PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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O Amor como Critério de Gestão

AntonioLeite2Ca'Fé e uma conversa improvável com... António Pinto Leite

No passado Domingo, 21 de junho, numa tarde soalheira convidativa a outras paragens, um Grupo de Jovens apaixonado empreendeu uma nova edição – depois do sucesso dos encontros com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa e com o Dr. Paulo Nogueira (SIC) – do evento "Ca'Fé e uma Conversa Improvável com...", no renovado Auditório do Centro Social e Paroquial de S. Miguel Arcanjo de Queijas, inaugurado em Setembro de 2013, com cerca de 300 lugares sentados. Com o apoio incondicional do seu pároco, Padre Alexandre Santos, scj, o Grupo de Jovens da Paróquia de Queijas, da Vigararia de Oeiras, animado pela Fé e Amor em Cristo Jesus que constitui a sua essência e vocação, propõe-se continuamente a intervir de forma ativa na comunidade em que se insere, testemunhando e levando a todos a alegria sempre nova do Evangelho.

Nesta terceira edição, coube ao Dr. António Pinto Leite aceitar o desafio de conversar com um auditório jovem (há mais ou menos tempo!) sobre um tema tão improvável quanto oportuno: O Amor como Critério de Gestão. Caracterizando-se como um workaholic self-made man que recusa inteiramente o pessimismo espiritual sobre o mundo moderno, António Pinto Leite, conceituado advogado da "Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados – Sociedade de Advogados", docente na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e Guest Speaker no The Lisbon MBA, é presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), bem como membro do Conselho Superior de Magistratura eleito pela Assembleia da República.

«O centro vital da ética cristã é o amor». Esta frase de Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, encontrada aleatoriamente (tê-lo-á mesmo sido?) na preparação de um discurso para uma ilustre assembleia de empresários e gestores, revelou-se uma epifania para Pinto Leite. Compreendeu, a partir de então, que a ética empresarial cristã ou era a partir do amor, ou não o era de todo. Nesse sentido, estaria o Senhor Nosso Deus a provocá-lo para falar de amor a corações pragmáticos e particularmente endurecidos num tempo de enorme crise e sofrimento social? António Pinto Leite assim o entendeu e, com coragem e determinação, aceitou o desafio. Diz-nos que "o confronto dos líderes empresariais com o amor, com a palavra amor, não deixa nada igual. É como uma experiência química, com impactos espirituais, económicos, éticos, existenciais." Acrescenta, "percebi que o amor, a simples palavra, o desassombro que traz consigo quando é dita, faz toda a diferença. O amor faz toda a diferença e não é indiferente que seja dito ou não seja dito. E ainda mais diferença faz se é dito no mundo dos negócios".

Apelando à criatividade, Pinto Leite pediu que nos imaginássemos num restaurante para o qual um jantar muito especial tinha sido marcado. Um homem "tão bonito que até os outros homens olhavam para ele" convidara uma mulher voluptuosa, atraente, interessada e interessante, enfim, uma mulher "que provoca todo o tipo de tentações". O nome do homem era Amor. A mulher chamava-se Economia. Estranhando o convite de alguém que mal conhecia, a Economia perguntou ao Amor: Quem és tu?, ao que este respondeu: Sou sério e honesto, responsável diante dos riscos. Tenho os outros no centro das minhas preocupações e busco a competência para poder servir. Não abuso dos mais fracos – protejo-os –, nem sou ganancioso, árido de valores ou obsessivo com o meu lucro pessoal. Nasci para trabalhar e anseio por dar frutos e prosperar! Sou insaciável e ganhador, mas convivo sem dor com os limites e protejo o que amo.

António Pinto Leite acredita no convívio harmonioso da Economia Social de Mercado com a Doutrina Social da Igreja. Quando se questionou se realmente haveria algum fundamento que tornasse imperativo colocar a liderança empresarial diante do amor e o amor no centro da liderança empresarial, foi beber a resposta à mais rica de todas as fontes: o Evangelho. A resposta é dada por Cristo, na primeira pessoa, a um doutor da lei: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Tal é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo. A estes dois mandamentos está ligada toda a lei» (Mt 22, 37-40). O corolário desta reflexão é o seguinte: amar o próximo como critério de gestão significa tratar os outros como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles. Acrescenta Pinto Leite, "O amor está inscrito na natureza humana e é o essencial dessa natureza. Este critério faz coincidir o Homem económico com o todo de si mesmo. Por isso o critério é tão poderoso. Por esse motivo parece-me razoável calcular que o critério seja acolhido com sobressalto humano e que desse sobressalto resulte a necessidade de o partilhar e multiplicar."

Estará o serviço aos homens, por parte de um líder empresarial, em dar esmola aos pobres ou, com a sua generosidade, em imolar a empresa num contexto competitivo não raramente selvagem? Não é essa a conceção de Pinto Leite. Diz-nos o advogado e empresário que tomou por adquirido que "as empresas não podem ser geridas com o coração, na sua leitura sentimental. Seria matematicamente suicidário. Ora, sendo suicidário, concluí que Deus não quer isso; a sua ordenação das coisas não contempla, ou não exige, que as empresas sejam dirigidas, numa linguagem comum, apenas com o coração. [...] O serviço, o amor que lhe é pedido [ao empresário], consiste em tornar sustentável a empresa que lhe está confiada no preciso contexto concorrencial que a realidade lhe propõe e, assim, promover o desenvolvimento da «comunidade humana» que dela depende." Acrescenta, "O amor não podia ter como concorrência necessária adulterar a vocação das empresas para a maximização do resultado dos investimentos realizados. O amor como critério de gestão faz empresas mais produtivas, sendo ele próprio, assim, fator de maximização do lucro."

Voltando ao restaurante, a resposta óbvia da Economia foi: Compaixão, delicadeza, perdão, generosidade... O que tenho eu a ver como isso? O que pretendo é rigor, disciplina, exigência e sancionar a incompetência visando os bons resultados.

Torna-se evidente que o primeiro confronto do amor enquanto critério de gestão é com a exigência. Afirma Pinto Leite que "a crítica de que o amor é incompatível com a exigência das organizações empresariais modernas parecia um desafio insuperável. (...) Este exercício fez-me entender não só que o amor não é incompatível com a exigência, mas também que não há nada mais exigente, no plano interpessoal e comunitário, do que o amor. No âmbito da vida empresarial, não hesito em dizer que, numa empresa que tenha o amor como referência, interna e externamente, o nível de exigência sobre todos e cada um é muito maior. Porque do amor se espera muito mais do que se espera do dever de cumprir. O amor estreita a tolerância para o egoísmo, para a indisciplina, para a incompetência ou para a quebra de solidariedade. Ao ser assim, o amor é um fator de progresso empresarial e não um inibidor de exigência no mundo económico." Afinal, não seremos nós mais exigentes com aqueles que mais amamos, como os nossos filhos?

A Economia insistiu: O que eu mais desejo é a sustentabilidade, algo que tu não pareces poder dar-me... Ao que o Amor respondeu: Estás enganada, na verdade eu tenho a característica-base da sustentabilidade. O grande inimigo da sustentabilidade é o curto prazo, o imediatismo. Ora, eu tendo para sempre ou, utilizando a tua linguagem, tendo para o longo prazo. Eu tenho a vocação dos laços profundos, da resistência no tempo, do sucesso duradouro. Eu concebo para sempre, organizo e giro as coisas para que elas durem e permaneçam. Mas tenho outras duas características que te podem ajudar muito: por um lado, permaneço feliz na dificuldade, resisto na adversidade, espero sem pressa a compensação; por outro, busco sempre a harmonia e a justiça, tendo para a coesão, distribuo e equilibro, não seco nem esgoto para mim o que deve ser de outros também.

António Pinto Leite entende que "O amor tem um potencial pragmático muito útil à decisão empresarial. É estranho, mas o amor é o mais poderoso critério racional de liderança de uma organização. Na sua intimidade, permite decidir sem grande esforço. A ética do amor impõe-se por si à nossa razão. O amor tem vontade própria. O amor contém, em si, um código de conduta. Por amor, sabemos exatamente como proceder." Diz-nos, ainda, que "O primeiro passo para confirmar a perceção de que o amor é um poderoso fator de riqueza foi de ordem empírica. Na verdade, a evidência empírica demonstra que as empresas com melhor gestão do capital humano, com melhores salários, com lideranças socialmente mais responsáveis, são as mais ricas. A evidência empírica também demonstra que as economias em que as empresas pagam mais cedo entre si, em que há menor fuga aos impostos, em que as políticas de responsabilidade social são mais avançadas, em que há maior respeito pelo ambiente, são aquelas em que assentam as sociedades mais desenvolvidas do mundo. (...) Líderes humanizados fazem organizações humanizadas, organizações humanizadas fazem pessoas felizes, pessoas felizes fazem empresas produtivas, empresas produtivas fazem uma economia competitiva, uma economia competitiva faz uma sociedade justa."

A própria definição de lucro, encontrada nos mais diversos manuais de Economia, revela-se-nos incompleta. Como nos diz Pinto Leite, "O retorno do capital que investimos pode não se traduzir apenas numa dimensão financeira. O lucro pode ter uma dimensão moral, imaterial. Lucro é o retorno, de ordem material e imaterial, que compensa adequadamente aquele que investe o seu capital numa empresa, no quadro da definição de interesses e motivações que o próprio investidor tem e estabelece."

Alerta-nos, ainda, para a falácia que reside em confundir Amor com Ética nos negócios: "A criação de riqueza movida pelo lucro de curto prazo não ofende a ética nos negócios. Só o amor vê o longo prazo com nitidez, por ser essa a sua vocação; só a ética do amor condena a gestão que não vê o futuro. Por outro lado, se amor e ética nos negócios caminham juntos na justiça (dar ao outro o que lhe é devido), separam-se na gratuidade. E a gratuidade faz toda a diferença, nas relações internas e nas relações com o exterior. A ética nos negócios arruma, o amor como critério de gestão desarruma." Podemos, assim, adaptar e replicar o ensinamento de São Paulo aos Coríntios, dizendo: "ainda que cumpra todas as normas éticas, se não tiver amor, nada sou."

Neste contexto, revela-se oportuno invocar o recorrente desencanto de Jesus Cristo com os sacerdotes e doutores da lei, tão zelosos que eram no cumprimento das mais diversas regras e princípios, mas tão vazios de amor... "Agir com amor é essencial à peregrinação empresarial de um cristão. Decantado do sentimentalismo, o amor é vital para a nossa paz espiritual e para agradarmos a Deus. Sem amor, Deus não tem tempo de entrada na nossa vida e sem amor não teremos tarefa fácil diante da eternidade. Para um cristão, a diferença essencial entre a ética nos negócios e o amor como critério de gestão é que só este é caminho prudente de salvação.", declara Pinto Leite.

O amor como critério de gestão deve ainda ter presente a noção crítica de que o céu e o inferno também acontecem na Terra. Podemos ser céu ou ser inferno para os outros com quem interagimos empresarialmente, seja dentro da empresa, seja nas relações externas. O amor impõe, também com uma componente de puro sentimento, que sejamos céu e não inferno para os outros.

António Pinto Leite desafia-nos à liderança: "Todos podemos ser fatores de liderança. Liderar é fazer acontecer e todos somos chamados a fazer acontecer aquilo em que acreditamos. [...] O amor como critério de gestão não tem de ser um desígnio ou uma tarefa do líder de topo, nem tem de se tornar inviável por causa dela. É essencial fazer sentar o amor na mesa das decisões."

O desfecho do jantar romântico entre o Amor e a Economia? Não sabemos. Desconhecemos se a Economia continuou irredutível na sua zona de conforto ou se deu uma oportunidade ao Amor. Estaremos nós, hoje, dispostos a deixar o amor falar dentro das empresas, dentro da Economia? Estará no Amor (como critério de gestão e não só) o segredo económico do século XXI?

João Borba Martins, Grupo de Jovens de Queijas

 

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