A vida consagrada ao serviço do Reino de Deus
«Que seria do mundo se não existissem os religiosos?»1. Deixando de lado as avaliações superficiais de funcionalismo, sabemos que a vida consagrada é importante precisamente por ser superabundância de gratuidade e de amor, o que se torna ainda mais verdadeiro num mundo que se arrisca a ficar sufocado na vertigem do efémero.
«Sem este sinal concreto, a caridade que anima a Igreja inteira correria o risco de refrear-se, o paradoxo salvífico do Evangelho de atenuar-se, o "sal" da fé de diluir-se num mundo em fase de secularização»2. A vida da Igreja e a própria sociedade têm necessidade de pessoas capazes de se dedicarem totalmente a Deus e aos outros por amor de Deus.
A Igreja não pode absolutamente renunciar à vida consagrada, porque esta exprime de modo eloquente a sua íntima essência «esponsal». Nela encontra novo impulso e vigor o anúncio do Evangelho a todo o mundo. Na verdade, há necessidade de quem apresente o rosto paterno de Deus e o rosto materno da Igreja, de quem ponha em jogo a própria vida, para que outros tenham vida e esperança. A Igreja precisa de pessoas consagradas que, ainda antes de se empenharem nesta ou naquela causa nobre, se deixem transformar pela graça de Deus e se conformem plenamente com o Evangelho.
A Igreja inteira encontra nas suas mãos este grande dom e, numa atitude de gratidão, dedica-se a promovê-lo com o seu apreço, a oração, o convite explícito a acolhê-lo. É importante que Bispos, presbíteros e diáconos, convencidos da excelência evangélica deste género de vida, trabalhem para descobrir e amparar os gérmenes de vocação, com a pregação, o discernimento e um sábio acompanhamento espiritual. A todos os fiéis, pede-se uma oração constante pelas pessoas consagradas, para que o seu fervor e a sua capacidade de amar aumentem continuamente, contribuindo para difundir, na sociedade atual, o bom perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2,15). Toda a Comunidade cristã — pastores, leigos e pessoas consagradas — é responsável pela vida consagrada, pelo acolhimento e amparo prestado às novas vocações3.
João Paulo II, in Exortação Apostólica Vita consecrata, n. 105, [25-03-1996]
Atendendo aos desafios da Exortação apostólica Vita consecrata procuremos responder à seguinte questão: Vida Consagrada: o que se fez, o que se faz, o que importa fazer?
1 S. TERESA DE JESUS, Livro da vida, c. 32, 11.
2 PAULO VI, Exort. ap. Evangelica testificatio (29 de Junho de 1971), 3: AAS 63 (1971), 498.
3 Cf. Propositio 48.