XXXIII Domingo do Tempo Comum - A
A primeira leitura apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que asseguram a felicidade, o êxito, a realização: os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do "temor de Deus". Não são valores só da mulher virtuosa, mas de todo o discípulo que quer viver na fidelidade aos projectos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou. Faz render seus talentos...
Na segunda leitura, Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projectos, empenhando-se activamente na construção do Reino.
O Evangelho, com a Parábola dos talentos, apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a última vinda de Jesus. Louva os discípulos que se empenham em fazer frutificar os talentos que Deus lhes confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na apatia e não os põe a render, desperdiçando-os e privando os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito – porque os dons que Deus nos dá não devem ser para benefício próprio!
Leitura do Livro dos Provérbios
Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa?
O seu valor é maior que o das pérolas.
Nela confia o coração do marido,
e jamais lhe falta coisa alguma.
Ela dá-lhe bem-estar e não desventura,
em todos os dias da sua vida.
Procura obter lã e linho
e põe mãos ao trabalho alegremente.
Toma a roca em suas mãos, seus dedos manejam o fuso.
Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente.
A graça é enganadora e vã a beleza;
a mulher que teme o Senhor é que será louvada.
Dai-lhe o fruto das suas mãos,
e suas obras a louvem às portas da cidade.
Refrão: Ditoso o que segue o caminho do Senhor.
Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.
Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos:
Sobre o tempo e a ocasião, não precisais que vos escreva,
pois vós próprios sabeis perfeitamente
que o dia do Senhor vem como um ladrão nocturno.
E quando disserem: «Paz e segurança»,
é então que subitamente cairá sobre eles a ruína,
como as dores da mulher que está para ser mãe,
e não poderão escapar.
Mas vós, irmãos, não andeis nas trevas,
de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão,
porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia:
nós não somos da noite nem das trevas.
Por isso, não durmamos como os outros,
mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola:
«Um homem, ao partir de viagem,
chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens.
A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um,
conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu.
O que tinha recebido cinco talentos
fê-los render e ganhou outros cinco.
Do mesmo modo,
o que recebera dois talentos ganhou outros dois.
Mas, o que recebera dois talentos ganhou outros dois.
Mas, o que recebera um só talento
foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos
e foi ajustar contas com eles.
O que recebera cinco talentos aproximou-se
e apresentou outros cinco, dizendo:
'Senhor, confiaste-me cinco talentos:
aqui estão outros cinco que eu ganhei'.
Respondeu-lhe o senhor: 'Muito bem, servo bom e fiel.
Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.
Vem tomar parte na alegria do teu senhor'.
Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse:
'Senhor, confiaste-me dois talentos:
aqui estão outros dois que eu ganhei'.
Respondeu-lhe o senhor: 'Muito bem, servo bom e fiel.
Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.
Vem tomar parte na alegria do teu senhor'.
Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse:
'Senhor, eu sabia que és um homem severo,
que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste.
Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra.
Aqui tens o que te pertence'.
O senhor respondeu-lhe: 'Servo mau e preguiçoso,
sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei;
devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro
e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu.
Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez.
Porque, a todo aquele que tem,
dar-se-á mais e terá em abundância;
mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.
Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores.
Aí haverá choro e ranger de dentes'».
Esta parábola refere-se à vinda do Senhor Jesus, no final dos tempos.
— O Homem rico representa Cristo que, antes de deixar este mundo para viajar de volta ao Pai, deixou todos os seus "bens" aos discípulos.
— Os Talentos são esses bens que Jesus deixou à Igreja: o Evangelho e a sua mensagem de salvação; os sacramentos e as obras de misericórdia; a sua Palavra e o seu testemunho.
— Os Servos, depositários desses bens, são os discípulos, e neles, somos todos nós suas testemunhas deste projecto de salvação que o Pai tem para os homens. É com o nosso coração que Jesus continua a amar os "publicanos" e pecadores do nosso tempo; é com a nossa palavra que Jesus continua a consolar os que estão tristes e desanimados; é com os nossos braços abertos que Jesus continua a acolher os excluídos; é com as nossas mãos que Jesus continua a quebrar as cadeias que prendem os escravizados e oprimidos; é com os nossos pés que Jesus continua a ir ao encontro de cada irmão que está só e abandonado; é com a nossa solidariedade que Jesus continua a matar a fome das multidões famintas e a dar medicamentos e cultura àqueles que nada têm.
Nós, cristãos, temos a grande responsabilidade de O testemunhar e de deixar que, através de nós, Ele continue a amar as pessoas que caminham ao nosso lado.
Enquanto peregrinos deste mundo à espera da segunda vinda de Jesus, os dois primeiros servos da parábola mostram-nos o que também nós devemos fazer com os nossos talentos.
Como usamos os talentos que o Senhor nos confiou? Estão a produzir frutos ou foram enterrados? Ao serviço de quem e de quê os empregamos? Apenas pensamos nossos interesses pessoais, ou abrimo-nos aos outros, à comunidade?
O que fazemos nós para o Reino de Deus seja? Em muitas comunidades encontramos pessoas ricas de talentos, estudo, tempo e recursos mas não se dão aos outros. Afirmam que não têm tempo, que não têm jeito e nada fazem pela comunidade. Por outro lado, porque será que é nas pessoas mais simples, humildes e ocupadas que encontramos mais gente disponível para ajudar e colaborar nas tarefas da comunidade (serviço litúrgico, pastoral, movimentos, voluntariado e serviço de caridade)?
No final da nossa vida, o que desejamos ouvir? "Servo bom e fiel, vem tomar parte na alegria do teu senhor " ou "Servo mau, preguiçoso e inútil", "lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes"? Cabe a cada um de nós fazer a escolha.
Numa reflexão sobre a Parábola dos Talentos, pedi que me identificassem as suas personagens indicando o que cada uma tinha e com que ficou, fazendo as contas aritméticas. Eis uma resposta:
3 x 2 = 6 + 1 = 7
2 x 2 = 4
1 x 0 = 0
Perguntei então qual o valor do coeficiente ou multiplicando.
— É a quantidade do amor – respondeu um miúdo – Duas pessoas tinham amor de grau dois, a outra não tinha amor e por isso ficou sem nada. Sem amor nada se consegue.
De facto há duas maneiras de fazer as coisas: por obrigação, e então são cansativas, aborrecidas e maçadoras e por amor, e então são suaves, alegres e fecundantes. Um estudante que trabalha naquilo que tem vocação torna-se criativo e produtivo. Um profissional que tem o seu trabalho no coração realiza-se e cria um mundo novo. Fazer as coisas com temor e por obrigação, por muito que alguém se esforce, será sempre um peso doloroso e estéril. O importante é amar o que se faz quando não se pode fazer o que se ama. Só assim desaparece o esforço e surge a alegria. Pelo contrário, quando algo nos custa demasiado não é por ser difícil, o que nos falta é essa força interior que é o amor. Tarefa que não redunda em prazer é porque é feita por obrigação.