I DOMINGO DO ADVENTO - B
Iniciamos hoje um novo Ano Litúrgico (Ano B). O Advento é tempo de preparação para o Natal, em que se comemora a vinda do Filho de Deus, e é também um tempo em que se voltam os corações para a expectativa da Sua segunda vinda, no fim dos tempos.
As leituras convidam-nos à vigilância, para acolher o Senhor que vem. Apresenta-nos também indicações concretas acerca da forma como devemos viver este tempo de espera.
A primeira leitura é uma ardente súplica a Deus pedindo um Salvador; é uma das preces mais belas da Bíblia. Ao povo que voltou do exílio desanimado e indiferente à Aliança, o Profeta tenta acordar a esperança num futuro de vida e salvação. Deus é invocado como "Pai" e "Redentor" (Pai: fonte da vida familiar; Redentor: responsável pelo resgate). É a primeira vez que se chama Deus de Pai. (No Evangelho, Jesus utilizá-la-á 184 vezes.) O texto termina com a imagem do Oleiro: Deus é o "oleiro" e o Povo é o "barro", que o artista modela com amor.
Somos barro, frágeis, mas somos também obra de suas mãos; somos a expressão do amor de Deus. (Faz-nos lembrar a Criação do Homem do barro da terra.) A mudança do coração do seu povo é uma nova Criação, da qual nascerá uma nova humanidade.
A segunda leitura é um apelo à vigilância para acolher Deus que vem e que manifesta o seu amor através dos seus dons que dá aos homens para o bem da comunidade.
O Evangelho convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza de que "o Senhor vem". Ensina, ainda, que esse tempo de espera deve ser um tempo de "vigilância" — isto é, um tempo de compromisso activo e efectivo com a construção do Reino.
Leitura do Livro de Isaías
Vós, Senhor, sois nosso Pai
e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome.
Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos
e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema?
Voltai, por amor dos vossos servos
e das tribos da vossa herança.
Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!
Ante a vossa face estremeceriam os montes!
Mas Vós descestes
e perante a vossa face estremeceram os montes.
Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram
que um Deus, além de Vós,
fizesse tanto em favor dos que n'Ele esperam.
Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça
e recordam os vossos caminhos.
Estais indignado contra nós,
porque pecámos e há muito que somos rebeldes,
mas seremos salvos.
Éramos todos como um ser impuro,
as nossas acções justas eram todas como veste imunda.
Todos nós caímos como folhas secas,
as nossas faltas nos levavam como o vento.
Ninguém invocava o vosso nome,
ninguém se levantava para se apoiar em Vós,
porque nos tínheis escondido o vosso rosto
e nos deixáveis à mercê das nossas faltas.
Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai
e nós o barro de que sois o Oleiro;
somos todos obra das vossas mãos.
Refrão: Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar,
mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.
Pastor de Israel, escutai,
Vós que estais sentado sobre os Querubins, aparecei.
Despertai o vosso poder
e vinde em nosso auxílio.
Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha.
Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós.
Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
sobre o filho do homem que para Vós criastes;
e não mais nos apartaremos de Vós:
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
A graça e a paz vos sejam dadas
da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito,
pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus.
Porque fostes enriquecidos em tudo:
em toda a palavra e em todo o conhecimento;
e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo.
De facto, já não vos falta nenhum dom da graça,
a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele vos tornará firmes até ao fim,
para que sejais irrepreensíveis
no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fiel é Deus, por quem fostes chamados
à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
"Acautelai-vos e vigiai,
porque não sabeis quando chegará o momento.
Será como um homem que partiu de viagem:
ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos,
atribuindo a cada um a sua tarefa,
e mandou ao porteiro que vigiasse.
Vigiai, portanto,
visto que não sabeis quando virá o dono da casa:
se à tarde, se à meia-noite,
se ao cantar do galo, se de manhãzinha;
não se dê o caso que, vindo inesperadamente,
vos encontre a dormir.
O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!"
O Advento marca o início de um novo ano litúrgico
O termo “advento” tem a sua origem latina em “advenire”, que quer dizer “chegar”, “que está para vir”. Desta forma, caracteriza-se como período de preparação, de espera d’Aquele que há-de vir. A Igreja celebra neste tempo as duas vindas de Cristo: o Natal – a manifestação de Deus com o nascimento de Jesus; e a Parusia – quando Cristo surgir, no fim dos tempos, na sua glória, em que conheceremos plenamente o Seu amor. É um tempo de esperança que nos convida a estarmos vigilantes, como nos interpela S. Paulo: não durmamos como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios para celebrarmos a vinda do Senhor, pois esse dia virá como um ladrão nocturno (1Tes 5,2).
Viver o Advento é iluminar a nossa existência com a fé, é transformar as nossas vidas, num esforço de conversão, para acolhermos o Salvador e para ajudarmos todos os nossos irmãos a acolhê-l’O connosco.
A Vinda do Senhor Jesus é motivo de grande esperança. A nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do "Senhor que vem". Não se trata de uma vaga esperança, mas de uma certeza baseada na palavra infalível de Jesus. E o Advento recorda-nos essa realidade.
Advento é tempo da espera vigilante do Senhor. O verdadeiro discípulo deve estar sempre "vigilante". Vigiar significa não esquecer que toda a vida cristã é uma caminhada rumo ao encontro final com Cristo Salvador e Juiz; desafia-nos a viver sempre empenhado e comprometido na construção de um mundo de vida, de amor e de paz; interpela-nos a cumprir os compromissos assumidos no dia do baptismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo; convida-nos a acolher a Missão recebida de darmos testemunho de Jesus e do seu Evangelho. Vigiar significa não viver como se a vida se reduzisse à duração terrena, mas viver sempre na expectativa da revelação plena do Senhor Jesus.
Todos nós também somos convidados a não "dormir", a estarmos acordados e "vigilantes".
Neste Natal, Cristo pede-nos um lugar na nossa casa. Será que temos um espaço para Ele no nosso coração? Seremos realmente felizes se Ele encontrar em nós um lugar para nascer!
Contaram-me, há tempos, um episódio que pode ilustrar este tempo de Advento, de espera ou de preparação.
Numa aldeia indígena, algures em África, um missionário pediu à população local que o ajudasse a transportar um carregamento de material até ao cimo da montanha. Com o fardo às costas, partiram todos cheios de entusiasmo. A meia encosta o pessoal parou, pousou o material no chão e sentou-se. O missionário esforçou-se para os pôr outra vez em marcha mas foi em vão:
— Porque parastes? Estais cansados?
— Não.
— Quereis comer ou beber?
— Não.
— Quereis uma gratificação maior? A carga é muito pesada? Quereis voltar para trás? Então o que é que se passa?
Após um silêncio geral, um dos indígenas explicou:
— É que nós viemos depressa demais. A nossa alma ficou para trás. Ficaremos à espera que ela chegue.
Às vezes parece que somos um corpo sem alma. Sentimo-nos vazios ou a dormir. É preciso aguardar que o espírito nos encha, que a alma nos desperte para continuarmos a caminhar. Eis que Cristo está à porta e bate. Estaremos cheios por dentro?
Vivemos numa azáfama contínua. É preciso parar e zelar pela nossa interioridade. Afinal Cristo é a alma da nossa vida, só Ele nos pode encher por dentro.
Pe. José David Quintal Vieira, scj
Vem Senhor!
Não sorrias dizendo que estás connosco...
Há milhões que não Te conhecem.
E de que serve conhecer-Te?
De que adianta a Tua vinda,
se para os Teus a vida continua igual?
Converte-nos! Revolve-nos!
Que a tua mensagem
se torne carne da nossa carne,
sangue do nosso sangue,
razão de ser da nossa vida.
Que ela nos arranque
do comodismo, da boa consciência!
Seja exigente, incómoda,
pois só assim
nos trará a paz profunda,
a paz diferente, a Tua PAZ!...
Bendito sejas, Senhor Jesus,
Tu que vives para sempre,
porque durante a tua curta ausência confias em nós,
e nos encomendas a imensa missão
de amor vigilante que não se abandona ao sono
quando há tanto para fazer.
Esperamos a tua vinda com atitudes alegres e dinâmicas,
sem ansiedade estéril, nem expectativa angustiosa.
Ajuda-nos a unir produtivamente
a esperança e o esforço para acelerar
o dia venturoso da chegada do teu Reino.
Não permitas, Senhor,
que resfrie o nosso coração,
para que, quando chegares,
nos encontres comprometidos na construção
de um mundo melhor e com o coração aberto e solidário.
Amen.
Celebração da Luz
Leitor 1: Deus vem ao nosso encontro; juntos entramos no Advento. Tempo de encontro com Aquele que veio habitar no meio de nós e com todos aqueles que esperam por um mundo onde o amor seja mais forte que todos os ódios, onde a unidade de toda a humanidade reconciliada em Deus acabe com todas as fronteiras que separam e dividem.
Todos: Que o Deus da esperança nos encha de alegria e paz para sabermos distinguir os sinais da sua presença no meio de nós.
Leitor 2: A Luz de Deus iluminará o coração dos homens, as armas calar-se-ão e desaparecerão as fronteiras entre os povos, para dar lugar à adoração comum a Deus Criador e Salvador.
Todos: A Tua Palavra, Senhor, é a Luz de todos os nossos caminhos.
* (Acende-se a primeira vela da caminhada de Advento)
Sacerdote: Deus é a Luz dos homens!
Todos: Deus acende para nós a Luz da Sua presença.
Leitor 1: Que ela ilumine a nossa vida e nos torne disponíveis para amar e servir todos os que se aproximam de nós.
Sacerdote: Que o Deus da unidade e da paz nos congregue com todo o seu povo da terra. Que através das nossas atitudes e das nossas palavras o mundo conheça o Seu amor.
Todos: Então todos juntos formaremos a nova criação e viveremos em verdadeira liberdade.