PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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Comemoração de todos os Fiés Defuntos

G094

«Uma flor, pelos nossos mortos, murcha;
uma lágrima, pelos nossos mortos, seca;
a oração pelos nossos mortos, Deus recebe-a em Suas mãos!».
(Santo Agostinho)

Dia de silêncio e de saudade, de esperança e de oração. Vamos ao cemitério, levamos flores às sepulturas e elevamos ao céu muitas preces. Certamente que em todos estes gestos e devoções está presente a nossa fé na Ressurreição.

A Liturgia de hoje recorda-nos a Morte, não para nos amedrontar, mas para nos fazer descobrir o sentido desta vida e a alegre verdade sobre a qual está fundamentada a nossa fé: a Ressurreição.

Pensar na morte não é uma perda de tempo, pelo contrário é uma luz que nos ajuda a fazer escolhas certas durante a vida. Por isso, a Palavra de Deus de hoje não quer comunicar medo ou angústia, mas a alegria de quem recebeu do alto a luz da Páscoa, que ilumina cada sepultura.


Primeira Missa
Primeira Leitura (Job 19, 1.23-27)

«Eu sei que o meu Redentor está vivo»

Leitura do Livro de Job
Job tomou a palavra e disse:
«Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro,
ou gravadas em bronze com estilete de ferro,
ou esculpidas em pedra para sempre!
Eu sei que o meu Redentor está vivo
e no último dia Se levantará sobre a terra.
Revestido da minha pele, estarei de pé;
na minha carne verei a Deus.
Eu próprio O verei,
meus olhos O hão-de contemplar».


SALMO RESPONSORIAL –Sl 26 (27)
O Senhor é a minha luz e a minha salvação.
O Senhor é minha luz e salvação:

a quem hei-de temer?
O Senhor é o protector da minha vida:
de quem hei-de ter medo?

Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio:
habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para gozar da suavidade do Senhor
e visitar o seu santuário.

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
A vossa face, Senhor, eu procuro:
não escondais de mim o vosso rosto.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.


Segunda Leitura (2Cor 4,14-5,1)
«As coisas visíveis são passageiras; as invisíveis são eternas»
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Como sabemos, irmãos,

Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
também nos há-de ressuscitar com Jesus
e nos levará convosco para junto d'Ele.
Tudo isto é por vossa causa,
para que uma graça mais abundante
multiplique as acções de graças de um maior número de cristãos
para glória de Deus.
Por isso, não desanimamos.
Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando,
o homem interior vai-se renovando de dia para dia.
Porque a ligeira aflição dum momento
prepara-nos, para além de toda e qualquer medida,
um peso eterno de glória.
Não olhamos para as coisas visíveis,
olhamos para as invisíveis:
as coisas visíveis são passageiras,
ao passo que as invisíveis são eternas.
Bem sabemos que,
se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita,
recebemos nos Céus uma habitação eterna,
que é obra de Deus
e não é feita pela mão dos homens.


EVANGELHO (Mt 11, 25-30)
«Vinde a Mim... Eu vos aliviarei»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus exclamou:

«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes
e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, Eu Te bendigo,
porque assim foi do teu agrado.
Tudo Me foi dado por meu Pai.
Ninguém conhece o Filho senão o Pai
e ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a Mim,
todos os que andais cansados e oprimidos,
e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».


Segunda Missa

Primeira Leitura (2 Mac 12, 43-46)
«Uma acção digna e nobre, inspirada na esperança da ressurreição»

Leitura do Segundo Livro dos Macabeus
Naqueles dias,
Judas Macabeu fez uma colecta entre os seus homens
de cerca de duas mil dracmas de prata
e enviou-as a Jerusalém,
para que se oferecesse um sacrifício de expiação
pelos pecados dos que tinham morrido,
praticando assim uma acção muito digna e nobre,
inspirada na esperança da ressurreição.
Porque, se ele não esperasse
que os que tinham morrido haviam de ressuscitar,
teria sido em vão e supérfluo orar pelos mortos.
Além disso, pensava na magnífica recompensa
que está reservada àqueles que morrem piedosamente.
Era um santo e piedoso pensamento.
Por isso é que ele mandou oferecer
um sacrifício de expiação pelos mortos,
para que fossem libertos do seu pecado.

 


SALMO RESPONSORIAL – Sl 102 (103)
Refrão: O Senhor é clemente e cheio de compaixão.
O Senhor é clemente e compassivo,

paciente e cheio de bondade.
Não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas.

Como um pai se compadece dos seus filhos,
assim o Senhor Se compadece dos que O temem.
Ele sabe de que somos formados
e não Se esquece que somos pó da terra.

Os dias do homem são como o feno:
ele desabrocha como a flor do campo;
mal sopra o vento desaparece
e não mais se conhece o seu lugar.

A bondade do Senhor permanece eternamente
sobre aqueles que O temem
e a sua justiça sobre os filhos dos seus filhos,
sobre aqueles que guardam a sua aliança
e se lembram de cumprir os seus preceitos.


Segunda Leitura (2Cor 5, 1.6-10)
«Recebemos nos Céus uma habitação eterna»
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: nós sabemos

que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita,
recebemos nos Céus uma habitação eterna,
que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.
Por isso, estamos sempre cheios de confiança,
sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo,
vivemos como exilados, longe do Senhor,
pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara.
E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo,
para irmos habitar junto do Senhor.
Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis,
quer continuemos a habitar no corpo,
quer tenhamos de sair dele.
Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo,
para que receba cada qual o que tiver merecido
enquanto esteve no corpo,
quer o bem quer o mal.


Evangelho (Jo 11, 21-27)
«Eu sou a ressurreição e a vida»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
disse Marta a Jesus:
«Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.
Mas eu sei que, mesmo agora,
tudo o que pedires a Deus, Ele To concederá».
Disse-lhe Jesus:
«Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu:
«Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia».
Disse-lhe Jesus:
«Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem acredita em Mim,
ainda que tenha morrido, viverá;
e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá.
Acreditas nisto?».
Disse-Lhe Marta:
«Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo».


Terceira Missa

Primeira Leitura (Is 25, 6-9)
«O Senhor destruirá a morte para sempre»

Leitura do Livro de Isaías
Sobre este monte,
o Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos
um banquete de manjares suculentos.
Sobre este monte,
há-de tirar o véu que cobria todos os povos,
o pano que envolvia todas as nações;
Ele destruirá a morte para sempre.
O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces
e fará desaparecer da terra inteira
o opróbrio que pesa sobre o seu povo.
Porque o Senhor falou.
Dir-se-á naquele dia:
«Eis o nosso Deus,
de quem esperávamos a salvação;
é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança.
Alegremo-nos e rejubilemos,
porque nos salvou».


SALMO RESPONSORIAL – Sl 22 (23)
Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.

Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo
me enchem de confiança.

Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça, e o meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida

e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.


Segunda Leitura (1Tes 4, 13-18)
«Estaremos sempre com o Senhor»
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância

a respeito dos defuntos,
para não vos contristardes como os outros,
que não têm esperança.
Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou,
do mesmo modo, Deus levará com Jesus
os que em Jesus tiverem morrido.
Eis o que temos para vos dizer,
segundo a palavra do Senhor:
Nós, os vivos,
os que ficarmos para a vinda do Senhor,
não precederemos os que tiverem morrido.
Ao sinal dado, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta divina,
o próprio Senhor descerá do Céu
e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.
Em seguida, nós, os vivos, os que tivermos ficado,
seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens,
para irmos ao encontro do Senhor nos ares,
e assim estaremos sempre com o Senhor.
Consolai-vos uns aos outros com estas palavras.


EVANGELHO (Jo 6, 51-58)
«Quem comer deste pão viverá eternamente e Eu o ressuscitarei no último dia»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
E o pão que Eu hei-de dar é minha carne,
que Eu darei pela vida do mundo».
Os judeus discutiam entre si:
«Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?».
Jesus disse-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
Se não comerdes a carne do Filho do homem
e não beberdes o seu sangue,
não tereis a vida em vós.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna;
e Eu o ressuscitarei no último dia.
A minha carne é verdadeira comida
e o meu sangue é verdadeira bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em Mim e Eu nele.
Assim como o Pai, que vive, Me enviou
e Eu vivo pelo Pai,
também aquele que Me come viverá por Mim.
Este é o pão que desceu do Céu;

não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram:

quem comer deste pão viverá eternamente».


Ressonâncias

Morramos com Cristo, para vivermos com Ele.Defuntos
«Vemos que também a morte pode ser lucro e a vida ser castigo. Por isso Paulo afirma: Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Que é Cristo, senão morte do corpo e espírito de vida? Morramos pois com Ele, para vivermos com Ele. Seja nosso exercício diário o amor da morte, a fim de que a nossa alma, pelo afastamento dos desejos corpóreos, aprenda a elevar se para as alturas, onde o prazer terreno não pode chegar nem atraí-la a si, e assim receba a imagem da morte para não incorrer no castigo da morte. A lei da carne contradiz a lei do espírito e quer submetê-la à lei do erro. Qual será o remédio para isto? Quem me libertará do meu corpo mortal? A graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Temos médico, apliquemos o remédio. O nosso remédio é a graça de Cristo, e o corpo mortal é o nosso próprio corpo. Por conseguinte, afastemo-nos do corpo para não nos afastarmos de Cristo. Embora vivamos no corpo, não sigamos o que é do corpo nem nos sujeitemos às exigências da natureza, mas prefiramos os dons da graça.

Que mais ainda? O mundo foi resgatado pela morte de um só. Cristo podia não ter morrido, se quisesse; mas julgou que não devia fugir à morte, como se fosse inútil; antes, considerou a como o melhor meio para nos salvar. A sua morte foi, portanto, a vida de todos. Recebemos o sinal sacramental da sua morte, anunciamos a sua morte na oração, proclamamos a sua morte na Eucaristia; a sua morte é vitória, é sacramento, é solenidade anual em todo o mundo.

Que diremos ainda da sua morte, depois de mostrarmos, com o exemplo divino, que só a morte conseguiu a imortalidade e se redimiu a si própria? Não devemos pois chorar a morte que é a causa da salvação universal; não devemos fugir à morte que o Filho de Deus não desprezou nem evitou.

Sem dúvida, a morte não fazia parte da natureza, mas tornou se natural; porque Deus não instituiu a morte ao princípio, mas deu a como remédio. Condenada pelo pecado a um trabalho contínuo e a lamentações insuportáveis, a vida dos homens começou a ser miserável. Deus teve de pôr fim a estes males, para que a morte restituísse o que a vida tinha perdido. Com efeito, a imortalidade seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça.

A nossa alma aspira a sair do estreito círculo desta vida, a libertar se do peso deste corpo terreno e a caminhar para aquela assembleia eterna onde só chegam os santos, para aí cantar o louvor de Deus, como cantam, segundo a leitura profética, os celestes tocadores da cítara: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor Deus omnipotente; justos e verdadeiros são os vossos caminhos, ó Rei das nações. Quem não há de temer e glorificar o vosso nome? Porque só Vós sois santo, e todos os povos virão adorar Vos. A nossa alma deseja partir deste mundo para contemplar as vossas núpcias eternas, ó Jesus, nas quais, por entre o cântico jubiloso de todos os eleitos, a Esposa é acompanhada da terra ao Céu – a Vós acorrerão todos os homens – já não sujeita ao mundo, mas unida ao Espírito.

Era isto que o santo David desejava, acima de tudo, contemplar e admirar, quando dizia: Uma só coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para viver na alegria do Senhor.»

Do Livro de Santo Ambrósio (Sec. IV), bispo, sobre a morte de seu irmão Sátiro
(Lib. 2, 40.41.46.47-132.133: CSEL 73, 270-274, 323-324)

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A nossa verdadeira morada
«É conveniente nunca perdermos de vista, caros irmãos, que renunciámos ao mundo e que vivemos aqui em baixo como hóspedes de passagem, como estrangeiros (Heb11,13). Bendigamos o dia que atribui a cada um a sua verdadeira morada, e que, depois de nos ter arrancado a este mundo e libertado das suas amarras, nos conduz ao paraíso e ao Reino dos Céus. Quem não se apressaria em regressar à pátria depois ter passado algum tempo o estrangeiro? Quem [...] não desejaria um vento favorável para navegar, para mais rapidamente abraçar os seus? A nossa pátria é o paraíso; desde sempre, tivemos os patriarcas por pais.

Porque não nos apressamos então para ver a nossa pátria, porque não corremos para saudar os nossos pais? Temos uma multidão de entes queridos à nossa espera, pais, irmãos, filhos, já seguros da sua própria salvação mas preocupados ainda com a nossa; eles desejam ver-nos entre eles. [...] É lá que se encontra o coro glorioso dos apóstolos, a multidão entusiasmada dos profetas, o exército inumerável de mártires, coroados com o seu sucesso contra o inimigo e o sofrimento [...]; é lá que reinam as virgens [...]; é lá que, por último, são recompensados os homens que experimentaram compaixão, que multiplicaram os seus actos de caridade provendo às necessidades dos pobres e que, fiéis aos preceitos do Senhor, chegaram a elevar-se dos bens terrenos aos tesouros do céu. Apressemo-nos por conseguinte em satisfazer a nossa impaciência de nos juntarmos a eles, e de comparecermos o mais rapidamente possível perante Cristo. Que Deus descubra em nós esta aspiração [...], Ele que concede a recompensa suprema da Sua glória aos que a desejaram com o maior ardor.»

(São Cipriano [c.200-258], bispo de Cartago e mártir)

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«Depois de ter cantado a glória e a felicidade dos Santos que «gozam em Deus a serenidade da vida imortal», a Liturgia, desde o início do século XI, consagra este dia à memória dos Fiéis Defuntos. É uma continuação lógica da festa de Todos os Santos.

Se nos limitássemos a lembrar os nossos irmãos Santos, a Comunhão de todos os crentes em Cristo não seria perfeita. Quer os fiéis que vivem na glória, quer os que vivem na purificação, preparando-se para a visão de Deus, são todos membros de Cristo pelo Baptismo. Continuam todos unidos a nós. A Igreja peregrina não podia, por isso, ao celebrar a Igreja da glória, esquecer a Igreja que se purifica no Purgatório.

É certo que a Igreja, todos os dias, na Missa, ao tornar sacramentalmente presente o Mistério Pascal, lembra «aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem agora o sono da paz» (Prece Eucarística 1). Mas, neste dia, essa recordação é mais profunda e viva.

O Dia de Fiéis Defuntos não é dia de luto e tristeza. É dia de mais íntima comunhão com aqueles que «não perdemos, porque simplesmente os mandámos à frente» (S. Cipriano). É dia de esperança, porque sabemos que os nossos irmãos ressurgirão em Cristo para uma vida nova. É, sobretudo, dia de oração, que se revestirá da maior eficácia, se a unirmos ao Sacrifício de reconciliação, a Missa.

No Sacrifício da Missa, com efeito, o Sangue de Cristo lavará as culpas e alcançará a misericórdia de Deus para os nossos irmãos que adormeceram na paz com Ele, de modo que, acabada a Sua purificação, sejam admitidos no Seu Reino.»    SNPL

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A oração cristã pelos defuntos só se pode verificar JP2à luz da Ressurreição de Cristo.
«Recordámos hoje a Comemoração litúrgica anual de todos os fiéis defuntos. Da Igreja, espalhada pelo mundo, elevou-se uma invocação coral ao Deus da vida e da paz, para que acolha no seu Reino de luz infinita todas as almas, sobretudo as mais abandonadas e necessitadas da sua misericórdia.

A oração cristã pelos defuntos que caracteriza todo o mês de Novembro só se pode verificar à luz da Ressurreição de Cristo. De facto, o apóstolo diz: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé... Se esperamos em Cristo somente nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram» (1Cor 15,17.19-20).

O mundo de hoje precisa como nunca de redescobrir o sentido da vida e da morte na perspectiva da vida eterna. Fora dela, a cultura moderna, que nasceu para exaltar o homem e a sua dignidade, transforma-se paradoxalmente em cultura de morte, porque, tendo perdido o horizonte de Deus, acaba por ser aprisionada pelo mundo, amedronta-se e, infelizmente, causa numerosas patologias pessoais e colectivas.

É-me grato citar, a este propósito, um texto de São Carlos Borromeu, do qual celebramos esta semana a memória litúrgica. «A minha alma jamais deixe de louvar o Senhor que concede sempre dons. É dom de Deus se, de pecador, és chamado à justiça; é dom de Deus se és apoiado para que não caias; é dom de Deus quando te é concedida a força para perseverar até ao fim; será dom de Deus também a ressurreição do teu corpo morto, de maneira que, nem sequer um dos cabelos da tua cabeça seja perdido; é dom de Deus a glorificação depois da ressurreição; e, por fim, ainda é dom de Deus poder louvá-lo continuamente na eternidade» (Homilia, 5 de Setembro de 1583). [...] »             (João Paulo II)

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«Querido irmão doente! Se alguém ou alguma coisa te faz pensar que chegaste ao fim da estrada, não acredites! Se tens conhecimento do Amor eterno que te criou, sabes também que, dentro de ti, há uma alma imortal. Existem várias estações na vida; se porventura sentires chegar o inverno, quero que saibas que não pode ser a última estação, porque a última será primavera: a primavera da ressurreição. A totalidade da tua vida estende-se infinitamente para além das suas fronteiras terrenas: prevê o Céu.»

(João Paulo II, Mensagem aos doentes, Fátima, 13-05-2000)

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"Para mim, a oração é um impulso do coração, um simples olhar dirigido para o céu, um grito de agradecimento e de amor, tanto do meio do sofrimento como do meio da alegria. Em uma palavra, é algo grande, algo sobrenatural que me dilata a alma e me une a Jesus." (Santa Teresinha do Menino Jesus)

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"Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele todos estão vivos."
«Esta é uma ligação decisiva, a aliança fundamental, aliança com Jesus. Ele é a Aliança. Ele é a vida e a ressurreição, porque com o seu amor crucificado venceu a morte. Em Jesus, Deus nos dá a vida eterna, dá a todos, e todos graças a Ele possuem a esperança de uma vida ainda mais verdadeira do que esta.
A vida que Deus nos prepara não é um simples embelezamento desta vida actual: ela supera a nossa imaginação, porque Deus surpreende-nos continuamente com o seu amor e sua misericórdia.

Esta vida não é referência para a eternidade, para a outra vida que nos espera, mas é a eternidade que ilumina e dá esperança à vida terrena de cada um de nós! Se olharmos apenas com os olhos humanos, tendemos a dizer que o caminho do homem vai da vida para a morte.
Jesus inverte essa visão e afirma que a nossa peregrinação vai da morte para a vida: a vida plena! Nós estamos em caminho, em peregrinação para a vida plena e essa vida plena ilumina o nosso caminho!
A morte está atrás, não diante de nós. Diante de nós está o Deus dos vivos, está a derrota definitiva do pecado e da morte, o início de um novo tempo de alegria e de luz infinita. Mas mesmo nesta terra, na oração, nos sacramentos e na fraternidade, encontramos Jesus e seu amor, e assim podemos saborear algo da vida eterna. A experiência que fazemos de seu amor e sua fidelidade se acendem como um fogo em nosso coração e aumenta a nossa fé na ressurreição. Se Deus é fiel e ama não pode ser a tempo limitado. Ele sempre é fiel, segundo o seu tempo, que é a eternidade.»

Papa Francisco, in Angelus de 10-11-2013

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A morte é tida, por muitos, como um desastre, Cemiteriouma tragédia familiar e um fim definitivo da vida na terra. É a privação da animação dos corpos pela alma, o terminus de um círculo de trabalhos e canseiras, acções e movimentos, alegrias e sofrimentos; porém, a nossa vida não termina com a morte, mas «transforma-se»; deixamos a "tenda do nosso corpo" em direcção às paragens da eternidade.

Toda a vida sensitiva teme a morte. Muitos santos a desejavam, muitos mártires a procuraram, muitos – em desesperos incontidos –, contra o quinto mandamento, a provocaram. A vida verdadeira é a eterna.

Diz-nos Santa Teresinha do Menino Jesus: "O que me impulsiona a ir para o céu é o pensamento de poder acender no amor de Deus uma multidão de almas que o louvarão eternamente". E na véspera da sua morte afirmava: "Não morro, entro na vida." Eis uma boa definição da esperança cristã na Vida Eterna. Todo ser humano está destinado à ressurreição para participar da vida de Deus, realização plena de sua humanidade.

Nesta mês de Novembro, em que rezamos pelos fiéis defuntos, as palavras de Jesus devem calar fundo nos nossos corações: "Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá" (Jo 11,25-26). Vale relembrar que a ressurreição não é simples reanimação de um cadáver, que volta a sujeitar-se às vicissitudes humanas e às contingências de espaço e tempo. Não, não é assim. Tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, também nós viveremos com Ele, na nossa ressurreição, para uma vida nova e eterna. "A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crer nela que somos cristãos". (Tertuliano)
F. Santos

 

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