PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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Papa Francisco na Jordânia

Papa Jordania1Peregrinação do Papa Francisco à Terra Santa
por ocasião do 50º Aniversário do Encontro em Jerusalém entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras - 24-26 de Maio de 2014.

24 de Maio de 2014:
– Encontro com as Autoridades do Reino da Jordânia;
– Santa Missa no Estádio Internacional de Amã;
– Encontro com os refugiados e com jovens deficientes em Betânia junto do Jordão, Igreja Latina.


Encontro com as Autoridades Jordanas
Cerimónia de Boas-vindas
Palácio Real Al-Hussein – Aman, 24 de Maio de 2014

Discurso do Papa Francisco

Majestade, Excelências, Amados Irmãos Bispos, Queridos Amigos!
Agradeço a Deus por poder visitar o Reino Hachemita da Jordânia, seguindo os passos dos meus antecessores Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, e agradeço a Sua Majestade o Rei Abdullah II pelas suas cordiais palavras de boas-vindas, com viva recordação do recente encontro no Vaticano. Estendo a minha saudação aos membros da Família Real, ao Governo e ao povo da Jordânia, uma terra rica de história e de grande significado religioso para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Este País oferece generoso acolhimento a um grande número de refugiados palestinenses, iraquianos e vindos de outras áreas de crise, nomeadamente da vizinha Síria, abalada por um conflito que já dura há muito tempo. Tal acolhimento merece, Majestade, a estima e o apoio da comunidade internacional. A Igreja Católica quer, na medida das suas possibilidades, empenhar-se na assistência aos refugiados e a quem vive em necessidade, sobretudo através da Cáritas Jordana.

Ao mesmo tempo que constato, com pena, a persistência de fortes tensões na área médio-oriental, agradeço às autoridades do Reino aquilo que fazem e encorajo a continuarem a empenhar-se na busca da desejada paz duradoura para toda a região; para tal objectivo, torna-se imensamente necessária e urgente uma solução pacífica para a crise síria, bem como uma solução justa para o conflito israelita-palestinense.

Aproveito esta oportunidade para renovar o meu profundo respeito e a minha estima à comunidade muçulmana e manifestar o meu apreço pela função de guia desempenhada por Sua Majestade o Rei na promoção duma compreensão mais adequada das virtudes proclamadas pelo Islã e da serena convivência entre os fiéis das diferentes religiões. Sua Majestade é conhecido como um homem de paz e artífice de paz: obrigado! Exprimo a minha gratidão à Jordânia por ter incentivado uma série de importantes iniciativas em prol do diálogo inter-religioso visando promover a compreensão entre judeus, cristãos e muçulmanos, nomeadamente a «Mensagem Inter-religiosa de Aman», e por ter promovido no âmbito da ONU a celebração anual da «Semana de Harmonia entre as Religiões».

Uma saudação cheia de afecto quero agora dirigir às comunidades cristãs, acolhidas por este Reino, comunidades presentes no país desde a era apostólica elas oferecem a sua contribuição para o bem comum da sociedade na qual estão plenamente inseridas. Embora hoje sejam numericamente minoritárias, conseguem desempenhar uma qualificada e apreciada acção no campo da educação e da saúde, através de escolas e hospitais, e podem professar com tranquilidade a sua fé, no respeito da liberdade religiosa, que é um direito humano fundamental, esperando vivamente que o mesmo seja tido em grande consideração em todo o Médio Oriente e no mundo inteiro. Tal direito «implica tanto a liberdade individual e colectiva de seguir a própria consciência em matéria de religião, como a liberdade de culto (...), a liberdade de escolher a religião que se crê ser verdadeira e de manifestar publicamente a própria crença» (Bento XVI, Exort. ap. Ecclesia in Medio Oriente, 26). Os cristãos sentem-se e são cidadãos de pleno direito e pretendem contribuir para a construção da sociedade, juntamente com os seus compatriotas muçulmanos, oferecendo a sua específica contribuição.

Por fim, formulo sentidos votos de paz e prosperidade para o Reino da Jordânia e seu povo, com a esperança de que esta visita contribua para incrementar e promover boas e cordiais relações entre cristãos e muçulmanos. E que o Senhor Deus nos defenda a todos daquele medo da mudança a que aludia Sua Majestade.

Agradeço-vos pela vossa calorosa recepção e cortesia. Deus Omnipotente e Misericordioso conceda a Suas Majestades felicidade e longa vida e cubra a Jordânia com as suas bênçãos. Salam!

Aman, 24 de Maio de 2014


Missa no Estádio Internacional de Aman
Aman, 24 de Maio de 2014

Homilia da Missa do papa Francisco

Ouvimos, no Evangelho, a promessa de Jesus aos discípulos: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14, 16). O primeiro Paráclito é o próprio Jesus; o «outro» é o Espírito Santo.

Aqui não estamos muito longe do lugar onde o Espírito Santo desceu poderosamente sobre Jesus de Nazaré, depois de João O ter baptizado no rio Jordão (cf. Mt 3, 16), e hoje irei lá. Por isso, o Evangelho deste domingo e também este lugar, onde, graças a Deus, me encontro como peregrino, convidam-nos a meditar sobre o Espírito Santo, sobre aquilo que Ele realiza em Cristo e em nós e que podemos resumir da seguinte maneira: o Espírito realiza três acções, ou seja, prepara, unge e envia.

No momento do baptismo, o Espírito pousa sobre Jesus a fim de O preparar para a sua missão de salvação; missão caracterizada pelo estilo do Servo humilde e manso, pronto à partilha e ao dom total de Si mesmo. Mas o Espírito Santo, presente desde o início da história da salvação, já tinha agido em Jesus no momento da sua concepção no ventre virginal de Maria de Nazaré, realizando o evento maravilhoso da encarnação: «O Espírito Santo virá sobre ti – diz o Anjo a Maria – e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra, e tu darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus» (cf. Lc 1, 35.31). Depois, o Espírito Santo tinha actuado sobre Simeão e Ana, no dia da apresentação de Jesus no Templo (cf. Lc 2, 22). Ambos à espera do Messias, ambos inspirados pelo Espírito Santo, Simeão e Ana, à vista do Menino, intuem que Ele é mesmo o Esperado por todo o povo. Na atitude profética dos dois anciãos, exprime-se a alegria do encontro com o Redentor e, de certo modo, actua-se uma preparação do encontro entre o Messias e o povo.

As diferentes intervenções do Espírito Santo fazem parte de uma acção harmónica, de um único projecto divino de amor. Com efeito, a missão do Espírito Santo é gerar harmonia – Ele mesmo é harmonia – e realizar a paz nos vários contextos e entre os diferentes sujeitos. A diferença de pessoas e a divergência de pensamento não devem provocar rejeição nem criar obstáculo, porque a variedade é sempre enriquecedora. Por isso hoje, com coração ardente, invoquemos o Espírito Santo, pedindo-Lhe que prepare o caminho da paz e da unidade.

Em segundo lugar, o Espírito Santo unge. Ungiu interiormente Jesus, e unge os discípulos para que tenham os mesmos sentimentos de Jesus e possam, assim, assumir na sua vida atitudes que favoreçam a paz e a comunhão. Com a unção do Espírito, a nossa humanidade é marcada pela santidade de Jesus Cristo e tornamo-nos capazes de amar os irmãos com o mesmo amor com que Deus nos ama. Portanto, é necessário praticar gestos de humildade, fraternidade, perdão e reconciliação. Estes gestos são pressuposto e condição para uma paz verdadeira, sólida e duradoura. Peçamos ao Pai que nos unja para nos tornarmos plenamente seus filhos, configurados cada vez mais a Cristo, a fim de nos sentirmos todos irmãos e, assim, afastarmos de nós rancores e divisões e nos podermos amar fraternalmente. Isto mesmo nos pediu Jesus no Evangelho: «Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14, 15-16).

E, por último, o Espírito Santo envia. Jesus é o Enviado, cheio do Espírito do Pai. Ungidos pelo mesmo Espírito, também nós somos enviados como mensageiros e testemunhas de paz. Quanta necessidade tem o mundo de nós como mensageiros de paz, como testemunhas de paz! É uma necessidade que o mundo tem. Também o mundo nos pede para lhe fazermos isso: levar a paz, testemunhar a paz!

A paz não se pode comprar, não está à venda. A paz é um dom que se deve buscar pacientemente e construir «artesanalmente» através dos pequenos e grandes gestos que formam a nossa vida diária. Consolida-se o caminho da paz, se reconhecermos que todos temos o mesmo sangue e fazemos parte do género humano; se não nos esquecermos que temos um único Pai no Céu e que todos nós somos seus filhos, feitos à sua imagem e semelhança.

Neste espírito, vos abraço a todos: o Patriarca, os irmãos Bispos, os sacerdotes, as pessoas consagradas, os fiéis leigos, a multidão de crianças que hoje fazem a Primeira Comunhão e os seus familiares. Com todo o meu coração saúdo também os numerosos refugiados cristãos; e não só eu, mas todos nós saudamos, com todo o nosso coração, os numerosos refugiados cristãos que vieram da Palestina, da Síria e do Iraque: levai às vossas famílias e comunidades a minha saudação e a minha solidariedade.

Queridos amigos, queridos irmãos, o Espírito Santo desceu sobre Jesus no Jordão e deu início à sua obra de redenção para libertar o mundo do pecado e da morte. A Ele pedimos que prepare os nossos corações para o encontro com os irmãos independentemente das diferenças de ideias, língua, cultura, religião; que unja todo o nosso ser com o óleo da sua misericórdia que cura as feridas dos erros, das incompreensões, das controvérsias; pedimos a graça que nos envie, com humildade e mansidão, pelas sendas desafiadoras mas fecundas da busca da paz. Amen!

Aman, 24 deMaio de 2014


Encontro com os Refugiados e com Jovens deficientes

Betânia junto do Jordão, Igreja Latina
Sábado, 24 de Maio de 2014

Discurso do Papa Francisco

Estimadas Autoridades, Eminências, Excelências, Amados irmãos e irmãs!
Na minha peregrinação, desejei ardentemente encontrar-me convosco que, devido a conflitos sangrentos, tivestes de deixar as vossas casas e a vossa pátria, encontrando refúgio nesta terra hospitaleira da Jordânia e também convosco, queridos jovens, que sentis o peso de alguma limitação física.

Este lugar, onde nos encontramos, lembra-nos o baptismo de Jesus. Vindo aqui ao Jordão para ser baptizado por João, mostra a sua humildade e a partilha da condição humana: abaixa-Se até nós e, com o seu amor, devolve-nos a dignidade e dá-nos a salvação. Não cessa de nos impressionar esta humildade de Jesus, que Se debruça sobre as feridas humanas para as curar, este debruçar-Se de Jesus sobre as feridas humanas para as curar. E, da nossa parte, ficamos profundamente tocados com os dramas e as feridas do nosso tempo, especialmente as feridas provocadas pelos conflitos ainda em curso no Médio Oriente. Penso, em primeiro lugar, na amada Síria, dilacerada por uma luta fratricida que dura desde há três anos e já ceifou inúmeras vítimas, obrigando milhões de pessoas a tornarem-se refugiados e exilados noutros países. Todos queremos a paz! Mas, vendo este drama da guerra, vendo estas feridas, vendo tantas pessoas que deixaram a sua pátria, que foram forçadas a partir, eu pergunto-me: quem vende as armas a esta gente para fazer a guerra? Eis aqui a raiz do mal! O ódio e a avidez do dinheiro, no fabrico e na venda das armas. Isto deve-nos fazer pensar em quem está por detrás, que fornece, a todos aqueles que estão em conflito, as armas para continuar o conflito! Pensamos e, do fundo do nosso coração, dizemos também uma palavra a esta pobre gente criminosa: que se converta.

Agradeço às autoridades e ao povo jordano pela generosa hospitalidade dada a um número altíssimo de refugiados provenientes da Síria e do Iraque, e estendo os meus agradecimentos a todos aqueles que lhes prestam ajuda nas várias obras de assistência e solidariedade. Penso também na obra de caridade realizada por instituições da Igreja como a Cáritas Jordana e outras que, assistindo os necessitados sem distinção de crença religiosa, filiação étnica ou ideológica, manifestam o esplendor do rosto caritativo de Jesus, que é misericordioso. Deus todo-poderoso e clemente vos abençoe a todos e a cada um dos vossos esforços por aliviar os sofrimentos causados pela guerra!

Faço apelo à comunidade internacional para que não deixe sozinha a Jordânia, tão acolhedora e corajosa, a enfrentar a emergência humanitária provocada pela chegada ao seu território de um número tão alto de refugiados, mas continue e incremente a sua acção de apoio e ajuda. Renovo o meu apelo mais veemente pela paz na Síria. Cessem as violências e seja respeitado o direito humanitário, garantindo a necessária assistência à população que sofre! Todos ponham de parte a pretensão de deixar às armas a solução dos problemas e voltem ao caminho das negociações. Na realidade, a solução só pode vir do diálogo e da moderação, da compaixão por quem sofre, da busca de uma solução política e do sentido de responsabilidade pelos irmãos.

A vós, jovens, peço que vos unais à minha oração pela paz. Podeis fazê-lo também oferecendo a Deus as vossas fadigas diárias, tornando-se assim particularmente preciosa e eficaz a vossa oração. E encorajo-vos a colaborar, com o vosso empenho e a vossa sensibilidade, na construção duma sociedade respeitadora dos mais frágeis, dos doentes, das crianças, dos idosos. Apesar das dificuldades da vida, sede sinal de esperança. Vós estais no coração de Deus, vós estais nas minhas orações, e agradeço-vos pela vossa presença calorosa, entusiasta e numerosa. Obrigado!

No final deste encontro, renovo meus votos de que prevaleçam a razão e a moderação e que a Síria reencontre, com a ajuda da comunidade internacional, o caminho da paz. Deus converta os violentos! Deus converta aqueles que têm projectos de guerra! Deus converta aqueles que fabricam e vendem as armas e reforce os corações e as mentes dos obreiros da paz e os recompense com todas as bênçãos.

Que o Senhor vos abençoe a todos!

Aman, 24 de Maio de 2014

 

 

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