PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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Constituição Sinodal de Lisboa

DomManuel15D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, apresentou na Missa da Festa da Imaculada Conceição - no Mosteiro dos Jerónimos - a Constituição Sinodal que encerra a assembleia consultiva convocada em 2014, na qual se insiste em “virar as comunidades mais para fora”.

No final da Missa, D. Manuel Clemente disse aos jornalistas que é preciso “estar mais presente”, sobretudo “onde dói” e deu como exemplos os problemas ligados ao desemprego e falta de perspetivas para os jovens, idosos e reformados, os doentes; a reinserção dos presos; ou o acolhimento dos refugiados e migrantes. “Tudo isto são fronteiras em que, passe o termo, quem é cristão, cristã, está lá”, referiu.

Esta Constituição Sinodal “resume os trabalhos” levados a cabo nos últimos dois anos e meio, a partir da reflexão de “muitos grupos” sobre a exortação ‘A Alegria do Evangelho’, do Papa Francisco.
A Diocese de Lisboa, com dois milhões e meio de pessoas, exige o anúncio de fé de todos os católicos nos maios diversos meios, bem como a reflexão sobre o que deve ser melhorado, ponto de partida para uma mudança efetiva. “Foi bom até aqui, a partir daqui tem de ser melhor”, observou o nosso Patriarca.

Aqui fica o texto desta Constituição.


«O sonho missionário de chegar a todos»

1. A Igreja que peregrina em Lisboa quer ser testemunha da alegria do Evangelho e rosto da misericórdia divina. Animada pelo convite sempre novo do Senhor Jesus – «faz-te ao largo» (Lc 5, 4; cf. NMI 1) –, ela sabe que a isso Deus a impele sempre, pela sua Palavra, no seu Espírito. O mandato de ser «sal da terra e luz do mundo» (cf. Mt 5, 13-14) e a vontade crente de ser aí fermento evangélico (cf. Lc 13, 20-21) chamam-na a uma nova etapa da vida eclesial. As transformações do mundo onde está reforçam a urgência de discernir e acolher, com esperança e ousadia, os sinais dos tempos. Em caminhada sinodal, abraça com entusiasmo o chamamento sempre renovado a deixar-se evangelizar pelo Espírito e a ser evangelizadora (cf. EN 13).

2. Impelida pelo Espírito Santo «que infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia» (EG 259), a Igreja acolhe o de- safio de uma «transformação missionária» na certeza de que o Espírito é o autêntico protagonista da missão (cf. EG 19-20; RM 21.30; EN 75). Ao olhar a complexidade do mundo contemporâneo, a Igreja reconhece a atualidade e universalidade do mandato missionário que lhe foi confiado por Jesus: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20). Por outro lado, face aos atuais desafios evangelizadores, atesta que o Senhor não cessa de lhe conferir a força e os meios necessários para avançar com confiança. Cristo ressuscitado prometeu uma assistência efetiva à sua Igreja, garantida pela presença ativa e fecunda do seu Espírito que em todas as circunstâncias coopera com a missão (cf. Mt 28, 21; Mc 16, 20).

No tempo presente, em que se alargam «os horizontes e possibilidades da missão» (RM 30), o Espírito recorda à Igreja a índole da sua vocação missionária (cf. EN 14) e envia-a a lançar-se numa nova e, em certos casos, primeira evangelização, tão necessária no nosso contexto social e cultural (cf. EE 46).

3. Esta Constituição Sinodal é fruto da dinâmica sinodal querida e implementada no Patriarcado de Lisboa e com ela se procura dar resposta à exortação do Papa Francisco, dirigida à Igreja universal, a «uma nova etapa evangelizadora» (EG 1). Com a convocação do Sínodo Diocesano quis-se dar corpo à indicação do Romano Pontífice para se promoverem os diversos «organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico» e ao desejo de «ouvir a todos» para o incremento eclesial de uma «comunhão dinâmica, aberta e missionária» (EG 31). A comemoração dos 300 anos da qualificação patriarcal dada à diocese de Lisboa ofereceu a ocasião para esta procura comum de caminhos novos em vista de uma presença eclesial evangelizadora e capaz de responder aos desafios deste tempo.

Desde setembro de 2014, muitos cristãos, em vários contextos eclesiais (paróquias, serviços diocesanos, institutos de vida consagrada, sociedades de vida apostólica, movimentos, famílias, grupos especialmente constituídos para o efeito, entre outros), foram lendo a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A alegria do Evangelho, assumida como inspiração e guião do Sínodo Diocesano, e refletindo à sua luz sobre os caminhos que a Igreja de Lisboa é hoje chamada a percorrer. A presente Constituição Sinodal recolhe muitos dos contributos desta caminhada, como confluíram na assembleia sinodal.

Esta iniciativa eclesial sintoniza-se quer com a reflexão e ação desen volvidas em torno do Plano de Ação Pastoral do Patriarcado de Lisboa (1976), quer com a experiência do Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE – 2003-2007), particularmente no que se refere à mobilização para um estilo eclesial mais assumidamente evangelizador e presente nos espaços quotidianos da nossa sociedade.

I. «[Uma] mudança de época» (EG 52):
escutar o mundo e olhar a Igreja

4. «Deus viu que era bom» (cf. Gn 1, 1-36). Ressoam ainda hoje estas palavras primordiais da criação. Para quem crê em Cristo, elas não caducaram com o tempo nem perderam a sua verdade profunda. Pelo contrário, elas interpretam o olhar com que Deus sempre olha o mundo em cada tempo e, portanto, também no nosso. Assim se reconhecem os cristãos católicos de Lisboa e assim reconhecem o mundo em que vivem a sua fé: sempre sob o olhar misericordioso de Deus. Consciente deste olhar de Deus, a Igreja de Lisboa olha para si e para o seu contexto como lugar de revelação do Evangelho e acolhe como apelos do Alto os desafios com que está hoje confrontada. A certeza crente de que este mundo, uma vez «criado e conservado pelo amor do Cria- dor», muito embora ferido pelo pecado, foi liberto pela Cruz e Ressurreição de Cristo (cf. GS 2), constitui o fundamento do compromisso cristão no mundo e é geradora de uma esperança firme que nenhuma adversidade poderá jamais abafar (cf. EE 4).

5. O presente processo sinodal é também momento para a Igreja de Lisboa reconhecer em si a presença atuante de Deus. Contemplando o longo caminho por si percorrido, reconhece-se herdeira de um notável património de compromisso e testemunho cristão. Olha com particular gratidão para as muitas sementes de santidade que a graça divina semeou na sua história e para os frutos de caridade e de autêntica cultura humana que ela gerou entre nós. Agradece ao Senhor a dedicação ao Evangelho e ao serviço do próximo de inúmeros dos seus filhos e filhas, tanto em tempos remotos como no presente. Recorda o testemunho dos Santos Mártires Veríssimo, Máxima e Júlia, Santo António, São Nuno de Santa Maria e São João de Brito, além de outros já beatificados. Neste exercício de memória, reconhece nem sempre ter correspondido cabalmente à sua sublime vocação. Por isso, neste caminhar conjunto para uma conversão eclesial, ela pede também perdão pelos seus erros e omissões no testemunho do Evangelho.

6. Estando no mundo, a Igreja participa das suas alegrias e esperanças, das suas tristezas e angústias (cf. GS 1). Aí quer estar «como quem serve» (Lc 22, 27). Sem se confundir com o mundo, a Igreja também dele não se separa (cf. Jo 17, 11-16). Pelo contrário, verifica como as dinâmicas da sociedade deste tempo se manifestam e fazem sentir no seu seio. Com efeito, «o ser e o acontecer da Igreja no mundo e para o mundo constituem o ponto essencial de reflexão e celebração […] da caminhada sinodal»(1). Por tudo isto, a Igreja de Lisboa não se posiciona como observadora externa e crítica do mundo, mas como comunidade que com ele partilha muitas das suas luzes e sombras, propondo a vivência do Evangelho como caminho para a construção de uma socie- dade mais justa e fraterna.

ESCUTAR O MUNDO
7. No contexto social e cultural da diocese de Lisboa, a reflexão sinodal e ação eclesial fundamentam-se numa atenta observação e escuta da realidade envolvente. A Igreja quer fazê-lo em atitude de diálogo sincero. Com olhar de fé, ela quer ser sentinela e intérprete dos sinais de Deus neste tempo. Com espírito profético, quer ainda levantar a sua voz diante daquelas circunstâncias em que o plano salvífico de Deus e a dignidade humana são postos em causa.

8. A confluência de pessoas de proveniências diversas, com a consequente transformação no modo como se geram os vínculos sociais e a noção de pertença; a dispersão dos espaços onde a vida acontece (casa, família, trabalho, escola, comércio, lazer, redes sociais), com enormes impactos no ritmo diário de tantos que residem e trabalham na área da diocese; as desigualdades sociais, económicas e culturais, com as diversas formas de pobreza e solidão que elas fomentam; a pluralização dos grandes referenciais que moldam a existência e determinam o seu horizonte; as intensas transformações no mundo laboral ou no âmbito familiar são apenas alguns dados observáveis na presente realidade sociocultural. Hoje, mais do que nunca, aumenta o número de variáveis necessárias para descrever com rigor uma determinada situação e, não poucas vezes, essas variáveis apontam mesmo em sentidos contrários. Daí que as análises se tornem cada vez mais exigentes e as soluções para os problemas mais difíceis de encontrar, sem cair no relativismo. Num olhar sincero sobre a realidade, verifica-se igualmente «uma grande deterioração da nossa casa comum» (cf. LS 61). Também no território da nossa diocese ouvimos o clamor de quantos vivem hoje mais pobres, mais sós, mais excluídos e abandonados, sem perspetivas de futuro, mais invisíveis e arredados de qualquer participação na vida pública. A falta de reação diante destes dramas «é um sinal de perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade» (cf. LS 25).

9. Entretanto abundam os sinais de esperança. Observam-se hoje bastantes expressões de efetiva solidariedade, tantas vezes traduzida em várias formas de voluntariado ou em gestos generosos. Também ao nível das organizações, verifica-se uma crescente consciência da responsabilidade social de empresas e instituições. A própria noção de habitarmos uma casa comum, com maior consciência ecológica, vai conhecendo progressos que devem ser estimulados.

10. Sinal de grande esperança e enorme desafio para a Igreja é também a sede de vida espiritual que se verifica. É um facto que os atuais itinerários de busca espiritual não passam só pela Igreja. Todavia, a persistência desta inquietação assegura-lhe que permanece viva no coração humano a necessidade de transcendência e de sentido para a vida. As artes são também um domínio onde estas procuras se revelam e, enquanto tal, elas tornam-se sinal de esperança no mundo e apelo à correspondência eclesial.

Profundamente interpeladora é a forma pela qual algumas pessoas, mesmo quando afastadas de uma regular prática cristã ou nem se considerando sequer cristãs, se voltam para a Igreja em busca de uma palavra que venha de Deus, de uma luz do Alto, de uma voz profética, de um gesto magnânimo, de um tempo de escuta ou, simplesmente, de um espaço de silêncio. Também nesta boa vontade e atitude dialogante se reconhece um sinal dos tempos que provoca e responsabiliza o testemunho eclesial.

11. Ao perscrutar o mundo, a Igreja também reconhece nele sinais de alerta. Assiste-se a um crescente individualismo, que estende os seus efeitos aos mais diversos domínios da vida: erosão da noção de bem comum e de uma prática consequente com a sua salvaguarda e promoção; desconfiança e indiferença face a instituições e indivíduos que corroem os laços sociais e enfraquecem o empenho político dos cidadãos; desequilibrada procura de bem-estar, associada a uma cultura do consumo que tende a tornar tudo descartável; competitividade social e económica que faz depender o valor de pessoas e realizações do seu sucesso e produtividade; uma visão hedonista da existência que tende não só a desconstruir a visão integral da pessoa humana como coloca em risco a preservação da natureza e o equilíbrio ecológico. Na verdade, a ecologia integral inclui o respeito pela dualidade homem-mulher, pelo curso normal da vida humana da conceção à morte natural e pela necessária complementaridade maternal-paternal na educação dos filhos.

Em simultâneo, constata-se uma aceleração desumanizadora dos ritmos da vida que multiplica tensões, esgotamentos e depressões, tanto a nível social como pessoal. Verifica-se também uma negação da transcendência e uma incompreensão generalizada das suas consequência que se manifestam na crescente deformação ética, na superficialidade com que se abordam as questões morais, no enfraquecimento do sentido de pecado e no aumento progressivo do relativismo (cf. EG 64). Neste contexto adquire particular relevo a profunda crise antropológica que atravessa a família e a cultura, cujos traços se manifestam, entre outros, na fragilidade dos vínculos relacionais e numa visão utilitarista do Matrimónio (cf. EG 66).

Ao nível internacional, destacam-se a emergência dos novos fundamentalismos e formas de terrorismo, bem como a fragilidade das relações internacionais, ameaçando a estabilidade da paz, e as desigualdades económicas que originam inúmeras formas de pobreza e fluxos migratórios. Estes fenómenos patentes no mundo que somos e habitamos são, para a comunidade cristã, motivos de preocupação. Eles são expressão de uma rutura entre Evangelho e cultura, mas também apelos a uma crítica construtiva e empenhada na abertura de caminhos para uma maior humanização da sociedade (cf. EN 20). A magnitude e abrangência destes desafios exigem a cooperação de todos. Consciente disto, a Igreja quer trabalhar lado-a-lado com todos os «homens de boa vontade» (cf. GS 43) na construção de um mundo melhor.

12. Neste ambiente, a par de sinais de autêntica inquietação espiritual, verifica-se uma dispersão do universo religioso e um distanciamento do espaço cristão que interpelam a Igreja. Observa-se, por exemplo, um progressivo desconhecimento das referências cristãs que estruturam a nossa história e cultura. Este desconhecimento é, por vezes, alimentado por uma atitude de indiferença perante Deus e a fé. Atravessamos, efetivamente, uma «mudança de época» e uma «viragem histórica» (EG 52), que requerem atenção e resposta evangelizadora no exercício duma liberdade religiosa ativa que ultrapasse qualquer bloqueio laicista, destruidor da sã laicidade.

OLHAR A IGREJA
13. A Igreja de Lisboa olha para si e para a sua realidade com humildade e fá-lo em vista da sua «conversão pastoral e missionária» (EG 25). Iluminada pelo Evangelho, fonte da sua alegria, ela quer corresponder às necessidades e interpelações do tempo presente e do mandato de Jesus: «sereis minhas testemunhas» (At 1, 8). Por isso, o Sínodo Diocesano olha também para a Igreja, para as suas práticas e estruturas, para as suas formas de presença e linguagens, para os seus limites e potencialidades. Só encontrando-se com a verdade do que ela é e do que tem sido a sua ação, poderá esta porção do Povo de Deus encetar os caminhos novos que os desafios atuais lhe pedem e a que o Espírito de Deus a quer conduzir.

14. A Igreja reconhece-se como «comunidade de discípulos» (EG 21.24) e nisso encontra o horizonte fundamental da sua identidade e missão. Na presente caminhada sinodal do Patriarcado de Lisboa foi possível identificar expressões concretas de autêntica comunhão eclesial e vida fraterna, tais como experiências de partilha de bens e de responsabilidades; de comunhão na oração e na ação; de dom de si em família e em vocações de especial consagração; de gestos concretos de proximidade pastoral e de atenção aos mais necessitados; de audácia missionária e de ousadia na procura de novo ardor, novos métodos e novas linguagens eclesiais. Também a experiência do Sínodo tem sido ocasião para um ensaio e reforço das dinâmicas comunitárias na Diocese de Lisboa.

Diversificam-se as referências eclesiais e de pertenças comunitárias de muitos filhos da Igreja. Esta realidade requer discernimento e criatividade, para concorrer sempre para a «edificação do Corpo de Cristo» (Ef 4, 12).

15. «Não deixemos que nos roubem a comunidade!» (EG 92). A Igreja de Lisboa verifica, também em si, várias expressões de «crise de compromisso comunitário» (cf. EG 50-109). Uma mentalidade demasiado individualista ou burocrática acabaria por fazer sentir os seus efeitos negativos na comunhão eclesial. Por outro lado, essas dificuldades são multiplicadas por problemas na própria organização e ação eclesiais: descoordenação pastoral e multiplicação de propostas, que tendem a dispersar esforços e recursos; organização territorial das paróquias nem sempre ajustada às necessidades das comunidades; tendência para privilegiar o particular e o imediato em detrimento de uma pastoral de conjunto e de continuidade, pensada a longo prazo e não tão dependente da mudança de agentes pastorais; resistência em sair de rotinas estabelecidas e empreender uma presença assumidamente mais evangelizadora, alicerçada na oração; excesso de improviso e défice de planificação em certas ações eclesiais; várias lacunas de formação (teológica, bíblica, litúrgica, catequética, social); alguma desatenção dos fiéis às necessidades materiais da Igreja ou à côngrua sustentação dos seus servidores; insuficiente consolidação da consciência comunitária e vocacional da vida e da proposta cristã.

Olhando para si com a verdade exigente de ser comunhão, a Igreja de Lisboa quer assumir estas manifestações como lugares incontornáveis para crescer no seu «compromisso comunitário» e exercitar a sua desejada «conversão pastoral», passando de enunciados que há muito se repetem para opções efetivas e prioritárias.

16. Corpo formado por muitos membros e enriquecido pela diversidade de carismas que o Espírito nela suscita (cf. 1Cor 12), a Igreja de Lisboa reconhece o compromisso evangélico daqueles que a constituem. A Igreja olha com alegria para a entrega e vitalidade de tantos dos seus ministros ordenados (bispos, presbíteros e diáconos) e reconhece a fecundidade das relações de proximidade que estabelecem com as pessoas e comunidades a quem servem. Ao mesmo tempo, ela preocupa-se com a formação pessoal e o acompanhamento espiritual dos seus pastores. Também sente ser necessário crescer na capacidade de gerar uma maior dinâmica de corresponsabilidade com os leigos. A comunidade diocesana verifica, ainda, que os pastores estão, muitas vezes, sobrecarregados com vários encargos. Para além da dispersão que gera, este facto não promove o acompanhamento espiritual e pessoal dos fiéis, algo sentido por estes como de grande importância.

17. A Igreja de Lisboa mostra-se igualmente reconhecida pelo testemunho do Reino dado por consagrados e consagradas. Na multiforme riqueza dos seus carismas, pela sua consagração, eles tornam presente o definitivo de Deus no provisório da nossa condição. Tanto na vida fraterna como no ambiente contemplativo, a sua presença e ação, enquanto vivência radical do Evangelho, mostram-se essenciais na edificação da Igreja, nomeadamente, na promoção da vida espiritual, no acompanhamento de pessoas e comunidades, na educação, na saúde, na assistência aos idosos e no serviço aos mais pobres.

18. Entre os cristãos leigos observam-se também testemunhos do Evangelho inspiradores e interpeladores, assentes na profundidade da vida espiritual, no compromisso eclesial, no testemunho cultural, sócioeconómico, político e na vivência da caridade. Pela índole secular da sua condição, os cristãos leigos, que vivem no mundo e em todas as realidades temporais, laborais, profissionais, familiares e sociais, são chamados a exercer apostolado «com a sua ação para evangelizar e santificar os homens e para impregnar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho» (AA 2; cf. LG 31). No entanto, reconhece-se a necessidade de desenvolver dinâmicas que acentuem a especificidade do seu lugar no mundo ao serviço do Reino de Deus. Verificam-se também sintomas de desencontro entre os desejos sinceros de formação e as propostas formativas disponibilizadas. O seu envolvimento na Igreja deve ser favorecido, acentuando as dimensões de comum responsabilidade e desenvolvimento de uma consciência crítica e discernida à luz do Evangelho. Às comunidades cristãs cabe a tarefa de proporcionar ambientes motivadores, acolhedores e fraternos que promovam o acompanhamento espiritual e a formação cristã dos fiéis leigos em ordem ao bom desempenho das suas funções e ao alegre anúncio da mensagem cristã, atendendo aos seus horários laborais e à vida familiar.

Também os diversos movimentos e associações laicais prestam, neste âmbito, um notável serviço pastoral. Muitos encontram neles o vigor do Evangelho que transforma a vida e experimentam uma vivência comunitária e fraterna que lhes permite superar o anonimato eclesial. Permanecem, contudo, desafios para uma melhor integração e acolhimento destas comunidades, quer ao nível diocesano, quer ao nível paroquial.

19. Neste percurso sinodal, foi também possível perceber uma renovada descoberta da vocação da família na Igreja e na sociedade. Contudo, verifica-se que há, ainda, um longo caminho a percorrer para que todas as famílias cristãs se descubram como verdadeiras igrejas domésticas e para que a comunidade eclesial se configure como autêntica «família de famílias» (AL 87). A complexidade das situações familiares constitui, também, um desafio para a ação eclesial.

20. A Igreja de Lisboa procura encarnar o Evangelho de Jesus em gestos concretos de amor ao próximo. A ação caritativa, enquanto dimensão fundamental da vida da Igreja, torna mais credível e visível a sua presença evangelizadora, sobretudo quando desenvolvida junto dos mais pobres. Contudo, se em alguns casos essa ação é uma efetiva expressão da caridade das comunidades cristãs, noutros ela parece ter-se distanciado da sua vida e celebração da fé, assumindo, não poucas vezes, a feição de uma simples prestação organizada de serviços sociais.

Para além destas formas de exercício da caridade e de sinais esperançosos de compromisso cristão nos meios profissionais, verifica-se também uma insuficiente participação dos cristãos católicos noutros domínios da vida social e política. Isto manifesta-se na prevalência de uma certa atitude defensiva face ao mundo, na tradução imperfeita da sua mundividência moral e cultural, na dificuldade em interpretar as atuais mutações sociais, sobretudo em contexto urbano, ou na capacidade limitada de acompanhar os cristãos e outros nos seus ambientes laborais.

II. «Discernir […] com critérios evangélicos sobre a própria existência e experiência» (EG 77):
critérios para a ação eclesial

21. Ao olhar o presente com verdade e esperança à luz da fé, a Igreja de Lisboa quer ser lugar de autêntico «discernimento evangélico» (cf. EG 50). Ela reconhece que os exigentes desafios com que está confrontada requerem que sejam identificadas as realidades em que manifesta a frescura do Evangelho e «as sendas do Espírito» (EG 45) e sejam, também, denunciadas as que dificultam o encontro com Cristo e ferem a dignidade da pessoa humana.

Após a primeira parte desta Constituição Sinodal, em que se procurou observar a realidade social e eclesial, e antes de apresentar perspetivas de ação pastoral, convém apontar critérios de discernimento e de ação inspirados no Evangelho, para que nem se dilua a especificidade do discernimento eclesial nem deixe de se considerar a realidade do contexto atual.

CRITÉRIOS FUNDAMENTAIS: EVANGELIZAÇÃO E SINODALIDADE
22. A enquadrar os critérios de discernimento explicitamente propostos na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium está, não só o seu apelo a uma «reforma das estruturas» e a uma «conversão pastoral» (EG 25.27), mas sobretudo a sua proposta de uma «Igreja “em saída”». Assim, todo o batizado é constitutivamente «discípulo missionário» (cf. EG 119) e a missão é vista como propósito da vida eclesial. Trata-se da adoção de um estilo cristão: proativo e que assume a ousadia da iniciativa («primeirear»); comprometido e próximo da realidade em que se encontra («envolver-se»); acolhedor e disponível para fazer caminho com todos («acompanhar»); paciente para recolher os frutos da sua ação no tempo oportuno («frutificar»); capaz de celebrar os pequenos e os grandes passos da vida («festejar») (cf. EG 24). Nesta perspetiva evangelizadora, o anúncio cristão (querigma) é pensado dinamicamente e proposto, sobretudo, como iniciação à vida cristã em Igreja, como condução aos mistérios da fé (mistagogia), ao discipulado de Cristo e ao testemunho no mundo, na fidelidade ao Evangelho. Hoje, como sempre, a Igreja é chamada a anunciar o coração trinitário da fé cristã: «É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai» (EG 164). Este modo de ser e de estar constitui a inspiração fundamental do discernimento que a Igreja é chamada a realizar e o horizonte que há de conduzir a sua ação pastoral.

23. A caminhada sinodal de Lisboa conduziu à redescoberta da identidade sinodal da Igreja. Evangelização e sinodalidade promovem-se mutuamente e são parte estruturante da sua vida e ação, do discernimento e do testemunho que a Igreja é chamada a assumir, tarefas a levar a cabo como caminho conjunto e das quais todos os batizados, de acordo com a variedade dos seus carismas, são corresponsáveis. O princípio sinodal há de refletir-se no olhar eclesial sobre a realidade. Neste sentido, a sinodalidade, como método próprio de uma eclesiologia de comunhão, pode ser igualmente considerada um critério funda- mental do discernimento e ação eclesiais.

CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO PARA A AÇÃO
24. Com base na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nas indicações diocesanas e nos diversos contributos para o presente documento sinodal, podem elencar-se oito critérios de discernimento e ação eclesial, atendo-se todos à caridade na verdade.

25. Critério do tempo: os desafios da atual realidade social e eclesial requerem uma especial disponibilidade para acompanhar pessoas e situações. Esta disponibilidade brota da consciência crente de se ser sempre povo em caminho no seguimento de Jesus Cristo. Isto permite «trabalhar a longo prazo», sem a «obsessão» nem a «ansiedade» de obter «resultados imediatos» (EG 223). Respeitando o critério do tempo, torna-se possível abrir horizontes maiores e orientar todas as situações para a plenitude evangélica. No concreto, isto supõe uma presença cristã mais ocupada em «iniciar processos do que [em] possuir espaços» (EG 223).

26. Critério da unidade: a partir do amor de Deus adquirimos a consciência de partilhar uma mesma condição e dignidade e de pertencer a uma mesma comunidade humana e, no caso dos batizados, eclesial, que nos leva a reconhecer que a «unidade prevalece sobre o conflito» (cf. EG 226). Esta convicção levará a que se anteponha e dê prioridade ao que gera a comunhão sem anular a diversidade e ao que aumenta a solidariedade sem ceder ao sincretismo. Não se trata de ignorar o conflito ou as polaridades que atravessam a Igreja e a sociedade, mas de os hierarquizar em função da comunhão e do bem comum.

27. Critério da realidade: partir da realidade, tal como ela é e se nos mostra, e lê-la à luz da fé, define um outro critério eclesial. Procedendo assim, a Igreja age à imagem e semelhança do Senhor Jesus, Ele próprio Palavra eterna encarnada na nossa realidade humana e que anunciou o Reino dos Céus a partir da realidade do seu mundo e daqueles que encontrou. O discernimento evangelicamente inspirado impele a agir considerando a «realidade superior à ideia» (cf. EG 231). Sem abdicar dos princípios e ideais cristãos nem da sua força motivadora, trata-se de reconhecer que a ideia pode interpretar a realidade, mas nunca a pode substituir.

28. Critério da totalidade: há uma totalidade no Evangelho que a Igreja é chamada a guardar e a assumir na forma como olha o mundo e age no seu seio. Essa totalidade do Evangelho é plenitude e, por isso, não é mero somatório de partes. A necessária atenção ao particular não deve, portanto, fazer perder de vista que «o todo é superior à parte» (cf. EG 234). Nesta perspetiva, a ação eclesial terá sempre em vista «todos os homens e o homem todo» (PP 14, cf. EG 181).

29. Critério familiar: dada a relevância que as famílias têm para a Igreja e para a sociedade, este critério promove a dinamização e conjugação de ações pastorais que tenham em vista a complexidade da realidade familiar nas suas diferentes expressões e etapas, tomando sempre a família como objeto e sujeito da evangelização. Este critério estende-se também ao todo da realidade eclesial na medida em que se fomentam ambientes eclesiais de familiaridade e proximidade.

30. Critério da inclusão: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18-19). Estas palavras da Escritura constituem o fundamento do critério da inclusão. A Igreja é chamada a fazer-se pobre com os pobres, comovendo-se diante dos dramas da humanidade, ou- vindo o clamor dos que sofrem e concretizando uma verdadeira opção preferencial pelos mais vulneráveis e marginalizados. Como «mãe de coração aberto», ela é chamada a cuidar de todos, especialmente dos que vivem nas mais diversas periferias existenciais e geográficas, pro- curando que sintam a comunidade cristã como a sua casa. Critério que particularmente se aplica ao cuidado das pessoas com deficiência (cf. EG 46.199).

31. Critério da autenticidade: o testemunho da autenticidade e coerência de vida cristã é uma força interpeladora e atraente. A Igreja há de reconhecer a autenticidade das buscas de tantos seus contemporâneos e fazer da autenticidade evangélica um critério central da sua ação pastoral. Trata-se de privilegiar aquelas formas de presença eclesial ligadas ao núcleo do Evangelho, que pode relativizar disposições epocais mas mantém sempre a força da verdade que transporta e oferece.

32. Critério da qualidade e da beleza: se o encanto pelo Evangelho brota de um impulso da graça, a forma pela qual é suscitado e alimentado requer uma qualidade na ação que a mera boa vontade não garante: «não queremos oferecer aos outros algo de má qualidade» (EG 156). Esta indicação constitui o fundamento do critério da qualidade. A Igreja não quer oferecer algo que desfigure a beleza do Evangelho, esplendor da sua verdade. Ciente de que «todas as expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas como uma senda que ajuda a encontrar-se com o Senhor Jesus», ela assume também a busca do belo como «via» (EG 167) e critério orientador da sua presença e atividade.

33. Elencados estes oito critérios inspiradores do discernimento em Igreja e orientadores da sua ação, rejeita-se o cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim» (EG 33). Com efeito, nem sempre os cristãos têm sabido vencer a inércia e a acédia pastoral (cf. EG 82) que os fecha aos apelos de Deus e às necessidades do mundo. Animada por este processo sinodal de conversão missionária, num equilíbrio entre a criatividade pastoral e a fidelidade à sua tradição crente, a Igreja compreende que a inação e a imobilidade também acarretam consequências. A Igreja de Lisboa reconhece a ausência de fundamento de tudo quando se faz apenas e só porque sempre assim se fez e abraça com ousadia o convite a «não deixar as coisas como estão» (EG 25).

III. «Não deixar as coisas como estão» (EG 25):
para uma conversão pastoral e missionária

34. O olhar evangélico sobre o mundo e a Igreja e os critérios anterior- mente sistematizados constituem os fundamentos a partir dos quais se apontam perspetivas de ação pastoral. O caminho sinodal empreendido na diocese de Lisboa seguiu uma metodologia pastoral articulada em torno de dois momentos fundamentais. O primeiro momento centrou-se na leitura e reflexão da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. O segundo procurou desafiar os diversos grupos e comunidades a «ensaiar» concretizações missionárias das sugestões do texto. De um modo geral, evidencia-se um dinamismo evangelizador nas preocupações e nas formas de ação de um número significativo de cristãos abertos a uma «opção missionária capaz de transformar tudo» (EG 27) e mais apta à evangelização no mundo atual.

35. A conversão pastoral e missionária da Igreja é uma exigência à qual queremos responder. No âmbito de uma compreensão da Igreja como «sacramento universal de salvação» (LG 48) e na consciência de que «evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo» (EG 176), todos são chamados a exercer a sua missão em comunhão com uma «visão global» da ação evangelizadora da Igreja (cf. EN 24). A ação da Igreja deriva da própria missão de Cristo compreendida na sua tríplice dimensão profética, sacerdotal e real da qual participam todos os fiéis em virtude do seu batismo (cf. LG 31; CIC cân. 204). Sendo orgânica, a ação pastoral procura promover a comunhão (cf. NMI 43). É a partir desta base que se formulam os desafios lançados à Igreja de Lisboa, fruto do itinerário sinodal, organizados em torno das dimensões profética, sacerdotal, real e da edificação comunitária e vivência da comunhão.

DIMENSÃO PROFÉTICA: ANÚNCIO E TESTEMUNHO DO EVANGELHO
36. O anúncio explícito do Evangelho constitui a prioridade absoluta da Igreja (cf. EG 110). A dimensão profética engloba todos os dinamismos de encontro entre a mensagem evangélica e a situação de vida de cada pessoa. No centro deste encontro está o anúncio fundamental e primordial que exprime o amor salvífico de Deus, propondo a verdade do Evangelho e a beleza da fé; e apelando à autêntica liberdade, com alegria, ânimo e vitalidade. Requer-se das comunidades e dos evangelizadores uma atitude de proximidade e abertura ao diálogo, bem como paciência e acolhimento cordial (cf. EG 165). Neste contexto, apresentam-se os seguintes desafios apontados pela caminhada sinodal:

37. Aceitar a surpresa de Deus. A evangelização conta com a liberdade surpreendente da ação de Deus, «que é eficaz a seu modo e sob for- mas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas» (EG 22). Assim, um dos desafios colocados pelo caminho sinodal de Lisboa consiste em reconhecer que Deus ama o mundo e se faz presente nos acontecimentos e na história de cada pessoa. As diversas modalidades de regresso do religioso na nossa sociedade e as formas plurais de procurar Deus apontam, como parte integrante da ação evangelizadora da Igreja, para a descoberta de modos de acompanhamento dos «buscadores de Deus» no seu itinerário espiritual.

38. Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé. «A fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17). A Palavra de Deus tem uma importância nuclear na vida da Igreja, no percurso de fé dos crentes e na construção da sua própria personalidade. Ela faz nascer a Igreja e desperta a fé em cada momento da vida. É urgente recolocar a Palavra de Deus no centro das comunidades cristãs, mobilizando os recursos necessários para que seja conhecida, escutada, meditada, rezada, celebrada, cantada, vivida, testemunhada e bem proclamada (cf. EG 174-175). Neste sentido, promova-se a leitura orante da Escritura e a formação bíblica; a sua presença em todos os momentos da evangelização; o seu papel fundamental nos processos de conversão e de crescimento na fé e de discernimento das motivações para seguir Jesus; o seu lugar estruturante na definição dos itinerários catequéticos. As diferentes modalidades de evangelização devem ter a Palavra de Deus como elemento constitutivo. Merece especial desta- que, neste contexto, a homilia, baseada nos trechos proclamados e na tradição viva da Igreja. Sendo para muitos cristãos o momento evangelizador por excelência, requer-se preparação e não improvisação; que interpele a vida da comunidade cristã e conduza ao mistério que se celebra.

39. Fomentar uma pastoral de acolhimento. O acolhimento pastoral constitui uma tarefa permanente da Igreja. Dele depende, em grande medida, a constituição de laços de pertença à Igreja. Além de espaços acolhedores, é necessária a formação dos agentes pastorais para o sentido do verdadeiro acolhimento do outro, que implica a escuta e o diálogo pacientes. Uma pastoral assim não se pode confundir com mera prestação de serviços religiosos. À semelhança do que fazia Jesus, as comunidades devem promover um verdadeiro acolhimento onde «todos possam encontrar sempre um sim à pessoa que são, mesmo que não devamos conceder o que me imediatamente nos peçam»(2).

40. Propor percursos de iniciação diferenciados e personalizados. A Igreja é chamada a garantir a todos percursos de iniciação à fé. No caso das crianças e adolescentes este processo decorre, normalmente, seguindo o itinerário catequético. No caso dos adultos, as propostas são mais diversificadas, mas menos estruturadas. Tanto num caso como noutro, constitui uma preocupação pastoral o facto de que muitos não permaneçam num caminho de amadurecimento da fé depois da celebração dos sacramentos de iniciação. Neste sentido, considera-se prioridade pastoral a organização do catecumenado de jovens e adultos, assim como uma procura de outras formas de acompanhamento de crescimento humano e espiritual dos que se encontram com Cristo. Por outro lado, a organização da catequese das crianças, seguindo um modelo catecumenal com envolvimento familiar, deve colocar como critério de passagem de uma etapa à seguinte o crescimento humano e espiritual. Também se sente a necessidade de uma cooperação maior entre as comunidades paroquiais e as catequeses organizadas noutros espaços eclesiais, nomeadamente em ambiente escolar. Subsistindo formas de catequese e processos de iniciação formalmente igualitários, assistimos também a uma maior diversidade no que respeita às práticas catequéticas e às formas de garantir o acesso aos sacramentos. A atual situação reclama um sério discernimento do caminho a seguir em benefício da comunhão diocesana.

41. Proporcionar experiências de oração e de interioridade na catequese. O entendimento atual da catequese como uma «aprendizagem de toda a vida cristã» (AG 14) tende a englobar de forma consistente, a par da aquisição de conhecimentos e dos exercícios morais, dimensões que valorizam a interioridade e iniciam na oração (cf. DGC 85), dando assim à catequese um cunho querigmático e mistagógico. São muitas as iniciativas que procuram tornar a catequese um espaço de reflexão e silêncio, onde as crianças e os adolescentes são convidados a compreender e interiorizar a presença de Jesus nas suas vidas e a desenvolver uma relação com Ele. A catequese inicia, assim, à experiência de Deus pela oração e à descoberta dos seus sinais na vida de cada um, prestando um auxílio ímpar no discernimento da própria vocação. Adquirem especial relevo, neste contexto, e antes de tudo o mais, um verdadeiro ambiente vocacional que leve a amar a vontade de Deus e a decidir a vida segundo a mesma, bem como experiências de âmbito social, cultural e desportivo, realizadas com crianças, adolescentes e famílias, no sentido de tornar a experiência cristã mais encarnada. A crítica à escolarização da catequese exige modelos que se situem numa dinâmica catecumenal e a abram à dimensão experiencial e comunitária da vida cristã (cf. EG 166).

42. Velar pelos recomeços da fé. A situação dos que por algum motivo redescobrem a fé cristã constitui um desafio para a evangelização. Nestes casos, trata-se de reavivar a fé daqueles que a vivem como um simples costume ou se afastaram dela. A Igreja deve estar atenta aos sinais da procura espiritual e estimular o desejo de Deus onde se verifica uma sede de vida com sentido. Ela é chamada a interpretar esta presença de «buscadores de Deus» como uma oportunidade única, não só para os ajudar no seu caminho pessoal, mas também para se questionar sobre a sua identidade e missão, ensaiando modalidades que favoreçam a integração destes novos membros. Nestes casos, o anúncio da fé centra-se no querigma e assume a forma de um segundo primeiro anúncio, ou seja, aquele anúncio fundamental que tem de se ouvir muitas vezes (cf. EG 164; EE 46). Para os que recomeçam é necessária a proposta cativante dos elementos constitutivos da iniciação cristã (o Credo, os sacramentos, os mandamentos, as bem-aventuranças e o Pai-nosso) de modo a gerar a adesão à pessoa de Jesus Cristo, em Igreja, no mundo.

43. Comunicar de forma compreensível e adotar novas linguagens. Outro dos desafios colocados à prática pastoral atual prende-se com a clareza da sua comunicação, tanto na maneira como ela se realiza no interior da Igreja como no diálogo com o exterior. Considera-se necessário apostar na formação de comunicadores capazes de utilizar linguagens ajustadas aos desafios da comunicação neste tempo e, ainda, investir numa melhor articulação de meios, de modo a potenciar a comunicação da Igreja e na Igreja.

As tecnologias de informação constituem cada vez mais o universo mental, cultural e relacional em que vivemos, surgindo, atualmente, como novos areópagos onde os cristãos encontram oportunidade para testemunharem a sua fé. A comunicação da fé também encontra expressão nesse ambiente digital. Torna-se necessário criar novos símbolos, sinais e formas de beleza consonantes com os diversos ambientes culturais que, podendo não ser particularmente significativos para alguns evangelizadores, o serão para os seus destinatários (cf. EG 167).

44. Anunciar os valores cristãos na escola e na universidade. A Igreja é chamada a formar as novas gerações oferecendo-lhes o tesouro dos valores cristãos, de modo a promover uma presença transformadora do Evangelho no meio do mundo. A educação é um espaço privilegiado para promover uma evangelização da cultura e semear o futuro da fé. Valorizam-se e acalentam-se os esforços realizados neste âmbito tanto a nível estatal como privado. Especial relevo desempenham, a este respeito, a Universidade Católica Portuguesa e demais instituições eclesiais de ensino, particularmente no que se refere ao diálogo fé-cultura e fé-ciência e à formação integral que o Evangelho suscita. A presença da Igreja no mundo da educação, sobretudo através da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, deve oferecer uma visão cristã das realidades humanas e critérios de abordagem crente às problemáticas da existência, propor uma relação viva com Jesus e o sentido de pertença à Igreja, fomentando um compromisso pessoal e social na construção da sociedade.

45. Promover o diálogo ecuménico, inter-religioso e intercultural. O diálogo entre cristãos e com as diferentes religiões e culturas constitui um dos grandes desafios colocados ao anúncio da mensagem cristã. A abertura ao diálogo, à partilha e à reflexão deve fortalecer sempre mais a consciência da própria identidade, de modo a favorecer uma compreensão mútua que a todos enriqueça. Assumem particular relevo o compromisso ecuménico como busca conjunta da unidade em resposta ao desejo do Senhor Jesus (cf. Jo 17, 21) e o diálogo inter-religioso como contributo essencial para a paz mundial (cf. EG 250). Além disso, a diversidade cultural e religiosa convida ao reconhecimento da presença de Deus na vida das pessoas e nas realidades humanas. Tudo isto nos compromete na promoção de uma cultura do encontro, numa harmonia entre diversas nacionalidades, sensibilidades e grupos.

DIMENSÃO SACERDOTAL: CELEBRAÇÃO DA FÉ E VIDA ESPIRITUAL
46. A liturgia é «obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja» (SC 7). Sendo simultaneamente meta e fonte da ação da Igreja, constitui um dos elementos centrais da evangelização e da vida cristã. Nela se celebram os mistérios da fé, se festeja «cada passo em frente na evangelização» e se colocam sob o olhar da misericórdia de Deus o pecado e o fracasso experimentados na vida e na ação pastoral (cf. EG 24). É também na celebração litúrgica, sobretudo na Eucaristia, que se renova para cada cristão o encontro pessoal e comunitário com o Senhor, para o qual concorrem todas as outras formas de cultivo da vida espiritual (cf. EG 3; CIgC 1112). Neste âmbito, destacam-se os seguintes aspetos no caminho sinodal:

47. Viver a liturgia como lugar de encontro. A liturgia é lugar de encontro com Deus e também da comunidade cristã enquanto Povo de Deus que celebra. Além da beleza dos espaços e dos ritos, da música e do canto, a celebração da fé é chamada a educar para a interioridade, para a comunhão e para o silêncio, criando momentos que disponham à escuta de Deus. É necessário cuidar sempre da formação litúrgica das comunidades, para que tanto os que exercem ministérios, como toda a assembleia entrem em diálogo com o Senhor. É, por isso, de grande utilidade uma permanente catequese mistagógica que introduza toda a comunidade na vivência dos tempos litúrgicos e na compreensão dos seus símbolos e ritos (cf. EG 166). Momento por excelência de encontro é a celebração do Domingo, «Páscoa semanal, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte» (DD 1). As comunidades cristãs são chamadas a recuperar o sentido profundo do Dia do Senhor, pela participação na Eucaristia e pela escuta da Palavra e encontrando formas de viver a fraternidade e a alegria cristãs (EE 88; MM 6-7).

48. Cultivar a vida espiritual. A vida espiritual caracteriza-se por uma abertura constante à ação do Espírito Santo, fazendo florescer a riqueza da graça e da vocação batismal. Neste sentido, as comunidades cristãs são chamadas a ser verdadeiras escolas de oração (cf. NMI 33) providenciando oportunidades de cultivar a interioridade e regeneração da fé, guardando especial atenção aos agentes pastorais (cf. EG 77). Além das propostas concretas a nível paroquial, interparoquial ou diocesano, adquire particular relevo um maior acompanhamento espiritual por parte dos sacerdotes, consagrados e leigos (cf. EG 169). Valorizam-se, neste contexto, a descoberta da vocação à santidade, no horizonte da própria fé como vocação; a iniciação à oração pessoal e comunitária; leitura e meditação da Palavra de Deus; o envolvimento em grupos de oração e participação em movimentos e novas comunidades; a vivência dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, bem como a adoração eucarística; a participação em retiros, exercícios espirituais, peregrinações e outras dimensões e práticas de cultivo da vida espiritual.

49. Celebrar a liturgia na atenção aos percursos pessoais. A Igreja é chamada a uma atitude de acolhimento e de valorização do percurso de cada pessoa. Os momentos sacramentais são, por excelência, lugares onde a pessoa se envolve existencialmente e a sua vida pode vibrar de sentido novo, pela celebração litúrgica e pela hospitalidade da comunidade. No caso do Batismo das crianças e da celebração da primeira Comunhão, os pais são convidados a aprofundar o significado litúrgico e espiritual destes sacramentos, a celebrá-los na comunidade cristã e a integrar-se na mesma. A celebração dos sacramentos da iniciação cristã representa uma autêntica oportunidade para que muitos adultos descubram a alegria da fé e se comprometam com a Igreja. As iniciativas relacionadas com a celebração dos sacramentos da Reconciliação e da Unção dos Doentes são, em muitos casos, ocasiões felizes de descoberta do sentido da vida. A celebração das exéquias deve ser valorizada como lugar onde se faz sentir a solicitude materna da Igreja.

50. Despertar o desejo de Deus e propor o seguimento de Cristo na preparação para os sacramentos. Pela liturgia, a Igreja contacta com muitas pessoas que procuram Deus mas que, por motivos vários, se distanciaram da Sua presença eclesial. A preparação para os sacramentos, sobretudo os de iniciação e o Matrimónio, reveste-se de particular importância evangelizadora. O acolhimento pastoral dos que pedem os sacramentos e as pedagogias adotadas na preparação dos mesmos devem proporcionar um verdadeiro encontro com Cristo, fecundo e feliz quer sob o ponto de vista humano quer eclesial. Os contactos ocasionais com a Igreja aquando da celebração dos sacramentos são oportunidades para se voltar a falar de Deus e a despertar o desejo de um encontro com Ele. Nesta perspetiva, proponham-se formas concretas de prosseguir no seguimento de Cristo e na fidelidade à própria vocação assentes numa pedagogia da fé e do amor que faça entender a vida cristã como caminho de santidade (cf. AL 211). A preparação para o sacramento do Matrimónio merece particular cuidado pastoral, nomeadamente no acompanhamento dos namorados, despertando neles um sentido vocacional da existência e uma dimensão oblativa da afetividade, e acompanhando os noivos na preparação próxima do sacramento do Matrimónio de modo a que descubram o seu sentido autêntico e o celebrem na alegria da fé.

51. Valorizar as expressões de piedade popular como abertura ao Evangelho. As formas de piedade popular tradicionais encontram, na atualidade, dinamismos de continuidade intergeracional e até de refundação. Através delas é possível «captar a modalidade em que a fé recebida se encarnou numa cultura e continua a transmitir-se» (EG 123). Neste sentido, a piedade popular mantém uma força evangelizadora que não pode ser subestimada. Constituída como «lugar teológico», ela transporta a grande história da salvação para a história quotidiana de cada pessoa, nas vicissitudes concretas do seu existir (cf. EG 126). Por outro lado, as manifestações religiosas encarnadas na cultura do nosso povo podem ser sinais de abertura ao Evangelho e constituir-se como autênticos preâmbulos para a fé cristã que devem ser acompanhados. Este processo evangelizador alcança-se na medida em que as formas populares de viver a fé, tais como a devoção mariana, as festas de santos, a peregrinação e a visita aos santuários, estiverem intimamente unidas ao acontecimento cristão, sendo para isso fundamental apresentá-las em consonância com a fé revelada.

DIMENSÃO REAL: SERVIÇO E CUIDADO DO PRÓXIMO
52. O serviço e o cuidado do próximo estão intimamente ligados ao anúncio do Evangelho (cf. EG 177). São inúmeras as manifestações evangelizadoras que se desenvolvem no âmbito da pastoral social. O caminho sinodal apontou, neste âmbito, alguns desafios:

53. Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias sociais e geográficas. Este desafio constitui uma prioridade da ação evangelizadora da Igreja. Implica uma opção preferencial pelos pobres e uma proximidade aos excluídos em ordem à promoção da sua dignidade, nos seus diversos níveis (saúde, educação, habitação, emprego). Exige, ainda, uma aposta no trabalho formativo com as famílias e contextos sociais mais vulneráveis, uma sensibilização da comunidade eclesial para «ouvir o clamor do pobre» (EG 187; cf. EG 200) e o fortalecimento da sua responsabilidade social. Finalmente, reclama a necessidade de se acompanharem as constantes formas de reorganização social, decorrentes de transformações geográficas e urbanas, e as rápidas mudanças ao nível das condições de mobilidade das populações.

54. Abrir a todos as portas da esperança. As comunidades cristãs são chamadas a ser lugares de esperança e «oásis de misericórdia» (MV 12). Isto supõe que se acolha cada pessoa na situação em que se encontra, acompanhando-a com caridade e verdade. A criação de espaços de acolhimento, escuta e reflexão permitirá que todos, em Igreja, se possam sentir em casa. Neste sentido, é urgente sair ao encontro dos pobres e dos excluídos, dos migrantes e dos refugiados, dos doentes e dos presos, dos abandonados, dos idosos e dos que vivem na solidão, partilhando com eles as suas dores e angústias e conduzindo-os à alegria e à esperança, mediante uma presença e um cuidado eficazes (cf. GS 1). É indispensável a inclusão plena das pessoas com deficiência e suas famílias na vida das comunidades, nos seus múltiplos serviços e expressões da fé; elas são, na sua diversidade, expressão da riqueza da Igreja e ocasião para o seu enriquecimento. É necessária, também, uma maior preocupação com as necessidades espirituais das pessoas, atendendo aos seus múltiplos problemas, situações de violência (física e psicológica) e experiências de perda. Finalmente, tenha-se como grave preocupação o acompanhamento de todos os que passam por experiências de desagregação familiar.

Ao estilo evangélico de agir, concretizado em múltiplos sinais, gestos e atitudes, corresponde a convicção de que o anúncio do amor de Deus precede a «obrigação moral e religiosa» (EG 165); a proximidade, a escuta e o diálogo preparam o anúncio explícito do Evangelho e a alegria do dom respeita a liberdade de resposta e o compromisso (cf. EG 129, 165).

55. Intensificar o caráter evangelizador das instituições sociais da Igreja. As instituições sociais da Igreja têm como missão responder com prontidão e competência às necessidades das populações. No entanto, a urgência de uma resposta imediata sobrepõe-se, frequentemente, à dinamização de processos educativos capazes de dar um rosto evangélico a essas instituições. Neste processo, é necessário cuidar, em primeiro lugar, da sua identidade cristã e da formação dos seus principais agentes. Neste âmbito, têm sido desenvolvidos projetos de formação que visam diretamente os colaboradores das instituições, dando-lhes a conhecer os princípios da fé cristã e da Doutrina Social da Igreja, insistindo no perfil humano e espiritual próprio do colaborador de uma instituição social católica. Estas instituições são também chamadas a desenvolver processos de evangelização adaptados aos diversos destinatários. Valorize-se a presença da comunidade cristã, o ministério dos diáconos e o papel fundamental dos sacerdotes na salvaguarda e promoção da sua identidade cristã e missão evangelizadora.

56. Fomentar a cooperação entre as instituições e apostar na formação dos gestores. No atual contexto, sente-se a necessidade de fomentar uma maior cooperação entre as instituições, potenciando, quando possível, a sua proximidade geográfica. Assim, criar-se-á uma rede mais capaz de responder aos desafios que se colocam no diálogo com as entidades públicas e civis e de estimular a coerência de princípios de gestão e de formação técnica especializada. A situação presente reclama dos gestores graus de competência e profissionalismo que nunca descurem, entre outros, o sentido de responsabilidade da própria missão, o conhecimento da legislação e o cumprimento da mesma, a gestão equilibrada dos diversos recursos, a consciência da situação económica da instituição e sua sustentabilidade financeira. Neste contexto urge equacionar, com discernimento e realismo, a especificidade da missão dos sacerdotes nestas instituições. Exige-se, ainda, uma visão global dos diversos desafios lançados a estas organizações, a procura de soluções antecipadas para os problemas e a aposta em iniciativas inovadoras que favoreçam modos diversos de exercer este serviço.

57. Diversificar as formas de presença da Igreja nos diversos âmbitos da vida. A pastoral social abrange uma diversidade de formas de presença da Igreja na sociedade e um vasto campo de intervenção. A Igreja é chamada a estar presente em todos os âmbitos da vida social contribuindo para a edificação da cidade dos homens. Neste sentido, toda a comunidade eclesial e, nesta, muito particularmente os cristãos leigos, devem empenhar-se em todas as causas que promovam e defendam a dignificação da pessoa humana, favorecendo, pelo diálogo sensato e cordial, uma apresentação positiva da sua proposta moral e social. A inserção eclesial dos leigos não se deverá restringir à vida interna das comunidades cristãs, mas abrir-se ao vasto campo do diálogo Igreja-mundo onde são chamados a exercer o seu apostolado nos mais diversos âmbitos. É fundamental acompanhar o trabalho dos profissionais, promovendo o seu associativismo e fomentar a formação de fiéis leigos capazes de intervir na vida social.

EDIFICAÇÃO COMUNITÁRIA E VIVÊNCIA DA COMUNHÃO PARA O SERVIÇO DO MUNDO
58. A transformação missionária da Igreja engloba uma preocupação pelo bem do mundo e das pessoas que nele habitam. A consciência da sua responsabilidade na «construção da nossa casa comum» (LS 13) e na promoção do diálogo em prol da dignidade da pessoa humana levam-na a aceitar com ousadia e humildade o desafio de ser «casa e escola da comunhão» (NMI 43). Antes de qualquer programação, torna-se necessário «promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as comunidades» (NMI 43). É sob o prisma de uma espiritualidade de comunhão que se lançam desafios relativos à edificação comunitária e à composição sinodal da vida eclesial.

59. Viver a misericórdia, rosto da comunhão e alma da missão. Existe uma relação intrínseca entre missão, comunhão e misericórdia. A misericórdia está no núcleo do querigma cristão: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar» (EG 164). A vivência da misericórdia, como atributo do Pai «rico em misericórdia», como expressão do rosto do Filho e como coração pulsante do Espírito (cf. MV 1.11-12), manifesta-se na comunhão da Igreja e sustenta a sua missão. Com efeito, sem a misericórdia, o anúncio do Evangelho corre o risco de não ser compreendido (cf. NMI 50). Nesta perspetiva, a misericórdia é rosto da comunhão num duplo sentido. Em primeiro lugar, refere-se à co- munhão com Deus e à contemplação do seu mistério de amor gratuito. Em segundo lugar, é rosto da comunhão com os irmãos, porque leva a descobrir o outro como «próximo», criando espaço para ele, partilhando as suas alegrias e sofrimentos, intuindo os seus anseios, curando as suas feridas e oferecendo-lhe uma «verdadeira e profunda amizade» (NMI 43; cf. EG 270). A transformação missionária da Igreja requer, por isso, que em tudo se manifeste a misericórdia como trave-mestra que suporta a sua vida (cf. MV 10).

60. Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas. A Santíssima Trindade é a fonte e o modelo da comunhão humana e, por isso, também origem e sustento da comunhão eclesial. A esta luz, um dos pontos essenciais na edificação comunitária prende-se com a atenção à vida fraterna nas paróquias e comunidades, assinalando-se o pastor como figura paternal e fraternal que ajuda a esta construção. A capacidade evangelizadora da Igreja depende, em grande parte, da vivência da co- munhão, como salientam os Atos dos Apóstolos: «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações» (At 2, 42). Torna-se, por isso, necessário formar grupos de crentes que releiam a vida pessoal e comunitária à luz do Evangelho, fomentar a comunhão entre grupos, movimentos e obras da mesma paróquia, transformar os espaços eclesiais habituais tornando-os mais fraternos e acolhedores, partilhar os recursos pastorais com paróquias próximas e dinamizar uma pastoral de conjunto, evitando dispersão de recursos e de energias. Também é urgente velar pela colaboração entre os di- versos ministérios e instâncias eclesiais, motivando e incrementando o trabalho em equipa. Consciente de que nem tudo pode ser determinado por si, a Igreja diocesana é chamada a acompanhar, agradecida, a gestação de dinamismos de cooperação entre diversos organismos e grupos eclesiais. Finalmente, no atual contexto cultural, é urgente criar novos modos de presença junto dos nossos contemporâneos, propon do-lhes de novo o Evangelho e a sociabilidade em que ele nos introduz.

61. Promover a consciência missionária dos batizados. Todo o povo de Deus, em virtude do seu batismo, é chamado a anunciar o Evangelho. Esta é uma dimensão da vida cristã nem sempre presente na consciência de muitos batizados. O novo contexto cultural, marcado por uma acentuada crise da transmissão da fé e de uma ineficácia das estruturas tradicionais de veicular a mensagem cristã, também não permi- te que muitos sintam «a suave e reconfortante alegria de evangelizar» (EN 80). Neste contexto, a missão propõe-se sob a forma de contágio e atração, de proximidade e contacto pessoal. Esta é uma maneira de anunciar o Evangelho que diz respeito a todos os batizados: «é cada um levar o Evangelho às pessoas com as quais se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos» (EG 127).

62. Formar discípulos missionários. É fundamental o testemunho e coerência de vida dos agentes pastorais, fruto do seu encontro pessoal com Jesus Cristo. Neste sentido, é necessário criar espaços onde alimentem a sua relação com Aquele que os chama e envia; espaços onde possam partilhar as suas questões mais profundas e as preocupações quotidianas, onde tenham oportunidade de discernir em profundidade e com critérios evangélicos sobre a própria existência e experiência (cf. EG 77). O entusiasmo missionário, a alegria na evangelização, a irradiação da esperança, a opção pela ternura, a fraternidade e comunhão, a vivência do Evangelho, a oração e o perdão mútuo, constituem traços essenciais da espiritualidade própria do agente pastoral (cf. EG 108-171). A sua formação deve englobar, também, competências de ordem teológica, cultural e pastoral que favoreçam um discernimento evangélico de todas as questões e uma leitura crente da atualidade, em vista de uma presença «dos valores cristãos no mundo social, político e económico» (EG 102).

63. Suscitar uma cultura missionária e vocacional. O testemunho dos jovens que participaram na iniciativa sinodal manifesta a riqueza de experiências missionárias por eles realizadas. A missão é lugar de crescimento humano e espiritual, quer pelo encontro com realidades humanas marcadas pela fragilidade, quer pela leitura orante da Palavra de Deus que sustenta a vida e dá sentido à missão.

Reconhece-se uma dificuldade generalizada em suscitar uma dinâmica vocacional que provoque uma resposta a Deus que fala e chama, tanto no âmbito comunitário e familiar, como no acompanhamento dos mais jovens. Porque a Igreja de Lisboa «precisa de jovens capazes de dar resposta a Deus que os chama, para voltar a haver famílias cristãs estáveis e fecundas, para voltar a haver consagrados e consagradas que trocam tudo pelo tesouro do Reino de Deus, para voltar a haver sacerdotes imolados com Cristo pelos seus irmãos e irmãs»(3), é preciso conferir dimensão vocacional aos percursos catequéticos e propor concretamente a vocação matrimonial, sacerdotal, consagrada e missionária como resposta ao chamamento de Deus.

64. Formar os ministros ordenados para a comunhão e missão. A conversão missionária implica de forma direta os sacerdotes, servidores da comunhão na Igreja e da sua missão evangelizadora (cf. PDV 16). Os sacerdotes seculares, como os outros fiéis, vivem e trabalham habitualmente nas suas dioceses, mas não se fecham às necessidades das outras e à missão universal. Torna-se necessário refletir também sobre a forma como é feita a integração dos sacerdotes oriundos de outros contextos culturais e eclesiais, promovendo o conhecimento mútuo e a ação comum. A identidade missionária dos sacerdotes deverá refletir-se nos projetos formativos dos seminários. Como «coração da diocese», no seminário lançam-se as bases para um estilo de vida sacerdotal assente na comunhão e na missão. Os seminários e o pré-seminário devem ser tomados e acarinhados como lugar por excelência da for- mação para o sacerdócio.

A presente situação da Igreja exige uma particular atenção à coordenação da ação pastoral e missionária. O Espírito não cessa de criar novas possibilidades no que diz respeito à diversidade e estabilidade da união de paróquias geográfica e socialmente próximas, à distribuição mais adequada dos agentes pastorais e recursos materiais e à participação e colaboração de todos numa dinâmica de pastoral de conjunto.

Além dos sacerdotes, também os diáconos reforçam na Igreja a presença sacramental de Cristo servo, assim mesmo estimulando os demais cristãos para o cuidado de todos e o serviço dos pobres.
Especial atenção devem merecer as capelanias hospitalares ou prisionais, como lugares prioritários duma evangelização que acompanhe e dignifique a pessoa humana.

65. Valorizar e integrar o contributo evangelizador dos diversos carismas. As associações, grupos, comunidades, movimentos, institutos de vida consagrada e demais realidades eclesiais contribuem a seu modo e segundo o seu carisma próprio para a riqueza da vida diocesana. É de valorizar o seu trabalho em prol da revitalização das comunidades cristãs, da animação espiritual dos fiéis, do serviço aos mais pobres e excluídos e de um forte empenhamento cultural. Estas realidades eclesiais devem ser apreciadas como dons do Espírito em ordem à edificação da comunidade eclesial, especialmente em âmbitos pouco tocados pela ação pastoral.

66. Promover a recomposição familiar da vida comunitária. A importância da família para a vida de toda a sociedade é também um benefício para a Igreja, como escreve o Papa Francisco: «A Igreja é família de famílias, constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas. Assim, em virtude do sacramento do Matrimónio, cada família torna-se, para todos os efeitos, um bem para a Igreja» (AL 87). Nesta perspetiva, a atenção a cada pessoa tem de ter em conta a sua realidade familiar. Exige-se, portanto, que cada comunidade se questione acerca das relações que a constituem e suportam, descubra a riqueza e valorize o contributo das famílias e as valorize como protagonistas da evangelização.

São muitas as famílias que não tendo uma prática religiosa regular procuram a Igreja para celebrar um sacramento ou para solicitar a catequese para as crianças. Num contexto de maior distância cultural face ao mundo da fé, este facto constitui uma oportunidade para que se proponham aos adultos formas concretas de descoberta da fé e de primeiro anúncio que favoreçam a sua integração eclesial. A formação e acompanhamento das famílias, nas suas complexas problemáticas, favorecem o nascimento de dinamismos fecundos de colaboração entre elas e as comunidades cristãs. Neste sentido, incentivem-se iniciativas pastorais que devolvam à família a responsabilidade da sua função educativa.

67. Promover a atualidade evangelizadora da paróquia. A paróquia constitui uma imprescindível realidade evangelizadora. Mesmo necessitando de uma renovação constante (cf. CFL 26) e de uma revisão dos seus pressupostos evangelizadores em ordem a uma pastoral em chave missionária, a paróquia continua a ser «presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração» (EG 28). A reflexão sinodal apontou como uma das principais prioridades na reformulação da função evangelizadora da paróquia a passagem de um modelo territorial estanque a um paradigma pastoral que englobe os desafios lançados pelas comunidades urbanas e que vá ao encontro da mobilidade e diversidade dos ritmos de vida das pessoas. Continuando a ser lugar de irradiação do Evangelho, a paróquia é chamada a colocar todos os seus meios e potencialidades ao serviço do «sonho missionário de chegar a todos», assumindo um estado permanente de missão tanto para os batizados, como para os que ignoram, se afastaram, recusam ou prescindem de Cristo nas suas vidas.

68. Viver sinodalmente. A experiência recente da Igreja de Lisboa impele-nos, na senda da renovação eclesiológica promovida pelo Concílio Vaticano II, a uma transformação missionária a desenvolver por meio de uma sinodalidade prática. Neste sentido, impõe-se ponderar a real vitalidade das suas estruturas de participação e valorizar as expressões de corresponsabilidade existentes ou a implementar. Para que isso aconteça, fomente-se a criação de espaços de encontro e de parti- lha, de estudo e de reflexão; promova-se a comunhão e a coordenação entre os diversos organismos diocesanos, nomeadamente os da Cúria; incrementem-se e dinamizem-se estruturas de sinodalidade, tais como as já existentes regiões pastorais, as equipas vicariais de coordenação pastoral e outros organismos previstos pelo direito (conselho económico e conselho pastoral paroquial). No contexto atual, espera-se dos ministros ordenados um estímulo à participação de todos, promovendo uma autêntica cultura da sinodalidade na Igreja.

69. Com Maria, Mãe e modelo da Igreja Evangelizadora. «Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha» (Lc 1, 39). No ícone da Visitação, a Igreja descobre um estilo materno de evangelizar, com- posto por «ternura e afeto», feito de prontidão e alegria, capaz de «reconhecer os vestígios do Espírito Santo» e de «contemplar o mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária» (cf. EG 5.288). Como mãe de coração aberto e atento às necessidades dos irmãos, a Igreja é chamada a «sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas» e a «ser sempre a casa aberta do Pai onde há lugar para todos», sobretudo para os humildes, os pobres, os famintos e os fatigados (cf. EG 46-48). Com Maria, a Igreja de Lisboa é chamada a festejar cada passo dado em frente na evangelização e a exultar no Senhor que nela «manifesta o poder do seu braço» e realiza maravilhas (cf. EG 24; Lc 1, 46-55). Com Maria, principalmente, porque a Ela nos confiou Jesus Cristo e sem Ela nada seríamos nem faríamos como Igreja.

70. A caminhada sinodal aponta alguns caminhos de renovação eclesial especificados nas seguintes opções:

1.ª SANTIDADE
a. Assumir a vocação à santidade como apelo divino e caminho para todos os discípulos missionários;
b. Cultivar a vida de oração a nível pessoal e comunitário, contributo essencial para a fecundidade pastoral da missão;
c. Acolher a Palavra de Deus, proclamada e realizada nos sacramentos, como fonte e alimento da vida em Cristo;
d. Incrementar a lectio divina (leitura orante da Palavra) como prática habitual nas comunidades cristãs.

2.ª MISSÃO
a. Fazer da missão o paradigma da ação evangelizadora da Igreja, saindo ao encontro de todas as periferias;
b. Centrar o conteúdo da evangelização no querigma, fazendo ressoar em todas as partes o primeiro anúncio da fé;
c. Propor de novo o caminho da fé aos indiferentes e afastados;
d. Desenvolver uma autêntica missão ad gentes nos diversos âmbitos geográficos, sociais e culturais;
e. Atender às dimensões sociais do querigma, nomeadamente na edificação da comunidade humana e no compromisso com os outros.

3.ª COMUNIDADE
a. Adotar, efetivamente, um estilo sinodal de viver e decidir em Igreja;
b. Incentivar nas comunidades uma atitude constante de acolhimento, como casa de Deus para todos;
c. Atender sempre à pastoral de conjunto;
d. Valorizar o papel dos movimentos e outras comunidades eclesiais no âmbito da pastoral diocesana;
e. Fomentar a dinâmica familiar e comunitária da vida cristã.

4.ª INICIAÇÃO CRISTÃ
a. Promover a iniciação cristã como pedagogia catecumenal e vocacional da fé;
b. Dinamizar a catequese e a formação de todos em ordem ao encontro com Deus, à integração na comunidade – «família de famílias» – e ao testemunho apostólico;
c. Personalizar os itinerários de iniciação e de re(iniciação) em ordem à vida cristã, alimentada pela Palavra de Deus e pelos sacramentos.

5.ª FAMÍLIA
a. Caminhar com todas as famílias, anunciando-lhes o Evangelho que as ilumina e promove;
b. Propor o Matrimónio cristão como caminho de vida e santidade, apostando na sua preparação na juventude e no tempo de namoro;
c. Desenvolver as dimensões próprias da espiritualidade conjugal;
d. Reforçar o contributo da família como sinal credível e sujeito ativo para a evangelização;
e. Apoiar sempre as famílias, renovando-as na esperança e na confiança em Deus.

6.ª VOCAÇÃO
a. Salientar a dimensão vocacional da existência e da vida da fé;
b. Dinamizar a pastoral vocacional junto dos jovens acompanhando-os no seu caminho;
c. Cultivar a vocação sacerdotal e a formação nos seminários em resposta às necessidades da vida da Igreja e do mundo atual;
d. Cuidar das vocações de especial consagração, indispensáveis à Igreja e ao mundo, como sinais do Reino;
e. Reconhecer a responsabilidade própria dos leigos no mundo como agentes transformadores da sociedade.

7.ª SINODALIDADE
a. Promover uma autêntica cultura da sinodalidade como estímulo à corresponsabilidade de todos na vida da Igreja e no serviço ao mundo;
b. Implementar as atuais instâncias de participação, como experiência de sinodalidade criativa;
c. Estabelecer modos e tempos de avaliação do caminho sinodal da Igreja de Lisboa.

O Sínodo Diocesano de Lisboa constituiu uma ocasião propícia para assumir «a missão como propósito e a sinodalidade como método»(4). A Igreja de Lisboa quer ir além do sonho que a move e encarnar neste tempo o rosto da beleza do Pai, os gestos da caridade do Filho e a força surpreendente do Espírito Santo.

Lisboa, 8 de Dezembro de 2016,
Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria,
na Celebração conclusiva do Sínodo Diocesano.

+ Manuel, Cardeal-Patriarca


(1) D. MANUEL CLEMENTE, «“O sonho missionário de chegar a todos” (EG 31). Iniciando o caminho sinodal do Patriarcado de Lisboa», in Vida Católica 4ª série – II/3 (maio/agosto 2014), 128-129.
(2) D. MANUEL CLEMENTE, «Homilia na missa de entrada como Patriarca de Lisboa: “Reedificar na paz a cidade de todos”», in Vida Católica 4ª série – I/1 (julho/dezembro 2013), 38.
(3) PAPA FRANCISCO, «Discurso do Papa Francisco aos Bispos Portugueses em visita “ad Limina
Apostolorum”», in Lumen série III – 76/5 (Setembro/outubro 2015), 6.
(4) D. MANUEL CLEMENTE, «A missão como propósito e a sinodalidade como método. Introdução ao programa diocesano 2015/2016», in Vida Católica 4ª série – III/6 (maio/agosto 2015), 13-15.


Siglas
AA - Concílio Vaticano II, Decreto Apostolicam Actuositatem; At Atos dos Apóstolos;
AG - Concílio Vaticano II, Decreto Ad Gentes;
AL - Papa Francisco, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia; CFL João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici; CIC Código de Direito Canónico;
CIgC - Catecismo da Igreja Católica;
DD - João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini; DGC Directório Geral da Catequese;
EE - João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Europa; Ef Carta aos Efésios;
EG - Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium;
EN - Paulo VI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Evangelii Nuntiandi; Gn Livro do Génesis;
GS - Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes; Jo Evangelho segundo São João;
LG - Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium; LS Papa Francisco, Carta encíclica Laudato Si’;
MM - Papa Francisco, Carta Apostólica Misericordia et Misera; MV Papa Francisco, Bula Misericordiae Vultus;
NMI - João Paulo II, Carta Apostólica Novo Millennium Ineunte;
PDV - João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores Dabo Vobis; PP Paulo VI, Carta encíclica Populorum Progressio;
RM - João Paulo II, Carta encíclica Redemptoris missio;
SC - Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium.

 

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