois de exclaustrado, dedicou-se à pregação e ao socorro dos órfãos e dos pobres. O seu encontro com Libânia, depois Irmã Maria Clara, foi providencial. Viu nela a mulher escolhida por Deus para, com ele, fundar uma Congregação que, imitando o bom samaritano do Evangelho, minorasse as graves carências da população portuguesa da época.
O projecto viria a realizar-se a partir de S. Patrício. Para beneficiar da experiência de outra Congregação franciscana já consolidada, em Fevereiro de 1870 o Padre Beirão enviou a Irmã Maria Clara mais três companheiras do Recolhimento a fazer o noviciado nas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras e Mestras de Calais, no norte da França, onde professou a 14 de Abril de 1871. Regressada de imediato a Portugal, o Padre Beirão, logo no dia 3 de Maio, empossou-a como superiora e mestra de noviças das recolhidas capuchinhas que aderiram à reforma da sua agremiação. Foi o momento fundacional da nova Congregação.
O instituto recém-criado foi aprovado pelo Governador Civil de Lisboa, por alvará de 22 de Maio de 1874, com a designação de Irmãs Hospitaleiras dos Pobres por Amor de Deus, mas somente como «associação de beneficência». Não era possível outra forma de reconhecimento pela autoridade civil pois as congregações religiosas estavam proibidas em Portugal desde 1834.
O passo seguinte foi a aprovação pontifícia da Congregação pelo Papa Pio IX a 27 de Março de 1876. O novo estatuto canónico garantia segurança institucional à jovem comunidade religiosa. Por iniciativa do Padre Beirão, a Irmã Maria Clara assumiu a responsabilidade da mesma como Superiora Geral em cerimónia familiar realizada a 3 de Maio de 1876, quinto aniversário da fundação. Tinha 33 anos. As irmãs começaram a chamar-lhe Fundadora e a dar-lhe, na intimidade, o nome de Mãe Clara.
Dois anos depois, a 13 de Julho de 1878, o Padre Beirão faleceu. A sua inspiração esteve sempre presente no modo como a Irmã Maria Clara dirigiu a Congregação até à morte, ocorrida a 1 de Dezembro de 1899.
Actividade caritativa da Congregação
A Congregação desenvolveu uma actividade marcante em Portugal no último terço do século XIX. Durante este período, as irmãs trabalharam em 45 hospitais, 26 colégios, 15 asilos de inválidos, 14 asilos de infância e 6 cozinhas económicas. Embora localizada maioritariamente na região de Entre Douro e Minho, esta centena de casas estava disseminada por todo o país incluindo pequenas cidades e vilas do interior. Parte significativa das instituições servidas pelas irmãs pertencia a Misericórdias.
A Congregação irradiou também para o Ultramar. Por vezes a pedido do próprio Governo, o qual, apesar do decreto de extinção dos institutos religiosos de 1834, aceitava a presença das congregações dedicadas à assistência, à educação e às missões ultramarinas. Neste contexto as irmãs prestaram serviço nos hospitais de Bolama (Guiné-Bissau), Goa, Luanda (Angola) e Santiago da Praia (Cabo Verde).
O aumento constante e extraordinário do número de irmãs permitia à Irmã Maria Clara atender as solicitações que lhe iam chegando das mais variadas procedências. A tabela estatística da Congregação nos primeiros trinta anos é reveladora. As religiosas professas passaram de 3 em 1871 para 150 em 1880, 355 em 1890 e 468 em 1900. Mesmo assim não foi possível atender favoravelmente todos os pedidos.
No governo da Congregação a Irmã Maria Clara não actuava como gestora de pessoas e serviços. O espírito que a animava era outro e ficou bem manifesto num episódio da sua vida. Um dia, ao ver grupos de adultos e crianças a mendigar, vestidos de andrajos e sob um frio rigoroso, disse às meninas que a acompanhavam: «Olhem, aquela é que é a minha gente!... Que pena tenho de não os poder socorrer!…»
Estimuladas pelo exemplo da Fundadora, as Irmãs Hospitaleiras souberam concretizar no quotidiano a divisa do seu brasão: Lucere et fovere. Alumiar e aquecer. Iluminaram o espírito de crianças e jovens a abrir para as grandes opções da vida. Aconchegaram a existência de doentes e idosos, tantas vezes fragilizada por circunstâncias adversas.
A gesta caritativa da Congregação documenta a vitalidade interna da Igreja Católica no período final do século XIX. Não é possível escrever a história da assistência e da educação em Portugal nessa época sem referir o contributo abnegado das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras.
(Cf. Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, Maio 2011)