Papa Francisco em Milão
Uma multidão de 80 mil jovens acolheu entusiasticamente o Papa Francisco no Estádio de S. Siro, em Milão. Uma verdadeira festa da fé, com muita música, cores e danças.
No encontro com os crismandos, o Papa respondeu a algumas perguntas feitas por um jovem crismando, por um casal e por uma catequista.
Um jovem:
“Quando tinhas a nossa idade, o que te ajudou a fazer crescer a amizade com Jesus?”
“São três coisas, com um fio unindo as três”. Os avós podem ajudar a crescer na amizade com Jesus, esta é a minha experiência, disse o Papa Francisco.^“A minha avó ensinou-me a rezar, bem como a minha mãe”. “Os avós têm a sabedoria da vida”, reiterou o Papa, e com esta sabedoria “ensinam-nos como caminhar próximos a Jesus”. “Falem com vossos avós. Perguntem-lhes, escutem-nos, falem com eles”.
Depois, “brincar com os amigos também me ajudou muito” – acrescentou o Papa – pois é bom “sentir alegria nas brincadeiras com os amigos, sem insultos”, e pensar, “assim brincava Jesus”. “Faz-nos bem brincar com os amigos, porque quando o jogo é limpo, se aprende a respeitar os outros, se aprende a fazer uma equipa, a trabalhar juntos. E isto une-nos a Jesus”. E se houver brigas, “pedir desculpa, pedir perdão”.
Por fim, uma terceira coisa que o ajudou muito a crescer na amizade com Jesus: ir à paróquia, reunir-se com os outros. É algo importante. Estas três coisas... um conselho que dou a todos vós. Tudo isto vos ajudará a crescer na amizade com Jesus. “Com estas três coisas tu rezarás mais. E a oração é aquele fio que une as três coisas”.
Um pai:
“Como transmitir aos nossos filhos a beleza da fé? Às vezes parece realmente difícil poder falar deste tema sem sermos chatos e banais e partilhar com eles a fé? Que palavras usar?"
Em resposta, o Papa convidou os pais a recordarem-se das pessoas “que deixaram uma marca” na fé deles e “o que deles ficou marcado”, pedindo que por alguns minutos “voltassem a ser filhos para recordar as pessoas” que os ajudaram a acreditar. “Todos trazemos na memória, mas especialmente no coração, alguém que nos ajudou a acreditar”, observou.
O Papa explicou ainda que os filhos observam o comportamento dos adultos, “captando tudo”, “tirando as suas conclusões e os seus ensinamentos”. Neste sentido, aconselha os pais “a terem cuidado, a terem cuidado com os seus corações, da sua alegria e da sua esperança”.
Quando se coloca um filho no mundo deve-se ter a consciência de que temos a responsabilidade de fazê-lo crescer na fé. E acrescentou, que quando os pais brigam, as crianças sofrem e não crescem na fé.
“Os “olhos” de vossos filhos pouco a pouco memorizam e lêem com o coração como a fé é uma das melhores heranças que vocês receberam de vossos pais, de vossos antepassados. Mostrar-lhes como a fé nos ajuda a seguir em frente, a enfrentar os tantos dramas que temos, não com uma atitude pessimista, mas confiante, este é o melhor testemunho que lhes podemos dar”.
Há uma expressão que diz: “As palavras são levadas pelo vento”, mas aquilo que se semeia na memória, no coração, permanece para sempre!
O Papa observou ainda que, em muitos lugares, as famílias têm a bonita tradição de irem juntas à Missa e depois a um parque. Assim, é que a fé se torna uma exigência da família com outras famílias. Neste sentido, Francisco também exortou os pais a brincarem com filhos, a “perderem tempo” com eles.
Também educar à solidariedade, às obras de misericórdia. Neste ponto o Papa colocou o acento “na festa, na gratuidade, no buscar outras famílias e viver a fé como um espaço de prazer familiar”. A isto deve ser acrescentado outro elemento: “não existe festa sem solidariedade”. Não dar o supérfluo, “mas dividir com os outros aquilo que temos”.
Uma catequista:
"Como se abrir à escuta e ao diálogo, nós educadores que trabalhamos com os jovens?"
A educação deve ser harmónica, respondeu o Papa. Educar com o conteúdo, as atitudes na vida e os valores. Mas nunca educar somente, por exemplo, com noções, ideias. Também o coração se deve fazer crescer na educação, o fazer, o modo de caminhar na vida.
Uma educação baseada no pensar-fazer-sentir (cabeça-mãos-coração). O conhecimento é multiforme, nunca é uniforme. Não separar. Não educar somente o intelecto – dar noção intelectual é importante, mas isto, sem o coração e as mãos, não serve.
Os jovens/alunos tem interesses e facilidades diferentes. Para isto – diz o Papa – o professor deve estimular as boas qualidades dos seus alunos.
O Papa, por fim, chama a atenção para o bullying. “Estejam atentos!”.
Agora pergunto-vos, caros crismandos... escutem em silêncio: na vossa escola, no vosso bairro, há alguém que insultais e enganais, porque ele tem algum defeito, porque é gordo, magro, isto ou aquilo?...pensem bem! Vós gostais de fazê-los passar vergonha e de bater neles por isto? Pensai! Isto é bullying. Por favor... ainda não acabei... Por favor! Para o Sacramento do Crisma, façam a promessa ao Senhor de nunca fazer isto e nunca permitir que se faça isto no vosso colégio, escola, bairro… Entendido? E prometam-me nunca enganar, insultar o companheiro. Prometem isto hoje? (Siiim, respondem!). O Papa não está contente com a resposta. Prometem isto? (Siiim, respondem!). Este sim disseram ao Papa. Agora em silêncio, pensem que coisa ruim é isto e pensem se sois capazes de prometer isto a Jesus. Prometem a Jesus nunca fazer.
O Papa Francisco deixou-nos, ainda, algumas provocações:
– “O evangelizador triste é aquele que não está convencido que Jesus é alegria.”
– “A Igreja tem sempre necessidade de ser restaurada.”
– “Paradoxalmente, quando tudo evolui para construir, em teoria, uma sociedade melhor, no fim não há tempo para nada nem para ninguém.”
– “Talvez os pais tenham perdido o hábito de brincar com os seus filhos, no meio da confusão que é a vida actual, que tolhe a nossa humanidade.”
Milão, 25-03-2017