XXXII Domingo do Tempo Comum - A
A primeira leitura apresenta-nos a "sabedoria", dom gratuito e incondicional de Deus para o homem. Ao homem resta estar atento, vigilante e disponível para acolher, em cada instante, a vida e a salvação que Deus lhe oferece.
Na segunda leitura, Paulo garante aos cristãos de Tessalónica que Cristo virá de novo para concluir a história humana e para inaugurar a realidade do mundo definitivo; todo aquele que tiver aderido a Jesus e se tiver identificado com Ele irá ao encontro do Senhor e permanecerá com Ele para sempre.
O Evangelho recorda-nos que "estar preparado" para acolher o Senhor que vem significa viver dia a dia na fidelidade aos ensinamentos do Senhor. Com o exemplo das cinco jovens "insensatas" que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas acesas enquanto esperavam a chegada do noivo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino.
Leitura do Livro da Sabedoria
A Sabedoria é luminosa e o seu brilho é inalterável;
deixa-se ver facilmente àqueles que a amam
e faz-se encontrar aos que a procuram.
Antecipa-se e dá-se a conhecer aos que a desejam.
Quem a busca desde a aurora não se fatigará,
porque há-de encontrá-la já sentada à sua porta.
Meditar sobre ela é prudência consumada,
e quem lhe consagra as vigílias depressa ficará sem cuidados.
Procura por toda a parte os que são dignos dela:
aparece-lhes nos caminhos, cheia de benevolência,
e vem ao seu encontro em todos os seus pensamentos.
Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.
Senhor, sós o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro, como terra árida, sequiosa, sem água.
Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.
Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares
e com vozes de júbilo Vos louvarei.
Quando no leito Vos recordo,
passo a noite a pensar em Vós.
Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Tessalonicenses
Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância
a respeito dos defuntos,
para não vos contristardes como os outros,
que não têm esperança.
Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou,
do mesmo modo, Deus levará com Jesus
os que em Jesus tiverem morrido.
Eis o que temos para vos dizer,
segundo a palavra do Senhor:
Nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor,
não precederemos os que tiverem morrido.
Ao sinal dado, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta divina,
o próprio Senhor descerá do Céu,
e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.
Em seguida, nós, os vivos, os que tivermos ficado,
seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens,
para irmos ao encontro do Senhor nos ares,
e assim estaremos sempre com o Senhor.
Consolai-vos uns aos outros com estas palavras.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Mateus
Naquele tempo,
Disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola:
«O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens,
que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo.
Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes.
As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas,
não levaram azeite consigo,
enquanto as prudentes,
com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias.
Como o esposo se demorava,
começaram todas a dormitar e adormeceram.
No meio da noite ouviu-se um brado:
'Aí vem o esposo; ide ao seu encontro'.
Então, as virgens levantaram-se todas
e começaram a preparar as lâmpadas.
As insensatas disseram às prudentes:
'Dai-nos do vosso azeite,
que as nossas lâmpadas estão a apagar-se'.
Mas as prudentes responderam:
'Talvez não chegue para nós e para vós.
Ide antes comprá-lo aos vendedores'.
Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo.
As que estavam preparadas
entraram com ele para o banquete nupcial;
e a porta fechou-se.
Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram:
'Senhor, senhor, abre-nos a porta'.
Mas ele respondeu:
'Em verdade vos digo: Não vos conheço'.
Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora.
Ressonâncias...
Caminhamos nesta vida "ao encontro do Senhor" e "estaremos sempre com o Senhor". Esta mensagem de que nos fala a primeira leitura consiste em estarmos permanentemente vigilantes, porque não sabemos "O dia nem a hora". Esta atitude de vigilância levar-nos-á a procurar o Senhor "desde a aurora" e a, se acordados de noite, pensar n'Aquele que é o nosso refúgio e nos protege à sombra das suas asas.
Nem sempre temos as "lâmpadas acesas", distraímo-nos com o superficial que passa, cometemos erros mais ou menos graves, por vezes irreparáveis. Mas errar é humano e Deus não desconhece a nossa fragilidade que, tantas vezes, nos leva a, querendo o bem, praticarmos o mal. Os convidados para o banquete, de que fala o Evangelho são, especialmente, os mais pequeninos: publicanos e pecadores, marginalizados e vítimas do desprezo e do esquecimento.
Qual o erro imperdoável das cinco insensatas da parábola? Talvez apenas este: a ausência quando chegou o esposo, por terem medo de ser condenadas por Aquele que é a Luz verdadeira que ilumina as escuridões provocadas pela falta do azeite da confiança que nos incita à oração, à caridade e ao serviço do próximo. Podemos cometer erros. O único que devemos evitar é o de não os reconhecermos e aceitarmos e, dessa forma, nos determos, parando de avançar para Deus, que é misericórdia e perdão.
Não sabemos o dia nem a hora. "Se eu pudesse voltar atrás!..." A vida proporciona-nos infinitas oportunidades de crescimento, que não podemos desperdiçar. Os dias, os meses, os anos sucedem-se a um ritmo imparável e, um dia, pode ser demasiado tarde. Sem treino intenso e aturado, não há atletas vitoriosos, nem artistas, nem empresários, nem simples trabalhadores com êxito garantido. Temos o direito de errar, mas há falhas e adiamentos que podem ser fatais e sem correcção possível. Um dia, poderemos vir a dar-nos conta de que devíamos ter investido mais no estudo, na preparação do futuro, no cultivo da amizade, na paciência e no tempo dedicado a Deus e aos irmãos.
Se pudesse recomeçar! Na sua segunda vinda, Jesus submeter-nos-á a um exame sobre a caridade: "O que fizestes ou não fizestes aos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes ou deixastes de fazer" (Mt 25). Será demasiado tarde para repormos o azeite nas nossas lâmpadas apagadas. É agora o tempo de vigiarmos, pois aguardamos o encontro definitivo com a justiça misericordiosa do Senhor. Não será Ele a rejeitar-nos. Se O esquecemos em vida, como optaremos por Ele na morte?
«Levantaram-se todas
e começaram a preparar as suas lâmpadas.» (Mt 25,7)
De lâmpadas acesas
É admirável ver como a sabedoria dos provérbios nos oferece tantos pensamentos sobre a prudência, a importância de nos prevenirmos, o cuidado com o imprevisto: "homem prevenido...", "mais vale um pássaro na mão...", "quem vai ao mar...". Cada um poderia fazer a lista daqueles que já ouviu e até põe em prática. São pequenas pérolas de sabedoria concentrada que têm o sabor de uma experiência ancestral e, ainda que haja provérbios que se parecem contradizer, trazem sempre uma história dentro deles.
É com histórias simples que Jesus gosta de contar os mistérios do Reino. Podíamos estar na festa nupcial que relata o evangelho deste domingo e ter conhecido alguma das jovens que aí tiveram o papel principal. Cinco prudentes (talvez íntimas da sabedoria que se deixa encontrar por aqueles que a procuram) e cinco insensatas (talvez preguiçosas e pouco conhecedoras dos imprevistos da vida). Nas duas atitudes destas jovens, S. Mateus parece responder à inquietação das primeiras comunidades cristãs, que esperavam a vinda próxima de Jesus. Mais importante do que saber a hora, importa saber com que luz andamos a viver. Ou já se acabou o azeite da fé e nenhum fogo nos alimenta por dentro?
Todos os projectos, as ideias, os compromissos, os sonhos a tornarem-se realidade, são habitados por um fogo inicial que, muitas vezes, se desvanece. Instala-se a passividade e a inércia. O gosto de fazer bem, de trabalhar a sério, de "vestir a camisola" dá lugar ao "faz como os outros", "não te rales", "isto até nem é teu"! Curiosamente Jesus adverte-nos que o Reino e a vida neste mundo têm critérios idênticos: só se desenvolvem quando trabalhamos a sério. E não adianta alienarmo-nos em espiritualismos que nos afastam dos compromissos diários: não diz o provérbio, "primeiro a obrigação e depois a devoção"? Com o trabalho, a vida em comunidade e o amor parece que há uma sina difícil de vencer. O emprego garantido acomoda, o registo baptismal e o acesso às "festinhas da fé" "dão jeito", o papel do casamento garante a vida em comum! Em todas as dimensões da vida, se não lutamos por elas, se não levamos ao máximo as nossas capacidades, se não alimentamos o fogo de ser e fazer melhor, não nos admiremos de as perder. O azeite para a candeia e a lenha para o fogo da vida temos de os descobrir e desenvolver dentro de nós!
É fogo e luz o que Jesus veio trazer à terra e é no contacto com Ele que reacendemos a fé. Também a esperança e a caridade. Com esforço e exigência. Com qualidade e eficiência. Assim na mais pequena das responsabilidades como na mais solene das liturgias. Se não trazemos a luz de Cristo em nós não adianta gritar contra a escuridão!
Papa Francisco interpelou fiéis durante Ângelus de 12 de Novembro de 2017.
O Evangelho de hoje (Mt 25, 1-13) revela a condição de entrada no Reino dos Céus através da parábola das Dez Virgens, as madrinhas que foram encarregadas de acomodar e acompanhar o noivo, como era habitual na época.
A parábola diz que cinco dessas virgens são sábias e cinco imprudentes: as primeiras levaram o óleo para as lâmpadas, enquanto as imprudentes. O noivo está atrasado e todas adormecem. À meia-noite é anunciada a chegada do noivo. As virgens imprudentes percebem então que não têm óleo para as lâmpadas e pedem-no emprestado às sábias. Mas estas explicam que não o podem dar porque não será suficiente para todos. As imprudentes vão procurar óleo enquanto o noivo chega e entra para a sala de banquetes com as outras jovens, fechando a porta atrás de si,, o groom chega; As virgens sábias entram com ele na sala de banquetes e a porta está fechada. As cinco imprudentes chegam tarde, batem à porta, mas o noivo diz que não as conhece.
“O que quer Jesus quer ensinar-nos com esta parábola? Lembra-nos que devemos encontrar-nos com Ele. Muitas vezes, no Evangelho, Jesus exorta-nos a vigiar, tal como faz no final desta história. Ele diz-nos: «Vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora». Mas, com esta parábola, diz-nos que estar de vigia não significa apenas não dormir, mas estar preparado. De facto, todas as virgens dormem antes de o noivo chegar, mas ao despertar, algumas estão prontas e outras não. Aqui reside o significado de ser sábio e prudente: não é esperar pelo último momento da nossa vida para cooperar com a graça de Deus, mas fazê-lo de agora em diante. Seria bom pensar um pouco: um dia será o último. Se fosse hoje, como estaria preparado? Tenho que fazer isto, isto e aquilo... Prepare-se como se fosse o último dia: isso é bom”, explicou o Papa.
O Pontífice explicou que a lâmpada é o símbolo da fé que ilumina as vidas dos cristãos, enquanto o petróleo é o símbolo da caridade que alimenta e torna a luz da fé frutífera e credível.
“A condição para a reunião para estar pronto com o Senhor não é só a fé, mas a vida cristã plena de amor e caridade para com os outros. Se nos deixarmos guiar pelo que parece mais confortável, a partir dos nossos interesses, a nossa vida torna-se estéril, incapaz de dar vida aos outros, não sendo capaz de acumular qualquer petróleo para a lâmpada da fé. E, assim, a fé será extinguida no momento da vinda do Senhor, ou mesmo mais cedo. Se formos vigilantes e tentarmos fazer o bem, com gestos de amor, partilha e serviço aos necessitados, poderemos manter a calma enquanto aguardamos a vinda do noivo. O Senhor poderá vir a qualquer momento, e até mesmo o sono da morte não nos assusta porque temos a reserva de petróleo acumulada com as boas obras de todos os dias. A fé inspira caridade e a caridade mantém a fé”, adiantou, durante o Angelus.