A semente e a terra
Quantas vezes, Senhor, a tua Palavra caiu, como semente, sobre mim! Em família, na escola, na catequese, nas aulas de religião e de Sagrada Escritura, nas celebrações litúrgicas; sozinho, em grupos de reflexão, em assembleias de fé...
Como chuva miudinha, mas persistente, a tua Palavra foi descendo sobre mim, regando o meu coração, amolecendo a minha inteligência, fecundando a minha vontade, frutificando na minha vida...
Eu sei que nem sempre foi assim, de forma tão harmoniosa e progressiva, sem rejeições nem retrocessos. Às vezes, como o teu povo de Israel, cometi o duplo crime de abandonar-te, fonte de águas vivas, e cavar cisternas rotas que não podiam reter as águas das minhas dúvidas e sedes de infinito e liberdade.
Mas também creio, Senhor, com o profeta Isaías, que a tua Palavra, como a chuva e a neve, não regressa a ti sem ter produzido o seu efeito, executando a tua vontade e cumprindo a sua missão.
Por isso ainda aqui estou hoje, diante de ti: porque nunca deixaste de ser meu Amigo, de chamar por mim e de me falar a palavra mais oportuna em cada momento da minha vida.
Obrigado, Senhor! Eu creio que a tua Palavra é viva e eficaz e só tu tens palavras de vida eterna, que me ensinam, convencem, corrigem e instruem na justiça, tornando-me perfeito e apto para toda a boa obra.
Faz-me ser cumpridor da tua Palavra, e não um mero ouvinte, que apenas a escuta e não a põe em prática, como o homem que se contempla ao espelho e se esquece de como era.
Eis-me aqui: podes enviar-me a anunciar a tua Palavra; mas livra-me de ser como um sino ou um címbalo sem alma, que apenas ressoam, tornando-me um pregador vão e exterior da Palavra que não ouço no meu íntimo.
Que não me movam nem desiludam os números da colheita: 30, 60 ou 100 por um, tudo é dom do teu amor por mim. Dá-me, apenas, a graça de ser igual a mim próprio, correspondendo fielmente à medida dos dons que me concedes.