PARÓQUIA S. MIGUEL DE QUEIJAS

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Condenada à morte por um copo de águaAsiaBibi

Asia Bibi, católica paquistanesa, foi condenada à morte por enforcamento em Novembro de 2010, tendo sido insuficientes os apelos à libertação feitos pelo governador Salman Taseer e o ministro cristão das Minorias, Shahbaz Bhatti, ambos assassinados, e também pelo Papa Bento XVI. O caso da xícara partilhada entre a cristã Asia Bibi e mulheres muçulmanas, que acabou na condenação à pena capital, traz hoje [17-10-2011] a Lisboa a co-autora do livro "Blasfémia – Condenada à morte por um copo de água".

A jornalista francesa Anne-Isabelle Tollet assina com a protagonista uma história verídica que começou quando Asia Bibi bebeu "de um poço pertencente a mulheres muçulmanas, pelo copo 'delas', debaixo de um sol com 40º C", relata a obra editada em Portugal pela Alêtheia.

"Sou prisioneira porque utilizei o mesmo copo dessas mulheres muçulmanas. Água bebida por uma cristã considerada impura por essas estúpidas companheiras dos campos", conta a jovem mãe camponesa encarcerada há dois anos, no seguimento da blasfémia cometida a 14 de Junho de 2009.


Carta de Asia Bibi, da prisão.

«Meu querido Ashiq, meus queridos filhos. É uma grande provação, esta que tereis de enfrentar. Esta manhã, fui condenada à morte. Confesso-vos que, quando ouvi o veredicto, chorei, mas no fundo não fiquei surpreendida. Não estava à espera de clemência nem de coragem por parte dos juízes, que se submeteram às pressões dos mulás e do fanatismo religioso. Desde que voltei à minha cela, e sei que vou morrer, todos os meus pensamentos vão para ti, meu Ashiq, e para vós, meus filhos adorados.

Censuro-me por vos deixar sozinhos em pleno turbilhão. A ti, Imram, meu filho mais velho de dezoito anos, desejo-te que encontres uma boa esposa e que a faças feliz tal como o teu pai me fez a mim.

Tu, Nasima, minha filha maior de vinte e dois anos, já encontraste um marido, a família dele e uns sogros acolhedores; dá ao teu pai os netos que irás criar na caridade cristã como nós sempre fizemos.

Tu, minha doce Isha, tens quinze anos, mas nasceste com falta de entendimento. O papá e eu sempre te considerámos uma dádiva de Deus, tão boa que és e tão generosa. Não deves perceber porque é que a mamã não está aí, ao pé de ti, mas estás presente no meu coração, tens sempre lá um lugar especialmente reservado, somente para ti.

Sidra, tens apenas treze anos e eu sei que, desde que estou na prisão, és tu que tratas das coisas da casa, és tu que tomas conta de Isha, a tua irmã, que tanto precisa de ser ajudada. Censuro-me por obrigar-te a uma vida de adulta, tu que és tão pequena e que ainda devias brincar com bonecas.

Tu, minha pequena Isham, tens apenas nove anos e já vais perder a tua mamã. Meu Deus, como a vida é injusta! Mas visto que irás continuar a frequentar a escola, estarás mais tarde habilitada a defender-te perante a injustiça dos homens.

Meus filhos não percais a coragem, nem a fé em Jesus Cristo. Há-de haver dias melhores nas vossas vidas, e, lá no alto, quando eu estiver nos braços do Senhor, continuarei a velar por vós. Mas, por favor, peço-vos a todos os cinco que sejais prudentes, que não façais nada que possa ultrajar os muçulmanos ou as normas deste país. Minhas filhas, gostaria muito que tivésseis a sorte de encontrar um marido como o vosso pai.

Ashiq, amei-te desde o primeiro dia, e os vinte anos que passámos juntos são a prova disso mesmo. Nunca deixei de agradecer aos céus a sorte de te ter encontrado, de ter tido a possibilidade de casar por amor e não um matrimónio combinado, como acontece na nossa região. Os nossos dois feitios sempre combinaram um com o outro, mas o destino estava à nossa espera, implacável... Criaturas infames atravessam-se no nosso caminho. Estás agora sozinho perante o fruto do nosso amor, mas deves manter a coragem e o orgulho da nossa família.

Meus filhos, desde que estou encerrada nesta prisão, oiço as descrições de outras mulheres para quem a vida também se mostrou muito cruel. Posso dizer-vos que tivestes a sorte de conhecer a vossa mãe, a alegria de viver do nosso amor e da nossa coragem para trabalhar. Sempre tivemos o supremo desejo, o pai e eu, de sermos felizes e de vos fazermos felizes, embora a vida não fosse fácil todos os dias.

Somos cristãos e somos pobres, mas a nossa família é uma grande riqueza. Gostaria tanto de vos ver crescer, educar-vos e fazer de vós pessoas honestas - mas sê-lo-eis certamente! Sabeis a razão por que vou morrer e espero que não me censureis por partir assim tão depressa, porque estou inocente e não fiz nada daquilo que me acusam. Tu sabes que é verdade, Ashiq, tal como sabes que sou incapaz de violência e de crueldade. Às vezes, porém, sou teimosa.

Por aquilo que calculo, não vai demorar muito. Em poucos minutos, fui condenada à morte. Não sei ainda quando me irão enforcar, mas podeis estar tranquilos, meus amores, irei de cabeça levantada, sem medo, porque serei acompanhada por Nosso Senhor e pela Santa Virgem Maria, que vão receber-me nos seus braços. Meu bom marido, continua a educar os nossos filhos como eu gostaria de fazer contigo.

Ashiq, meus filhos bem-amados, vou deixar-vos para sempre, mas amar-vos-ei eternamente.»

Anne-Isabelle Tollet, Blasfémia – Condenada à morte
por um copo de água
, Aletheia, Lisboa, 2011, p. 54
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* Corrente de Oração por Asia Bibi: Clique aqui

 

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