III Domingo do Advento - B
O Natal está próximo e a Liturgia deste Domingo é um convite à alegria pelo grande acontecimento que iremos celebrar.
Na primeira Leitura, o profeta entoa um canto de alegria aos que regressam do exílio, e que foram recebidos com frieza e hostilidade pelos habitantes de Jerusalém. Ele tem tanta certeza de que o amor de Deus libertará o seu povo, que manifesta a impressão de já estar presente na festa, e exclama:
"O Espírito do Senhor está sobre mim... Exulto de alegria no Senhor e minha alma rejubila no meu Deus". Apesar de termos tantos motivos para a tristeza, hoje somos convidados a ter a mesma confiança do profeta e a entoar um cântico de alegria por causa da salvação, como se já a tivéssemos alcançado.
Na segunda Leitura, S. Paulo recomenda: "Sede sempre alegres". A alegria cristã não é uma atitude passageira de festas humanas, mas um estado permanente, de quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. Ele superará todos os males do mundo. É essa a alegria serena e profunda, que irradiamos ao nosso redor?
O Evangelho apresenta-nos João Baptista, a "voz" que prepara os homens para acolher Jesus, a Luz do mundo. O objectivo de João não é centrar sobre si próprio o foco da atenção pública; ele está apenas interessado em levar os seus interlocutores a acolher e a conhecer Jesus, Aquele que o Pai enviou com uma proposta de vida definitiva e de liberdade plena para os homens.
Leitura do Livro de Isaías
O espírito do Senhor está sobre mim,
porque o Senhor me ungiu e me enviou
a anunciar a boa nova aos pobres,
a curar os corações atribulados,
a proclamar a redenção aos cativos
e a liberdade aos prisioneiros,
a promulgar o ano da graça do Senhor.
Exulto de alegria no Senhor,
a minha alma rejubila no meu Deus,
que me revestiu com as vestes da salvação
e em envolveu num manto de justiça,
como noivo que cinge a fronte com o diadema
e a noiva que se adorna com as suas jóias.
Como a terra faz brotar os germes
e o jardim germinar as sementes,
assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor
diante de todas as nações.
Refrão: Exulto de alegria no Senhor.
A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que O temem.
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu-os de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos:
Vivei sempre alegres, orai sem cessar,
dai graças em todas as circunstâncias,
pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus.
Não apagueis o Espírito,
não desprezeis os dons proféticos;
mas avaliai tudo, conservando o que for bom.
Afastai-vos de toda a espécie de mal.
O Deus da paz vos santifique totalmente,
para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo –
se conserve irrepreensível
para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
É fiel Aquele que vos chama
e cumprirá as suas promessas.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
Veio como testemunha, para dar testemunho da luz,
a fim de que todos acreditassem por meio dele.
Ele não era a luz,
mas veio para dar testemunho da luz.
Foi este o testemunho de João,
quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém,
sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem:
«Quem és tu?»
Ele confessou a verdade e não negou;
ele confessou:
«Eu não sou o Messias».
Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?»
«Não sou», respondeu ele.
«És o Profeta?». Ele respondeu: «Não».
Disseram-lhe então: «Quem és tu?
Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram,
que dizes de ti mesmo?»
Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto:
'Endireitai o caminho do Senhor',
como disse o profeta Isaías».
Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram:
«Então, porque baptizas,
se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?»
João respondeu-lhes:
«Eu baptizo em água,
mas no meio de vós está Alguém que não conheceis:
Aquele que vem depois de mim,
a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».
Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão,
onde João estava a baptizar.
João Baptista dá com alegria o seu testemunho: Não é o Messias, nem Elias, nem o Profeta. É apenas a "voz" que clama no deserto, convidando a preparar o caminho do Senhor, que "já está no meio de nós."
João é uma "voz" através da qual Deus passa aos homens a sua mensagem: "endireitai o caminho do Senhor". Somos nós hoje a "voz" que anuncia Cristo aos irmãos? Que espécie de "voz" são as nossas comunidades? Como reconhecer hoje, entre tantas vozes, aquelas que apontam para a "Luz" e nos levam à verdadeira alegria?
A "Voz" convida-nos a endireitar o caminho do Senhor. É um convite a deixar "as trevas" e a nascer para "a luz". Implica abandonar a mentira, o egoísmo, a injustiça, a violência e tudo o que empobrece a nossa vida, e nos impede de chegar à verdadeira felicidade. Quais são as mudanças que devo fazer na minha vida para passar das "trevas" para a "luz"? Quais são os obstáculos que nos impedem de andar nos caminhos rectos de Deus?
A "Voz" convida-nos a olhar para Jesus, pois só Ele é a Luz que ilumina o caminho. Dela surgiu tudo o que existe na criação. Ela é a vida dos homens. Ela vai dissipar as trevas. Jesus é de facto a Luz que ilumina as minhas decisões e opções? Quando celebro o nascimento de Jesus, celebro um acontecimento do passado, ou o encontro com alguém que é a Luz que ilumina a minha vida e a enche de paz e de alegria?
Deus enviou João para "dar testemunho dessa Luz". Ainda hoje Deus continua a enviar pessoas para dar testemunho dessa Luz e tornar presente a proposta libertadora de Jesus. Tenho eu consciência de que Deus também me chama e me envia? Qual tem sido a nossa resposta a esse chamamento?
A atitude humilde de João é muito sugestiva: Ele não usa a missão para a sua promoção pessoal; ele é apenas uma "voz" anónima e discreta que recorda, na sombra, realidades importantes. Nas nossas actividades, somos discretos e simples, de modo que as pessoas não vejam a nós, mas a mensagem que apresentamos?
Pregar no deserto
— Senhor Padre, porque é que João Baptista pregava no deserto?
— Porque era lá que ele vivia – respondi. Para além disso o deserto sempre foi um lugar de encontro consigo mesmo e com Deus. Mas porque é que me perguntas isso?
— É que eu pensava que ele pregava no deserto porque ninguém o ouvia...
De facto, parece que João pregou para o deserto pois, passados 2000 anos, a mesma voz se faz ouvir sem surtir ainda o efeito desejado. E mesmo acordado sonhei. No meu sonho apresentei-me diante de João Baptista para lhe dizer:
— Repara que ninguém te ouve. Tu não consegues mudar as pessoas. Todos os anos a mesma pregação... Muda o teu discurso...
— Não. Se eu não sou capaz de mudar as pessoas, não serão elas a mudar-me. Endireitai o caminho do Senhor – gritou ainda mais forte.
Ao acordar ainda me soavam essas mesmas palavras. Que fazer para endireitar esse caminho para que esta pregação não ficasse por terra? Lembrai-me então das sandálias de que João falava. Pois é. Em vez de retirar todas as pedras do longo caminho o melhor é calçar uns fortes sapatos para não sentir a aspereza do chão. Pareceu-me então ouvir a mesma voz a dizer: mãos à obra, ou melhor, pés a andar.
queremos, Senhor, praticar os conselhos
que nos dá o teu apóstolo Paulo:
Estai sempre alegres
e não deixeis morrer nas vossas mãos
as brasas incandescentes do Espírito de Cristo,
que é alma e fogo, luz e amor,
chama e vida, gozo e paz.
Obrigado, Senhor Jesus.
Hoje temos motivos de alegria:
Tu estás a chegar,
já estás no meio de nós.
Com João Baptista podemos dizer:
a minha alegria é grande;
é preciso que Cristo cresça e nós diminuamos.
diante dos nossos irmãos,
para que não sejas Tu
o desconhecido do nosso mundo. Amen.