Afinal, quem sou eu?
Penso na vida, em Deus, em tudo o que me rodeia, em como tudo nasce, vive e morre, na beleza das pequenas coisas que fazem parte deste mundo e que dele participam.
Mas serei capaz de pensar, quem sou eu? O que estou aqui a fazer? Porque faço parte deste Universo imenso, onde há uma imensidão por descobrir e, no entanto, nada sei sobre a pequenez do meu ser? E qual será o meu papel nesta vida, o que estou aqui a fazer?
Mas afinal, quem sou eu?
Vivemos o dia-a-dia convivendo com imensas pessoas, com as quais partilhamos inúmeras experiências, conversas, atitudes, sentimentos, e sem nos apercebermos, vamos construindo e encarnando uma personagem que molda a nossa personalidade e permite, pouco a pouco, conquistar o nosso lugar na sociedade, junto daqueles que nos rodeiam.
Mas na verdade, são poucas as vezes em que paramos e reflectimos sobre o quem realmente somos. Estamos demasiado ocupados para tentar perceber o que acham os outros sobre nós e deixamos que acabem por construir, por entre caminhos tortuosos e muitas vezes incompletos, o nosso ser.
Assiste-se, actualmente, a uma ruptura no verdadeiro sentido do que é ser Homem. Tudo aquilo que nossos antepassados nos deixaram, teima em ser deixado para trás e fechado num local bem longínquo, onde não há lugar para sentimentos, qualidades ou defeitos. Somos programados para responder e agir consoante o ambiente em que estamos inseridos, não permitindo que o que há de verdadeiro em nós se revele. Vivemos mergulhados numa crise de valores, que caminha a passos largos para um abismo de ignorância pessoal. Deixámos de dar valor a tudo o que era fundamental no passado, para começarmos a idolatrar o descomprometimento com a vida e, pior do que isso, deixámos moldar o nosso carácter, as nossas atitudes, o nosso coração, nessa onda de insensatez.
E, contudo, caminhamos indiferentes, deixando que a resposta se desvaneça por entre as nossas mãos, sem nada fazer…
Jesus Cristo propõe-nos um outro rumo para a nossa vida. Ele chama-te pelo que és, não te diz para seres de uma maneira ou de outra. Ele escolhe-te a ti, porque só ele sabe o quão importante é lutares para que a tua personalidade seja construída com base em ideias firmes, só ele sabe a importância da tua identidade no mundo…
Um autor desconhecido propõe-nos a seguinte reflexão:
Certo dia, uma mulher cansada, pára para ouvir o que Deus tem para lhe dizer. Ficou surpreendida ao ouvir uma voz dizer-lhe…
- Quem és?
- Sou a mulher do António – respondeu ela.
- Perguntei-te quem és, não com quês estás casada.
- Sou mãe de quatro filhos – tentou novamente a mulher.
- Perguntei-te quem és, não quantos filhos tens.
- Sou professora numa escola.
- Perguntei-te quem és, não qual a tua profissão.
Assim continuou a conversa entre aquela mulher perdida e a voz que perguntava continuamente “quem és?”.
Inconsolada, a mulher não conseguia perceber porque rejeitava aquela voz todas as respostas que dava para a sua pergunta.
Parou para pensar e escutar o verdadeiro sentido daquela pergunta. Foi então que ouviu novamente a voz perguntar-lhe “afinal, quem és?”. Num misto de compressão e desespero, começam a escorrer pela face da mulher lágrimas, por descobrir que em toda a sua vida tinha vivido o papel de alguém que desconhecia e, pior do que isso, nunca tinha parado para pensar quem era aquela pessoa, quem era a sua pessoa.
(Texto adaptado)
Mudar é possível. A necessidade de mudar afirma-se dentro de ti. Talvez a dúvida e o medo te detenham, mas podes mudar o teu rumo. Por isso, decide-te e começa a mudar. Procura, luta, conquista e ganha o teu lugar na sua sociedade, no mundo. Ganha um lugar no teu próprio coração que te permita perceber e responder “quem sou eu?”
Francisco Apolinário