A Conjugalidade
«Cristo revela a verdade originária do matrimónio,
a verdade do princípio e, libertando o homem da dureza do seu coração,
torna-o capaz de a realizar inteiramente.» (João Paulo II, FC)
1. Introdução
A primeira ideia que nos ocorreu quando o texto do nosso Guia nos interpelava para reflectirmos em tudo o que foi mudando na nossa vida e no nosso comportamento desde a altura em que nos casámos, foi o de recuarmos uns bons dez anos, ou mais, e de recordarmos aquelas sessões de CPM em que todos nós, agora membros da equipa Carnaxide 5, participámos. E como a conjugalidade é, segundo o texto, a intima comunidade da vida e do amor vivida pelo casal, pareceu-nos que a melhor forma de desenvolvermos este tema seria recordarmos o caminho que todos nós percorremos nessa altura quando abordámos os diversos temas propostos.
E ainda se lembram quais os seis temas que tínhamos que pensar e debater em casal?
Outra feliz constatação é que passados tantos anos, mais de dez, todos os participantes da nossa Equipa ainda permanecem felizes e contentes no seu matrimónio, seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo, de acordo com as leituras recomendadas pelo nosso texto de apoio ao referir as passagens relativas aos Evangelhos de Mateus e de Marcos.
2. Recordando o CPM
Para abordarmos o tema da conjugalidade vamos então recordar os temas que discutimos pormenorizadamente ao longo de tantas horas nos diversos encontros do CPM em que cada casal elaborava um texto, normalmente de uma ou duas páginas, sobre cada um dos temas propostos.
Mas para que esta abordagem seja mais rica entendemos recorrer a algumas passagens de um texto elaborado pelo Conselheiro Espiritual da Supra Região Brasil – Padre Flávio Cavalca de Castro – cuja cópia integral será entregue a cada Casal, possibilitando assim a sua fácil leitura.
2.1. Comunidade de Amor
A primeira reflexão de todos os casais centrava-se na dimensão do matrimónio como comunidade de amor, entre o casal, na sua relação com a família e com a comunidade onde estava inserido.
Segundo o Padre Flávio o casal cristão é um sinal do amor de Deus e enviado para uma missão especial na igreja e no mundo:
Casal sinal no sentido de que o casal cristão é o sinal do amor de Deus na Igreja e no mundo, sendo que a Igreja é o sinal-sacramento de Cristo. " Na Igreja, o casal cristão, pelo sacramento do matrimónio, tem características e funções próprias e, portanto, vai poder tornar o Cristo presente de uma maneira que lhe é própria".
Casal enviado: o casal cristão deve então ir, actuar, dar testemunho em espírito de missão, para continuar a acção e obra de Cristo.
2.2. Matrimónio-Sacramento
Através do sacramento do matrimónio "o casal torna presente a força salvífica de Deus, que traz a felicidade, a salvação e a plenificação das pessoas, através da sua vida familiar, criando o ambiente onde os seus filhos e os outros podem descobrir a presença da bondade, da compreensão e da felicidade."
Sem condicionar a individualidade de cada um, a vivência do sacramento do matrimónio também permite que a sua intervenção no plano social seja exercida de forma própria, valorizando a dimensão do casal "promovendo de maneira forte e definitiva os valores do casamento, que englobam também os valores familiares, de tal maneira que a sociedade não seja dominada pelo poder e pelo dinheiro, mas seja formada, orientada e ordenada em vista das pessoas e da família. O casal, além do sacerdócio universal que vem pelo baptismo, vive também um sacerdócio universal qualificado pelo sacramento do matrimónio."
João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio sublinha a importância da Eucaristia na vida de um casal cristão referindo que "o dever de santificação da família tem a sua primeira raiz no baptismo e a sua expressão máxima na Eucaristia, à qual está intimamente ligado o matrimónio cristão(...) Redescobrir e aprofundar essa relação é absolutamente necessário, se se quiser compreender e viver com maior intensidade as graças e responsabilidades do matrimónio e da família cristã. A Eucaristia é mesmo a fonte do matrimónio cristão."
2.3. Diálogo e gestos de amor
A vivência de cada casal ao longo da sua vida é um desfilar de encontros e desencontros, pretendendo-se todavia que estes últimos sejam de curta duração e de rara frequência. Mas sempre com amor, com gestos de amor.
E nunca esquecendo que Cristo está sempre presente. É que, assim, o amor que cada membro do casal sente pelo outro pode ser AMOR com A grande. "Em cada gesto bom, em cada acto bom de um baptizado está presente a força de Cristo que faz a salvação das pessoas. É o Cristo que trabalha, é o Cristo que se diverte, é o Cristo que ama, é o Cristo que escuta, é o Cristo que faz poesia, é o Cristo que faz música, é o Cristo que cria técnica."
E é o Cristo que nos dá força para cada um de nós sermos CASAL SINAL
2.4. Fecundidade do casal
No CPM desenvolvemos este tema falando muito dos nossos filhos, da nossa família e daqueles que nos são mais próximos. Hoje, como casais das ENS, obviamente para além de todos os desafios já referidos, temos pela frente um desafio ainda maior. É sermos CASAL ENVIADO. Não podemos esquecer a nossa missão evangelizadora, o nosso dever de darmos a conhecer Cristo aos outros, quer pelas nossas acções, quer pelo nosso exemplo e testemunho. E isto é sermos casais fecundos!
Tal como dizia o Padre Flávio: "o casal cristão deve ajudar o mundo a vencer a sua alergia pelo cristianismo, esse mundo ao mesmo tempo tão tolerante com todas as ideias, com todas as correntes, e tremendamente refractário à presença cristã."
2.5. Novas situações – novas exigências
Normalmente este tema era tratado pensando nos casais novos e na transição de uma vida mais despreocupada, de solteiro, para outra com maiores responsabilidades, em que é fundamental o respeito mútuo e a capacidade de dar um espaço próprio ao outro elemento do casal. Ora como todos nós já somos experientes nessa matéria, ou não estivessemos todos já casados por diversas décadas em que o tempo de casado já é superior àquele em que vivemos solteiros, essa aprendizagem foi, com toda a certeza, apreendida e posta em prática.
As novas exigências com que hoje, mais do que nunca, nos confrontamos é a de sermos UM CASAL SINAL E UM CASAL ENVIADO porque esta postura de vida, se bem que sempre a devessemos ter, constitui um enorme desafio que deveria estar sempre presente no nosso espírito, mas não é fácil.
Neste Ano da Fé poderíamos integrar este desafio ao nível dos pontos concretos de esforço ou mesmo na regra de vida.
2.6. O amor ao longo da vida
"O casal cristão tem a missão de, pela sua presença, anunciar o Evangelho com todas as suas implicações, também sociais e económicas. Segundo Paulo VI na Evangeli Nuntiandi, evangelizar significa fazer acontecer o Evangelho. Fazer acontecer a felicidade do homem por todos os meios lícitos e eficazes. Geralmente usamos meios lícitos, mas raramente usamos meios eficazes para transformar a realidade. Finalmente o casal cristão tem, no mundo, a missão de oferecer a todos, solteiros e casados, gente de todas as idades, uma esperança fundada: existe saída e existe caminho para a felicidade."
Em síntese,
Parece-nos que estas palavras se aplicam com total propriedade aos tempos que actualmente vivemos e que podem constituir um bom incentivo à dinâmica que cada um dos casais da Nossa Equipa deve implementar na sua vida de casal de modo a constituir UM CASAL SINAL E UM CASAL ENVIADO.
Tema preparado por:
Carmo e Celso Marques de Abreu, ENS Carnaxide 5
11 de Janeiro de 2013